Recomeços escrita por Sophia Snape


Capítulo 4
Ainda um sonserino




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Severo sentiu que todos olhavam para ele quando entrou no café naquela manhã. Não era uma sensação tão nova para alguém como ele, que por quase toda a vida esteve sob escrutínio dos outros, mas desta vez era diferente. Não parecia um julgamento, parecia mais como uma... curiosidade.

Ele tentou ignorar, sentando-se na mesa de sempre como se nada estivesse acontecendo, mas o Sr. Bernard não aguentou por muito tempo antes de lançar um comentário divertido.

— Que moça adorável você contratou, hm?

Severo suspirou, seu rosto rapidamente se transformando em uma carranca.

— Ah, vamos, não faça assim! – o Sr. Bernard puxou a cadeira – É uma jovem mulher muito gentil. Jantou aqui ontem, e está hospedada na pousada. Valerie está encantada.  

Severo revirou os olhos.

— Não se empolguem. A Srª. Granger está em uma fase de experiência.

— Não sei, não. Ela parece muito competente. E obstinada.

— E irritante – ele murmurou, mas o Sr. Bernard continuou tagarelando sobre o quão educada ela era, e sobre o quão encantado todos estavam pela presença dela, e que a Sra. Valerie tinha ajudado a Hermione a se acomodar na pensão, e Severo estava odiando cada segundo.

— E olha ela ali! Sr.ª Granger! Aqui, sente-se! Estávamos falando de você.

Ele sorriu afetuosamente para ela, se levantando para cumprimentá-la. Severo ficou ainda mais sombrio, não fazendo nenhuma questão de esconder o desgosto de vê-la tão cedo no lugar que era o seu refúgio.

— É assim mesmo? – Hermione sorriu, tentando ignorar o fato de que o Severo sequer olhara para ela.

Bernard pareceu indiferente a tensão entre eles e continuou falando abertamente, indicando a cadeira agora vaga na mesa onde Severo estava para que ela se sentasse.

— Vou trazer um café da manhã bem reforçado para a senhorita. Matthew! Duas fogaccias! Aqui, querida, pode se sentar.

Hermione olhou incerta para o bruxo taciturno a sua frente. – Não quero incomodar o Sr. Snape. Vou me sentar no balcão mesmo.

— De maneira alguma! Meu amigo aqui não seria tão indelicado.

Você não imagina... Hermione quis responder.

— Obrigada, mas-

— Sra. Roy! Que prazer revê-la! Como vão as coisas em Marselha? – o Sr. Bernard saiu, deixando os dois numa posição desconfortável. Como o Severo não deu nenhum indício de que ela poderia se sentar, Hermione reuniu os fiapos do seu orgulho para se sentar em outro lugar.

— Sente-se.

A voz pairou no ar entre eles, fazendo Hermione congelar no lugar.

— Obrigada. – ela conseguiu falar, sem graça, estremecendo internamente com a sensação de parecer uma aluna em seus dias de escola e não uma mulher adulta.

Um silêncio desconfortável desceu sobre eles. Hermione muito sem graça para puxar assunto, incerta do seu lugar, e Severo muito bravo por se sentir novamente numa época onde sua vida era definida por todos e não por ele mesmo.

Hermione abriu e fechou a boca algumas vezes, tentando pensar em alguma coisa, qualquer coisa, que pudesse falar para tirá-los daquele momento embaraçoso. Felizmente, o Sr. Bernard foi mais rápido e chegou com dois pratos que cheiravam deliciosamente bem.

— Quero ver você adivinhar essa. – o Sr. Bernard disse, os olhos brilhando em expectativa.

— Estou com pressa hoje, Bernard. – Severo respondeu, parecendo desconfortável. Hermione pareceu chocada ao perceber isso.

— Ah, vamos! Passei a tarde toda de ontem pensando no novo desafio. – ele riu, olhando para a Hermione enquanto continuava – Eu e o nosso amigo aqui nos desafiamos algumas vezes na semana: penso em maneiras diferentes de fazer as receitas tradicionais e ele tenta adivinhar os ingredientes. O homem é bom, Sr.ª.

Se Severo Snape pudesse desaparatar naquele momento, ele o faria. Queria azarar o Sr. Bernard por falar disso na frente da Sr.ª Granger, mas ele como poderia saber? Severo odiava que essa pequena e importante parte dele estivesse tão exposta a alguém do seu passado. Como se ela fosse pegar essa informação, essa vulnerabilidade dele, e expor para o mundo.

Uma parte dele sabia, de uma maneira estranha e sem explicação, que ela não faria isso. Mas a outra parte dele, muito acostumada a não confiar nas pessoas, simplesmente temia pela exposição. Severo criou um refúgio para si mesmo, intocável. Secreto.

E agora...

Por que o passado não pode apenas morrer?

— Severo? – o Sr. Bernard perguntou, uma pitada de preocupação em sua voz.

— Eu sinto muito, Bernard, mas vai ficar para a próxima. – ele se levantou abruptamente, cruzando o limiar da porta em quatro passos decididos e firmes.

Todo o café ficou em silêncio, assustados pelo comportamento que, para eles, era muito atípico para o Severo.

— E não se atrase, Granger. – foram suas últimas palavras antes de sair.

...

Hermione queria escorregar pela cadeira e ser engolida pelo chão. Parecia um dejávu muito ruim em que de repente ela era uma aluna em apuros na aula de Poções, sofrendo com as palavras cortantes dele na frente de todos os colegas. O Sr. Bernard ficou chocado, claro, porque aparentemente Severo era um novo homem e nenhum deles jamais havia visto um comportamento tão atípico.

E o pior é que ela se sentia culpada. Porque ao que tudo indicava, a vida que ele tinha aqui, que havia conquistado para si mesmo, era muito diferente da que tinha antes. E Hermione se sentiu uma intrusa. Uma estraga-prazeres. Foi uma sensação horrível. Ela queria dizer a todos que a culpa não era de Severo. Queria contar o que ele passara, de onde eles vieram, o que eles eram. Mas, óbvio, era impossível.

Logo após ele sair Hermione observou a Sra. Bernard num canto do café, atrás do balcão, balançando a cabeça negativamente para o Severo. Ela parecia tão decepcionada pelo comportamento dele que Hermione se sentiu ainda mais culpada. Era ela quem estava novamente causando essa confusão na vida dele. Era ela que estava se intrometendo numa vida que não lhe pertencia.

Por um segundo Hermione quase voltou para casa. Mas havia aquela voz dentro dela, que sempre sussurrava o que fazer e ela continuamente ignorava... A voz sussurrava para ela ficar, insistir. E por mais surreal que fosse, Hermione decidiu que pela primeira vez em muito tempo, ela escutaria.

E ficaria.

E era por isso que ela estava em frente a Botica as 9h58min da manhã esperando o horário exato de entrar. Verdade seja dita, ela estava a mais de meia hora andando de um lado para o outro na escadaria da loja, subindo e descendo, dando voltas pela rua sem saída, apenas para garantir a pontualidade. Hermione não era boba, e sabia que ele esperaria por um motivo, o mísero que fosse, para mandá-la embora. Mas esse motivo ela não daria.

Quando o relógio finalmente marcou as dez horas Hermione já estava com a mão na maçaneta, uma empolgação a muito esquecida tomando conta de todo o seu corpo. No processo, ela não viu que o Severo estava justamente mudando a placa de fechado para aberto, e tudo aconteceu muito rápido. A porta foi diretamente no nariz dele.

— Mas que droga, Granger! – ele gritou, colocando a mão no nariz.

— Merlin! Eu sinto muito, senhor! Merda!

Ela tentou se aproximar, assustada.

— O que você estava pensando?!

— Sinto muito! – gesticulou na defensiva, dividida entre rir de puro pavor e chorar – Estava com pressa para entrar e não vi o senhor.

— Claro que não. Droga. – ele resmungou, sumindo pela porta atrás do balcão.

Hermione torceu as mãos na frente do corpo, praguejando baixinho, sem saber se o seguia ou não. – Ótimo começo, Hermione. Ótimo começo...

— Você não vem? – a voz grave surgiu abruptamente atrás dela, assustando-a. Ela olhou brevemente para o rosto dele e viu que tudo parecia em ordem de novo, exceto pela carranca persistente em seu rosto.

— Eu, claro. Claro! Estou indo. – ela se atropelou nas palavras, se odiando novamente por se sentir uma aluna. Ela parou, respirou fundo, controlou sua mente e seguiu para os fundos da loja para encontrá-lo.

O espaço parecia ter sido magicamente expandido para caber o laboratório. Tudo estava muito bem organizado e etiquetado, e quatro caldeirões borbulhavam nas duas bancadas dispostas. Hermione vagamente as identificou enquanto ele falava em tom professoral sobre a dinâmica da loja.

A mente dela trabalhou furiosamente a medida que ele explicava, e ela teve que morder a língua para que as perguntas não jorrassem uma atrás da outra, mas ele pareceu notar.

— Diga, Granger – Severo massageou a têmpora, suspirando audivelmente, como se falar com ela fosse muito exaustivo.

— Só queria saber o nome da Botica.

Ele apenas fixou seu olhar no dela, indiferente. – Botica.

Hermione não conseguiu se conter e revirou os olhos. – Mas não tem um nome? Um, não sei, slogan? Como você vende os frascos?

— Da mesma forma em que estão na prateleira, Granger.

— Mas você não acha que seria mais interessante se a loja pudesse ter uma marca? Uma referência? As pessoas teriam mais tranquilidade em comprar, e você teria mais clientes.

— A loja sobreviveu bem até agora sem os seus conselhos de empreendimento. Você está aqui para ser a minha assistente e só.

— Mas eu acho que-

Severo cruzou os braços sobre o peito, irritado.

— acho que eu deveria ficar calada. – Hermione se interrompeu.

— Você está pegando o jeito da coisa. – ele sorriu, irônico, se virando para a bancada.

— Grosso. – ela sussurrou baixinho.

— Insuportável sabe-tudo. – ele rosnou de volta. Hermione ia replicar, mas ele não deu a chance. – Aqui fica o armário. Está expandido, claro, para caber todos os ingredientes. Como pode ver, está tudo meticulosamente organizado, seguindo um padrão bastante específico, e é crucial que não modifique isso. Fui claro?

Hermione mordeu uma resposta afiada. – Muito claro.

— Abro a botica as 10h, como disse ontem depois do seu monologo exasperante.

Hermione ignorou a provocação. – Por que as 10h? Não é um pouco tarde?

— Você vai perceber que as coisas funcionam um pouco diferente na França, Granger. É praticamente inútil abrir qualquer coisa antes disso.

— Por experiência própria? – Hermione sorriu, imaginando o pobre homem abrindo a botica as 8h todos os dias para olhar para o nada.

Ele a ignorou, prosseguindo: - Abrimos as 10h, e eu geralmente tenho que fechar para o almoço. Mas com você aqui podemos estabelecer uma escala para que a loja não precise ser fechada. O atendimento externo encerra as 16h, mas quase sempre é necessário ficar mais um pouco para repor os produtos. Mas podemos falar sobre isso depois, já que ainda não sabemos se você realmente passará pelo período de experiência. – ele olhou para ela como se quisesse apenas irritá-la com o comentário.

Honestamente, eu poderia estrangular esse homem.— Hermione pensou.

Eles continuaram por mais uns minutos, Severo mostrando a logística básica do lugar, e algumas coisas que eram necessárias sobre valores e caixas, mas ele curiosamente não parecia muito seguro disso. Interessante, Hermione ponderou, até que alguns fracos no armário da esquerda chamaram a sua atenção.

— E estas poções?

— Faço atendimento para hospitais bruxos. E ainda reponho algumas poções para a enfermaria em Hogwarts.

Hermione olhou surpresa, e Severo sorriu para isso.

— Muitas coisas que você não sabe, Granger? – ele parou em frente ao balcão, de costas, com o cotovelo apoiado na superfície. – Diga-me, como a sua cabecinha controladora ainda não explodiu?

— Fiquei apenas surpresa, só isso. – ela deu de ombros, incomodada com o escrutínio dele. Ele sabia como torcer as suas cordas, o bastardo. – Como você fez esse transporte sem que ninguém soubesse o seu paradeiro?

Severo apenas sorriu para ela, malicioso. – Você infligiu sua presença na minha pequena bolha, Granger. Permita-se uma pitada de vingança sonserina.

— Você sabe que vou descobrir eventualmente, certo? – ela perguntou, tentando não soar tão petulante.

 - Eventualmente, sim. Mas pense no quanto vou me divertir vendo você tentar? – ele sorriu, os olhos negros brilhando, enquanto uma das mãos indicavam para ela liderar o caminho de volta para a frente da loja. – Os clientes devem começar a chegar dentro de alguns minutos.

O dia prosseguiu sem grandes intercorrências. Severo passou a maior parte do tempo nos fundos da botica, produzindo poções, e Hermione na loja, atendendo fregueses. A maioria deles buscava produtos estéticos ou para insônia – o que sinceramente dizia muito sobre a sociedade atual, Hermione refletiu. Alguns poucos buscavam remédios terapêuticos: para dores musculares, ansiedade, estresse. Mas uma coisa todos os clientes tinham em comum: a satisfação absoluta com os produtos vendidos.

— Juro, esse remédio curou minha insônia. Durmo como um bebê! – uma senhora exclamou para outra cliente.

— Sim! E esse aqui ajudou minha dor na lombar. Juro por Deus, parece mágica!

Hermione sorriu, entregando o troco para um cliente que buscava um shampoo para alisar o cabelo. – Aqui. E o seu shampoo. Tenha um bom dia!

— Obrigada. – o cliente agradeceu, deixando a loja vazia pela primeira vez no dia. Hermione suspirou, cansada, enquanto repassava o dia na sua cabeça. Não tinha sido ruim. Pelo contrário, tinha sido muito bom.

O Severo não apareceu nem uma vez, e Hermione não sabia se estava aliviada ou decepcionada. O relógio marcava o fim do expediente, e ela sentiu uma pontada de saudade. Do que, exatamente, ela não sabia. Talvez de ter se sentido remotamente feliz e realizada pela primeira vez em muito, muito tempo.

Balançando a cabeça para expulsar as lembranças ruins, ela suspirou, se concentrando em fechar o caixa. Vagamente, Hermione se perguntou se devia ou não ir até o laboratório para se despedir, mas ao mesmo tempo, a porta se abriu suavemente, quase silenciosamente, e duas xícaras levitaram até ela no balcão.

Hermione franziu a testa. – O que é isso?

Severo simplesmente olhou para ela como se fosse estúpida. – Chá. Sabe, a bebida? Milenar? Que geralmente nós, os ingleses, tomamos várias vezes ao dia?

Ela deu um sorrisinho irônico para ele. – Estou familiarizada. Quis dizer porquê você está me servindo chá. É totalmente contra o seu personagem.

Severo suspirou, olhando para ela. – E de quais personagens exatamente você está falando, Granger? Porque eu desempenhei muitos. Você saberia dizer qual deles é o real?

Hermione desviou o olhar.

— Foi o que pensei. – ele murmurou, levando a xícara aos lábios. – Quero me desculpar sobre o meu comportamento hoje de manhã. Me senti... desconfortável em compartilhar minha nova rotina com alguém do meu passado.

Isso pareceu desarmá-la completamente. Havia uma vulnerabilidade real nas palavras dele, nítida, sem nenhuma máscara.

E ela caiu como uma idiota.

Hermione ficou tão chocada com a sinceridade dele que não sabia o que falar. Ou fazer. Na dúvida, ela tomou o chá. Porque era o que os ingleses faziam para resolver qualquer problema.

— Eu sinto muito por ter caído na sua rotina assim, atrapalhando tudo. – ela finalmente conseguiu dizer.

Os olhos de Severo brilharam. – E porque você fez, Sr.ª Granger? Ou devo dizer, Sra. Weasley?

— É Granger agora. Quero dizer, novamente. Eu e o Ron não estamos mais juntos. Nosso casamento acabou oficialmente a 9 meses, mas já não estávamos mais juntos a quase um ano e meio. E depois do bebê... – Hermione franziu a testa. Ela não queria dizer isso, simplesmente saiu. Com o coração acelerado, ela olhou para o chá, e então novamente para o bruxo a sua frente. Seu rosto era uma máscara em branco.

Sem tirar os olhos dele, ela levou a xícara até o nariz e cheirou. Nada anormal.

— Sinto decepcioná-la, Sra. Granger, mas não há nada no seu chá. Você simplesmente disse o que queria dizer.

Hermione assentiu, envergonhada tanto por ter sido pega examinando a xícara quanto por ter dito coisas tão pessoais.

— Mas você não respondeu a segunda parte da pergunta. Por que você está aqui, Granger?

— Eu queria vê-lo. – ela disse simplesmente, e então ergueu os olhos para ele. Num rompante, ela se afastou do balcão e a xícara caiu num estilhaço. – O que você colocou no meu chá?

Não é da sua conta.— ele pontuou, irritado, a fachada da falsa camaradagem agora esquecida.

— Eu deveria saber que você faria alguma coisa assim. – a resposta calma dela o desarmou. Ele esperou que ela ficasse furiosa e jogasse a verdade nele com azarações. Mas não. Sua voz era suave e contida. Resignada. – Furei a sua bolha, atrapalhei a vida linda que construiu aqui trazendo lembranças ruins. Sendo a própria representação do seu passado. Eu realmente sinto muito.

Seu queixo tremeu, e as lágrimas escorreram livremente pelo seu rosto. Severo recuou como se tivesse levado um tapa. Ele estava lutando consigo mesmo, arrependido de ter colocado a garota nisso. Ele não queria mais ser essa pessoa que manipulava para conseguir alguma coisa. Ele estava além disso – ou pelo menos achava que sim. – Vá. Vá embora agora. O efeito da poção durará alguns minutos, mas não vou fazer nenhuma pergunta.

Hermione piscou, tremendo. Suas pernas mal a obedeciam, pareciam presas no chão. Mas ela precisava sair dali.

Cegamente, ela pegou a bolsa e passou por ele praticamente correndo. Quando sua mão tocou a porta, ele finalmente disse.

— Mas essa conversa ainda não acabou, Granger.

Hermione assentiu, arrastando seus pés rua afora. Ela não ouviu quando a outra xícara se estilhaçou na parede.

...

Severo fechou os olhos tentando se concentrar. Tudo nele era raiva de novo. E culpa. E violência. Coisas das quais ele havia abandonado a muito tempo. Ele não queria fazer a garota chorar, mas precisava saber a verdade.

— Então eu ainda sou um bastardo sonserino, apesar de tudo. – ele murmurou, girando o copo entre os dedos. Suas longas pernas estavam esticadas, e ele observava o mar da varanda do chalé.

A brisa noturna era agradável se comparadas ao calor sufocante do verão francês, e o ar marítimo era quase terapêutico. Mas não hoje. Nem a vista magnífica a sua frente conseguia tirar da sua cabeça a imagem dela.

O que ele não entendia era porquê isso o afetava tanto. Ele não deveria se importar. A garota havia perturbado o seu silêncio, sua paz. Havia se intrometido na sua vida. Ele tinha o direito de saber as respostas. Pela primeira vez Severo sentia que o seu lado idiota compensara sua atitude pouco ética. Mesmo assim... A culpa não era aplacada da sua cabeça.

— Como se eu já não tivesse que lidar com culpa o suficiente. – ele bufou, decidindo que já havia bebido demais. Não era de álcool que ele precisava, era de encarar a Sr.ª Granger.

Eu queria vê-lo.

As palavras dela não saíam da sua cabeça. Por que a garota iria querer vê-lo? Dentre todas as pessoas? Depois de quase dez anos? Por que uma ex aluna da qual ele fora particularmente terrível por tanto tempo o procuraria no interior da França dentre todos os lugares para trabalhar como assistente numa pequena botica que vendia produtos para trouxas? Ela que, segundo ele havia lido, tinha um emprego perfeito no Ministério, vivendo uma vida perfeita em Londres, com a casa perfeita e a família perfeita? O que tinha dado tão errado e o que ele tinha a ver com isso?

Eram tantas perguntas... E Severo odiava não saber. Odiava ficar no escuro. Odiava se sentir novamente manipulado por falta de informações. Ao mesmo tempo que a necessidade e a curiosidade o dominavam, ele não queria ceder novamente aos seus instintos de espião. Não. Ele descobriria eventualmente, claro. Mas do jeito certo. E no tempo certo. Afinal de contas, ele era um cara paciente. Ele podia esperar.

...


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Notas finais do capítulo

Vocês realmente acharam que o Severo deixaria a Hermione ficar sem um motivo oculto por trás? Nosso professor é muito ardiloso, e é um dos motivos pelo qual gostamos tanto dele. Mas agora quero saber de vocês: acham que ele vai conseguir tirar a verdade dela por métodos sonserinos ou ela acabará falando a verdade eventualmente? Estou curiosa. Comentem!