Este cheiro escrita por annaoneannatwo
— Se me permite dizer, Tohru-kun, seu perfume está muito bom hoje! — o Shigure, que não tem a menor vergonha de agir como um tarado, prefere dizer isso ao invés de “Bom dia” como uma pessoa normal à mesa do café da manhã.
— Não diga coisas estranhas. — o moleque rato o repreende, fazendo Kyo odiar ainda mais o Shigure por fazê-lo ter que concordar com a ratazana maldita.
— Ora, só estou elogiando, fico feliz que tenha aceitado e gostado do meu presente, Tohru-kun!
— Ah sim, muito obrigada, Shigure-san! Eu nem sei como agradecer, nunca ganhei óleos de banho antes! — ela levanta o punho e se cheira, sorrindo — É realmente bem cheiroso!
— Por que você deu um presente tão esquisito pra ela? — Kyo resmunga, simplesmente não dá pra ficar quieto e fingir que não acha a situação bizarra.
— E é necessária uma razão para dar um presente para aquela que mantém essa casa em ordem? Daqui a pouco vocês vão sugerir que só dei os óleos de banho para ela pois os ganhei de um colega escritor e fiquei com brotoejas ao usá-los!
— Eu sabia… — ele e o rato resmungam ao mesmo tempo, o que deixa Kyo ainda mais irritado.
— Não entendo porque você está tão incomodado, Kyo-kun, imaginei que seria o que mais iria gostar do cheiro…
— E-e… por que… por que eu gostaria do cheiro? — ele vira a cara para que ela não o veja ruborizar. Shigure maldito!
— Ora, porque é um cheiro bom, não é? Sim, muito bom… Imagino que o cheiro de… não sei, Catnip, seria bem agradável, não?
— Do quê?
— Catnip. Você não sabe o que é Catnip? — o Shigure finge espanto e indignação — Não acredito!
— Tsk, pois pode acreditar! Desde quando eu sou obrigado a conhecer cheiro de flor e-
— Erva.
— O quê?
— Catnip é uma erva. — o cachorro maldito o corrige.
— Q-que seja! Não tenho obrigação de conhecer erva nenhuma! — ele se levanta — Tsk, tô indo pra escola!
— E-ei, Kyo-kun! Por favor, espera! — ela pede, erguendo-se assim que termina de comer — Vamos juntos pra escola! — e sorri, forçando a dar-lhe as costas enquanto pega sua mochila no chão, preocupado com a possibilidade de ela ouvir o coração dele disparado. Ela é uma tonta, não conseguiria registrar seu próprio sorriso como o motivo do coração acelerado dele, mas… é melhor tentar disfarçar.
— Não precisava comer tão rápido, eu não ia sair sem você. — ele murmura, ajustando a alça da mochila, que não precisa de ajuste nenhum.
— A-ah, que… que bom! Vamos só esperar o Yuki-kun pra podermos ir todos juntos!
Tsk, ele sabia! Tava bom demais pra ser verdade!
Quando ninguém está olhando, e Kyo consegue um tempo no intervalo das aulas, ele dá um perdido em seus amigos e vai à biblioteca. Evitando encarar a bibliotecária, ele pergunta pela seção de livros de botânica e ao pegá-los, vai direto na parte sobre ervas. surpreendendo-se ao não demorar em achar a tal da Catnip, que é o nome em inglês para… Erva do Gato?
O rapaz escaneia a página sobre a tal erva. “Nativa da Europa…” blá blá blá “...muito popular na América do Norte e no Japão…” blá blá blá “...erva da família das hortelãs…” blá blá blá, e então: “conhecida por provocar uma ampliação de sentidos em felinos, tanto selvagens quanto domésticos, causando um estado de euforia e agitação, e estimulando seus instintos predadores. A erva não é nociva para os felinos, muito pelo contrário, seu uso é até incentivado para tratar apatia e estresse em gatos.”
SHIGURE MALDITO!
***
Eles saem juntos da escola, tendo que caminhar juntos até certa parte do trajeto, onde ela se separa deles para poder ir para o trabalho de meio expediente. Normalmente, ele não gosta muito desse momento, hoje, está torcendo pra que aconteça logo. Kyo optou por andar alguns passos à frente dela e do Yuki maldito, tudo por culpa do vento que vem contra a direção deles. Ele se viu forçado a apertar o passo e ultrapassá-la, o vento estava jogando todo o perfume da pele dela direto na cara dele.
O cheiro era incrível! Adocicado, mas não de um jeito enjoativo, com um quê de madeira e alguma planta que ele não sabe o nome, só sabe que o aroma parece ter dilatado suas narinas e percorrido todas as veias em seu corpo… ele teve que se afastar pois tava se sentindo esquisito… e muito, muito… animado?
— Por que a pressa? Quem vê pensa que você tem algo para fazer. — o rato maldito pergunta em seu tom enfadonho de sempre.
— CALA A BOCA! — ele retruca, olhando-a de relance — Ô, você!
— E-eu? — ela pergunta.
— Vê se não volta sozinha pra casa, falou? Vai ficar escuro e você é toda desmiolada, tem que tomar cuidado!
— S-sim! O… o Yuki-kun virá me buscar, não é, Yuki-kun?
— Claro. Tenho alguns assuntos do conselho estudantil para cuidar, mas estarei te esperando no fim do seu turno, Honda-san. — a voz dele soa asquerosamente gentil — Se bem que o gato idiota aí poderia ser útil de vez em quando e te buscar. — e agora soa dura.
— Tsk, não me diz o que fazer! — ele se vira, irritado, dando de cara com aqueles grandes e brilhantes olhos castanhos dela… e com o cheiro insuportavelmente bom, o efeito é automático, sua audição parece mais sensível, o mais baixo do farfalhar das árvores soa alto, ele sente seus olhos dilatarem e as narinas abrirem.
— Kyo-kun? — ela inclina a cabeça — Você está bem? Parece estar suando… será que está com febre? — e estende a mão para tocá-lo, parece tão macia e quentinha, e…
— Não chega perto! — ele se afasta, quase batendo na mão dela e se sentindo um lixo ao vê-la assustada com a reação dele — E-eu… eu tô bem, ok?
— Francamente, qual o seu problema? — o Yuki o olha feio.
— VOCÊ É MEU PROBLEMA! — ele revida e dá as costas a eles, correndo o mais rápido que pode.
Kyo mentiu. Pela primeira vez, o Yuki não é o problema.
***
Ele tá ficando doido! É o que o rapaz conclui enquanto enfia a cara em seu travesseiro, nem isso o impede de continuar sentindo o cheiro, não importa pra que lado ele role.
Como isso é possível? O livro falava que a tal erva não é viciante, na verdade, ela vai até perdendo o efeito quanto mais o gato o aspira, e mesmo assim, aqui ele se encontra, só pensando no quão… gostoso era o aroma e no quanto Kyo quer senti-lo de novo.
Vai ver tem a ver com a verdadeira forma, ela o impede de ser um ser-humano normal e mesmo um gato normal, tudo é pior para ele por causa dessa maldição, essa sina que o persegue e o condena, causando efeito contrário em suas intenções, o cheiro não deveria ser viciante, e ele está alucinado para sentir mais, Kyo quer se afastar e fingir que não se importa, mas tá sempre pensando nela, se está segura, se está se sentindo bem, se tem algo que a chateia… tsk, um idiota completo!
Vendo que não vai conseguir dormir mais que isso, ele se levanta… e a encontra estendendo a roupa no varal, os cabelos castanhos ao vento, as roupas balançando suavemente, ela cantarola uma melodia suave e levemente animada, e então se vira para vê-lo.
— Bom dia, Kyo-kun! — algumas pessoas parecem amassadas e agem de um jeito lento e mal-humorado de manhã, não ela, ela sorri e o saúda animadamente — Você… levantou cedo, né? Eu ainda não fiz o café, se puder esperar um pouco, eu…
— Tá, tá. Fica tranquila. — ele resmunga, andando até ela e o cesto de roupas e pegando alguns prendedores. Se ela estranhou a ajuda dele, não comenta nada e continua a pendurar as roupas, dessa vez sem cantarolar. Que pena.
O vento bate contra eles e de repente, está aqui de novo: este cheiro. Ele leva a mão ao nariz, mas não adianta. Droga! Por que é tão bom? Por que ela é assim, tão avoada e boba e… gentil? Se ele falasse o que tá acontecendo, ela se apressaria em pedir desculpas e garantir que jamais usaria o tal óleo de banho de novo! Kyo é babaca, mas não a esse ponto, ela deveria usar o que quiser, ainda mais se gostou tanto! E não é como se ele não gostasse também, o problema é justamente o contrário, ele gostou, e gostou muito.
Tanto que tá até agindo sem pensar quando se aproxima um pouco dela, inclinando-se um pouquinho para sentir o aroma mais de perto, mas de uma distância segura que não o fará parecer um pervertido nojento, o suficiente para apreciar o cheiro e se perder um pouquinho nele.
Ou… talvez perto demais, porque quando ela se vira para pegar um prendedor, assusta-se com a proximidade dele e cai pra trás, Kyo a segura pra que não caia no chão, mas é o que acaba acontecendo, pois não dá pra ampará-la na forma de um gato. Merda!
Transformar-se deixa tudo pior, Kyo sente seus instintos expandirem-se de maneira quase transcendental e, sem controle nenhum de si mesmo, esfrega a cabeça na perna dela.
— K-Kyo-kun? — ela parece extremamente constrangida, com toda razão. Ele vai se arrepender disso imensamente quando recobrar seu bom senso, mas, por ora, só roça contra a perna dela e se esfrega no chão como um gato de verdade faria.
— Ora, ora, ora, mas o que acontece aqui? — o Shigure aparece na porta, seu tom é de repreensão, mas ao olhá-lo, Kyo vê que o maldito está sorrindo de orelha a orelha.
— N-não sei, o Kyo-kun, ele… não parece bem, Shigure-san, acho que precisa ir ao médico.
— Oh não! Por que, o que houve?
— Não sei, ele tá estranho! E-ele tava… se apoiando em mim e… — a voz dela vai sumindo na medida em que seu rosto se avermelha. Um eufemismo da parte dela, “apoiando-se” não é bem o que ele tava fazendo.
— Ora, para mim ele parece muito bem, nunca me pareceu melhor!
— Cala a boca, Shigure! — ele volta a si, e volta irritado — Isso tudo é culpa sua, seu desgraçado!
— Minha??? Mas o que eu fiz? — ele arregala os olhos.
— Você sabe muito bem, seu vira-lata! Por que você deu óleo de banho com catnip pra ela?
— Mas, Kyo-kun, eu nunca fiz isso! Não tenho a menor ideia do que você está falando!
— Mentiroso! Você deu óleo com catnip pra ela, esse negócio é erva do gato, me deixa todo esquisito e… e… É CULPA SUA!
— Mas… não tem erva do gato no óleo que o Shigure-san me deu… — ele se vira para olhá-la, e deve ser um olhar muito do sinistro, pois ela recua — Q-quero dizer, não tinha nada sobre erva do gato na embalagem, só eucalipto e…
— E sálvia. — o Shigure complementa — É, a composição é de eucalipto e sálvia, não tem nada de erva do gato.
— Então por que raios você falou que tinha?
— EU falei??? — ele arregala os olhos, e então sorri — Ah não, não… eu só disse que SERIA interessante se tivesse cheiro de erva do gato, não sei qual é o cheiro, então gostaria de saber como é… acho que você me entendeu errado.
— Então que cheiro é esse que eu senti?
— Ora, de sálvia e eucalipto! É bom, não é? — ele dá de ombros — Ou talvez tenha sido o cheiro do… PODER DA SUGESTÃO!
— O que é… poder da sugestão? — ela pergunta, confusa.
— É uma babaquice desse idiota, é isso que é! — ele eriça o pelo para o cachorro maldito e, um segundo depois, volta a sua forma humana, pegando suas roupas e sua pulseira rapidamente enquanto ignora os gritinhos acanhados dela — Quando eu terminar de me vestir, você me paga, Shigure!
— Nossa, Kyo, que estresse! Acho que vou mesmo comprar um pouco de erva do gato pra te acalmar e… — ele não termina de falar, só sai correndo quando Kyo já está devidamente vestido. Ambos passam aceleradamente pelo Yuki, recém desperto.
— O que está havendo aqui?
— Bom dia, Yuki-kun! Não tenho certeza, o Kyo-kun estava bravo com o Shigure-san por causa de uma planta, foi o que eu entendi…
— Hum, não vou me esforçar para entender também. Quer ajuda com as roupas, Honda-san?
Ela agradece e aceita a ajuda. Estendendo a roupa, Tohru não consegue afastar o acontecimento de agora pouco de sua mente. Não a parte em que o Kyo virou um gato e fez carinho na perna dela, e sim antes de se transformar… ele estava tão perto!
E ele tem um cheirinho tão bom!
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Só uma ideia bobinha que tive há um tempão, aí resolvi repostar essa one agora que a segunda temporada do anime tá acabando e eu não estou sabendo lidar com isso :')
Sim, eu odeio amar o Shigure.
É isso! Espero que tenha gostado! Obrigada por ler!