Recomeços escrita por Sophia Snape


Capítulo 2
Seja corajosa


Notas iniciais do capítulo

MUITO feliz com o retorno de vocês sobre o prólogo! Espero que gostem deste ♥ Estou novamente saindo da minha zona de conforto ao abordar um pouco mais de drama nesse início. A maior parte das minhas fanfics são puramente românticas - amo! - mas quis fazer algo diferente desta vez. O plot está na minha cabeça a um tempo, e agora me senti pronta para desenvolver. Conto com o feedback de vocês!

Aproveito para falar que está rolando um concurso incrível de fanfictions sobre o Severo Snape. Quem quiser saber mais a respeito, me fala aqui!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/796299/chapter/2

Capítulo I

— Hermione? – uma voz preocupada chamou por trás da porta.

— Já estou saindo! – ela respondeu, respirando fundo quando ouviu os passos ficando distantes. Mas ela ainda podia ouvir os sussurros da sala, e estremeceu. Jogando um pouco de água fria no rosto, Hermione olhou para o seu reflexo no espelho. Ela quase não se reconhecia. Seu rosto estava magro e sua pele, sem vida. Seus olhos, geralmente brilhantes e curiosos, estavam exaustos. Ela estava exausta.

Hermione nunca imaginou que sua vida daria uma reviravolta tão grande, e para pior. O sentimento do pós-guerra, a euforia, a felicidade, passou para dar lugar as reflexões, a chorar os mortos, e ela... bem. Ela pensou que sabia o que queria.

Hermione pensou que casar com Ron, ter uma carreira no Ministério, ser acolhida pela família Weasley, seria o ponto máximo da felicidade. Mas no fundo da sua mente, ela sabia que não era verdade. Porque nós sempre sabemos. Sempre há uma voz no fundo da nossa alma que sussurra quando estamos caminhando errado, mas ela enterrou o sussurro bem no fundo do seu coração na esperança de que passaria. E ela enterrou tão fundo que por um bom tempo ela realmente não ouviu.

Não ouviu quando fugiu do St. Mungus. Não ouviu quando rejeitou o conselho da professora McGonagall. Não ouviu quando aceitou o emprego no Ministério, e não ouviu quando decidiu se casar com o Ron. Ela foi no fluxo dos acontecimentos, se deixou ser levada porque era mais fácil.

Hermione estava tão cansada de tudo ser tão difícil...

Só que o caminho mais simples, o atalho, acabou enterrando-a profundamente. Felicidade não era isso. E por escolher o caminho errado, ela acabou sendo levava a uma vida de mentiras e sorrisos forçados, e quanto mais tempo se passava, mais difícil era sair.

Só que agora... Depois disso. Foi a gota d’água.

Num reflexo, as mãos tocaram o abdômen e ela chorou. Por tudo que ela não fora, por tudo que ela não teve coragem de dizer ou fazer, e principalmente, mais dolorosamente, pelo filho que ela perdera.

Ron, claro, estava desolado. A Sra. Weasley tentava consolá-la de todas as maneiras possíveis, mas tudo que Hermione queria naquele momento era silêncio. Mas quando era deixada em silêncio, tudo vinha à tona e ela mal podia suportar. Hermione riu, amarga, porque quem diria... a Princesa da Grifinória era, na verdade, uma covarde. Ela desistiu de si mesma para agradar aos outros, para se sentir amada, e que desastre havia sido. O sentimento era de que ela havia falhado em tudo: como profissional, como amiga, como esposa, e como mãe. Ela não conseguiu sequer ser um porto seguro para o seu filho. Seu corpo falhara com ele.

Mas além de tudo ela era uma egoísta. Porque apesar de toda a dor, do quão destroçada ela estava, a única imagem que vinha na sua mente era a dele. Era o rosto dele, e...

— Hermione, querida, o chá está pronto. Você vai sair em breve?

Era a Gina. Gina estava sendo... incrível, para dizer o mínimo. Ela tinha tanta sorte por ter amigos tão maravilhosos. Gina não a pressionava para dizer nada, mas oferecia o seu ombro e o seu silêncio como companhia.

Harry e Gina tinham o tipo de relacionamento que Hermione não saberia dizer quem tinha mais sorte: ele ou ela. Ambos eram generosos, empáticos, espertos e divertidos; e ficavam ainda mais incríveis quando estavam juntos. Não eram o casal perfeito, eram o casal certo um para o outro. Pelo menos, era o que diziam para as pessoas. E fazia sentido. Quando Hermione olha para eles, juntos, fazendo coisas simples como preparar o café da manhã, tudo que ela vê é uma sintonia tão bonita e equilibrada, uma calma, que ela só pode desejar, com todo o seu coração, que eles fossem cada dia mais felizes e que, quem sabe um dia, ela pudesse ter algo remotamente parecido.

Respirando fundo, ela ajeitou o cabelo, enxugou as mãos, e abriu a porta. Uma nova resolução se formava em sua mente, e dessa vez ela não deixaria escapar.

...

Voltar a Hogwarts era... dúbio. Hermione era tomada pelas melhores lembranças. E as piores também. Apesar dela ter retornado para completar os estudos alguns anos antes, não foi fácil ficar todo o ano letivo. Especialmente sem os meninos. E especialmente sem-

— E então, minha querida. – a professora McGonagall cruzou as mãos sobre a pesada mesa de madeira da sala da direção, os olhos brilhando por trás do óculos – Finalmente decidiu fazer a coisa certa?

Hermione respirou, assentindo.

— Sim. Decidi aceitar o emprego.

— Como eu disse, ele está precisando de uma assistente e você seria a escolha ideal. Nada tão glamoroso quando trabalhar no Ministério, receio.

— Não importa – Hermione balançou a cabeça – sei que parece estranho, mas fugir para outro país e trabalhar como assistente para um homem que muito provavelmente me odeia faz mais sentido que toda a minha vida nos últimos anos. Você acha que estou louca? Saindo assim? Aceitando um emprego que mal pagará as contas? Numa vila trouxa que eu nem sei o nome?

Minerva sorriu, dando tapinhas amigáveis na mão da jovem a sua frente.

— Não, Hermione, não está. Se uma coisa na nossa vida não vai bem e temos o poder de mudar, então faça. Pense em você pela primeira vez na vida. O resto vai se encaixar, você vai ver.

— Estou magoando tantas pessoas.

— Minha querida, escute: você não fez nada de errado. E as pessoas não são feitas de vidro. Ninguém vai se quebrar. E por mais duro que seja, eis a verdade: você não é responsável pela expectativa de ninguém. Se as pessoas se frustram, é com a projeção delas em você, e não porque deve algo a elas. Entende?

Hermione suspirou, prendendo o lábio inferior nos dentes. O gesto típico de quando estava tentando não chorar.

— Sempre posso contar com a senhora para os melhores conselhos. Dolorosos, sim, mas verdadeiros.

— Alguém precisa fazer isso. A acredite, tenho muitos anos de experiência.

— Pois não parece – Hermione brincou, sorrindo.

Um silêncio confortável se seguiu, mas o assunto intocável estava lá, pairando entre elas a anos, e Hermione finalmente decidiu que era hora de perguntar.

—Você fala com ele as vezes?

Os olhos de Minerva brilharam satisfeitos, como se ela tivesse marcado um ponto na sua contagem mental.

— É raro. Você o conheceu por anos aqui em Hogwarts – ela deu de ombros – ainda é um homem discreto.

— Você sabe se ele... bem, se ele está feliz?

— Ele está. Talvez pela primeira vez na vida. Mas está incompleto. Quer informações, Hermione. Que só você pode dar.

Hermione fechou os olhos com força, tentando impedir as lágrimas, mas era impossível.

— E o que eu poderia dizer a ele?

— Então você ainda o ama. – Não era uma pergunta.

Hermione balançou a cabeça, embora ela não tivesse certeza se era para Minerva ou ela mesma.

— Isso é insano, não é? Perseguir um homem que provavelmente nem lembra que eu existo? Que tem como última imagem a de uma menina? – ela levantou abruptamente, sem fôlego. – Eu devo estar ficando maluca. Só pode. Ron tinha razão quando disse isso. Eu mudei. Não sou mais a mesma.

— Minha querida – Minerva chamou calmamente, olhando diretamente para ela – as pessoas mudam, e ainda bem. Imagina se fossem as mesmas? Mas no seu caso, você só está se reencontrando. Fazendo as pazes consigo mesma.

Hermione soluçou.

— E sobre o Severo... você só vai saber se tentar. Além do mais, independente do que acontecer, você ainda deve algumas respostas a ele. Respostas que certamente o atormentam. E Merlin sabe que aquele homem precisa de paz em sua vida.

— Você está certa, claro.

— Vá até a França, se candidate. Consiga o emprego. E o resto... as coisas vão se acertar.

— E se ele não me contratar?

— Até onde eu sei, você não é nada além de obstinada. E se não funcionar... bem, você sempre pode se contentar com os croissants franceses. São deliciosos. – Minerva piscou, bebericando o seu chá, enquanto Hermione se entregava a uma gargalhada que ela provavelmente não dava a muito, muito tempo.

— Ele vai odiá-la, você sabe. – Hermione murmurou depois de um tempo.

Minerva levantou as sobrancelhas, pedindo que ela continuasse. – Ele confiou em você para não divulgar onde ele estava, e agora você está dando essa informação para mim de todas as pessoas. Não quero perturbar a paz que ele encontrou para si mesmo. Não seria justo.

Minerva suspirou, tirando os óculos para massagear os olhos cansados.

— Hermione, ele me pediu ajuda para encontrar um candidato adequado. Estou indicando você, que é mais do que adequada. Ponto final.

— Ele vai pensar que vou contar para toda a Inglaterra onde ele está, um relatório completo.

— Quem garante que um bruxo desconhecido não daria com a língua nos dentes no instante em que pisasse na botica? Não há pessoa mais confiável que você, e ele sabe disso. Só vai ser um cabeça dura antes de admitir, e é aí que entra a perseverança grifinória. Anime-se, querida, e enfrente isso. Você nunca vai saber se não tentar.

Hermione suspirou – Tudo bem, me passa o endereço. E avise a ele que você conseguiu uma pessoa. Estou indo para a França.

Minerva assentiu, sorrindo. Mas por dentro ela estava gritando: finalmente!

...

Hermione suspirou aliviada quando a última mala foi fechada e colocada ao lado da porta. Ela olhou brevemente para o quarto que ela ficara nos últimos meses desde a separação e reparou vagamente que ele parecia maior, quase como se estivesse respirando junto com ela. Pela primeira vez em muito tempo, Hermione se sentia certa.

— Então é isso? – Harry sorriu do batente da porta.

— Sim, é isso. – Hermione sorriu de volta, sentando na beirada da cama. Num gesto silencioso, ela indicou que Harry fizesse o mesmo. – Obrigada por me deixar ficar. Você e a Gina foram incríveis durante todos esses meses.

— Hermione-

— Não, por favor. – ela o interrompeu – Sei que coloquei todo mundo numa posição difícil.

— Nada disso – Harry descartou – Vocês dois merecem ser felizes, e não conseguiriam isso juntos.

— Obrigada.

— Quando se instalar, mande uma coruja.

— Você é muito preocupado. – Hermione sorriu com carinho para o amigo. – Mas eu mando, sim. E, por favor, me atualize sobre o bebê, ok? Quero saber cada notícia do meu afilhado.

— Gina com certeza fará isso a cada segundo. Não se preocupe.

— Já decidiram sobre o padrinho?

— Bem, você sabe quem eu gostaria de chamar se pudesse. – Harry resmungou – Talvez agora você possa...

— Harry – Hermione o interrompeu – Você sabe que não posso. Nem ele sabe que sou eu a candidata para a vaga. E ele ficaria furioso se soubesse que você o rastreou pelo Ministério.

— Bem, ainda temos oito meses pela frente. Muita coisa pode acontecer até lá.

— Claro – Hermione concordou, irônica – pode acontecer dele me chutar no segundo em que eu entrar na loja dele, e eu serei novamente uma desempregada e uma sem-teto.

— Não uma sem-teto. Você sabe que pode ficar aqui no Largo Grimmauld o tempo que quiser.

Hermione puxou o amigo para um abraço, se segurando para não chorar de novo. – Eu sei que posso. Obrigada.

— Hermione – Gina chamou suavemente do batente da porta – está quase na hora. Tudo pronto?

Ela assentiu, enxugando o rosto. Harry fez questão de pegar as duas malas sem magia, descendo com dificuldade a velha escada. Hermione e Gina riram quando ele quase caiu no último degrau e depois quando ele tropeçou ao tentar colocar a mala no táxi.

 - Obrigada por tudo. Mando notícias em breve.

— Tem certeza que não prefere uma chave de portal? – Gina perguntou baixinho, mas o motorista estava muito concentrado no jogo que passava na rádio.

— Absoluta. Prefiro ir de trem até Paris, e de lá faço a aparição. Quero pensar em algumas coisas, e me preparar antes de... vocês sabem.

— O Professor Snape vai ter um choque. – Gina riu, maliciosa.

— E vocês dois, por favor, não falem disso para ninguém. Ele jamais me perdoaria.

— Fique tranquila, Mione. Não vamos aparecer por lá, e não falaremos disso com ninguém. Se alguém perguntar, você está tirando um tempo para si mesma no interior da Inglaterra.

Hermione bufou – Era o que eu deveria estar fazendo mesmo.

— Hey, moça, não posso ficar muito tempo parado aqui ou vou levar uma multa. – o motorista resmungou, fazendo balançar a cabeça, rindo.

— Peço desculpas, senhor. Harry, Gin: vejo vocês em breve. Me desejem sorte! – ela gritou da janela, acenando.

Quando o táxi virou a esquina, Harry e Gina entrelaçaram as mãos, sorrindo um para o outro. – Você acha que ele vai aceitá-la?

Harry suspirou, olhando para o horizonte e depois para o rosto preocupado de sua jovem e adorada esposa. – Eu não sei, amor. Mas acho que eles vão encontrar um caminho.

— Você não se preocupa com a Hermione? – Gina franziu a testa.

— É claro que eu me preocupo! – ele respondeu, parando na frente dela. – E é justamente por isso que ela deve tentar. Ou vai perder mais anos se arrependendo de não ter feito nada.

Gina suspirou, sabendo que não havia nada que ela pudesse fazer. – Bem, espero que esteja certo. Hermione é forte como uma rocha, mas não acho que ela aguenta outro desastre emocional na vida pessoal.

— Se acontecer, ela tem amigos aqui esperando por ela. Mas eu sinceramente tenho um bom pressentimento sobre essa história toda.

Gina sorriu – Só nos resta esperar.

Ela pressionou os lábios nos dele, puxando-o para casa. – Sim – Harry murmurou – só nos resta esperar.

...

Hermione desembarcou na Cidade Luz e foi rapidamente tomada pelas lembranças. Ela amava Paris, mas também, quem não amava? Só que o sentimento dela era mais profundo, pois remetia às memórias de férias passadas com os pais em museus, galerias, sebos e livrarias. Várias. Passeios longos seguidos de sorvetes de morangos silvestres na Berthillon.

Ela expulsou as cenas nostálgicas de sua mente ao correr apressada pelas escadas lotadas de turistas e parisienses na Gare du Nord. Por um milésimo de segundo ela cogitou fortemente pegar um táxi para visitar a Ópera Garnier, mas desistiu.

— Outra hora, Hermione – ela murmurou para si mesma – Outra hora.

O verão francês estava a todo vapor: ruas cheias, pessoas tirando fotos a cada esquina, cafés lotando os passeios com suas mesas charmosas e taças de champanhe cintilando com a luz do sol. Afinal de contas, era Paris no verão e tudo podia acontecer. Hermione sorriu, se sentindo contagiada pela alegria dos turistas, e diminuiu o passo.

Ela admirou a Eglise Saint Vincent de Paul, se desviou de aparecer como intrusa em uma foto em família, e finalmente se permitiu respirar. Ela estava em Paris, a caminho de uma pequena vila, para se candidatar a um emprego cujo chefe era ninguém menos que Severo Snape. O homem que ela defendera por toda a vida sem entender o porquê. O homem que ela salvara antes mesmo de descobrir sua lealdade à Ordem.

O que ela achava não passar de um amor platônico bobo e juvenil evoluiu para ela correndo um risco altíssimo ao voltar para salvá-lo. E depois, para cuidar dele. Por dias, semanas. Meses. Tudo em Severo Snape a intrigava, a fascinava.

Era ele. Era sempre ele.

E estava na hora de Hermione fazer algo a respeito.

...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!