Havia uma cumplicidade muito singular quando Jamie encarava aqueles olhos brilhantes e repletos de vida. Passavam algumas horas num silêncio poético, deitadas aconchegadamente debaixo das cobertas, com as pernas enroscadas e os olhos presos no rosto uma da outra. Era como se cada uma recitasse uma promessa muda, um poema expressionista ou uma carta que inundava desejo e carinho.

Naquela pequena fração onde o tempo congelava, não havia futuras preocupações, medo ou inquietação com o dia de amanhã, pois preferiam esgotar o restante do tempo que tinham para memorizar cada traço do rosto, cada caminho do corpo, cada lugarzinho que tendia a se arrepiar com o mínimo toque.

Contudo, o anseio era quase palpável no quarto escuro. Para Danielle, o desejo de que Jamie não sofresse por sua futura perda. Para Jamie, o anseio de que Danielle pudesse passar o restante de sua vida ao seu lado, como deveria ser. Mas, para ambas, a ânsia e a inquietação angustiante não passavam de sonhos longevos, e o dia proibido do qual tentavam postergar, aconteceria mais cedo ou mais tarde.

No entanto, enquanto ele não chegava, Danielle e Jamie encaravam-se silenciosamente. Como numa conversa muda, havia a promessa silenciosa de que amariam-se a vida toda, e assim seria nas vidas seguintes. Como num poema expressionista, havia uma longa camada de problemas, acompanhada de emoções únicas e furtivas, repletas de cores vivas e distintas. Como qualquer relacionamento puro, havia apreço, devoção e fascínio; coisa que fantasma ou maldição alguma poderia desvanecer.