Doce Travessura escrita por Lizzy Di Angelo


Capítulo 1
Inimizade de Halloween




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Não conseguia dormir, faltavam apenas quatro minutos para meia noite e, embora fosse ter um treino importante logo pela manhã, Oliver Wood ainda estava acordado. Tudo culpa de sua arqui-inimiga, ela passara mais cedo bem ao seu lado, um sorriso estranho entre os lábios, então piscou inocentemente e saiu andando como se nada tivesse acontecido. Revirou os olhos, um dia ela ainda ganharia um prêmio por seu cinismo, ou uma pancada na cabeça, não sabia dizer o que viria primeiro. Mais um único minuto e seria Halloween, o Wood começava a bolar o que poderia aprontar contra ela, porque tinha certeza que Grace Villin estava armando alguma coisa. Pensou em azará-la, ela odiaria ficar com listras vermelhas e douradas, poderia também esperar até que ela estivesse sozinha para lhe dar um susto, quantos pontos sua casa perderia se “decorasse” a entrada para o Salão Comunal da Sonserina? Talvez valesse a pena. Consultaria os gêmeos Weasley depois do treino, se alguém tivesse uma boa ideia, com certeza seriam eles. Seus pensamentos foram ficando cada vez mais leves, o sono o enredando gradativamente, e antes que finalmente estivesse dormindo, seu últimos pensamentos foram as bochechas rosadas e os olhos escuros de Grace.

Estava exausto e mal humorado, ainda era muito cedo e já estava atrasado. Que belo capitão. Não tinha muito tempo, jogou água sobre o rosto e tentou ajeitar o cabelo com a mão, não teve sucesso. Vestiu seu uniforme de quadribol, depois do treino tomaria um banho tão longo quanto merecia, e com certeza precisaria: seu próximo jogo era contra a Sonserina, seu time andava treinando tanto que o Wood suspeitava que eles já sentissem raiva só de vê-lo. Bem, se queriam algum descanso, era melhor ganharem. Saiu de sua sala comunal em passos rápidos, deveria tomar café da manhã, mas não tinha tempo para isso e definitivamente odiaria vomitar. Suspirou entrando em um corredor diferente, teria que deixar seu café para depois também. Seus passos eram automáticos, estava distraído demais repassando as novas estratégias de treino em sua mente para notar a garota que surgiu no fim do corredor antes que ela já estivesse perto demais.

—Bom dia, Wood. —Grace desejou quando se aproximou, Oliver a encarou surpreso, não a vira vindo. Não era tão menor que ele, o que podia ser considerado surpreendente se levassem em conta o quão pequena parecia no primeiro ano, seus cabelos castanhos presos de qualquer jeito em um rabo de cavalo alto, os olhos escuros inchados de sono pareciam estranhamente fofos, mas não estava particularmente simpático nesta manhã. —Está bonito hoje.

Revirou os olhos mesmo que ela não parecesse estar brincando, Grace arqueou as sobrancelhas no que deveria ser irritação, os lábios delicados se franzindo em desdém, se sentiu mal por isso, mas ao invés de se desculpar, sua boca se abriu automaticamente para fazer o comentário mais estúpido que poderia:

—Já acabou? Estou com pressa. —pensou que ela discutiria, incomodada por sua grosseria, mas ao invés disso ela apenas deu um passo para o lado, saindo do caminho dele.

—Então suma da minha frente. —articulou tranquila apesar de tudo, um sorriso zombeteiro se abriu ao continuar: —Cuidado para não cair da vassoura.

—Isso é uma ameaça? —não esperou por uma resposta antes de voltar a andar, sabia bem que não era, porque ela não pisaria em um campo de quadribol mesmo que sua vida dependesse disso, mas teve que rir quando ela gritou da ponta do corredor:

—Bem que eu gostaria, Wood!

Não percebeu o que ela havia feito até ver todo o time lhe encarando estranho, tentou se desculpar por seu atraso, mas eles não paravam de olhá-lo como se ele tivesse surtado, o que começava a irritá-lo mais ainda. Bastou um gesto de cabeça para entenderem que ele queria uma resposta, e quando essa foi “não sabíamos que mudou de casa”, não poderia ter ficado mais furioso. Seu uniforme agora era verde, o brasão da Sonserina estava perfeitamente bordado em seu peito, a maldita garota realmente precisava provocá-lo logo pela manhã? Respirou fundo tentando conter sua raiva, então deu ordens para seus jogadores começarem o treinamento e refez toda a caminhada de volta para os dormitórios, onde estava sua varinha. Quebrara três nos últimos anos levando-as para os treinos.

Precisou de vinte minutos para conseguir desfazer completamente a azaração, podia até ser muito bom se tratando de quadribol, mas quando se tratava de usar magia para atormentar a vida das pessoas, definitivamente não existia ninguém melhor do que a Villin. Se fosse justo, levaria em conta que ela sofrera tanto no primeiro ano que aperfeiçoar seus conhecimentos sobre feitiço e combate foi muito mais uma necessidade do que vontade propriamente dita. Grace fora uma criança pequena demais, com bochechas gordinhas e pavor de altura, sua família não era importante como a de tantos outros membros de sua casa, o que fazia dela o alvo perfeito. Ainda lembrava-se de como haviam se conhecido, do olhar desesperado dela, estava obviamente em pânico.

Oliver nunca teve duvidas quanto a qual seria sua casa, estava destinado a Grifinória desde pequeno, e por isso quando viu um grupo rindo e comentando sobre a garota que deixaram no teto da escola, não pensou duas vezes antes de roubar uma vassoura e ir procurá-la. Demorou mais para convencê-la a soltar seus dedos da telha do que para achá-la, estava sentada, o rosto lívido de horror, os dedos fincados entre as telhas com medo de cair, a menina tremia tanto que o surpreendeu que as paredes do castelo não tremessem também. Quando finalmente a convenceu a se soltar, ela o apertou com tanta força que por dois dias Oliver ficou com as marcas, o rosto escondido nas costas dele, sem coragem de olhar para baixo. Tentou fazer a descida mais suave possível, mas foi um pouco difícil com tantos tremores vindos de Grace. Seus pés tocaram o chão, tentou pensar em um jeito de acalmá-la, mas só conseguia se perguntar qual ela faria primeiro: desmaiar ou vomitar. Então quando o corpo dela desmanchou e ela caiu desmaiada, tudo o que pensou foi que “bem, melhor do que vomitar”.

Ainda sentia um resquício (maior do que gostaria de admitir) de afeição por ela quando se lembrava disso, mas depois desse dia a Villin simplesmente sumira, procurara por ela em todo canto, querendo saber como estava, mas não encontrava nem um sinal daqueles cabelos castanhos. Quando voltou a vê-la, tinha tanta arrogância naqueles olhos que não se parecia com a criança que tirara do teto, revirou os olhos ao ouvir que ela não precisava de sua ajuda. Mesmo depois de tanto tempo Oliver não sabia que ela fugira dele por meses, oprimida pela vergonha de saber que alguém a vira naquele estado de fragilidade, claro que era grata por ter sido salva, mas Grace simplesmente não conhecia um jeito de exprimir isso.

Levantou-se da cama, dessa vez de banho tomado e vestido com o mesmo uniforme que todos os outros alunos usavam. Sua paciência havia desaparecido, então dispensaria o time e treinaria depois, caso contrario arremessaria um balaço contra a cabeça do primeiro que lhe cumprimentasse. Ao menos a água quente servira para lhe relaxar um pouco. Caminhou para fora de seu salão comunal pela segunda vez no dia, tomaria seu café da manhã e pediria uma das balas espinhentas para os gêmeos, tinha certeza que Grace comia balas de morango durante o dia, às vezes se perguntava se a boca dela não teria esse gosto. Sacudiu a cabeça, ficaria bem longe daquela boca.

O café da manhã foi tranquilo, conversou com alguns amigos, se serviu o quanto quis, e quando teve que ir para sua aula, a bala que enfiaria no bolso de Grace já estava consigo. A primeira aula seria de Adivinhação, não se surpreendeu ao ver Grace sentada sozinha, suas amigas não faziam essa aula. Olhou para cima em um susto ao ouvir a cadeira sendo arrastada, um pouco chocada por ver o grifinório sentando ao seu lado, não era uma coisa que ele costumasse fazer. Arqueou as sobrancelhas, mas não protestou.

—Como foi seu treino? —a pergunta soou quase como se fosse algo recorrente entre eles, o olhar dele lhe dizia que sabia muito bem o que ela queria saber. Grace riu, realmente achando graça.

Não sabia dizer se Wood entendia isso, mas não desgostava dele. Após ser salva o constrangimento fez dela rude, não tinha duvidas de que ele a considerava uma ingrata, contudo, não o era. Mas o tempo passou e continuou sem entender como deveria agradecer, então tudo o que fez foi tentar ser legal. Talvez ele não a achasse legal, mas era nítido que não o tratava como as outras pessoas, não era cruel se tratando de Oliver. Obviamente se divertia perturbando-o, mas era tudo inofensivo, vez ou outra até fingira não saber que ele estava se vingando, apenas para que ele sentisse como se houvesse conseguido enganá-la. Bem, não foi o caso desta vez. Estava tão ocupada olhando-o que sequer percebeu que, quando ele se aproximou dela com uma expressão de desdém, algo foi posto no bolso de sua capa.

—Foi ótimo, Villin. —o tom dele dizia o contrário, sentiu seus lábios se abrirem em um sorriso divertido enquanto enfiava a mão no bolso e puxava uma de suas balas de morango. Oliver se segurou para não rir ou encará-la demais enquanto assistia ela lentamente desembalar seu doce, e quando ela o pôs na boca, poderia ter gritado de satisfação. Mas não o fez, manteve o rosto neutro enquanto ela mastigava, pensou que tudo daria errada quando ela franziu os lábios, mas então ela seguiu. Agora era só esperar.

A aula seguiu normalmente, Grace traçava um mapa das constelações com mais atenção do que esperava dela, foi quando a primeira espinha horrorosa surgiu em seu rosto. Precisou de todo seu autocontrole para não dar alarde quando ela o olhou, então desviou o rumo de seus pensamentos do rosto dela. Sabia muito bem porque ela escolhera fazer a aula com o professor Firenze e não com Sibila Trelawney, o fato de ele ser um centauro forçou sua aula a ser no térreo, e a proximidade com o chão era sempre a primeira escolha dela. Era estranho de ver como ela sentia vertigem só de estar em alguns andares do castelo, como alguém que amava voar, sentia um pouco de pena. Talvez se ela confiasse nele poderia levá-la para dar uma volta em sua vassoura, nem que fosse rente ao chão e... No que estava pensando? Era impressionante como ela conseguia penetrar sua mente e fazer com que pensasse nas coisas mais estúpidas.

Voltou ao foco quando sentiu que era encarado, apenas para ver a expressão irritada no rosto espinhento de Grace. Aquelas balas funcionavam mesmo. Sorriu para ela debochadamente, a garota levantou da cadeira e agarrou sua bolsa, sequer precisou pedir para deixar a sala, quando Firenze olhou-a, o gesto de dispensa foi rápido. Aquilo estava realmente péssimo, teve que rir. Só voltou a vê-la no almoço, sentada do outro lado do salão e com o rosto já normal, e quando o pegou lhe encarando, fez o gesto mais feio que conseguiu pensar. Oliver gargalhou, e Grace não pode evitar o sorriso depois disso, mesmo tendo sido obrigada a jogar todas as balas que estavam em seu bolso fora.

A última vez em que encontrou Grace nesse dia o surpreendeu. Durante toda a tarde haviam perturbado um ao outro, tinha certeza que a parte que ela mais odiara fora quando seu rosto ganhou o brasão da Grifinória, já para Oliver a pior parte fora ter Pirraça lhe perseguindo. Não sabia como ela poderia ter comprado o poltergeist, mas certamente oferecera algo bom, porque demorou um longo tempo até conseguir se livrar dele. Então a noite acontecera a Festa de Halloween, onde cada um ficara com os membros da própria casa, mesmo que vez ou outra pegassem o outro o observando. E então de repente era quase meia noite, era estranho pensar que neste mesmo horário do outro dia, estava pensando no que poderia fazer contra a Villin, quando na verdade tivera um dia divertido graças a ela. Oliver subia as escadas, precisava chegar a Torre de Astronomia, aparentemente hoje teriam uma ótima visão do céu na aula de Aurora Sinistra, e foi então que viu Grace.

Ela estava sentada em uma escada, parecia pequena encolhida daquele jeito e por um segundo Oliver quase foi embora, convencido de que ela tentava lhe enganar. Mas então, antes que ela o visse, conseguiu perceber a lágrima que escorria por sua bochecha e a forma bruta com que ela a limpou, foi então que decidiu que iria até ela mesmo que fosse enganado e passasse uma semana inteira com os cabelos em pé ou com o uniforme da Sonserina, porque simplesmente não tinha coragem de deixá-la sozinha enquanto chorava. Esperou sua escada mudar de direção, e quando finalmente chegou ao degrau em que ela estava, sentou ao seu lado.

—Oi. —murmurou baixinho, não querendo se meter demais nos problemas dela.

—Oi, você não tem nada pra fazer? —foi propositalmente rude, era a segunda vez que se sentia exposta demais na frente de Oliver Wood. Tampou o rosto com as mãos e respirou fundo, tentando se acalmar, mas a verdade é que não era muito boa quando se tratava de controlar o pânico.

—Tenho, mas no momento estou um pouco ocupado com uma coisa mais importante. —sorriu gentilmente quando a viu descobrir o rosto para olhá-lo, curiosa com o que ele dissera. Era uma idiota por estar um pouco emocionada depois de ser considerada “uma coisa mais importante”? Porque não esperava que ele lhe considerasse assim. —Por que está aqui essa hora?

—Aula de astronomia. —sussurrou, conseguiu ver o exato momento em que ele entendeu tudo, tampou o rosto novamente.

—Você tem medo de altura. —Oliver disse isso mais para ele mesmo do que para Grace. —Você sente vertigem, não é? Por isso não conseguiu terminar de subir.

—Já sei que sou uma grande covarde e não preciso de ninguém da Grifinória para me dizer isso.

—Não era isso que eu ia dizer. —deu de ombros quando ela voltou a olhá-lo, quase sorriu ao ver que parara de hiperventilar, mas como ela parecia alheia ao fato, continuou sério. —Quer que eu te ajude a voltar?

—Deveria ir para sua aula, já deve estar começando. —Wood foi forçado a revirar os olhos, se levantou, e quando Grace achou que ele realmente iria embora e a deixaria ali, ele agarrou suas mãos e a puxou para cima.

A menina quase riu, as mãos ainda juntas, mas então seus olhos correram para a borda da escada e viu a altura que estava. Oliver segurou o rosto bonito entre as mãos, a forçando a encará-lo antes de sussurrar:

—Não olhe para baixo, ok? Vou te levar de volta, confie em mim. —as bochechas dela ficaram tão vermelhas que ele não queria soltar, então completou: —Mas só por hoje, amanhã volto a me vingar. —a gargalhada dela encheu o ar.

Tirou as mãos do rosto dela mesmo contrariado, então envolveu o ombro com um braço e agarrou a bolsa dela com o outro, pendurou-a no ombro e guiou a menina mais para o meio da escada, querendo mantê-la longe das beiradas. Durante todo o percurso até as masmorras ele falou, monopolizando toda atenção da morena e amando como a gargalhada dela era bonita, contou para ela histórias sobre sua infância, e até uma envolvendo Fred e Jorge. Esqueceu totalmente de como deveria estar na aula de astronomia, e também de como estivera irritado com ela pela manhã, porque de repente descobriu que nunca conseguiria estar em outro lugar sabendo que Grace Villin precisava dele.

E então estavam na entrada para os dormitórios da Sonserina, nenhum dos dois querendo se despedir tão rápido, Grace se sentia bem de um jeito que sequer parecia que minutos antes chorara de medo. Virou-se para o garoto pensando no que dizer, mas para seu azar, ele tivera a mesma ideia. Por alguns segundos ficaram apenas se olhando, os rostos próximos demais para que parecesse mera coincidência, então os olhos castanhos de Oliver desceram para os lábios de Grace, e ela se esticou para que finalmente se encontrassem.

O beijo foi lento, estranho no começo, e de repente mágico. Foi como se tivessem levado alguns segundos para entenderem quem estavam beijando, e quando entenderam, não poderia ter existido nada melhor. Separaram-se, contudo, mais do que rapidamente Oliver voltou a segurar as bochechas macias e a puxou novamente para si, uma e outra vez. Olharam-se, envergonhados e... Satisfeitos? Wood riu, fazendo com que Grace risse.

—Então... Feliz Halloween? —a duvida na voz dele tirou mais uma risada dela.

—Acho que Halloween já acabou. —comentou aceitando sua bolsa de volta, nem se dera conta de que ele a pegara.

—Mas foi o melhor de todos. —sorriu para ele tímida, mas se sentia feliz.

—Se você está dizendo... —foi a vez de ele rir, a resposta poderia ter sido vaga, mas Grace se sentia incapaz de parar de sorrir, o que era o suficiente para ele.

—Não está convencida ainda? —negou divertida, mas se divertiu mais ainda quando ele lhe puxou para perto, começando um novo beijo.


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