Entre Letras e Versos escrita por JosiAne


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, olha eu aqui com uma nova fic.

Como as outras, mais uma fic Rheese, essa bem curtinha (apenas três capítulos) que escrevi há algumas semanas.

Os capítulos serão postados a cada dois dias, pois apesar de já estar concluída quero fazer uma última revisão.

Obrigada a Reh (Regina Rhodes Merlyn) por ter me incentivado e me dado uns toques durante o processo de criação e a Marielle por esta capa linda a qual estou apaixonada.

Boa leitura!



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Sarah entrou no pequeno e aconchegante apartamento batendo a porta com força.

“Babaca imbecil.”

Rosnou frustrada, nem mesmo se importando com o barulho que a porta fez ao se chocar com o batente, ou que importunasse seu vizinho, ou com qualquer estrago que ela pudesse ter causado na porta de seu precioso apartamento que ela teve tanta dificuldade em conseguir e grande satisfação em decorar ela mesma.

Se virando para olhar para a porta ela respira fundo, não, ele não iria fazê-la perder o controle. Ela estava farta disso, farta dele.

Inspirando e expirando lentamente ela começou a pensar em coisas boas. Ela pensou no último livro que lera, um romance bobo e cheio de água com açúcar, mas de uma facilidade incrível de ler, ela estivera precisando de uma leitura leve nos últimos tempos. Ela também pensou em seus pequenos que lhe fazem sorrir todos os dias com suas perguntas incessantes e o imenso carinho que eles demonstram por ela ao abraçá-la e beijá-la todos os dias na entrada da porta da sala de aula quando ela os recebe e novamente quando se despede no final do dia. Ela também pensou nele, o mais recente rapaz em sua vida, Romeo, assim que ela o chama desde que ele entrou em sua vida há um pouco mais de um mês e a deixou ainda mais apaixonada.

Se virando, ela caminha da porta até o sofá de almofadas e capa em cores do arco-íris, olhando por cima deste a procura dele, ele adora se espalhar por seu sofá. Ela franze a testa ao não o encontrar, mas logo ela dá de ombros, ele é um aventureiro e constantemente escapa. Ele sempre volta, ele tem o espírito livre e ela agradece a sorte que tem de ele a ter escolhido, sim, foi ele que a escolheu quando apareceu em sua janela com seu olhar carente, ela não resistiu àqueles olhos e o deixou entrar em sua casa. Foi a benção em sua vida.

Era um domingo estressante e ela acabara de chegar da casa de Marcus, mais uma vez ela teve um desentendimento com a mãe dele e ele como em outras ocasiões não fez nada para defendê-la, ela estava tão irritada que tremia e então ela o viu a bola de pelos cinza escuro mais linda que já tivera o prazer de por os olhos, lentamente ela se aproximou e abriu a janela, em um salto ele entrou e pulou direto no sofá se aconchegando entre as almofadas, seus olhos amarelos a encarando e ela se derreteu ali mesmo, não teve coragem de pô-lo na rua.

“Ei menino” ela coçou o espaço atrás da orelha dele e ele inclinou a cabeça fechando os olhos e ronronando “Cadê sua mamãe hem? Ou seu papai? Ele abriu os olhos e eles pareciam perfurar sua alma.

 “meaw”

Ela olhou bem pra ele, não havia qualquer indicação de um tutor, uma coleira ou pelo menos uma fita, mas ele estava gordinho demais para ser um gato de rua, muito aberto e carinhoso, mas então a carência com que ele a olhava e respondia a seus carinhos, talvez o dono tivesse ido embora e o deixado para trás.

Os próximos dias foi assim, ele aparecia poucos minutos após ela chegar em casa, ela o alimentava e mimava por alguns minutos e então ele saia, na semana seguinte ele começou a passar mais tempo, mas nunca ficando permanentemente. Ela passou a deixar uma fresta na janela para que ele pudesse entrar e sair quando quisesse, ela mora no quarto andar de um prédio com bons vizinhos e aparentemente seguro, não via riscos nisso. Ela se acostumou com essa rotatividade, algumas noites ele dorme com ela, outras ele simplesmente some e só aparece no final do dia seguinte quando ela chega do trabalho.

Muito mais calma ela segue para cozinha esperando que ele não demore a aparecer, ela está precisando de carinho e aconchego nesse momento e ele é seu garoto perfeito para isso. Ela abre a geladeira e pega uma maçã, uma fatia de melão e uma laranja. Senta no banquinho da ilha que separa a sala e a cozinha, descasca a laranja e o melão e corta em cubos, faz o mesmo com a maçã e os ordena em um prato. Comendo devagar ela pensa no momento atual de seu relacionamento, ela precisa dar um jeito nessa situação, a cada dia a convivência com Marcus está se tornando mais atribulada, ele é um filhinho da mamãe que nunca irá a defender dos ataques verbais da mãe. Suspirando ela se decide, irá encerrar essa fase de sua vida e se livrar de uma vez do problema.

Ela ainda tem sentimentos por ele, não tão profundos como quando iniciaram o namoro, mas eles ainda estão lá a deriva de seu coração e vai doer imensamente se afastar dele, mas é o correto, ela não quer chegar ao ponto em que eles passarão a se odiar, a mãe dele nunca vai aceitá-la apenas por que ela é uma mulher simples que cresceu longe do luxo e da riqueza. Ela quer uma mulher de mesmo status social que eles e essa mulher não é ela. Nem mesmo se ela um dia chegar a ter toda a riqueza que eles ostentam, ela nunca vai ser a mulher esnobe e fútil que a mãe dele precisa para acompanhar sua vida de socialite.

Afastando o prato quase vazio ela baixa a cabeça no tampo da ilha, as lágrimas rolando por sua face.

“Romeo!” ela chama frustrada pela falta de seu amigo.

Ele não apareceu, ela esperou por horas sentada na ilha, a cabeça ainda encostada no tampo e os braços cruzados no espaço vago, quando finalmente sente os efeitos de estar sentada em uma posição desconfortável ela se levanta e segue para o quarto. Pega a toalha e o pijama com estampa da princesa Jujuba de A Hora da Aventura e segue para o banheiro, cansada ela tenta não se prolongar embaixo ducha.

Ela se enrola embaixo das cobertas sentindo imensamente a falta de Romeo e de Marcus, um não apareceu ainda, o outro não ligara nenhuma vez, ela não sabe se iria atender, mas ela queria que ele demonstrasse de alguma forma que se importa com ela. O choro retorna e ela se encolhe em uma posição fetal sentindo-se sozinha e abandonada. Algum tempo depois ainda chorando baixinho ela ouve, o som baixo, mas ainda suficientemente alto para ela ouvir, seu vizinho está fazendo de novo. Ela não entende nada de música, mas ela sabe que esta é um instrumental clássico e que estranhamente sempre a acalma, talvez seja essa intenção dele, se acalmar. Aos poucos o som do violino vai aumentando, o acompanhamento do piano fazendo os acordes ficarem mais altos e encherem seu quarto, suspirando ela relaxa a tal ponto de que sem querer ela começa a fechar os olhos e lentamente entra no mundo dos sonhos.

ฅ^•ﻌ•^ฅ

Ela acorda assustada no dia seguinte, o som do telefone fazendo seu coração disparar as pressas, ela levanta o torso e sentando-se na cama ela pega o celular na mesinha de cabeceira seu coração dispara ao ver o nome de Marcus piscar na tela, mordendo os lábios e ponderando o que fazer ela olha estática enquanto a chamada cessa e poucos segundos depois ele recomeça a tocar.

“Não.” ela é firme, mais tarde quando souber o que dizer e como, ela o procura.

Ela não vai falar com ele agora e correr o risco de se deixar levar pelos sentimentos como das outras vezes, dessa vez ela vai dar um tempo e só vai falar com ele de novo quando tiver certeza que não irá cair na armadilha do próprio coração, cada vez que eles brigam e depois fazem as pazes seu coração se dilacera um pouco mais. Isso não estará acontecendo novamente.

Deixando o celular na cama ela inicia a rotina matinal de se preparar para o dia, é domingo e os planos que ela tinha mudaram, ela iria passar o dia com Marcus, mas agora é apenas ela, Romeo ainda não apareceu e ela fica levemente chateada, mas assim é a natureza dele. Ela decide ir até o Solar café que fica há duas quadras de seu apartamento e como ainda é início de primavera ela opta por uma calça jeans escura e blusa branca de alça com um casaco de mesma cor. Deixando o celular e pegando apenas um livro e o dinheiro que vai precisar ela sai de casa.

O prédio é pequeno e são apenas três apartamentos por andar, parada no corredor estreito ela olha para a porta do vizinho desconhecido, ela não tem dúvidas de que é ele, ela já ouviu o porteiro o chamar de senhor pelo interfone, o outro está vazio.  Ela sabe que sua porta fica no final do corredor, pelo fato el conseguir ouvir o som da música dele ela acha que ou seus quartos estão ligados por uma parede ou a sala dele ao quarto dela, e além disso pela música que ele ouve ela imagina que já seja um idoso, ela gostaria muito de um dia poder encontrar ele e agradecer pela música, é realmente calmante. Quem sabe um dia.

Ela pede o café e o croissant  de sempre, sentada na mesa de sempre que fica bem perto da janela de vidro próxima a parede de fundo do estabelecimento, pois assim ela pode ler em paz.  Pela próxima hora sua xícara é reabastecida duas vezes, a menina de sempre a atende e já conhece sua rotina. Nunca prestando atenção a quem entra ou sai ela permanece absorta em sua leitura, é um autor contemporâneo  que escreve romances, Sobre os trilhos é seu quarto livro e ninguém nunca viu seu rosto, especula-se que Cole Reynolds seja um nome fantasia, a expectativa para que ele se revele é alta e até ela tem uma certa curiosidade para ver seu rosto, ela se apaixonou pelos três primeiros livros e o quarto está abalando seu emocional, é a história de um casal de meia idade que se encontra todos os dias no metrô, eles nunca se falam, mas aos poucos Raphael se apaixona pela mulher solitária que compartilha o espaço com ele, ele decide se aproximar e lentamente ganha a confiança e a amizade dela, eles passam a se encontrar fora dali e criar laços mais fortes. Sarah está na parte em que Grace confessa a Raphael estar lutando contra um câncer no estômago e por isso ela rejeitou suas investidas românticas, ela precisa fazer ele entender que suas chances de cura são poucas. É um clichê, ela sabe que na atualidade com tantos novos autores muitas ideias são parecidas, mas é a forma em que elas se desenvolvem que faz o diferencial e Cole Reynolds está conseguindo essa proeza, ela está vidrada querendo saber logo se Raphael irá conseguir sua conquista, ou se Grace irá permanecer irredutível. Ela irá se curar? E se não, ela espera que ao menos tenha um pouco de felicidade antes do fim de sua vida.

Fungando baixinho ela limpa uma lágrima sorrateira essa é a deixa para ela ir pra casa, seria muito estranho começar a chorar em público agora. É um bom momento também para acalmar suas emoções depois do capítulo intenso que lera. Ela paga a conta e quando sua mão alcança a maçaneta da porta outra mão alcança a maçaneta externa ao mesmo tempo, ela levanta a cabeça e se depara com o moço bonito de cabelos escuros e olhos azuis que ela encontrou algumas vezes no local, ela sempre se pergunta o que alguém que está sempre tão elegantemente vestido faz por aquelas bandas, o café é bom e o espaço bem arrumado e limpo, mas o bairro apesar de ser considerado seguro não é um bairro que os ricos costumam frequentar e ela pode dizer com todas as letras que ele é um cara de classe alta.

Eles se encaram e ele levanta minimamente o lábio, ela percebe que ele está esperando ela fazer o primeiro movimento, dando um passo para o lado ela dá espaço para que ele abra a porta o que ele o faz seguido de um gesto cavalheiresco para que ela saia. Eles não dizem nada em palavras um ao outro apenas inclinam a cabeça em saudação. O cheiro do perfume dele é celestial e ela inala com um suspiro.

Sarah entra em casa e logo procura por Romeo, mas ele ainda não voltou, ela começa a ficar preocupada, ele nunca ficou tanto tempo fora desde que apareceu. Ela vai até a janela e olha pela sacada, nenhum sinal dele. Ele vai aparecer. Diz a si mesma, tentando não se preocupar ela deita no sofá e abre o livro.

Quatro capítulos depois e dez ligações não atendidas de Marcus, ela o ouve, ele não é silencioso e solta um pequeno gemido quando aterrissa no chão. Ela espera que ele suba em seu colo, mas ele não o faz, ela sente o olhar dele sobre ela então com calma ela fecha o livro e se vira para por em cima da mesinha que fica entre o móvel e a poltrona. Quando seus olhos recaem sobre ele, ela se assusta, um grito fraco sai sem querer de seus lábios, ele tem um corte na orelha esquerda e faltam alguns pelos nas costas sendo perceptível os machucados, agora ela entende o sumiço dele, ele provavelmente estava lambendo suas feridas metafórica e literalmente.

Com cuidado ela o pega no colo, ele já está limpo então ela não se preocupa em se sujar com seu sangue.

“Ah, meu nenê, quem fez isso com você?” sua voz é aguda e quase infantil, ele bate a cabeça na mão dela, sua forma de pedir carinho.

“meaw”

“Foi algum gato malvado?”

“meaw”

Ela inspeciona os ferimentos e percebe que não são tão graves quanto ela imaginou a primeira vista. Ele tem alguns arranhões superficiais dando-lhe a certeza que ele esteve em uma briga.

“Isso foi alguma briga por uma garota bonita?”

“meaw” seu miado rouco confirma sua suspeita e ela balança a cabeça em advertência.

“Não, isso não é certo, garota nenhuma o merece se você tem que brigar por ela.” explica, um dedo em riste no ar. Romeo a olha por alguns segundos e baixa a cabeça se acomodando em seu colo.

“Precisamos fazer algo sobre isso.” ela diz para consigo mesmo “Essa semana marcarei com o veterinário, a castração está em ordem, não podemos arriscar que saia por aí brigando e correndo riscos” tagarela, o gato não dando atenção “Não vou arriscar te perder para brigas de rua.” afaga o pelo macio, sua mente agora voltando a Marcus, o aperto no peito aumentando “Ai Romeo, senti tanto a sua falta, precisava tanto de um carinho, ainda preciso.”

Confessa agarrando o gato e deitando de lado, apertando-o contra seu peito, ele encaixa a cabeça entre seu ombro e o pescoço e fecha os olhos, fazendo o mesmo ela respira pausadamente tentando controlar as emoções e evitar as lágrimas.

“Vizinho...” sussurra “Preciso daquela música agora.”

E como que se a tivesse ouvido os acordes suaves enchem seu pequeno apartamento.

ฅ^•ﻌ•^ฅ

Reeec. O som de papel rasgando ecoa pelo apartamento silencioso.

Frustrado o homem solitário bate com a cabeça no tampo da mesa.

“Urgh!” grunhe irritando.

Há quase duas semanas que ele vem tendo bloqueios de criatividade e isso é irritante. As ideias estão lá a deriva de sua mente, mas ele não consegue organizá-las. Tudo é embaralhado e toda vez que ele começa a escrever algo, seus dedos paralisam no segundo parágrafo e ele acaba se estressando, seis meses era o prazo que ele tinha para entregar o volume, três já se passaram e ele só conseguiu fazer um pouco mais da metade. Ele não sabe mais o que fazer. Tentou a meditação, fazer caminhada para espairecer a mente, ouviu clássico – que ele já fazia, mas agora também enquanto escreve – e agora está tentando uma nova técnica escrever primeiro no caderno. Tudo em vão.

Ele levanta a cabeça e esfrega a testa que pressionada contra o caderno agora mostra marcas de arame.

“Ótimo, urgh!”

Ele olha para a folha em branco zombando dele, com uma careta ele pega a caneta, ajeita o caderno e se prepara para retornar a tentativa de escrita.

Toc-toc...

O som de batidas na porta o assusta e ele larga a caneta.

“Droga.”

Toc-toc...

Ele está para se levantar quando percebe que não é em sua porta as batidas. Os apartamentos são tão pequenos e suas portas tão próximas que ele as vezes se confunde.

Bam... Bam... Bam...

A batida fraca se tornou um grande estrondo e ele se irrita.

Bam... Bam... Bam...

“Querida... Abra a porta.”

Bam... Bam... Bam...

“Idiota.” ele resmunga.

“Sarah, abra essa porta.”

“Argh!” ele levanta mal-humorado, marchando até a porta ele a abre fazendo-a bater na parede com força.

O homem parado em frente a porta de quem agora ele sabe se chamar Sarah, sua vizinha, olha pra ele. Ele dá uma boa olhada no cara vestido em esporte fino, óculos e cabelo bem penteado. Um engomadinho.

“Amigo poderia parar com o barulho, por favor!” ele tenta ser educado, mas não consegue controlar o tom de voz irritado.

Bam... Bam... Bam...

O homem o ignora e ele range os dentes para conter a raiva. Ele sai do apartamento e mantendo a porta aberta dá dois passos em direção ao sujeito que continua a chamar por Sarah.

“Você é surdo cara?” O outro para e desvia o olhar pra ele “Você está incomodando com esse barulho incessante.”

“Eu preciso falar com Sarah.” O sujeito fala quase sem fôlego e de uma forma um tanto mimada, Connor pensa que ele só faltou bater o pé.

“Eu não importo com o que você precisa, estou tentando trabalhar e você está atrapalhando” se aproxima mais do barulhento que recua “se a moça não o respondeu é por que ela não quer ou não está, ligue para ela ou vá embora, mas pare com o barulho ou eu mesmo vou fazê-lo parar.”

Ele precisa reunir todo seu autocontrole para não avançar em cima do sujeito. A frustração e irritação emanam de seus poros e se ele já queria aliviar o estresse batendo em algo antes, agora ele já tem a pessoa e um motivo.

“Haja como um homem e deixe a moça em paz, quando ela quiser irá falar com você.”

Dando uma última olhada para a porta e novamente para ele o homem sai. Connor revira os olhos para reação patética do sujeito, ele não tentou confrontar Connor ou insistir e saiu com o rabo entre as pernas.

Ele retorna ao próprio apartamento, abre e fecha a mão querendo aliviar a tensão. Alguns segundos depois de controle da respiração ele inclina a cabeça, ambas as mãos vão parar em cada lado da cabeça e ele massageia a têmpora.

“Uma dor de cabeça não, agora não.”  baixa as mãos com um bufo.

Pegando o celular ele conecta ao smart  speaker e aciona sua playlist favorita no Spotify, um jazz para relaxar. O som do saxofone ecoa na pequena sala e ele senta no sofá, com olhos fechados inspira e expira lentamente.

Ele aprecia o som, satisfeito por não ter tido nenhuma reclamação dos vizinhos. O lugar é pequeno e ele sabe que mesmo não colocando-o em um volume alto as ondas sonoras chegam aos vizinhos. É um prédio modesto e os apartamentos são pequenos, mas é perfeito para ele desenvolver sua criatividade. Diferente do luxo em que ele vivia, neste local ele tem paz e silêncio. É apenas ele e Shadow. Se lembrando de seu amigo ele abre os olhos e escaneia o local, ele desapareceu de novo, o vigarista, nas últimas semanas ele tem feito muito isso. Ele tenta não se importar, pois ele lhe dá espaço para pensar e sempre acaba voltando.

Voltando a se recostar no sofá ele volta a atenção a música que flutua no ar. Aos poucos ele limpa a mente e volta a se concentrar em sua história. Mais um romance, ele ama todo gênero da literatura, mas o romance é seu ponto fraco. E seu romance traz a história de Mazon e Violet. Ela uma CEO que precisa parecer fria e implacável para manter o respeito dos homens em seu ambiente de trabalho, ele um pai solteiro que trabalha como garçom em um famoso restaurante, ali que seus caminhos se cruzam, o restaurante é o ponto de encontro dela e outros empresários quando vão fechar seus negócios, a dedicação extra dele ao atender seus pedidos chamando-lhe a atenção, ela é no fundo romântica e carente de atenção e logo se vê admirando mais que o necessário o garçom e usando como desculpa o agradecimento pela dedicação especial dele ela se aproxima. É ela quem dá o primeiro passo e demonstra todo o interesse, no início ele é cético, mas acaba deixando ela se aproximar. O problema é que ela também tem receio de perder o respeito dos outros se descobrirem o romance e ele não vai aceitar ser um segredo.

E é aí que o bloqueio de Connor entra em ação, ele não sabe como continuar, ele precisa, sente que a história precisa de algo mais. O drama deve prender o leitor, ele já pensou em incluir algum mistério no meio, um concorrente que está disposto a sujar as mãos para se livrar dela, mas como ele vai ligar ao romance?

“Vamos lá Connor, pense.” como em um insight ele sabe o que fazer, Dawson, o concorrente precisa descobrir o segredo dela.

Agora ele só precisa planejar como esse desenrolar da história se dará. Animado ele levanta e vai até a mesa, com a esperança renovada ele pega a caneta.

ฅ^•ﻌ•^ฅ

Sarah anda de um lado ao outro em sua cozinha na preparação de seu jantar. Os sons de piano e saxofone lhe dando ânimo para preparar uma refeição decente e bem diferente do almoço que não passou de dois sanduíches naturais. Seu vizinho parece saber a hora certa de por a música pra tocar e mais cedo ela quase teve a chance de finalmente conhecê-lo e agradecer não fosse o receio de dar de cara com Marcus que passou o dia ligando e quando ela achou que ele finalmente se cansou apareceu em sua porta.

Ela tinha intenção de apenas ignorar seu chamado, mas então ele passou a ser mais insistente e a fazer escândalo, ela estava prestes a abrir a porta apenas para que ele parasse quando ouviu uma voz desconhecida, mas tão ameaçadora que até ela teve um pouco de medo, talvez ele seja algum ex comandante do exército, ouvido atentamente o que ele dizia ela percebeu se tratar de seu vizinho, irritado com o escândalo de Marcus e ela agradeceu a isso, o desconhecido conseguiu em pouco tempo fazer seu, infelizmente ainda namorado, ir embora, quando a conversa cessou ela quis abrir a porta para finalmente falar com o homem, mas ela não sabia se Marcus ainda estava a espreita, dez minutos depois seu telefone tocou, ela não atendeu, mas mandou uma mensagem que no dia seguinte falaria com ele, depois de mais duas tentativas da parte dele finalmente desistiu.

Agora sua única intenção é descansar o corpo e a mente, ela precisa estar preparada para mais uma semana de trabalho, seus pequenos são uns amores, mas lhe dão muito trabalho e ela precisa estar em paz consigo mesma para conseguir por ondem na bagunça deles.

Finalizando o risoto de cogumelos ela olha para Romeo que está deitado preguiçosamente sobre a banqueta ao lado da que ela costuma sentar.

“Você não parece se importar com a música” enfia a mão no pelo do bichano “Também gosta desse som gostoso?”

“meaw” Romeo levanta a cabeça e a encara, suas pupilas estão dilatadas e ele fica ainda mais fofo.

“Vamos comer e então ter uma bela noite de sono.”

“meaw” ele pisca lentamente e é o acordo de que essa noite ele é só dela.

ฅ^•ﻌ•^ฅ

Tendo planejado parar na clínica veterinária que fica no caminho de seu apartamento até o trabalho, Sarah sai mais cedo. Como sempre ela para no corredor e olha para a porta do vizinho, ele, ela percebeu, esteve acordado até tarde, tendo despertado no meio da madrugada ela ainda ouviu os sons vindo do seu lado do prédio, era mais suave, uma mistura de instrumentos de cordas e sopro e após retornar do banheiro ela dormiu rapidamente. Agora tudo está silencioso e ela assume que ele esteja finalmente descansando. Os idosos tem um horário estranho para dormir.

ฅ^•ﻌ•^ฅ

“Tia Sarah!” o grito alegre faz ela abrir um grande sorriso, tendo chegado um pouco mais tarde que o habitual por ter parado na clínica, alguns de seus pequenos já estão a sua espera.

A garotinha com seus sete anos de muita energia corre até ela instigando os outros a fazerem o mesmo, em instantes suas pernas estão imobilizadas por pequenos braços e mãos que se agarram a elas.

“Ei, ei... Cuidado ou vão me derrubar.” ela avisa e imediatamente eles se afastam, mas permanecem a sua frente impedindo-a de seguir em frente “E como passaram o final de semana?”

Ela se arrepende imediatamente de perguntar, pois no segundo seguinte eles estão falando todos ao mesmo tempo, um querendo falar mais alto que o outro e querendo sua atenção apenas para si.

“Muito bem, muito bem.” ela sorrir e tenta fazê-los se acalmarem “Vamos para dentro e um de cada vez irá me contar  as peripécias do final de semana.”

Não importa o quão ruim foi seu final de semana, vê-los e ouvi-los instantaneamente lhe dá um novo sopro de vida.

ฅ^•ﻌ•^ฅ

O dia passou tão rápido que quando Sarah se deu conta estava passando pela entrada do restaurante onde havia combinado de encontrar Marcus.

“Sarah querida.”

Apenas em ouvir sua voz seu coração dispara, a emoção de encontrá-lo novamente misturada com o nervosismo do que irá fazer. Virando-se em sua direção ela o vê há duas mesas de onde ela está,  como sempre muito bem alinhado, nada fora do lugar. Ele é um homem bonito e ela não dúvida de que seu sentimento por ela é verdadeiro, mas sua devoção pela mãe sempre será mais forte e ela não está disposta a continuar nesta competição.

Ele se levanta, sem surpresa com um sorriso de dentes a mostra e ela tem vontade de revirar os olhos, Marcus tem o dom de agir como se tudo estivesse normal entre eles mesmo depois de um desentendimento. Ele aproxima-se para lhe cumprimentar com um beijo e ela se força a desviar o rosto, é preciso usar de toda sua força para não se deixar cair em seus braços.

“Baby.” sua voz tem um tom baixo e doce “Por que não me atendeu?” questiona com o indicador tocando seu queixo.

Ele é tão relapso que não percebe ou se recusa a perceber que ela o está tentando evitar.

“Não posso me demorar, Marcus. Só aceitei esse encontro por que precisamos dar fim nessa situação.” sentando-se, ela evita olhar diretamente em seus olhos ou não vai ter coragem de fazer o que tem que fazer.

“Sarah, querida...” ele tenta pegar sua mão, mas ela a puxa baixando-a em seu colo.

“Não dá mais, Marcus.” o encara por um momento “Cansei dessa situação, cansei de ficar em segundo plano.”

“Sarah...” ele parece confuso e ela bufa.

“Eu só vim até aqui para dizer que acabou.” pisca freneticamente para conter as lágrimas que se acumulam.

“Sarah, não...”

“Por favor” assinala com a mão para que ele pare “me deixe continuar ou não vou conseguir.”

“Então não, vamos conversar.” Ele tenta, mas ela não o deixa continuar.

“Eu não aguento mais essa situação, já deu pra mim, você sempre vai escolher a sua mãe e eu entendo, realmente entendo, por isso decidi que não quero mais fazer parte disso, porque a cada vez que ela me insulta e me humilha uma parte minha se quebra e não posso deixar mais que isso aconteça. Eu não sou feliz nesse relacionamento.” sua voz está embargada, ela sofre por ela, por ele, pelas lembranças boas e também as ruins, por todas as vezes que foi desrespeitada e ele não a defendeu “Adeus, Marcus.” levanta-se “Espero realmente que encontre alguém, que como sua mãe diz, esteja a sua altura e seja feliz, por que é o que pretendo ser a partir de agora.”

Ela se segura para não chorar todo o caminho até em casa e no minuto em que fecha a porta do apartamento desaba. Encostada na porta ela chora pelo fim do que ela achou que duraria a vida toda. Os soluços são fortes e altos, ela não se importa com nada mais a não ser em extravasar e liberar toda dor que está sentindo. Ela apenas se deixa levar, ela precisava disso, precisava de um fechamento e foi o que ela fez.

Ela sempre ouviu que depois de todo fim de relacionamento a primeira etapa é a da negação, mas não com ela. Ela não vai negar o que está sentindo e no momento tudo o que ela precisa e quer é chorar. Jogando a bolsa em um canto qualquer ela segue para o quarto e sem cerimônia se joga na cama. Ela vai chorar até que não reste mais lágrimas, não reste mais dor, apenas o vazio e então ela vai começar de novo, por que ela é Sarah Reese e Sarah Reese tem uma única prioridade, sua felicidade.

A música recomeça no apartamento vizinho e como uma cena de cinema ela chora e rir ao mesmo tempo. Oh! A situação. E para fechar o pacote Romeo aparece e com cautela se aproxima. Ele deita ao seu lado, o focinho gelado encostando em seu nariz. O conforto necessário e ela se agarra a ele.


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Notas finais do capítulo

Me deixem saber o que acharam do capítulo ;)

Para quem acompanha In My Heart, o capítulo novo já está em desenvolvimento, apenas fiquei muito tempo ocupada com um curso de cinco semanas e não pude escrever.



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