Estava em um péssimo humor, mais um pouco e talvez Ilíria saísse disparando para todos os lados como um balaço, a ideia de derrubar ao menos cinco alunos no chão com uma violência desnecessária começava a parecer tentadora, então apenas tentou conter toda sua frustração, não que estivesse dando certo. Naquela manhã recebera sua atualização semanal do Hospital St. Mungus, e embora se enchesse de esperança todas as vezes que via a coruja soltar a carta na mesa, mais uma vez se provara uma esperança tola, porque seu pai não tinha uma única melhora há anos, e não existia um jeito de simplesmente se conformar com isso, então continuava sendo golpeada uma vez após a outra.

Como se isso não fosse o suficiente, Oliver Wood estava em todo lugar, não sabia se ele estava procurando por Heather ou se tinha muito azar, mas não parava de encontrar com ele pelos corredores. Só se passaram dois dias desde que fora salva, e sua mente insistia em voltar para isso uma e outra vez, como se devesse algo a ele, e não existia nada que odiasse mais do que ter uma dívida. Então não ficou surpresa quando se pegou subindo as arquibancadas para assistir o treino da Grifinória, mas com certeza ficou ao ver que tinham algumas pessoas ali. Pode ver o momento que alguns jogadores, Oliver incluso, se aproximaram um dos outros e olharam em sua direção, acenou com a mão em um gesto de dispensa, não demorou muito para que o capitão do time estivesse flutuando a sua frente.

—Eu reservei o campo. —a voz dele estava um pouco rouca, certamente graças ao enorme número de vezes que o vira falando com os jogadores.

—E eu não disse o contrário. —rebateu rapidamente.

—Veio mesmo espionar o treino? —a pergunta a pegou de surpresa, não havia pensado nisso, e o jeito como ele olhava para o campo continuamente mostrava o tanto de pressa que ele tinha para voltar até lá.

—Por que eu iria querer te espionar? Você fala tanto sobre isso nos corredores que eu não precisaria me dar ao trabalho de vir até aqui só pra descobrir suas táticas. —foi sincera, todos no castelo sabiam o quão obcecado pelo esporte Wood era, não existia uma alma viva (ou morta) que já não tivesse o visto andando atrás de membros do time falando e falando. —Olha, Wood, eu precisava falar com você. Só. Então volte logo para lá, vou te esperar do lado de fora. —agarrou a bolsa e saiu andando, não estava com disposição para discutir apenas para ficar sentada em um maldito banco de madeira.

 Não saberia dizer quanto tempo ficou ali, sentada no chão duro. No início tentou ler o livro que tinha na mochila, mas estava sem foco, logo se viu rodando a carta que recebera mais cedo entre os dedos, não precisava lê-la para saber as palavras exatas escritas no papel:

Cara Srtª Saint-Sallow,

Infelizmente o Sr Andrew Sallow não apresenta nenhuma melhora em seu quadro psicótico, contudo, se mantém estável e sem novos sinais de degeneração.

Era mais uma nota sobre seu pai, porque abaixo disso tudo o que ofereciam eram algumas informações já conhecidas sobre o quadro dele e mais um recibo pelo pagamento mensal que enviava. Suspirou baixinho, ele estava internado há sete longos anos e ninguém descobrira uma cura, as visitas eram deprimentes e só permitiam que entrasse enquanto ele estivesse dormindo, então ficava lá, o assistindo descansar. Deu um pulo ao sentir uma mão pesar sobre seu ombro, apenas para olhar para trás e ver que o treino terminara.

—Desculpe. —desencostou rapidamente, só então notando que os olhos escuros não estavam irritados, na verdade todo o rosto bonito parecia um pouco vazio. —Eu te chamei, mas acho que estava distraída.

—Tudo bem. —a voz saiu tão baixa que se forçou a se recompor, enfiou a carta na bolsa e se levantou, se sentia incomodada tão mais baixa que ele. —Eu estou te devendo uma.

As sobrancelhas dele se arquearam sem entender do que a garota estava falando, a boca se abriu levemente e então voltou a se fechar. Ilíria saberia dizer quem era o Oliver Wood fã fanático de quadribol desde o primeiro ano, e ainda assim só viera a reparar na aparência dele há pouco tempo, quando Heather decidira começar a flertar e se justificou dizendo que ele poderia até ser grifinório, mas não deixava de ser bonito. Bem, ela estava certa, e ele conseguia ficar ainda mais bonito depois de jogar. O uniforme vermelho combinava com o jeito como as bochechas dele ficavam rosadas, os olhos castanhos pareciam felizes e até o jeito como o cabelo caía sobre a testa tinha sua graça, chamá-lo de bonito era dizer o mínimo. Por isso ficara tão chocada na aula de Snape, Wood bebera uma poção da beleza e de repente todos pareciam fascinados por ele, mas aquilo havia apagado o charme de Oliver, então como poderia estar lindo?

—Por me salvar, Wood. —explicou, mexendo a cabeça como se quisesse olhar o céu, quando na verdade só queria desviar os olhos dele. —Então vou te dar um conselho: beije Heather quanto quiser, mas pare de se iludir, ela não está procurando um namorado. —deu as costas para ele, batendo as mãos na saia como se completasse uma missão, a verdade era que não tinha nada que pudesse ser do interesse dele, seu conselho teria que bastar.

Era a terceira vez em menos de uma semana que ele a segurava, se virou lentamente, encarando a mão que segurava seu pulso, subiu o olhar pelo braço forte, passou pelos ombros largos e chegou ao pescoço antes de fitá-lo. Mexeu os lábios um pouco incomodada com o sorriso de lado que ele abriu, mas Oliver não moveu a mão antes de dizer:

—Se está me devendo, Ilíria —o sotaque dele se enrolou no nome —Acho que pode fazer mais do que isso... Quero que Heather se apaixone por mim, e você vai me ajudar.