Todos os dias ela ia para aquele lugar, um ponto mais afastado da praia, onde ela tinha visto ele pela última vez. Ela ia sempre no mesmo horário, ás 17 horas, e ficava lá até o sol se pôr, esperando por algo que talvez nunca acontecesse, esperando por ele.

Quando ele se foi, ele disse que precisava se afastar, pois só assim ela estaria salva. Como ele fora tolo, ela não queria estar a salvo, ela queria estar com ele. Ele chegou e mostrou à ela um novo mundo, literalmente, viajando pelas galáxias e pelo tempo, como ela poderia aceitar sua vida atual depois de ter conversado com Shakespeare e ter visto o fim da Terra?

Ela simplesmente não conseguia, por isso, todo dia, sem falta, ela ia até aquele lugar, onde tinham se despedido. Ele disse que talvez nunca voltaria, e esse talvez foi o suficiente para ela.

Na primeira vez que foi com ele, foi pelas promessas de conhecer tempos e lugares distantes, mas todas as outras vezes ela foi por ele, porque queria estar com ele. Ele não apenas lhe apresentou o mundo, mas ele viu nela o que ninguém mais tinha visto, viu a vontade de fazer algo grande e foi isso, essa visão diferente, que fez ela se apaixonar. Estar longe dele depois de tudo, era muito doloroso.

Ela era o ponto fraco dele, o que fez vários de seus inimigos irem atrás dela e foi aí que tudo desandou, pois ele preferiu ficar sem ela, sabendo que ela estava bem, do que ver algo de ruim acontecendo com a pessoa que mais amava. Ele a deixara para salvar sua vida, mas desde que ele se fora, ela não se sentia mais plenamente viva.

Chovia naquela tarde, ela era a única na praia, com seu casaco e seu guarda-chuva vermelho, olhando para um ponto fixo, esperando. O vento começou a ficar mais forte, a chuva parou e algo mudou, ela sentiu.

Olhando para onde havia visto ele pela última vez, ela viu um pequeno ponto de luz se formando com o vento, ficando cada vez mais forte e maior. Ela sorriu, sabia exatamente o que era. De dentro do grande vórtice de vento e luz, saiu um homem, com seu característico sobretudo, sorrindo para a moça a sua frente.

—Rose?  - Disse ele simplesmente.

A moça não conseguiu falar nada, conseguia apenas sorrir e chorar, e dessa vez era de alegria.

—Vamos? - Perguntou ele, estendendo-lhe a mão.

E ela foi.