Crepúsculo escrita por Allison126Tw


Capítulo 1
Capítulo 1 - Mudança




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/796077/chapter/1

—Lar doce lar – disse Renée, enquanto nós colocávamos dentro da casa nova as últimas caixas tiradas do caminhão. Para mim ainda era muito cedo para chamar essa casa atulhada de caixas e alguns poucos móveis velhos de lar. Mas sabia que minha mãe estava tentando ter uma atitude otimista, para animar a nós duas. Acho que para animar mais a si mesma do que a mim, na verdade.

—Está mais para "Lar bagunçado lar" – provocou tia Cora.

Eu e Sara rimos, porque era verdade.

—Ainda bem que temos vocês para nos ajudar a arrumar tudo então – respondeu Renée.

—Mas não hoje, né tia? Eu já fiz a musculação do mês inteiro só nessa tarde. – reclamou Sara.

—Se eu levantar mais alguma caixa hoje meus braços vão cair. – eu disse de maneira dramática, me atirando no sofá.

—Pelo amor de Deus, vocês são umas molengas. - Ralhou tia Cora. 

Era fácil para ela dizer, ela era uma dessas pessoas que adora fazer ginástica, exercícios e  correr antes do sol nascer. Eu sinceramente não conseguia entender o apelo em nada disso, se minha vida dependesse dos meus atributos físicos eu certamente teria uma morte rápida. A quantidade de vezes que eu tropeçava em meus próprios por dia era humilhante. 

Ouvi meu celular tocando em algum lugar, mas não lembrava onde o tinha deixado.

— Alguém está vendo meu celular?

— Seria mais fácil achar uma agulha em um palheiro. - Tia Cora apontou após todas nós o procurarmos sem sucesso.

O telefone parou de tocar por alguns segundos, mas depois voltou a chamar.

— Aqui. – Sara o achou em baixo de algumas das caixas, finalmente. – É seu pai – falou ela ao estender o celular para mim.

Eu o peguei, mais não atendi a ligação imediatamente. Tive que primeiro revisar em minha mente a mentira que Renée combinou comigo. Ou melhor, a mentira que ela contou e que eu fui obrigada a acobertar: que o caminhão veio mais cedo, quando na verdade foi ela quem disse o dia errado para ele.

—Alô? – eu disse automaticamente ao atender o telefone.

—Oi filha – falou Joshua do outro lado da linha – Tudo bem?

—Tudo sim. Desculpa, eu demorei para atender porque não estava encontrando o celular.

—Sem problemas. Eu só liguei porque queria saber, que horas mesmo o caminhão chega amanhã. O Sam vai tentar sair mais cedo da loja para ir ajudar na mudança também.

Engoli em seco. Não queria mentir para o meu pai. Ele estava tentando ser prestativo. E o Sam também.Eu não entendia muito bem por que minha mãe colocou na cabeça que era melhor fazermos tudo sozinhas, mas penso que ela só não queria sentir que precisava ainda mais da ajuda dele depois de ele já ter nos ajudado a pagar o primeiro aluguel da casa nova. Ela podia ser bem orgulhosa às vezes. Morar na mesma cidade que meus pais separados estava prometendo ser mais desafiador do que eu imaginava. 

—Então pai... – eu comecei – ...o senhor nem vai acreditar no que aconteceu, mas o caminhão chegou hoje... – tentei soar convincente. 

—Espera, hoje? Como assim?

—Pois é, não sabemos o que aconteceu... – tive que desviar o olhar de onde minha mãe, minha tia e minha prima estavam. Não conseguiria mentir tão descaradamente se olhasse para elas. Fitei a parede então – mas o caminhão chegou hoje. Nós acabamos de terminar de descarregar as coisas. Não ligamos para você porque sabíamos que estava trabalhando.

 – Eu esperava que os anos longe contribuíssem para que ele não soubesse identificar quando eu estava mentindo.

—O que? Não acredito. Mas vocês deveriam ter me ligado mesmo assim, eu daria um jeito de ir aí.

—Não queríamos atrapalhar. - essa parte era verdade pelo menos.

—Imagina, não atrapalharia coisa nenhuma. – ele respondeu – Nossa, não acredito que o caminhão veio hoje. Geralmente eles atrasam, e não adiantam.

—Pois é, a gente também não entendeu. – resolvi mudar de assunto para não começar a me sentir culpada, embora fosse um pouco tarde demais para isso. – Mas tudo bem, porque a tia Cora e a Sara ajudaram a gente.

—Vocês já terminaram? Querem que eu vá até aí?

—Não, não se preocupa, conseguimos fazer tudo com a ajuda delas. Aliás, já vamos voltar para casa da Tia Cora, tomar um banho, e jantar. Amanhã voltamos para começar a tirar as coisas das caixas.

—Tudo bem. E vão querer ajuda com essa parte?

Tudo bem, agora eu estava me sentindo culpada para valer. Joshua estava sendo muito gentil. Fiz uma careta. – Acho que não, pai. Você sabe como a Renée é, metade do dia vai ser ela tentando visualizar onde as coisas devem estar e a outra metade vai ser ela mudando de ideia.

Do outro lado da linha meu pai riu. Ele sabia que era verdade. – Boa sorte com essa parte. – Ele brincou. – Tudo bem então. Mas domingo vocês vêm almoçar aqui, não é?

Eu quase tinha me esquecido que combinamos de visitá-lo no dia depois de amanhã. Mas respondi rapidamente: – Claro, vamos sim.

—Ok, ótimo – ele pigarreou - então, até mais filha.

—Tchau, até mais. – desliguei o telefone.

—Renée, por que mesmo nós dispensamos a ajuda de dois homens fortes que iriam ajudar a carregar todas essas benditas caixas? – perguntou tia Cora. Ela não era a maior fã do meu pai, mas também não gostava de mentir.

—Porque sim – respondeu simplesmente minha mãe. E tia Cora não persistiu porque sabia o quanto a irmã era teimosa – Vamos indo?

Estávamos muito cansadas, mas estávamos com mais ainda com vontade de chegar em casa, tomar um banho e descansar, então fomos rapidamente para a velha caminhonete vermelha estacionada no lado de fora. Meu pai a havia comprado de seu amigo Billy Black e a havia dado para mim ano passado. Foi sem dúvida o melhor presente que recebi dele, eu amava aquela caminhonete, por mais barulhenta que fosse.

Estava frio e o chão escorregadio, para variar. Forks era tão diferente de Phoenix, eu não sabia como iria conseguir me acostumar. Eu detestava esse clima gelado, preferia o calor, mas sabia que não deveria falar isso em voz alta, a mudança toda já tinha sido difícil o suficiente para minha mãe, e ela não precisava saber o quanto estava sendo difícil para mim também.

 Enquanto a caminhonete barulhenta avançava pela rua eu me perguntava se algum dia eu amaria esse lugar cinzento do mesmo jeito que amava minha antiga cidade ensolarada. Eu duvidava. Parecia que minha estadia aqui seria tão monótona quanto a garoa que caia sobre os vidros.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!