TRINDADE Jilytober 2020 escrita por Jú M


Capítulo 1
As cinco versões de James Potter


Notas iniciais do capítulo

SINOPSE: James Potter é um mago renomado no reino de Hogwarts, o melhor na habilidade de criar poções. O que ele não esperava, entretanto, era que Lilian Evans, a humana enxerida e desastrada, acabasse derrubando nele, uma de suas próprias invenções. É assim que surge cinco versões diferentes de James: o badboy, o tristonho, o reclamão, o romântico e o inteligente.



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Lilian Evans chegou na seguinte conclusão: estava prestes a surtar. Completamente. A ponto de perder a cabeça e etc. Ela sabia disso, pois os sintomas eram claros. Os sinais estavam todos ali:

1. Suas mãos tremiam.

2. Sua veia da testa pulsava.

3. Olhos arregalados.

4. Chances de desmaiar ali mesmo.

Por último, porém mais importante:

5. Estava ALUCINANDO.

Só podia ser, era a única explicação. Afinal, ou Lilian estava alucinando e aquilo não estava acontecendo de verdade, ou era tudo culpa dela e ela estava totalmente e inquestionavelmente FERRADA.

Entre ferrada ou alucinando? Queria ficar com o segundo, muito bem, obrigada.

Mas para você, caro leitor, entender o tamanho da enrascada em que a nossa querida ruiva havia se enfiado, vamos retroceder um pouco:

Era uma vez, em estimadas terras longínquas, havia um reino chamado Hogwarts, onde a magia era algo normal, cotidiano e corriqueiro. Em todo o território havia poder, criaturas mágicas e o pulsar de feitiços, de todo o tipo de manipulações sensoriais e a grandeza de um povo capaz de construir qualquer coisa em questão de minutos, acelerar plantações, mover-se de um lado do reino para o outro em um único segundo e muito mais.

A maior herança daquele povo era o que chamavam de laço. Um elo que surgia entre duas criaturas e ligavam uma vida na outra, deixando-as vinculadas entre si para toda a eternidade, mesmo após o além-vida. Era sempre algo bonito e comemorativo e surgiam como símbolos nos pulsos daqueles que formavam o laço. Assim que o símbolo surgia, ele ficava.

O reino de Hogwarts tinha magia e era magia..., porém não era muito unido. Era dividido em quatro clãs que competiam entre si constantemente, buscando glória e dignidade.

Os quatro clãs eram: Gryffindor, composto por magos, guerreiros mágicos e lobisomens. Hufflepuff, em sua grande maioria curandeiros, elementais e as fadas. Ravenclaw, os sábios, os videntes e as sereias/sereianos. E o quarto e último clã, Slytherin, contava com os transmorfos, os alquimistas e os vampiros.

Acontece que Lilian Evans não era de um, nem de outro. Afinal, tinha esse outro pessoal. Eles estavam em um número pequeno, poderiam colocar todos em um salão e ainda sobraria espaço, mas mesmo assim, eles existiam: os humanos, também conhecidos como trouxas. E Lilian era um deles. Sem magia, sem poderes, sem clã.

Tudo bem.

Ela estava de boa com isso.

Tranquila, na paz, sem estresse – ignorando o fato que ela ficava estressada quase o tempo todo, mas por outros motivos.

Porém, com ou sem magia, Evans queria saber como as coisas funcionavam. Tudo. O tempo todo. De qualquer jeito. Por qual motivo? Quais circunstâncias? De qual maneira?

E é por isso que, sempre que podia, ela vivia invadindo o laboratório de magia de James Potter.

•••

JAMES POTTER – FICHA INFORMATIVA, por Lilian Evans

APELIDO: Idiota.

CLÃ: Gryffindor.

ESPÉCIE: Mago.

HABILIDADE: Poções.

OBSERVAÇÕES: Não aguento esse cara. Sério. O rosto dele é muito beijável e, por isso, muito socável também. Mas não faço isso. Nenhuma das duas opções. Porque ele – quase – sempre responde minhas perguntas. E falta só um pouquinho para eu convencer Potter a fazer uma poção para mim. Então por enquanto, a bandeira de paz está erguida.

•••

E foi nesse laboratório que a encrenca começou. Ele ficava no interior de uma caverna, era grande e cheio de instrumentos estranhos que Potter jurava serem necessários.

Havia uma proteção envolta do lugar para que nenhuma outra espécie mágica invadisse, mas essa proteção não previa a invasão dos humanos, então não funcionava com eles. Era sempre assim. Uma das vantagens de ser trouxa.

Lilian perguntava-se por James nunca corrigiu essa brecha mesmo depois das inúmeras vezes em que ela apareceu no laboratório sem ser convidada.

— Evans, eu disse não — ralhou James.

— Potter, você está mais chato que o normal.

Eles se encararam. Mais uma vez, Lilian havia entrado de fininho, e agora estava sentada numa cadeira de madeira com os pés jogados em cima da mesa principal, que ficava bem no centro da caverna e que em cima dela, estava cheio de pergaminhos e anotações. James vestia uma calça de túnica preta e uma blusa branca de botões.

— Primeiro: tire os pés daí — exigiu ele, empurrando os pés dela de cima da mesa. — Segundo: Não. Não vou fazer uma poção que faça seu gato falar.

— Mas por que não??!

— Porque gatos são bichos estranhos. Quem tem um desses de estimação? Seja normal e, como todo mundo, pega logo um dragão pra cuidar.

— Mas dragões já falam. Não tem graça.

James deu um sorrisinho.

— Você é estranha.

— E você me estressa. — Lilian agarrou um pergaminho da mesa e leu o título: Poção do Pum de Flores. — Ok, isso aqui é estranho. Eu sou no máximo peculiar.

James chegou por trás dela para ver o que Lilian lia.

— Isso foi ideia do Sirius — defendeu-se ele.

— As ideias do Sirius você aceita? Ainda mais uma que envolva deixar pum cheiroso? Qual é!

James deu de ombros, indo na direção do caldeirão que ficava na extremidade da caverna em cima de um altar e espiando lá dentro, jogando pelos brancos que Lily julgou serem de Unicórnio.

— Sirius é divertido, é meu amigo. Você quebra meus frascos, derruba água nos meus pergaminhos e explode coisas.

Lilian abriu a boca, indignada.

— Que mentira!

Espera, não.

— Ok, é verdade — ela voltou atrás, admitindo. — Mas nada disso foi por querer. Eu pedi desculpas.

— E eu aceitei.

— Mas não quer fazer minha poção!

— Não.

— Por quê? Você disse que Sirius é seu amigo. Eu e você somos amigos também.

James virou-se para a ruiva com uma expressão chocada no rosto.

— Você me xinga o tempo todo!

— Com carinho!

— Que nada!

— É sim!

— Óbvio que não é!

— Idiota.

— Viu só?!

Opa. O idiota era para ter saído baixinho. Lilian suspirou e disse:

— Tá, eu desisto — levantou as mãos como se alegasse inocência.

Ele franziu as sobrancelhas.

— Sério?

— Por enquanto — ela frisou.

James riu, sua expressão suavizando-se quando caminhou de volta para onde Lily estava sentada e ele cruzou os braços, um pequeno sorriso em seu rosto.

— Já existe — contou ele.

— O que?

— Sua poção. Sério, até no mercadinho ali da esquina deve ter. Se você comprar uma, seu gato vai estar falando daqui dois dias.

A carranca voltou para o rosto de Lilian.

— E por que você está me contado isso só agora? Potter!

Ele deu de ombros.

— Quando você está irritada, aparece uma covinha bem aqui.

James estendeu a mão e tocou a covinha no queixo dela com os dedos, roçando de forma suave. Mas assim que ele a tocou, a covinha desapareceu, porque a carranca de Lily se dissolveu para ser substituída pela surpresa quando ele deslizou a mão mais uma vez, segurando o rosto de Lilian, seu dedão fazendo um leve carinho na bochecha da ruiva.

Seus olhos se encontraram. Ela era tão linda que ele perdia o folego quando pensava muito nela, o que era basicamente o tempo todo. Parecia simplesmente impossível para James esquecer o olhar da garota, aquele mesmo olhar com qual ela o olhava agora, seus olhos verdes penetrantes fixos no dele como se ela pudesse lê-lo com uma facilidade que ele não duvidava que ela tivesse.

— Lilian — murmurou James, como se fosse dizer algo.

Ela odiou o fato de ter adorado a maneira que o nome dela soava nos lábios dele.

Me beija, foi o que Lilian pensou.

E mais do que tudo, foi esse pensamento que a assustou. Foi esse pensamento que a fez levantar da cadeira com um pulo tão bruto e de repente, que fez James saltar para trás pelo espanto e perder o equilíbrio.

Lilian assistiu à cena em câmera lenta: James tropeçando nos próprios pés, dando uns passos cambaleantes para trás até finalmente cair, batendo as costas numa das prateleiras que tinham nas paredes da caverna. No mesmo instante, todas as coisas que ali estavam cuidadosamente organizadas, desabaram.

Em sua grande maioria, graças à seja lá qual for a força superior, eram mais dos pergaminhos de James, nada que fosse realmente machucá-lo. Mas, em uma das prateleiras mais altas, havia um frasco. Aquele que Lilian viu James colocar ali mais cedo, dizendo que não podia se esquecer de tirá-lo dali mais tarde.

— Merda — murmurou James e um segundo depois, ficou banhado de um líquido azul no momento em que a poção virou sobre ele.

Mais uma vez, os olhares deles se encontram. James parecia assustado.

— O que isso faz? — Sussurrou Lily.

Mas antes que James pudesse responder, houve um som baixinho, que parecendo alguém estalando a língua e James sumiu quase que imediatamente. Bem onde ele estava, uma névoa branca surgiu. Estranhamente, a névoa tinha cheiro de... flores.

— Ai minha nossa! — Lilian gritou.

Começou a pular no mesmo lugar, pirando.

— Ai minha nossa, ai minha nossa, ai minha nossa! — Repetiu várias vezes. Lembrou da ideia do Sirius: Pum de Flores. — Ai minha nossa! Eu transformei James Potter em pum!

Antes que ela pudesse pensar muito nisso, alguém riu. Uma risada alta, debochada e cheia de malícia. Isso fez Lilian parar de pular e travar no lugar. Mas que merda...?

— Não, querida, você não fez isso — disse uma voz.

Quando a névoa finalmente dissolveu, revelou o intruso não tão intruso assim: era James, mas tinha algo errado. A blusa branca de botões que ele usava anteriormente agora estava preta, sua postura estava mais relaxada e o sorriso... totalmente malicioso, curvado de lado.

— O que foi que eu fiz? — Perguntou Lilian, chocada.

— Muito prazer, querida. — Esse novo James deu um passo para frente, segurando a mão de Lily e deixando um beijo ali.

— M-mas a gente j-já se c-conhece — gaguejou ela.

Ele balançou a cabeça.

— Creio que não, doce Lilian. Você conheceu um outro eu. Deixa eu me apresentar... — ele sorriu como se a vida dele dependesse disso. — Sou a melhor versão de James Potter. Caso você não tenha entendido, sou descolado. O maioral. O badboy.

Oh, deus.

•••

BADBOY – FICHA INFORMATIVA, por Lilian Evans

COR: Preto.

OBSERVAÇÕES: Não aguento esse cara. O rosto dele é apenas socável, mais nada. Acho que eu poderia sair no soco com ele tranquilamente. Uns 5 minutos já seria o suficiente (ou não, talvez mais). Quem em sã consciência se autodomina de badboy? Ou pior, MAIORAL. Socorro. Onde eu fui amarrar meu bode?

•••

E foi assim que Lilian começou a surtar. Tentou manter a calma para pelo menos conseguir decidir o que fazer, para contornar a situação. A primeira coisa que fez foi se atirar na mesa cheia de pergaminhos de James e começar a procurar alguma coisa, qualquer coisa, que pudesse explicar o que estava rolando.

Complicava não saber o que exatamente estava procurando, mas seguiu em frente.

E complicava mais ainda, ter o James-Badboy no seu encalço.

— Lilian, se controla — murmurou ela, respirando fundo.

Mas James-Badboy escolheu bem àquela hora para anunciar:

— Quero fazer uma tatuagem. Estou pensando em um coração com o meu nome dentro. O que acha? Bem aqui — E mostrou onde seria esse "aqui", beijando o bíceps direito.

Lilian lançou para ele um olhar zangado, parando de mexer nos papéis.

— Você quase nem tem músculos aí. É magricelo.

James-Badboy pareceu ficar genuinamente ofendido.

— Magricelo é o novo gostosão — esclareceu ele.

— Segundo quem?

— Segundo eu.

Ele levantou a camisa, exibindo a barriga e o começo de um tanquinho. Lilian precisou desviar o olhar, o rosto quente.

— Céus! Cala a boca, abaixa essa blusa e me ajuda.

— Tá, tá, ajudo. O que estamos procurando exatamente?

Lilian gemeu de frustração, se jogou em uma cadeira e enterrou o rosto nas mãos.

— Eu não sei! — Lamentou ela.

Esperou uma resposta do James-Badboy, mas nada veio. Em vez disso, escutou alguém começar a chorar. Lilian levantou a cabeça, assustada.

James-Badboy estava agora agachado ao lado de outra pessoa, que estava encolhida ao lado do caldeirão, abraçando os joelhos e chorando. Era... Era James. Outro James. Mais um James. Só que esse usava uma camisa azul.

Lilian quase desmaiou ali mesmo.

— Acho que devemos ajudar esse cara aqui primeiro — comentou James-Badboy, dando tapinhas nas costas daquela nova aparição.

Aquele de azul finalmente levantou a cabeça, os olhos inchados enquanto continuava a chorar copiosamente.

— Vai todo mundo morrer — e abriu o berreiro, chorando ainda mais.

— Que! — Exclamou Lilian, se levantando e correndo na direção deles. — Quem vai morrer?

— Todo mundo. Um dia, todo mundo morre! — Ele não parava de chorar.

James-Badboy fez uma careta.

— Não gostei desse aí.

— Ninguém gosta de mim! — Exclamou o de azul, chorando e chorando.

Lilian repreendeu o James-Badboy com o olhar e tentou:

— Calma, calma. Vai ficar tudo bem.

— Nada vai ficar bem! A vida é tão, tão, tão...

— Tão o que? — Interrompeu Lilian, impaciente.

— Triste!

Lilian e James-Badboy reviraram os olhos em sincronia.

•••

TRISTONHO – FICHA INFORMATIVA, por Lilian Evans

COR: Azul.

OBSERVAÇÕES: Não aguento esse cara. Odeio como o James fica bonito até chorando. Deveria ter uma regra sobre isso: não pode existir alguém que consiga ser adorável até mesmo com o rosto vermelho e inchado. Em contrapartida, acho que se eu ouvir "isso é tão triste" mais uma vez, vou bater minha cabeça na parede.

•••

Ela insistiu nos pergaminhos. Lilian sabia que James não iria criar uma poção sem anotar sobre ela em algum lugar. O problema é que apenas Potter entendia o sistema do laboratório de magia.

Então, Lilian estava perdidinha.

E a única ajuda que ela tinha em mãos, mais atrapalhavam do que qualquer outra coisa. O chorão achava qualquer coisa o fim do mundo. Em todos os pergaminhos que ele lia, tinha algo de triste. Na Poção da Juventude – saudades da infância. Na Poção do Xarope – odiava ficar doente. Na Poção da Voz de Galinha – pobre galinhas, que têm asas, mas não voam.

— Poção dos Cabelos Vermelhos — leu James-Tristonho, em seguida se debulhando em lágrimas, apoiando o rosto contra a mesa e chorando copiosamente.

Lilian queria fingir não estar ouvindo e tentou fazer isso. Mesmo. Mas acabou não resistindo e cedeu, perguntando:

— O que tem de triste nisso?

— Me lembra de você! — E chorou... adivinha? Ainda mais.

Tá, Lily não podia ignorar essa. Virou-se para o James‐Badboy, que estava se admirando em um pequeno espelho portátil que estava em cima da mesa e fazendo biquinho para o próprio reflexo. No mesmo instante, assim que percebeu o olhar de Evans em si, voltou rapidamente a ler os pergaminhos fingindo que estava fazendo isso o tempo todo. Lilian revirou os olhos.

— Do que aquele ali estava falando? — Perguntou, apontando para o James-Tristonho.

— Ah, ele é afinzão de você, saca. Não tem uma quedinha, tem um abismo. Aí ele sabe que não tem chance e fica nessa, chorando horrores. — O de preto gritou para o de azul: — Toma vergonha, cara.

Lilian o encarou, boquiaberta.

— Primeiro, você é tão ridículo. Segundo, isso é sério?

— Ui, você magoa meus sentimentos assim. — Ele não parecia nem um pouco magoado. — Claro que é sério. Todos as versões do James, de mim, têm um abismo por você. Até eu. Vamos se beijar?

Lilian deu um tapa nele.

Antes que pudesse processar o que foi dito (a mente dela ia explodir, tinha certeza), um barulho alto e estrondoso fez Lily estremecer.

— Porra! Saco! Que ódio! — Uma voz gritou, indignada.

A ruiva fechou os olhos.

— Tem mais um, não tem? — Perguntou com a voz esganiçada.

James-Badboy deu uma risadinha:

— Tem sim.

— Ele é tão malvado... — chorou o James-Tristonho.

Finalmente Lilian olhou. Esse James vestia uma blusa vermelha. Talvez para combinar com a expressão explosiva no rosto dele.

— Está muito nervosinho, cara — comentou James-Badboy. — Vamos de suco de maracujá pra acalmar?

O de vermelho encarou-o, em seguida fez uma careta e disse:

— Eu não gosto de você. — Olhou para o James-Tristonho. — Nem de você. — A careta aumentou. — Não gosto da luz dessa caverna. Não gosto desse calor. Não gosto de estar em pé.

Se jogou em uma cadeira perto de Lilian e resmungou alto.

— Não gosto dessa cadeira.

Enquanto ele cruzava os braços, emburrado, Lily deixou escapar um muxoxo.

— E aqui, senhoras e senhores, temos um mal-humorado reclamão.

•••

RECLAMÃO – FICHA INFORMATIVA, por Lilian Evans

COR: Vermelho.

OBSERVAÇÕES: Não aguento esse cara. Finalmente descobri alguém capaz de reclamar mais do que eu. Se as minhas reclamações chegam sequer perto disso, por que ninguém nunca me avisou? Ok que o James já brigou comigo uma vez por causa disso, mas agora é essa versão dele que está reclamando mais do que a minha vó quando os gnomos do jardim dela fizeram uma revolução e tentaram invadir a casa. Ou seja, James não conta, ele perdeu o local de fala.

•••

— O que você acha disso? — Lilian estendeu uma folha de pergaminho para o James-Reclamão.

Ele nem sequer olhou.

— Horrível.

Ela bufou, irritada.

— Ei? Você vai fazer com que a única opção viável de conversa seja aquele cara ali. — E apontou para o James-Badboy. Ele havia abandonado o pequeno espelho em cima da mesa e encontrado um grande pendurado numa parede, de corpo todo. Estava fazendo poses na frente do reflexo. Poses. A ponto de virar de costas e ficar admirando a própria bunda.

— Eca — resmungou James-Reclamão.

— Pior que vocês têm uma bunda lindinha — suspirou Lilian.

— Espera, o que?

— Nada — pigarreou Lily.

— Você me irrita.

— Que! Assim de graça? Por quê?

— Me irrita quando você faz isso. Diz alguma coisa com segundas intenções. Sério, me irrita. Você gosta do James, você não gosta do James? Não tem como saber. E me irrita a maneira como você é bonita, inteligente e engraçada. E cheirosa. Ah, me irrita como você é inalcançável.

— Mas... — começou Lilian, chocada.

Foi a vez daquele de blusa vermelha bufar irritado e ele arrancou o pergaminho da mão dela.

— Esquece. Essa folha é horrível. Nossa, que letra péssima. Ninguém pensou em mandar o James original fazer a porra de uma caligrafia descente? Essa merda aqui é um A ou um O? Ah, mas vai se f...

— Ei — interrompeu Lilian.

— Tá, caramba. Não, não é o que você está procurando. Isso aqui é uma poção pra multiplicar seus músculos, não versões de si mesmo. Sério, o título é literalmente Poção da Multiplicação de Músculos. Precisa ter nem um neurônio para saber que...

— Eu sei — interrompeu a ruiva, de novo. — Só achei que sei lá, vai ver era essa poção, mas algo deu errado e causou tudo isso.

James-Reclamão pareceu ficar muito mais bravo.

— Claro que não! — Exclamou ele. — Que horror, que calúnia.

— Ué, por que não poderia ser?

— Porque nós nunca erramos — responderam todos os três em voz alta, juntos.

James-Tristonho ficou quieto por um instante, mas então disse:

— Menos quando a gente erra sim e bota fogo nas nossas sobrancelhas — soltou um lamento e voltou a chorar.

James-Reclamão saiu pisando duro, resmungando coisas como "inacreditável", "não aguento" e "*insira aqui outro palavrão*".

Lilian apoiou a testa dela na mesa.

— Vou desistir. Falando sério. Vou só ir embora e deixar vocês trancados aqui.

— Você não pode fazer isso.

— Ah, eu posso sim.

— Pode, mas não vai.

A ruiva suspirou. Não ia mesmo. Mas estava já perdendo a paciência. Havia revirado toda a mesa de pergaminhos de James, olhado até aqueles que caíram da prateleira quando Potter bateu contra ela, mas nada. Nenhuma dicazinha. Nenhuma direção.

O único que podia resolver isso era James.

Espera.

Ela tinha três James diferentes ali com ela.

— O que vocês fariam? — Perguntou ela em voz alta, atraindo a atenção deles. — Quero dizer, se vocês fossem o James. E vocês são o James. O que fariam? Se um pergaminho não estivesse guardado na mesa, nem nas prateleiras, onde vocês teriam guardado?

Houve um momento de silêncio. Então:

— Ora, minha rainha. Aqui, é claro — respondeu uma nova voz.

Lilian virou-se. Perto da porta da caverna tinha agora um quarto James, de blusa rosa. Ele agarrou um livro nas mãos e o abriu, tirando um pergaminho de dentro.

— No meio de um livro — disse ele, sorrindo galanteador e piscando um olho para a ruiva. — É claro — repetiu.

James-Reclamão estralou a língua.

— E qual de nós é você?

Para a surpresa principalmente de Lily, o de rosa andou na direção dela, tomando o seu rosto nas mãos.

— Sou aquele com as respostas, minha donzela. Que vai fazer de tudo para provar ser digno do seu amor e desses seus olhos ardentes e magníficos.

Lilian ficou atônita.

— Você...

— Xiuuu — ele pressionou um dedo nos lábios dela, para fazer Evans parar de falar. — Poupe sua linda voz, minha dama. E me permita declarar a minha paixão com um poema de 150 estrofes. Lá vai:

Lilian, meu lírio, meu amor...

Até mesmo o James-Tristonho parou de chorar para suspirar pesadamente.

•••

ROMÂNTICO – FICHA INFORMATIVA, por Lilian Evans

COR: Rosa.

OBSERVAÇÕES: Não aguento esse cara. Deve ser a única pessoa no mundo que ainda usa palavras como "esplendorosa" ou "resplandecente". Tudo bem que é um muito irritante, mas também até que é legal ter alguém elogiando tudo o que faço. Mesmo que eu não ache o meu revirar de olhos uma "relíquia digna de reis", como disse ele. Talvez haja um certo exagero ali.

•••

— Me dá isso aqui — pediu Lilian, quando o James-Romântico chegou na quinta estrofe do seu poema meloso.

— Oh, claro, minha deusa! — E estendeu para ela o pergaminho que havia encontrado.

O título desse pergaminho era "Poção das Mil Faces" e logo abaixo tinha uma lista de ingredientes, envolvendo chifre de erumpente, sangue de salamandra, veneno de acromântula e etc. Em seguida havia uma descrição completa da poção e enquanto Lilian ia lendo, pode constatar que... Espera.

— Para de me olhar assim! — Exclamou ela.

O James-Romântico piscou inocentemente. Estava sentado do outro lado da mesa, os cotovelos apoiados na madeira e seu queixo nas mãos, encarando a ruiva intensamente.

— Assim como? — Perguntou.

— Assim! — Respondeu ela, fazendo um gesto nada esclarecedor na direção dele.

Ele sorriu.

— Estou apenas apreciando uma obra de arte.

— Humpf. Nunca achei que fosse ouvir esse tipo de coisa saindo desse rostinho de James Potter — resmungou ela.

— Ah, ele não fala, mas ele pensa. Te admira o tempo todo. Nós admiramos. Quando a gente te viu a primeira vez, achamos que você era um anjo. Literalmente, sabe. Eles são raros, mas aparecem por aqui às vezes. Todos eles possuem uma beleza arrebatadora. Como você, lírio.

Lilian bufou, tentando esconder o vermelho nas bochechas com uma falsa irritação.

— Você está me distraindo. — E balança o pergaminho que estava lendo. — Preciso me concentrar pra acabar de ler isso aqui.

James-Romântico deu de ombros.

— Estou só falando a verdade, minha dama.

— Não, não está.

— Estou sim. O que eu posso fazer se nasci nesse mundo para apreciar as mais belas paisagens, como você?

Lilian desviou o olhar, seu rosto ficando ainda mais vermelho. Abriu a boca, mas a fechou de novo em seguida. Esse James poderia ser o mais difícil de lidar, se fosse ficar falando esse tipo de coisas o tempo todo! Poxa vida.

— Não é justo — disse ela, baixinho.

Ele inclinou a cabeça para o lado, franzindo levemente as sobrancelhas.

— O que não é justo?

— Eu ficar aqui, ouvindo essas coisas que você tem pra dizer. Você podia ter falado tudo isso quando não estava divido em quatro versões diferentes e eu não estava surtando.

O olhar dos dois se encontraram. Lilian imediatamente lembrou-se da outra vez que olhou para James assim, um pouco antes de toda essa confusão, quando ele tocou no rosto dela. Lembrou da maneira que ele se inclinou na sua direção, quando a ruiva desejou que James a beijasse. Como ainda desejava. Meu deus, onde ela havia se metido...

— Então, vocês vão continuar se encarando aí com estrelinhas nos olhos ou vão fazer alguma coisa? — Exigiu saber o James-Reclamão.

Lilian saiu do transe, agarrando o pergaminho com mais força e até amassando um pouco.

— É — pigarreou. — É, tem razão.

Balançou a cabeça como se estivesse afastando certos pensamentos e voltou a ler, dessa vez mais atenta e disse:

— Certo. Hã, aqui está dizendo que essa poção serve para revelar as faces de quem a toma, ou de quem entra em contato com a poção. Não tem como saber quantas versões irão aparecer, mas já houve casos com 15 faces diferentes. Ai, imagina 15 de vocês aqui? Credo — ela fez uma careta. — Mas enfim. É essa, com certeza é, mas tem nada aqui falando de como reverter.

Lilian levantou o olhar. James-Romântico estava fazendo um coração de pergaminhos enrolados. James-Tristonho chorava porque "ah não, não acredito que aquele livro é um centímetro mais baixo que aquele" e isso era tão, mais tão triste, segundo ele. James-Badboy ainda estava na frente do espelho, as mãos na cintura e dando voltinhas.

O único que ainda prestava atenção e parecia que ia ajudar era James-Reclamão. Pelo menos foi o que Lilian achou, já que ele estava a encarando, até o mesmo abrir a boca e dizer:

— Então isso aí presta pra nada. — E voltou a encarar o teto, indiferente.

OK, já deu. Lilian levantou-se furiosa e tentou andar para longe desses folgados que confundiam a mente dela o tempo todo. Mudou de ideia, ia deixá-los ali mesmo e dane-se. Pelo menos foi o que pensou, antes de ter sua caminhada furiosa interrompida assim que sentiu seu corpo trombando em outra pessoa.

Ou melhor, em outro James.

— Tem uma maneira de reverter, você só não achou ela — disse aquela versão, vestido com uma camisa verde escura.

Lilian o encarou e disse algo bastante perspicaz:

— O que?

Esse James riu, contornando Lilian e indo na direção da mesa de pergaminhos. Com um braço, passando-o pela superfície da mesa, fez algumas folhas caírem no chão e em seguida apoiou o pergaminho da Poção de Mil Faces na madeira, bem esticado.

— Nunca fui de deixar as minhas respostas escancaradas, isso só daria para os meus maiores concorrentes uma janela para a minha genialidade. Então é claro que a reversão da poção está escondida.

James-Reclamão lançou um olhar incrédulo.

— Ele acabou de dizer genialid...? Ah — interrompeu-se. — Que besteira.

— Nunca confie nas pessoas se autodeclaram inteligentes — concordo James-Badboy. — Apenas nas que se autodeclaram bonitas. Essas sabem das coisas. Como eu.

O James de camisa verde apenas arqueou a sobrancelha e disse:

— Eu sou você, seu idiota.

— Você é apenas a parte chata de mim.

— Não. Eu sou a parte que vai resolver tudo.

Ele pegou a ponta superior esquerda do pergaminho e dobrou, em seguida fez o mesmo com o canto inferior direito e, para finalizar, dobrou o que se formou bem no centro. Sorriu satisfeito e vitorioso.

— Estão vendo?

— Não. Por que eu não estou vendo? — Perguntou James-Tristonho totalmente chateado.

— O segredo para esconder uma resposta em um pergaminho, é camuflar dentro de um padrão aleatório de dobraduras para formar uma figura desconexa e de preferência irreconhecível. Assim, ninguém além do criador saberá a ordem certa. É uma das coisas mais básicas que nós aprendemos no curso de magos aprendizes, mas também uma das mais eficientes. Se pensar bem, pode ser muito prático para...

— Ei, bonitinho — cortou Lily. — Já entendemos. Você é o inteligente.

•••

INTELIGENTE – FICHA INFORMATIVA, por Lilian Evans

COR: Verde escuro.

OBSERVAÇÕES: Não aguento esse cara. Ele se acha um pouco além da conta. Tão inteligente, que chega a ser meio arrogante. Mas o que mais me estressa nele é o seguinte: ô força divina que olha por mim de algum lugar, por que uma pessoa inteligente precisa ser tão atraente? Mais uma das injustiças da vida e etc.

•••

— Tudo bem, então é o seguinte — começou James-Inteligente. — Agora conseguimos ler como faz para reverter. Toma, leia isso.

Ele entregou o pergaminho dobrado para o James-Reclamão, que revirou os olhos e começou:

— Para desfazer a merda da poção, consiga reunir a merda dos clones e faça eles darem as merdas das mãos, para alguém de fora falar as merdas das palavras mágicas — leu ele, com um sorriso sarcástico no rosto.

— Obviamente não era dessa maneira que estava escrito — disse James-Inteligente, secamente.

O de vermelho chegou a abrir a boca para retrucar, mas Lilian achou melhor intervir:

— Ok, parece fácil.

James-Inteligente assentiu.

— Sim, parece.

Depois negou.

— Mas não é.

Lily fechou os olhos.

— Claro. Por que não ser sempre da maneira que vai custar mais da minha sanidade mental? Humpf. — Bufou. — Bem, fala logo qual é o problema.

O James em questão deu um sorriso compreensivo, puxando uma cadeira para sentar ao lado dela.

— Acontece que você não tem sangue mágico, Evans. Como você diria as palavras mágicas? Não vai funcionar.

Ah. Aaah. Verdade, ele tinha razão. Como Lilian havia se esquecido disso? Sentiu-se murchar, consternada.

— Podemos chamar alguém para vir ajudar. Talvez Sirius, ou Remus. — Os dois melhores amigos de James.

— Não dá tempo.

Lilian o olhou.

— Como assim?

Quem respondeu foi James-Badboy. Ele havia pegado o pergaminho que descrevia a poção e leu em voz alta uma parte que Lilian não tinha visto antes: tudo isso seria permanente, a menos que conseguissem reverter antes que desse mais de duas horas desde o momento em que a poção foi usada. Quando Lily olhou o relógio, percebeu que faltava apenas dez minutos para isso acontecer. Sentiu seu coração afundar.

— Por acaso vocês estão me enganando? Por que é o momento em que vocês se revoltam e querem permanecer separados por causa de suas personalidades individuais?

Era apenas uma tentativa de brincadeira da ruiva, mas ela viu os cinco James na sua frente assumirem uma expressão de tristeza. O James-Tristonho então, nem se fala.

— Não é exatamente assim — esclareceu James-Inteligente, com o tom bem mais baixo que o normal. — Quando ficamos assim, separados, tem esse sentimento de... vazio. Como se faltasse algo e eu não conseguisse completar, entende? Meu interior ficar chamando por essa parte de mim o tempo todo, a todo tempo.

Silêncio.

— Todos nós temos crises existencial — Lily deixou escapar e ele riu, mesmo que talvez um pouco sem humor.

— Quem me dera que fosse algo assim. Nesse caso, literalmente falta algo. Falta eles. — E fez um sinal em direção para os outros James. — E separados assim, não vamos durar muito tempo. É perigoso.

— Como assim?

— Somos a mesma pessoa, teoricamente. Mas na prática, somos bem diferentes. Cada um carrega um traço do James original, logo, cada um carrega certas lembranças, certas vivências e aprendizagens, que o outro não tem. O James de azul...

— James-Tristonho.

— Sério? Ok, enfim. O James-Tristonho chora tanto porque sente estar sendo encurralado por tudo, é inseguro sobre cada parte da vida dele. Ele precisa do James de preto...

— James-Badboy.

— Ele precisa do James-Badboy, para lhe dar mais autoestima, mais confiança. Ao mesmo tempo, o James-Badboy é mesmo seguro de si, mas de maneira exagerada, de maneira inconveniente. Então, ele precisa do James de rosa. James-Romântico, acertei? — Lilian concorda e ele sorri. — Pois é. E por que do James-Romântico? Porque é ele quem nos ensina empatia, ensina o amor que nos faz pessoas melhores na maioria do tempo, que vê tudo com bons olhos e é bom. Mas é com o James de vermelho...

— James-Reclamão.

— É com o James-Reclamão, que o James-Romântico aprende que não podemos deixar as pessoas pisarem em nós. Aprende que há pessoas ruins e elas podem acabar nos machucando. Aprende que, além de lutar pelo amor, precisamos lutar por nós mesmos.

— E onde você entra em tudo isso?

— Garanto que James seja esperto o suficiente para controlar todas essas emoções. É questão de equilíbrio. Nem dá para cogitar a ideia de querer ficarmos separados. Somos bem melhores juntos.

Há uma pausa. Lilian morde o canto do seu lábio, pensativa. Não sabe muito o que dizer, além de sentir o que sente: compreensão, empatia e carinho. Ela começa a se perguntar o que há dentro de si, quais versões suas a Poção de Mil Faces revelaria. Quais eram os equilíbrios que definiam Lilian Evans?

Olhou para o relógio. Faltava cinco minutos para ser permanente.

— E agora? — Sussurrou, finalmente.

As cinco versões de James Potter levantaram-se em sincronia. Juntos, empurraram a mesa de pergaminhos até um canto, até liberarem espaço no centro da caverna. O azul deu a mão para o preto, que pegou a mão do rosa, que segurou o vermelho, que pegou na mão do verde, que finamente completou o círculo. Quando isso aconteceu, uma linha dourada brilhante começou a rodear os cinco.

— É o seguinte, Evans — começou o James-Inteligente. — Sei que você não tem magia, mas você também é única coisa que une nós cinco. Eu sei, somos todos James, mas partes separadas dele. Existe uma única constante aqui: Lilian Evans. Você está em todas as partes, em todos os nossos traços.

Lilian prendeu a respiração.

— E o que isso significa?

— Significa que existe algo que liga nós a você. Grandes chances de ser algo mágico. Podemos usar isso ao nosso favor. — Ele hesitou. — Você quer tentar?

Ele pode ter hesitado, mas Lilian não. Nem por um segundo.

— Quero.

A mão de Lilian entrou em contato com a camisa verde dele e, no momento que isso aconteceu, o mundo explodiu em cores.

A visão de Lily tornou-se tudo e, ao mesmo tempo, nada. De repente ela via todas as coisas já criadas, todas as linhas do tempo existentes e cores que nem sabia que existia até vê-las se esticarem, colorirem e encantarem o mundo que se teceu diante de Lily. Sua mente estava completa, toda a sabedoria estava guardada dentro de um único ser, dentro dela.

Via mundos onde sua vida era totalmente diferente daquela que levava. Em uma dessas, Lilian não era trouxa, mas uma bruxa. Morreu jovem, protegendo uma criança, o seu filho, de algo ruim e maléfico. Viu James ao seu lado, dizendo: Lilian, pegue o Harry e vá. Harry... um garoto tão lindo e tão amado, mas que cresceu sem os pais...

De repente, os mundos sumiram. Ela entendeu, então, que era só estender a mão e fazer o que bem entendesse. Podia destruir, criar e remontar qualquer coisa. O seu interior parecia sorrir. Porém, lá no fundo, uma voz baixinha e insistente dizia:

Mil Faces.

Um novo olho se abriu. Mil Faces. A poção. James.

Então, ela estendeu a mão. E tudo desapareceu.

Quando Lilian acordou, as memórias daqueles instantes desapareceram. Não lembrava mais de si mesma como bruxa, nem das novas cores que aprendeu, nem mesmo do significado da vida, que por um momento, soube e conheceu.

Sumiu, como um passe de mágica ou um estralar de dedos.

— Evans? — Uma voz murmurou, baixinho.

Assim que sua visão entrou e foco, Lilian percebeu que estava deitada e sobre ela, com uma cara de preocupação, estava James. Aquele James. O único, original e etc. Com camisa branca e tudo.

— Potter! — Exclamou ela, feliz, sentando e jogando-se em cima dele que caiu para trás, agora as posições invertidas e a ruiva por cima dele. — Você é você!

James riu, segurando a cintura da garota para manter a estabilidade.

— Ainda bem, ué. Quem mais eu seria? — A expressão dele ficou confusa. — Minhas lembranças estão meio embaralhadas. O que aconteceu exatamente?

Lilian contou, cada detalhe. A expressão de Potter ia ficando cada vez mais incrédula e chocada, como se custasse bastante para ele acreditar nessa história.

— M-mas, m-mas... — gaguejou.

— Eu sei, é doideira. Olha só o que você me fez passar, idiota.

— Mas a culpa foi sua!

— Foi nada! — Mas mesmo com o tom, Lilian sorria tanto que até doía.

Aos poucos, James foi percebendo algumas coisas. Primeiro, ele ainda estava com as mãos na cintura dela, ou seja, por causa disso, Lilian estava quase sentada no seu colo, mas não havia feito nada para se afastar. Segundo, ela parecia serena e tranquila.

— Por que você está tão... calma? — Resolveu perguntar.

— James — ela disse o nome dele como se recitasse um poema. Ele estremeceu de prazer com esse tom de voz. — Eu literalmente conheci todas as suas partes. E todas elas tinham algo a dizer sobre mim.

— Ah, é? — Ele tentou soar despreocupado, mas havia um frio na sua barriga.

— É. Tenho certeza que você me chamou de linda e cheirosa.

James a encarou. Lilian o encarou de volta. Ele começou a rir, ela soltou uma gargalhada.

— Isso foi bem louco — disse Potter.

— Sim.

— Mas é verdade — afirmou ele. — Você é linda. Não sou muito bom em dizer o que estou sentindo, mas...

— Eu sei — Lilian não deixou ele terminar e voltou a sorrir.

Observando-a melhor, James notou que tinha mais alguma coisa diferente. Não sabia o que, mas estava lá. Então, percebeu:

— Descobriu o que liga nós dois? O por que a reversão funcionou mesmo você sendo humana?

Lilian abaixou o olhar. Daquele momento em que estava cheia de conhecimentos, um pouco antes de reverter a poção, apenas uma coisa havia permanecido em suas lembranças:

— Eu não sou uma criatura mágica, James. Mas eu tenho magia.

Foi o que aprendeu naquele lugar sem espaço e nem tempo.

— Eu tenho, sim — continuou ela. — Por causa disso.

Lilian segurou a mão de James e a deixou com a palma virada para cima. Os dedos dela deslizaram pela pele dele, até o pulso. Ali estava um símbolo, uma lua pitada em prata. Lily mostrou o próprio pulso, mostrando o sol pintado em ouro.

— O laço — murmurou ele.

— Sim — ela riu suavemente.

O laço que unia dois seres com algo maior do que toda relação já criada, um sinal absoluto de companheirismo carregado de uma ligação única e especial.

E era o que os dois tinham.

Lilian inclinou a cabeça, seu nariz roçando na bochecha de James, os dois inspirando o cheiro um do outro, enquanto uma das mãos dele que antes estava na cintura da ruiva, subiu para a nuca dela e puxou-a para si. Os dois suspiraram quando os seus lábios se tocaram, quando pressionaram-se um contra o outro e quando a língua de James pediu passagem e Lilian cedeu, a boca deles encostando e se esbarrado em um misto de emoções.

Juntos pegaram fogo e enroscaram-se um no outro.

Estavam completos, mas assim que se tocavam, transbordavam.

•••

JAMES POTTER (O VERDADEIRO) – FICHA INFORMATIVA, por Lilian Evans

APELIDO: Idiota.

CLÃ: Gryffindor.

ESPÉCIE: Mago.

HABILIDADE: Poções.

OBSERVAÇÕES: Eu descobri uma coisa recentemente. Eu amo esse cara.

FIM


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