Os Retalhadores de Áries escrita por Haru


Capítulo 23
— Kin II




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— Kin II

Depois de uma noite perfeita na companhia de sua mãe, Kin vestiu seu pijama rosa claro e subiu para o quarto. Precisava acordar cedo no dia seguinte. Ela afofou o travesseiro branco, ajeitou os cabelos, levantou o cobertor amarelado e deitou com um singelo sorriso no rosto. Pensou um pouco sobre essa fase boa de sua vida, duvidou sinceramente que algum outro dia futuro pudesse superar aquele ou ser tão bom quanto. Encarou o teto e, reflexiva, fechou os olhos por alguns segundos. Quando esticou o braço para desligar o abajur na mesinha a direita de sua cama, alguém bateu na porta.

Uma alegria muito grande se espalhou por seu coração. Sabia que era seu pai. Não foi capaz de conter o sorriso.

— Pode entrar. — Deu permissão.

Loiro como ela, alto, magro e um tanto desajeitado, Azin abriu a porta e, na hora de ingressar no quarto, quase jogou o abajur no chão. Kin ria dele enquanto o olhava tentar colocar o aparelho de volta no lugar. Depois pergunta por que as pessoas te subestimam, pensou consigo mesma, meneando a cabeça. Vendo-os juntos, qualquer um chutaria de primeira que eram pai e filha. As semelhanças entre os dois eram de acabar com quaisquer dúvidas em relação a isso, de parecido com a mãe Kin só tinha o nariz.

Ao finalmente conseguir deixar o abajur de sua filha do jeito que ele estava antes de sua entrada atrapalhada, Azin sentou na beirada da cama dela e puxou uma caneta do bolso direito da camisa social azul clara que trajava. Deu-a para Kin, estendeu a palma da mão e disse:

— Só vim pedir o autógrafo da vencedora do Torneio das Nações, ela é fantástica! Trouxe a bandeira de Áries pro reino onde eu nasci!

A loirinha não economizou nas gargalhadas.

— Pronto! — Assinou seu primeiro nome na mão dele. — Se conseguir falar com o pai dela, fala que ela tá muito feliz...

Azin fez carinho no rosto dela e cruzou os braços.

— Ele sabe. — Retrucou. — Pelo que ouvi, ela é uma ótima garota, ele fala bem dela pra todo mundo! E está muito orgulhoso. Sempre esteve.

Kin se emocionou. Quando as lágrimas começaram a rolar, deitou de novo a cabeça no travesseiro. Pensou que tinha razão quando disse a si mesma que nenhum outro dia se equipararia a aquele. Tudo estava tão perfeito. Seu pai enxugou suas lágrimas com o polegar e deixou um beijo na sua testa.

— Obrigada por tudo, pai. Você e a mamãe são incríveis... me desculpa pelo meu mau humor nos últimos meses, se eu disse alguma coisa que te fez pensar que você não é bom pra mim...

O retalhador deu de ombros.

— Imagina. Eu é quem devo desculpas por não passar mais tempo com a filha que todo pai retalhador sonha ter. — Replicou, arrancando mais lágrimas dela, que ria e chorava ao mesmo tempo. — Você dizia que eu sou seu herói, mas agora você que é minha heroína! Sabia que eu sonhava com aquela bandeira desde criança? É sério! Na-

A jovem guerreira não aguentou ficar parada ouvindo tantas coisas maravilhosas de alguém que amava tanto, se atirou nele e o abraçou com toda a força. De primeira, Azin se surpreendeu, mas depois sorriu e devolveu o gesto. Retalhadores como eles tinham tão pouco tempo para momentos de afeto e presenciavam tanta brutalidade no trabalho que se tornavam mais sensíveis na vida privada. Como que tentando recuperar o orgulho que sentiu ter perdido ao chorar na frente de um dos líderes de seu mundo, ainda que ele fosse seu pai, Kin abaixou a cabeça e secou as vistas o mais rápido possível.

Fingindo que ele não tinha visto e que não sabia que ele tinha sacado o que ela estava fazendo, mudou de assunto:

— A mamãe e eu trouxemos sorvete pra você.

— Ah, ainda bem que era pra mim! Eu estava tentando pensar num jeito de te contar que não sobrou nada... — Revelou, fazendo-a dar mais risadas. — E as missões como retalhadora de elite, como são? Hayate tá pegando pesado com vocês?

— Que nada, são muito divertidas! Todos nós adoramos... é diferente com o Kenichi, porque ele é um lunático por lutas, mas no geral tá todo mundo satisfeito.  

— Kenichi é o ruivinho de nariz tatuado que fez dupla com a Mahina, né? — Falou, impressionando a filha, que achava que ele não prestava atenção no que ela dizia. O talento que Azin mais se gabava de ter era sua boa memória. — Você estava com medo de ter que fazer dupla com ela... quem foi que te deu a ideia de convidar garotos pra essa equipe? 

— Você, pai. — Kin abaixou a cabeça e reconheceu. Seus pais eram os melhores do planeta no que faziam, por isso não costumavam ser tão humildes. Porém, adorava ver nos dois que eles conseguiram manter o bom humor e a humanidade mesmo após passarem por tantos cenários tenebrosos na vida. Esperava ser assim quando alcançasse a idade e a experiência deles. — Mas eu quase tive que fazer dupla com o ruivo irritadinho, ia ser outra enrascada!

— Ah, é, você sozinha já se irrita fácil... Dois estressadinhos em uma dupla teria sido ainda pior. — Concordou com ela. Levou uma travesseirada na cabeça. — Qual é? Eu não disse nada mais do que a verdade!

A garotinha pensou melhor. 

— É, você tá certo. — Assentiu. Entregou o travesseiro para ele, abaixou a cabeça e falou: — Devolve o golpe, vai, eu mereço. 

Azin deu um beijo no topo da cabeça dela e repôs a almofada no lugar.

— Fico devendo, campeã. Você trouxe a bandeira de Áries pra Órion, hoje só merece mimo e elogio. — Retrucou. Quando olhou no relógio de pulso e viu que os ponteiros marcavam meia noite e um, puxou o travesseiro rápido e a acertou com ele, antes que ela deitasse. Sob o olhar interrogativo da filha, mostrou as horas: — Seu dia de mimos acabou. — Se explicou, ouvindo mais risadas da pequena. — Vou indo campeã, você precisa descansar. Até de manhã. 


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