Pés no chão escrita por Raissa Vilas Boas


Capítulo 1
PRÓLOGO


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, se gostarem da escrita e da história, não deixem de comentar. Críticas construtivas são sempre bem vindas. Espero que gostem, beijos!



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Sentada na pequena varanda de sua casa na Califórnia, Milla tentava decidir o que era pior. Ela até poderia imaginar uma veia pulsando na lateral de seu pescoço, consequência de uma noite inteira de espera e tormenta. Ela não era do tipo que chorava facilmente, mas desabou emocionalmente conforme a noite caía.

O café doce demais queimou sua língua, e ela amaldiçoou seu ex-noivo, Guilherme Becker, por não saber fazer nada que seja fora daquele escritoriozinho medíocre. O que ela estava pensando? Se não fosse sua recém-descoberta, em algumas semanas estaria casada com um executivo que mal a conhecia. Não sabia seus gostos, o que a deixava feliz e o que a deixava triste. Ela nem mesmo sentia aquele friozinho na barriga que todos dizem sentir, quando estão apaixonados.

O casamento nunca fora um sonho de infância para ela, mas sim para sua mãe, Amanda Meryn. Ter sua filha em um casamento estável, em sua própria casa, cursando uma boa faculdade, o que mais uma mãe poderia desejar?

Milla tentava levar a vida como podia, trabalhava em uma Instituição de Ensino para poder pagar as contas, e frequentava a faculdade com a bolsa integral, fruto de noites e noites de estudo. Mas o que ela amava mesmo, e fazia seu coração bater mais rápido, era a dança.

Uma adrenalina corria por suas veias a cada momento em cima de um palco, a cada passo coreografado, e medalha conquistada. Os aplausos e apreciações de seu publico, faziam Milla se sentir viva e enérgica. Ela dançava de tudo, tango, samba, Hip Hop e até mesmo baladas simples. Mas o que ela era apaixonada mesmo era Ballet. O belo e majestoso Ballet clássico. Arrepiava-se apenas em se imaginar em uma sapatilha de ponta.

Mas a menina cresceu sabendo que não poderia ganhar a vida sendo dançarina, nem mesmo se tivesse um talento promissor. Sua mãe era talentosa, e participava de grandes grupos de dança. Mas apesar de seus esforços, acabara se tornando uma mera empregada de uma casa de madame.

Mas Milla não amava seu ex-noivo. Ele era uma pessoa em que ela acreditava tempos antes, que pudesse ser feliz ao seu lado. Poderiam partilhar histórias juntos e formar uma família, ele era um homem de negócios, e ela seria professora, apesar de não gostar de sua própria profissão.

Mas todo o sonho de sua mãe foi por agua abaixo, quando um dia antes, Milla chegara mais cedo da faculdade, e encontrara Guilherme e sua melhor amiga em seu quarto. Juntos.

Já fazia cinco horas em que ela se culpava por não ter percebido antes, e esperava Guilherme chegar em casa. Na hora ela não pôde fazer muito a respeito da traição, pois sua melhor amiga, aquela que se dizia confiável, fugiu pela janela. Ela nem queria advinhar o que os vizinhos estariam pensando.

Guilherme estava bêbado, então ela adiaria a briga para mais tarde. Já arrumara suas próprias malas, para mudar para a casa de sua mãe. Sim, ela teria de se conformar um quartinho de empregada, e trabalhar ajudando a servir a madame. Afinal, ela não poderia continuar dando aulas na Califórnia se iria morar em outra cidade.

Como sua vida podia ter mudado tanto em tão pouco tempo? Sua mãe ficaria decepcionada. Ela teria de usar uniforme e receber ordens o dia inteiro. Milla até poderia ficar ali e reclamar sua parte da casa, que ainda estava em construção. Mas só de pensar em conviver naquele mesmo lugar onde fora traída, seu estomago se contorcia. Seria melhor então, apenas pegar o dinheiro equivalente a metade da casa, e nunca mais por os pés ali. Nunca mais ouvir falar em California.

Ela não queria largar a faculdade no meio do ano, mas que outra opção tinha?

Uma vez ou outra, Milla ia visitá-la. Sua mãe morava na mesma casa onde trabalhava, em um quartinho pequeno e abafado. E apesar de os donos daquela mansão serem extremamente educados e simpáticos, Amanda Meryn não conseguia ser feliz lá.

E ela tampouco conseguiria. Mas a fachada de felicidade, que a própria Milla sustentou durante todo o tempo, duraria por mais meses, não duraria? Pelo menos até ela arrumar um novo emprego e quem sabe uma casa nova.

Ouviu-se o barulho de um molho de chaves, e passos pesados. Milla soube que chegara a hora. Descansou sua xicara no pires, o café intocado. Mas que cena mais bizarra!, Pensou ela. Estou aqui, tomando um cafezinho, esperando meu ex-noivo aparecer para dar uns foras nele.

Não demorou muito para ele aparecer, ainda fedia à álcool e seu terno estava amarrotado. Por conta dos amassos que deu em minha melhor amiga, concluiu Milla. Ele já apareceu com os ombros encurvados, postura defensiva. Seu olhar era cansado, e ele parecia querer desmaiar a qualquer momento. Essa visão só fez a raiva de Milla crescer, e ela não suportaria a traição calada, ah mas ela não suportaria mesmo.

— Querida, não quero começar isso agora, está bem? Amanhã nós conversamos sobre isso – Disse Guilherme, com as palmas viradas pra cima, sinal de rendição.

Aquilo foi o chamado gota d’água para Milla. Depois de tudo o que ele fez...

— QUERIDA? AINDA OUSA ME CHAMAR DE QUERIDA? E QUE HISTÓRIA É ESSA DE AMANHÃ? PRETENTE ADIAR A BRIGA PARA UMA HORA MAIS CONVENIENTE? – Milla gritava, meio delirante. Ela nunca leu nada sobre como-reagir-quando-seu-noivo-trai-você, e nunca foi uma pessoa de resolver as coisas depois. Ela resolveria isso agora. E a calma de Guilherme estava lhe dando nos nervos

— E você quer CONVERSAR amanha? QUEM VOCÊ PENSA QUE É ? Acha que pode simplesmente me trair, e resolver tudo na mais perfeita calma? Olha aqui seu filho da ...

— Acalme-se Millena ! – Elevou-se, Guilherme. – Pra quê gritar a essa hora? Não consegue simplesmente falar?

— Me acalmar? E você acabou mesmo, de me chamar de Millena? – Milla já não podia mais conter as lagrimas raivosas, que escorriam contra sua vontade.

Milla e Millena eram nomes diferentes de uma mesma pessoa, mas para Milla, significava uma diferença muito grande. Não era como um distúrbio de personalidade múltipla, era diferente. Millena significa a garotinha meiga e frágil, aquela que se lamentava por tudo e que um dia viu seu pai morrer. Milla é uma mulher forte, e destemida, cujo valor se sobrepõe ao tempo perdido chorando por alguém que não vai voltar. Milla é a mulher que nasceu três chorosos dias depois, quando ainda criança, percebeu que o mundo não era aquele conto de fadas. Quando percebeu que pessoas morrem, e o sonho sempre acaba na melhor parte.

Mas Millena morreu, não existe mais. Ninguém mais a chamava assim, nem mesmo sua mãe. Como aquele miserável se achava esperto o suficiente para usar isso contra ela? Afinal, ele sabia que isso a afetava. Mas Milla reagiria, ela sempre reage.

Aproveitando o grau etílico elevado no sangue de seu ex-noivo, Milla usou a embriagues de Guilherme contra ele mesmo, jogando-o porta a fora, na rua. Aonde todos possam ver.

E daí que amanha todos estarão comentando? Ela não estaria aqui mesmo.

Com esse pensamento, ela jogou as roupas da mala de Guilherme, juntamente com seus vasos preciosos, aos quais para ela, era um monte de lixo sem sentido. Não desperdiçou nenhuma energia e muito menos se conteve ao xingá-lo e enxotá-lo ao meio de tantas outras pessoas. Aquilo seria um bem-muito-feito.

Um circulo de pessoas pararam o que estavam fazendo para observar, e cochichar. Como todos os vizinhos típicos. Mas Milla não prestou atenção neles, ainda descontava sua raiva em seu ex-noivo.

—... se arrependerá pro resto da sua vida! E nunca, jamais, me chame de Millena, seu porco imundo! – Gritou, atirando outro vaso sagrado de Guilherme.

O vaso acabou não tomando seu rumo planejado, mas sim caindo – flor, areia, adubos, cacos de vidro, todos, em cima de um homem que passava por lá, com um rádio apoiado no ombro. O impacto fez o rádio cair, e a musica parar. O dono do objeto ergueu seu olhar, com a cabeça coberta por adubo, para encarar sua agressora.

— Você está louca? Realmente? Viu o que acabou de fazer? – Ele gritava, e na hora Milla o reconheceu da TV.

Ele era um daqueles cantores tops do momento, cantava... Rap? Não importa. E ela nem se sentiu no direito de perder tempo pensando no porque um homem de sucesso estaria fazendo ali. E sim que ele estava gritando com ela, e era um homem.

— Louco é você, de gritar comigo! Mas vocês, homens, são todos iguais. NÃO PRESTAM PRA NADA! – Milla gritou de volta, atirando a ultima peça de roupa, dessa vez no cantor de Rap, e que viu, tarde demais, era uma cueca samba canção de seu ex-noivo.

A visão da cueca pendurada na cabeça do famoso até poderia ser engraçada, se Milla não estivesse com tanta raiva. Homens, quem eles pensam que são?, pensou.

Estupefato, o famoso mal pôde reagir. Milla saiu de cabeça erguida, carregando sua pequena bagagem ao longo da rua, ainda reclamando sobre os benefícios de se estar solteira, deixando o famoso, o ex noivo, e todos os vizinhos incrédulos, observando.

— Ela é louca – Disse o cantor de Rap, para si mesmo.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?



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