Capítulo 2

Os dias de completa escuridão ainda assombravam Isabella.

Mas enfim ela estava recomeçando. Em um lugar novo. E sua filha estava com ela. Bella olhava a cada vinte segundos para o seu retorvisor. Isso era  mais do que o recomendável, mas ela queria ter certeza que sua filha estava bem. Queria ver a sua pequena Lizie dormindo porque aquilo a tranquilizava. Saber que a sua filha estava bem a acalmava. Assim como um bálssamo e seu aroma agradável, era o alívio que essa mãe sentia.

Estavam na estrada há pouco mais de 2 dias. Se hospedando em hotéis e muitas vezes no carro, no estacionamento de um Wallmart que encontravam pelo caminho. Bella, como preferia ser chamada, não se orgulhava disso, mas não tinha muito o que ela poderia fazer. Ela preferia acreditar que estavam mais seguras ali, tendo uma a outra, do que no lugar que deixaram para trás em Phoenix. E realmente estavam.

Respirou fundo, como um sinal de apagar as memórias ruins, do passado. Eram passados agora.

A estrada que Bella tinha pego há poucos horas, saindo da I-5 levava-as agora rumo norte, e estavam cada vez mais próximas do seu destino. Santa Cruz, Califórnia.

Ela ainda não conseguia acreditar.

Como que por um milagre elas estavam ali, longe dos fantasmas e de uma vida infeliz.

Elas podiam enfim respirar.

A companhia de mudança tinha ligado minutos atrás, enquanto Bella estava conectada ao bluetooth do carro que tinha conseguido comprar econdida. Eles diziam que já estavam a poucos minutos da casa. Bella seguia logo atrás e esperava que não os deixasse muito tempo esperando.

Elas não tinham muitas coisas, mas o suficiente para começarem uma nova vida, longe de tudo.

***

Era o começo do verão em Santa Cruz. Bella se lembrava da primeira vez em que esteve ali. Foram nas férias quando ainda era criança e seus pais eram vivos. Ela ainda se lembrava do quão mágico aquele lugar era, das praias e da natureza explendida a cada nova paisagem que descobriam dirigindo pela costa da Califórnia até chegar ali.

Bella respirou fundo, sentindo o aperto na garganta toda vez que lembrava dos seus pais. 

Parou na placa de stop sign quando uma família acenou e atravessou a rua. Seus novos vizinhos provavelmente, ela pensou. Tirou o pé do freio e virou a esquerda na rua que seria o endereço deles pelo tempo que tivesse que ser. Ela ainda não sabia ao certo. A incerteza do amanhã a assombrava desde o momento que decidiu deixar Phoenix.

Tudo parecia tão calmo ali.

Estavam há cinco minutos da praia, em uma vizinhaça tranquila. Sua casa era última de uma rua fechada, e foi quando Bella avistou o caminhão da mudança, já retirando caixas e mobílias para levar para dentro da pequena casa.

Bella ainda admirava o lugar a sua volta quando viu um homem parado, observando o caminhão. Ele parecia absorto, como se tentasse adivinhar quem estaria se mudando para casa ao lado. Bella não o julgava, provavelmente faria o mesmo.

Quando decidiu que se mudaria para Santa Cruz, ela só procurou por casas que estavam desocupadas ao redor. Quando achou, essa mesma casa para onde estava se mudando, ela soube que era o lugar certo. Os antigos moradores estavam voltando para a sua cidade natal, quando Bella estava fugindo da sua.

O homem ainda observava a mudança quando Bella estacionou o carro paralelo a calçada. Ele parecia ter acabado a sua corrida matinal e aquela, bem ao lado da sua com um gramado um pouco que descuidado, parecia ser a sua casa. Ele tinha um Volvo estacionado também paralelo a cançada, onde Bella estacinou a frente, entre o caminhão da mudança que logo sairia. 

Bella desligou o carro e tirou seu sinto de segurança. Tinha sido uma longa viagem, e tudo o que ela queria era poder esticar bem as pernas e dormir. Mas eram apenas 7 e pouca da manhã. Ela tinha caixas para desfazer e móveis para colocar no lugar...

Um gemino vindo do banco de trás me fez olhar para trás.

— Mmmm...

Tess estava quase acordando, se espriguiçando e os olinhos esprimidos ao se abrirem para a luz do dia. 

— Oi meu amor - falei, me virando e tocando em sua perna. No mesmo instante ela sorriu ao ouvir minha voz. - Chegamos, você não disse que estava ansiosa pra chegar na casa nova.

Ainda com os olhos esprimidos, ela esticou o pescoço e suspirou. Mas não era um suspiro frustrado. Era algo que ela sempre fazia depois que desenvolveu o ofalto como uma das coisas mais importantes do seu dia.

— Cheira a flores - ela disse, finalmente.

Eu sorri, olhando para o jardim mal cuidado da casa ao lado. Nós não tinhamos um jardim, apenas uma pequena área que antecedia a porta de entrada. A casa tinha uma varanda, aonde poderíamos plantar algumas flores e cultivar pequenas frutas. Tess adoraria.

— Sim - concordei, sorrindo ainda mais e ver como a minha filha podia ser feliz longe de tudo o que vivemos. 

Ali seria o nosso recomeço, longe de tudo que nos assustava.