Casualidades e Confluências escrita por Meizo


Capítulo 5
Encontro 5: E, enfim, o mistério se desvenda!




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Contra a sua vontade Sanji foi obrigado a tirar alguns dias de folga. A sua chefe não estava disposta a ser processada por matar seus funcionários por trabalhar demais e nem queria ser forçada a pagar por mais hora extra. Tudo possuía um limite. Então ela ameaçou despedi-lo caso não ficasse em casa e passasse um tempo restaurando a saúde. Com isso Sanji não teve outra opção senão aceitar.

Planejou algumas distrações como livros e filmes, além de voltar a cozinhar refeições melhores do que o que vinha cozinhando com produtos pré-cozidos. Cedo do seu primeiro dia de descanso ele saiu para comprar produtos frescos na feirinha perto da estação. Voltou para casa com bom humor e duas sacolas reutilizáveis cheias de bons alimentos. Mas mal tinha aberto a porta quando uma viatura da polícia parou diante sua casa, com a sirene soando estridente e as luzes de cima do carro piscando como loucas.

O barulho da sirene foi interrompido quando o primeiro policial saiu da viatura, mas as luzes continuaram piscando em azul e vermelho num ritmo frenético.

— O senhor mora nessa residência? ­— perguntou o policial ajeitando o quepe na cabeça e lançando um olhar duro para Sanji.

— Moro.

— Sozinho ou possui família?

Sanji franziu as sobrancelhas.

— Sozinho. Por quê?

O segundo policial, depois de descer do carro com certa dificuldade graças a sua barriga proeminente e o cinto travado, também lhe lançou um olhar duro.

— Recebemos uma denúncia de sequestro e maus tratos em sua residência, senhor...

— Vinsmoke Sanji. E eu não tenho ninguém sequestrado na minha casa! — Sanji nunca se sentiu tão ofendido desse jeito. Nunca em sua vida tinha sido abordado pela polícia, nem na adolescência quando foi um pouco rebelde! Até em sua profissão ele conseguia agir dentro da lei.

— Não duvidamos de sua palavra, senhor Vinsmoke. Mas poderia permitir que revistemos sua casa só para tranquilizar os seus vizinhos?

Ao ouvir a palavra “vizinhos” ele olhou rapidamente para a casa a direita da sua, percebendo de imediato a cabeça da sua vizinha lhe espiando no muro. Segundos depois dela perceber que era observada, a cabeça sumiu de vista.

Sanji suspirou.

Aquela vizinha, uma senhora aposentada sem um passatempo decente, tinha escolhido como objetivo descobrir algum segredo sombrio de Sanji. Ele não tinha um segredo assim, claro. Mas isso não importava para ela. Certa vez até lhe acusou de estar pervertendo os jovens do bairro só porque ele tinha decidido usar uma calça de couro justa para ir passear.

— Claro, vocês podem entrar, mas não encontrarão nada de errado...

Ele interrompeu a própria frase quando um grito estridente ecoou pela porta que acabara de abrir. Um “me salvem” tão sofrido que os policiais o empurraram e entraram rapidamente para averiguar quem precisava de ajuda. Bem, eles ficaram surpresos quando apenas encontraram as duas aves dentro da gaiola. Ainda olharam cômodo por cômodo, fresta por fresta, mas não acharam ninguém mais.

O policial pareceu confuso.

— Mas quem pediu ajuda?

Nesse momento Lis, sua papagaia mais velha, interrompeu o banho que tomava para gritar novamente em tom estridente um “me salve! AH!”. Logo em seguida Cloe emendou com um “merda”. Os policiais encararam as aves com total surpresa.

— Bem, percebemos que houve um equívoco na ligação que recebemos. Não o incomodaremos mais, senhor Vinsmoke. Tenha um bom dia. — disse o primeiro policial, pigarreando.

— O senhor não devia ensinar esse tipo de frase para seus bichos. — disse o outro, repreendendo-o.

Depois os dois saíram sem fazer mais comentários e o Vinsmoke finalmente pôde ficar em paz em sua própria casa. Mas Sanji não julgou os policiais por ficarem tão chocados. Ele mesmo tinha ficado bastante surpreso quando, a cada vez que suas papagaias vocalizavam, repetiam frases bizarras que nunca tinha usado antes. Quando começaram a dar gritos aleatórios e repetir coisas como “me salve” e “socorro” Sanji já estava considerando a possibilidade de ou estar sendo assombrado ou de suas aves serem a reencarnação de pessoas muito sofridas na vida passada. Não cabia explicações mais racionais.

Embora nunca tenha achado que os gritos estranhos acabassem virando caso de polícia, claro.

Ainda não era nem meio-dia e ele já estava cansado. Desistindo de cozinhar naquele momento, Sanji subiu para descansar um pouco na cama. Cochilou por quase uma hora e meia, mas quando levantou estava mais disposto a aproveitar seu dia de folga. Comeu um pedaço de torta de pêssego que havia na geladeira, capturou uma maçã da cesta em cima da bancada e buscou seu tapete de yoga na dispensa. Iria se exercitar um pouco no quintal para começar a tal recuperação da saúde.

Pretendia aproveitar para deixar suas papagaias tem um momento de ar fresco e andar pelo jardim, mas ao se aproximar da gaiola percebeu de súbito que estava tudo muito silencioso ali. O motivo: Cloe e Lis não estavam em parte alguma da gaiola. Ele desesperou-se. Começou a procurá-las por toda a parte, revirando os móveis e chamando por seus nomes. Quando não as encontrou dentro de casa, saiu para o quintal para ampliar a busca.

No entanto, para seu total choque e incompreensão, ele flagrou suas duas aves em cima do muro de divisa com a casa que era sua vizinha pelo lado esquerdo, piando animadas para um familiar homem alto de cabelo verde. O tatuador não estava dentro de seu quintal, é claro. Ele permanecia do lado dele conversando com as aves como se fossem velhos amigos. Sanji estava mortificado. Desde quando eles eram vizinhos?!

— O quê... Você aqui?!  — conseguiu balbuciar ao se aproximar embasbacado de onde ocorria a cena de traição. — Está roubando minhas aves?!

O tatuador também ficou surpreso.

— Ah, hoje você está em casa.

Sanji uniu ainda mais as sobrancelhas.

— Então você está mesmo roubando minhas aves?

— Quê? Eu não. Eles que costumam escapar quando você não está em casa. Não tenho culpa se eles gostam de mim.

— Está dizendo que elas fogem intencionalmente para ver você? — deu uma risada seca. Aquilo era um absurdo. — E desde quando você é meu vizinho? Está me perseguindo até aqui?!

O vizinho bufou, girando os olhos.

— Vai me acusar de roubar suas cuecas também? — ao perceber que Sanji parecia mesmo disposto a fazer essa pergunta, o tatuador fez um gesto para que se calasse. — Não estou roubando coisa alguma. E mesmo você sendo um loiro bonito, não vou pegar suas cuecas.

Loiro bonito.

Loiro bonito.

Onde era que ele já tinha ouvido falar aquilo? Ah! Suas papagaias repetiam isso vez ou outra! Sanji apertou a ponte do nariz.

— Espera, foi você que ensinou minhas princesas a falar?

O tatuador coçou a nuca, sem nem se forçar a responder. Isso foi equivalente a assinar um termo de confissão. Sanji grunhiu. Nem suspeitara por um só momento que a verdade seria tão menos fantástica quanto as possibilidades que estava cogitando. Ele nem queria pensar em como suas aves escapavam da gaiola, saiam de casa e depois voltavam como se nada tivesse acontecido. Seriam suas aves melhores atrizes que Angel Jolie?

— Sabia que a polícia veio aqui por causa das frases que você ensinou a elas? Achavam que eu estava mantendo alguém em cárcere privado!

Uma risada alta escapou do vizinho de cabelo verde. Pela sua expressão e pela postura descontraída apoiada no muro de 1,65 de altura, pôde perceber que ele estava genuinamente despreocupado. Sanji se irritou.

— E naquele outro dia você fez o que quis no meu pescoço. Só soube o porquê de estarem me encarando no caminho quando cheguei em casa e vi as muitas marcas que você deixou.  

— Mas disso aí você gostou. — ele disse com bastante certeza e ainda esboçando um sorriso sacana. — Lembro bem do quanto. — falou, dando um olhar sugestivo para as calças de tecido leve que o fotógrafo usava para fazer yoga.

O rosto de Sanji esquentou de leve com a resposta descarada dele, mas não expressou qualquer outro sinal de constrangimento. Ele avançou para mais perto do muro e espelhou o sorriso do vizinho. Aquele era um jogo que dois poderiam jogar.

— E vai dizer que não gostou também? Você marcou bastante minha pele e pareceu disfrutar do beijo que te dei.

— Poderia ter marcado mais se tivesse tempo, mas estava ocupado e com companhia. — deu um carinho na cabeça de Cloe que tinha se aproximado procurando receber atenção. A ave assobiou feliz. — E você deveria me agradecer por ajudar suas princesas a voltarem para casa. Tem uma abertura na tela da sua porta. Você devia consertá-la.

Sanji teve vontade de dizer que sabia quem eram as companhias dele, mas aí o tatuador poderia pensar que ELE era um perseguidor, então ficou quieto sobre isso. Em vez de comentar sobre esse tema, resolveu continuar a falar de suas aves. Aliás, era surpreendente descobrir que aquele recém descoberto vizinho vinha ajudando suas aves a voltar para casa, mesmo que em contrapartida ele tivesse ensinado frases comprometedoras para as bichinhas. Mas talvez realmente precisasse agradecê-lo.

— Qualquer pessoa com o mínimo de decência faria is—

Interrompeu-se quando um latido amistoso soou ao lado do tatuador. Um cachorro? De imediato Sanji se esticou sobre o muro para observar a fisionomia do animal, mas nem precisou olhar muito para reconhecê-lo como o mesmo que viu naquela noite no parque. O grande cachorro marrom que gostava de lamber desconhecidos e não parecia ser de raça definida. Como era mesmo o nome pelo qual a mulher tinha chamado ele?

— Sirius! — lembrou-se de repente. O tatuador olhou estranho para ele.

— Como você sabe o nome do meu cachorro?

Sanji olhou bem para o homem de expressão desconfiada, deslizando o olhar pelos cabelos cor de grama e descendo para os braços fortes e tatuados. Naquele dia ele estava sem camisa, exibindo um belo abdômen definido que ele apreciou demoradamente. Qualquer pessoa normal estranharia esse tanto de encontros coincidentes, mas Sanji já havia superado essa etapa. Pra começo de conversa tinha sido ele mesmo quem decidira entrar no estúdio de tatuagem. Aquilo aparentemente tinha desencadeado tudo.

— Não acha que estamos nos encontrando bastante por aí sem nem termos nos apresentado?

O tatuador ergueu uma sobrancelha.

— Você não pareceu preocupado com isso quando saiu estirando o dedo lá no estúdio. Nem quando me chamou de perseguidor ou quando te ajudei pela terceira vez.

Sanji ignorou seu comentário irrelevante. E terceira vez? Na segunda vez que se encontraram não houve ajuda alguma, apenas se viram por casualidade no mesmo petshop, então não podia ser adicionada nessa contagem. Certamente ele não era muito bom com cálculos.

— Sou Vinsmoke Sanji. — disse estendendo a mão sobre o muro para cumprimentá-lo.

O tatuador encarou sua mão estendida por breves segundos agonizantes, mas por fim retribuiu o cumprimento apertando a mão oferecida.

— Roronoa Zoro. Mas eu já sabia seu nome.

Sanji o fitou confuso.

— Me conhece de algum lugar?

— A vizinha daquele lado espalhou para algumas pessoas da rua que eu e você estávamos trabalhando juntos para desvirtuar os jovens ou sei lá o quê. O papel acabou sendo entregue aqui em casa também. Tinha até uma foto sua. — Zoro deu de ombros. — E você mesmo se apresentou no dia que te achei bêbado.

Sanji sorriu imaginando facilmente a vizinha espalhando folhetos na reunião do centro comunitário do bairro. Folhetos sobre como ele, com suas roupas justas, e Zoro, com as tatuagens e piercings, representavam perigo para a moral dos jovens de bem. Aquela senhora devia arranjar um hobby de verdade para passar o tempo...

— Imagine o tipo de boato que iria circular caso eu te chamasse para jantar na minha cas... Espera. Quando foi que você me viu bêbado?

Zoro se abaixou para acariciar a cabeça de seu cachorro e jogar longe o pedaço de graveto que Sirius levava na boca. Logo depois o cachorro correu atrás do graveto, muito animado.

— Na hora do jantar nós conversamos. Aí eu te digo do dia bêbado e você me diz como sabe o nome do meu cachorro.

Sanji não conseguiu evitar o sorriso diante de tamanha ousadia. O homem estava se convidando para jantar em sua casa? Não era todo dia que isso acontecia, então precisava parabenizá-lo por conseguir surpreendê-lo. Esticou o braço sobre o muro para que suas princesas subissem nele e deu as costas para Zoro, voltando tranquilamente para casa. Aquele jantar, caso acontecesse, poderia ser conveniente para ambas as partes e de brinde ainda gerariam boatos interessantes para distrair sua vizinha de tempo exageradamente livre.

— Às 19 horas em ponto apareça na minha porta. — Sanji avisou antes de entrar. — Não se atrase.

Sim, eles jantaram juntos. E sim, Sanji achou bastante proveitosa a presença do tatuador em sua mesa, que comeu vorazmente como se a comida em seu prato fosse a melhor do mundo. A atração que sentiam um pelo outro era inegável, além disso a frequência que se reencontravam provavelmente devia indicar algo. No entanto, Sanji ainda não acreditava em pessoa destinada. Isso lhe parecia um exagero. Mas talvez pudesse acreditar em compatibilidade corporal e ao menos isso ele poderia descobrir facilmente, bastava seduzir o homem com quem jantava.

Mas quem em plena consciência decidia vir sem camisa para jantar na casa de alguém?

 


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