Hide The Petals escrita por JennyMNZ


Capítulo 2
O Anúncio


Notas iniciais do capítulo

Eu falei que era logo depois do 4º Príncipe ter largado ela, não falei? Pois é, foi surto meu. É quase um ano depois. Sou dessas :P

Boa leitura! (pq eu não sei quando eu volto)



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짧은 순간은 상처를 만들어
무관심은 곧 덧나게 해
전부 등을 돌려 떠나갔어도
이 순간을 달아나지 마
(dreamcatcher - trap)

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No segundo ano do reinado de Jeongjong, o anúncio chega a ela sem aviso ou antecipação.

Assim como todas as outras más notícias que ela já recebera antes, ele é inesperado e chocante ao ponto da incredulidade. Que nem foi a traição do namorado com a melhor amiga dela, e todas as dívidas feitas em nome de Go Hajin. Que nem foi quando ela acordou em Goryeo, e depois quando sua Unnie faleceu. Que nem foi quando ela descobriu seu casamento com o rei Taejo, e como ela se sentiu com os conflitos no palácio: novos reis sendo coroados, mais príncipes morrendo enquanto a guerra pelo trono se intensificava. Também é parecido com quando Oh Sanggung se sacrificou para proteger Hae Soo.

Desta vez, no entanto, ela é boa em esconder suas expressões. Então ela não se sobressalta de surpresa, nem seus olhos se arregalam de espanto quando a voz do rei Jeongjong quebra o silêncio depois que ela lhe serviu e entregou a uma xícara de seu chá diário.

— Você vai se casar com o 8º Príncipe daqui a cinco dias, — ele diz casualmente, como se fosse indiferente à situação.

Seu coração para de bater imediatamente, e ela sente que está prestes a morrer. Ela sente que a terra está se abrindo bem debaixo de seus pés e ela está prestes a ser engolida viva. Ela sente como um raio a tivesse atingido e o choque está lhe fazendo alucinar. Pelo menos, ela deseja que isso tudo aconteça.

Ela deseja que os últimos meses tenham sido apenas um pesadelo muito longo e agora ela está prestes a acordar.

— Perdão, Pyeha?

Sua voz é neutra, assim como o resto do seu corpo. Mas ele sabe o que ela está pensando. Ele deve saber, já que seu sorriso cresce de forma maníaca, quase como uma cobra, e ela tem que se controlar para não dizer nada desatento, não mostrar fraqueza ou medo, não perder o controle e desmoronar bem na frente dele.

— Está surpresa? — ele zomba dela e ela não pisca um olho, mas isso não o desencoraja, — Como uma dama da corte, mesmo uma de nascimento nobre, você pertence a mim, então eu posso dá-la em casamento a qualquer um. Não é mesmo?

Ele quer que ela o desafie, e ela sabe disso. Ela quer protestar e ele sabe disso. No entanto, nesta era problemática, Hae Sanggung é de fato uma mera posse do Rei. E nesse reino problemático, o monarca é uma pessoa manipuladora e sorrateira, que está disposto a fazer qualquer coisa só pra ver o mundo pegar fogo.

Não há escapatória. Se ela protestar ou tentar revidar, ela só vai diverti-lo. E no final ela ainda terá que fazer o que ele manda. Então ela morde a língua e resiste ao impulso de fugir, de gritar com ele ou qualquer coisa do tipo.

— Sim, está correto, — ela diz no seu tom calmo, — Minha confusão é pelo motivo de você estar me mandando embora, e para o 8º Príncipe, de todas as pessoas. — Já que eu sou sua isca. Ela não termina a frase, mas não precisa. Quando o sorriso dele fica ainda maior, ela sabe que ele entende o que ela está tentando fazer.

— Wook já me traiu antes, você sabe disso, não? — ele explica casualmente, brincando com sua xícara antes de tomar seu chá, — Eu tenho que mantê-lo por perto, para que eu possa observar bem os seus movimentos. E eu preciso de você por perto também, mesmo que exista uma chance de você tentar me envenenar com o seu chá. Se eu precisar me livrar de um de vocês, será mais fácil eu derrubar os dois ao mesmo tempo.

Sua lógica é distorcida à sua própria maneira, mas ela pode ver onde ele está tentando chegar. No entanto, não importa o quanto ela despreza servir o homem antes dela, as perspectivas de se casar com o 8º Príncipe a assustam e a revoltam ainda mais. E ainda assim, ela respira fundo de forma controlada e discreta, e tenta argumentar calmamente.

— Os outros podem pensar que você o está recompensando.

— Isso mesmo. E vai ser bom se eles acharem que nós estamos nos dando bem, — ele diz como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Então ele devolve o copo vazio para ser enchido novamente, seu sorriso maligno se transformando em uma risada. — No entanto, a cara que eu mais quero ver quando eu anunciar isso, é a do meu quarto irmão.

Ela não deveria olhar diretamente para ele, mas ela olha quando ele menciona o 4º Príncipe. Ela encara seu olhar penetrante, e esse é o mais longe que ela vai em sua resistência. E mesmo embora ela seja boa em esconder suas emoções, mesmo ela estando em guarda e em total controle de suas expressões faciais, ela não consegue esconder a dor em seus olhos.

Ela não consegue ocultar a dor de ter sido deixada para trás. Nem pode impedir que ela seja notada na sua voz.

— Pyeha vai certamente se decepcionar.

— Sim, eu soube da separação de vocês, mas eu preciso ter certeza, não é? — Ela pega o copo cheio de volta e fala com um tom falso de dúvida, — Quem sabe você não acabe se surpreendendo.

As palavras de zombaria do Rei só fazem a tristeza apertar ainda mais o seu coração. Soo não quer saber como o 4º Príncipe vai reagir, porque vai ser doloroso de qualquer jeito. Vai doer se ele continuar indiferente; vai doer se ele mostrar um pouquinho só de preocupação. Vai doer porque agora ele estará completamente fora de alcance e ela vai passar o resto dos seus dias com outra pessoa.

— O que o 8º Príncipe disse sobre isso?

Jeongjong ri então. É uma risada curta e silenciosa, mas seus olhos estão cheios de diversão e graça, e ele deixa a cabeça cair para trás se divertindo, — Você sabe o que ele disse. Ele deve ir te ver hoje mais tarde.

Ela não quer que ele venha vê-la. Ela não quer que ele se aproxime nem um pouco dela. Ela quer fugir ou poder fazer alguma coisa, mas ela se sente amarrada a uma pedra e ela não consegue respirar. Ela precisa se deixar afundar, porque senão ela não vai nem mais poder existir.

Ela não quer se casar com o 8º Príncipe, mas se é assim que as coisas são, então ela tem que dar o seu melhor para sobreviver.

— Posso pedir que adie a data? — O Rei olha surpreso para ela, genuinamente surpreso que ela tenha tido a ousadia de se opor à sua ordem, mesmo que um pouquinho, só uma pequena tentativa, um simples pedido para respirar só um pouco mais.

Por favor, deixe-me ficar livre dele só por um tempo.

— Está tentando escapar?

— Eu aceitei meu destino há muito tempo. Eu não vou resistir, nem vou tentar escapar. Eu não vou nem reclamar. — E ela realmente não vai. Diferente da última vez que ela foi oferecida em casamento, não há ninguém que possa ajudá-la agora, todos estão longe, ou mortos, ou simplesmente indiferentes à sua situação. E se ela decidisse cortar o outro pulso, não acabaria só com uma cicatriz. — Eu só quero preparar minha sucessora no Damiwon. Eu odiaria ver todos os meus anos, e os anos da Sanggung antes de mim, serem desperdiçados por causa de uma líder despreparada.

Jeongjong pensa silenciosamente por um tempo. Ela consegue manter a postura, mesmo que esteja desesperada. Mesmo que seu pedido inofensivo possa lhe dar um tiro pela culatra, caso ele decida que ela vai se casar logo no dia seguinte, ou conceder a ela um pequeno e zombador atraso de meros dois dias antes que ela tenha que deixar o palácio e retornar à residência do 8º príncipe.

Sua apreensão, no entanto, desaparece um pouco quando as palavras dele ressoam através dela mais uma vez.

— Tudo bem, vou permitir que se prepare. — Ele se vira para ela e a dispensa com um gesto, seu sorriso voltando quando ele vê seus ombros relaxarem levemente, — Mesmo que você tente fugir, vai ser divertido.

 

❊❊❊

 

Hae Soo faz o possível para evitar seu futuro marido.

Ela toma rotas desertas e longas quando anda pelo palácio. Ela diz que não quer ser incomodada no mesmo instante em que pisa no Damiwon e então se tranca na segurança de seu escritório ou do seu quarto. Ela sempre leva duas damas da corte com ela quando vai ver o Rei.

No entanto, ela estava fadada a perder e ser encontrada. Então um dia, enquanto caminhava de seu escritório para seu quarto, ela o ouviu chamando seu nome.

Ela congela quando a voz dele a alcança. E então ela xinga internamente os costumes deste milênio que não lhe permitem ignorá-lo e continuar andando, nem pelo menos dar um soco na cara dele.

Ela congela, mas não se curva. Ela só espera silenciosamente que ele se aproxime, até que finalmente esteja ao lado dela. O 8º Príncipe continua dizendo coisas para ela, mas ela não liga e ela não escuta. Ela congela e não se mexe, nem olha para ele.

— Foi você o responsável, Wangjanim? — Sua pergunta parece pôr um fim no monólogo dele que ela não ouvia. Ela não quer ouvi-lo, ela só quer ir embora, mas ela tem que verificar alguns fatos antes.

Soo continua a olhar para um ponto distante, diretamente à sua frente, então ela não vê a reação dele à sua pergunta. Mas sua voz é bem esclarecedora quando ele fala.

— Eu só aproveitei a oportunidade que estava diante de mim.

Ela se pergunta se ele sempre fora esse homem frio e calculista que é agora. Ela se pergunta como ela algum dia pôde acreditar firmemente que poderia ser feliz com ele. Ela se controla para não rir de suas palavras e nem deixar o ressentimento evidente em sua linguagem corporal. 

— É claro que você aproveitou, — ela diz no mesmo tom neutro que Oh Sanggung lhe ensinou — Esse era o único jeito de você me ganhar de volta, não era?

— Deixe-me explicar...

— Se você vai dizer que foi pra me proteger, — ela interrompe a explicação dele; ela não quer ouvir explicações, — Por favor, não diga nada.

— Você iria preferir morar no palácio, então?

Há uma frieza cortante como o aço na voz dele. Uma ameaça sutil na maneira como ele fala e uma convicção de que ele é o salvador dela. Ela preferiria passar o resto da vida servindo Jeongjong a viver sob o mesmo teto que ele.

— Sim, iria. Você nem se deu ao trabalho de me perguntar, não é? Você nem pôde pensar que eu não gostaria de ficar com você.

— Que outra opção você tem? — Ele não oferece mais nenhuma explicação e recorre à sua lógica distorcida, — Ele já deixou você.

— Isso sempre foi uma competição para você, não foi? — Ela se lembra de como ele vivia dizendo que o 4º Príncipe tinha separado eles dois, que um dia ele a faria voltar para o lado dele, e ela deseja que ela tivesse terminado as coisas entre eles antes que seus sentimentos criassem raízes, — Foi por isso que você envenenou o falecido rei?

— Soo-yah...

— Não tenho autoridade sobre esse casamento. Nem posso fazer nada para evitá-lo. Eu disse ao Rei que não vou me rebelar nem vou dizer nada, mas só pra você saber, eu não vou participar da cerimônia de bom grado. — Então ela olha para ele, encarando friamente e firmemente seus olhos, deixando suas palavras carregarem cada gota dos sentimentos que ela vinha escondendo desde que soubera que seria dada a ele, — Eu vou completar minhas tarefas como Sanggung querendo poder fugir e ir para longe de você. Amanhã, vou me vestir e pintar, esperando que algum milagre me tire de suas mãos imundas. Vou completar todos os ritos desejando que o Rei decida me executar por regicídio, ou que eu pudesse pelo menos me matar antes de me unir a você. E durante cada momento da minha vida, todas as vezes que eu te ver, seja de perto ou de longe, eu vou me arrepender da primeira vez que peguei sua mão. Por tirar até meu último resto de liberdade, vou te desprezar eternamente.

Ele não mostra nenhuma reação às palavras dela, mas ela sabe muito bem que ele é hábil em manter as aparências sob suas máscaras. Ele já era bom nisso quando estava afastado da corte e do palácio, agora, como aspirante ao trono, ela se pergunta quantas novas camadas ele colocou.

— Mesmo depois do que ele fez, vai continuar com os mesmos sentimentos?

O tom de gozação dele não abala sua determinação.

— Isso não é da sua conta. Mas ao contrário de você, o 4º Príncipe nunca me forçaria a um casamento. Eu só queria ter conhecido ele antes de conhecer você.

— Você fala com tanta arrogância agora, mas nem piscou um olho quando me substituiu.

— Acredite no que quiser, — ela desvia o olhar dele e volta para o ponto aleatório, mantendo a postura firme e a voz controlada, — Você já tem o meu corpo, Wangjanim, mas você nunca vai ter meu coração.

Hae Soo não se curva depois que termina de falar. Ela só fica lá em silêncio, esperando até que ele se afaste dela, e então desaba no chão.

 

❊❊❊

 

A caminhada de volta para o quarto depois de ficar acordada até tarde da noite é dolorosa. Ela passou os últimos dias resolvendo tudo para que a nova Sanggung pudesse assumir suas responsabilidades facilmente. Ela passou as últimas horas coletando seus pertences pessoais em seu escritório para poder ter algum tipo de consolo em sua nova casa. Ela passou os últimos minutos sentada na cadeira, fazendo outra cópia de um poema que foi dado a ela no passado e, em seguida, ficou encarando o nada, esperando que algo acontecesse para libertá-la do que iria acontecer pela manhã.

Ela se perguntou se a única saída para ela seria pular na piscina natural e esperar até que outro evento místico a levasse para outra era. Ou simplesmente esperar que tudo acabasse. Ela queria que o tempo parasse e que o Sol nunca nascesse de novo, para que ela pudesse ficar longe do 8º Príncipe para sempre.

No entanto, tentar voltar não era uma opção viável, suicídio não era uma solução e as horas continuavam a passar.

Então agora ela volta para o quarto, mantendo a promessa que fez com o Rei de não fugir. E pela manhã ela vai deixar o Damiwon para sempre e retornar à residência do 8º Príncipe.

Ela se lembra do quanto desejava por isso no passado, mas agora ela só sente pavor.

Ela sente pavor e uma pontada de tristeza, porque, apesar de uma vez ter pretendido se casar com o 8º príncipe no passado, agora só há um homem que ela quer. E depois de anos de espera, luta e sofrimento por causa dela, ele finalmente decidiu que já estava cheio.

Mesmo que ela tenha mostrado indiferença quando seu futuro marido o mencionou, a verdade é que ela ainda sente saudades e chora por ele. Ela tinha jurado esperar por ele, não importava o quanto tempo levasse, e agora ela vai se casar com o oitavo irmão dele.

Sua caminhada finalmente termina quando ela fecha a porta às suas costas e se reclina contra ela. Seu quarto está envolvido pela escuridão, mas ela não se incomoda em acender as velas. Ela fica na porta por um tempo e depois caminha para a cama, desejando que pelo menos seus sonhos sejam gentis com ela.

Ela caminha devagar, tomando cuidado para não bater em nenhum móvel ou baú aberto.

E então algo bate contra ela.

Seu grito de surpresa não sai da boca e ela sente uma mão tapando-a com força. Mas antes que ela possa entrar em pânico, ela ouve uma voz.

— Soo-yah.

Seus olhos se arregalam e o medo pela vida dela se torna em medo pela dele. Ela coloca as mãos sobre as dele, sinalizando que não vai gritar, e quando ele a solta, ela permite que seus sentimentos venham à tona.

— Você não deveria estar aqui.

— Eu não ligo.

Os lábios dele logo estão nos dela, e mesmo que ela ainda esteja surpresa com a presença dele – seu coração acelerado, sua mente um caos – ela não pode conter o alívio e a felicidade que começam a se espalhar pelo peito. Porque ele está aqui, ele está beijando ela. Ele está beijando como antes, uma mão puxando-a para mais perto pelo pescoço, a outra pela cintura, e ela não consegue fazer nada além de se agarrar aos ombros dele, tentando desesperadamente trazê-lo para mais perto também.

Ele está beijando ela, e o mundo lá fora não existe.

Ele tem que se afastar logo, os dois já estão sem fôlego e ainda há muito que conversar. Ele se afasta lentamente, quase hesitante, e ela tenta vê-lo o máximo possível na penumbra.

— Você disse... — Ela começa a repetir o que ele disse na última vez que eles se viram, mas ele a interrompe.

— Eu menti, — diz o 4º Príncipe, ainda segurando o seu rosto com cuidado, — Me perdoe, eu menti.

— Eu sabia.

Soo o abraça com força, enterrando o rosto no peito dele, os braços envolvendo firmemente a cintura dele. Ela ficaria brava com a mentira dele mais tarde, não agora, quando ela está tão feliz em vê-lo depois de desejar por isso tão desesperadamente.

— Eu não devia ter te deixado aqui. — Os lábios nele roçam na sua orelha e seu hálito quente faz cócegas no seu pescoço, e ela sorri por tê-lo tão perto e por suas palavras.

— Tudo bem. Você está aqui agora.

— Não está nada bem. Ele vai te dar em casamento pro Wook. Eu vou matar ele.

— Na verdade, a ideia foi do 8º Príncipe.

— Não importa de quem foi a ideia. Eu vou pôr um fim nisso agora mesmo. — Ela sente seus braços agarrando-a com mais firmeza, — Vamos fugir.

Não é a primeira vez que ela pensa em fazer isso. Pode até não ser a última, mas ouvi-lo dizer isso em voz alta é algo completamente diferente.

— O quê? — Ela se afasta um pouco do abraço, tentando ver melhor seu rosto e sua expressão. Ela foi pega de surpresa com a proposta dele, mas não fica chocada, já que ele tem a tendência de falar essas coisas do nada - que nem quando ele se confessou pela primeira vez ou quando pediu que ela se casasse com ele.

— Vamos fugir, — ele repete, como se essa fosse a coisa mais razoável do mundo, — Agora mesmo, antes que tenha mais guardas por perto. Venha comigo, eu vou mantê-la segura.

Ela quer. Ela realmente quer. Ela quer segui-lo até o fim do mundo e morar com ele o mais longe possível do palácio e da sombra do Rei.

Ela quer, e se Hae Soo fosse mais jovem, quando havia muito de Go Hajin nela, ela nem pensaria duas vezes antes de dizer sim, montar na garupa do seu cavalo e deixar o Damiwon para trás.

Mas agora ela só pode sorrir amargamente enquanto acaricia o rosto dele.

— Para onde nós poderíamos ir em Goryeo e ficar à salvos do Rei?

— Vamos pra Khitan. Balhae, Jurche. Até Wei, — ele responde à pergunta retórica dela com determinação, — Eu não me importo com a distância, desde que você venha comigo.

Soo ignora a reação do seu coração às palavras dele, o jeito que ele pula de alegria e expectativa, e tenta não chorar quando a garganta se aperta ao dizer o que seu cérebro ordena.

— Eu não posso.

Ela quase consegue ouvir o coração dele parar de decepção. Ela quase consegue ver a expressão vulnerável dele, mesmo estando cercados pela escuridão. Ela quase consegue ouvir o que ele está pensando, enquanto a mão dele segura a dela, procurando uma resposta que ela não pode dar.

— É por causa das coisas que eu disse? — Como sempre, sua mente sempre escolhe o pior cenário e sempre pensa que ele é o culpado, — Me perdoe. Eu não quis dizer nenhuma delas. Eu só... — Ele hesita, e seu abraço perde um pouco de força. Ele respira fundo e deixa cair a cabeça, como se estivesse prestes a fazer uma confissão, então ela se cuida para não o interromper até que ele termine de falar. — A verdade é que... Eu pretendo ser rei agora. Eu vou te levar embora, depois vou atacar o palácio. Vai ficar tudo bem.

Soo hesita com essa nova informação. Sua mente volta há alguns anos e ela se lembra de sua visão no dia do ritual de chuva. Ela sentiu pavor e medo naquela época, sua ansiedade crescendo como uma pedra no fundo do peito. Mas agora não há nada disso. Há apenas a percepção de que ela está testemunhando o nascimento de Gwangjong e como isso afeta diretamente tudo ao seu redor. O 4º Príncipe Wang So não é uma figura do passado, um personagem histórico que ela estudou na escola. Ele é uma pessoa real, de carne e osso, bem diante dela, e ela o conhece.

Ela o conhece e sabe o que vai acontecer se algo se desviar do curso em que as coisas devem acontecer.

— Me desculpe, Wangjanim. Eu não posso, — ela lamenta genuinamente, mas se afasta do seu toque e ele arfa de uma vez, surpreso pela sua ação brusca, — Você ainda não está pronto para tomar o trono, está?

So hesita em responder essa pergunta direta, e essa é a única confirmação que ela precisa. Soo não conhece todos os eventos que levaram à ascensão de Gwangjong ao trono, mas ele tem muito trabalho a fazer se quiser derrubar Jeongjong. Ele sabe disso também, já que suspira frustrado, mas tenta se aproximar e convencê-la.

— Mas aí você vai se casar com Wook, — ele diz numa voz frustrada e ela segura seu rosto delicadamente.

— Eu odeio isso tanto quanto você, — ela o tranquiliza com uma voz gentil.

— Não, senão você estaria disposta a fugir comigo.

Ele soa como uma criança, um menino desesperado por ser amado, e ela sorri amargamente, desejando poder ver o rosto dele direito, ou que pelo menos ele pudesse ver o dela. Então ela esquece toda e qualquer discrição e sai com passos largos do quarto, ignorando seus lamentos e protestos.

Ela volta logo depois, no entanto, e o encontra bem na porta, como se estivesse se preparando para sair e ir atrás dela. E Soo tem que sorrir quando o vê suspirando de alívio ao vê-la entrar com um palito aceso.

Ela vai até a vela que sempre deixa na sua mesinha do lado da cama, se sentando no chão antes de acendê-la e iluminar o quarto escuro com a pequena chama; feliz por poder ver o rosto dele direito depois de tanto tempo.

Mas dessa vez não há tempo de ficar admirando o quão belo e refinado ele é. Ela foca nas suas palavras e na realidade de que isso está acontecendo, não é só um medo infundado. Dessa vez é realidade, e ela precisa entender tudo que envolve a decisão dele, para que eles não sejam mais separados por mal-entendidos e desencontros.

— Você estava falando sério quando disse que ia ser Rei? — Soo pergunta quando ele se aproxima e senta em frente a ela.

— Estava. — Ele assente calmamente.

— E foi por isso que você me deixou?

— Foi. — Ele não afasta seus olhos dos dela. Eles dois sabem que ela só quer confirmação de algo que ela já está ciente.

— Você está fazendo isso por mim, ou por poder? — Ela pergunta com os nervos à flor da pele, sua voz tremendo um pouquinho, já temendo que ela possa perdê-lo para a guerra de política que travava dentro e fora do palácio.

— Não, — ele responde depois de uma pausa e ela respira de alívio, — Eu só queria ser uma pessoa capaz de mudar esse país para o melhor.

So não vacila ao falar, nem seus olhos tremem de hesitação. Ele está determinado, ela vê, em obter a mais alta posição do palácio, não pelos motivos que ela temia e nem pelas causas que os professores de história ensinariam no futuro.

Ela testemunha o nascimento de Gwangjong, e não é um banho de sangue em busca de dominação, nem uma conspiração por poder. É só a vontade de não querer ver pessoas sendo tratadas como ele já foi tratado.

É só a vontade de ser melhor. De viver melhor.

Ela sorri de alívio e de admiração, se perguntando mais uma vez como ela pôde ter uma vez acreditado que Wang So seria um tirano cruel e perverso. Ela sorri, estendo a mão para segurar a dele. Ela então a traz até seus lábios, beijando seus dedos, e encontra uma resposta para seu pedido de viajarem juntos até o fim do mundo.

— Então eu vou esperar.

— O quê? — Sua expressão calma e determinada vacila, ele foi claramente pego de surpresa pela sua resposta.

— Você pode dar jeito pra eu me divorciar dele depois, não pode? — ela explica devagar, para que ele acompanhe sua lógica, — Eu vou esperar você se tornar Rei.

Ele fica boquiaberto por alguns segundos, tentando entender o que ela quer dizer ao mesmo tempo em que tenta encontrar mais argumentos para tirá-la de lá.

— Isso pode levar anos.

— Eu teria esperado por você mesmo se não tivesse vindo aqui hoje. — Ela sorri com doçura para tranquilizá-lo; ela esperaria décadas por ele.

— Eu não suporto a ideia de você estar casada com outra pessoa por um minuto, muito menos por anos.

— Nem eu. Mas já que é preciso, eu vou suportar.

— Eu não vou, — ele grunhe e leva suas mãos até seus ombros, segurando-os possessivamente, — Eu não vou deixar. Eu não posso.

So está com uma cara de desespero e derrota, e ela se lembra da noite que ele a beijou pela primeira vez. A noite que ele pensou que ela ia abandoná-lo pra sempre.

— Wangjanim, — ela fala gentilmente, segurando seu rosto e trazendo-o para perto do dela, e então apoiando sua testa na dele, — Depois de tudo o que aconteceu, você ainda não tem fé em nós? — Ela pergunta com uma voz frustrada.

— Eu tenho, — ele lamenta miseravelmente, seus olhos se enchendo de tristeza quando ele começa a ceder ao plano dela, — Eu só não gosto disso.

Soo também não gosta da ideia. Mas que nem ele a deixou para buscar o trono, ela vai deixá-lo para que a vida dele não se desvie do caminho correto. Ela vai passar pela aflição também, só para que ele possa estar brilhante e resplandecente no futuro. Ela deve pelo menos isso a ele.

Soo faz isso por ele, mesmo que sua expressão de desespero não suma. Ele parece estar com mais medo do que ela já vira, e ela sorri para lhe dar alguma confiança.

— Não se preocupe, — ela diz para encorajá-lo, mesmo que ele continue triste, — Eu não vou deixar ele fazer nada comigo. Ele não vai me tocar. Só você pode me tocar, tá bom? — Ela envolve seus braços em volta dele, tentando aquecer seu corpo frio, — Eu vou estar pensando em você o tempo todo.

Soo fecha os olhos, tentando ignorar o amanhã. Ela decide focar no presente, na luz fraca da lâmpada, no som das batidas do seu coração, no toque dos dedos dele, no conforto da sua presença.

E então nos lábios dele nos dela.

 

❊❊❊

 

Viver em Goryeo é difícil.

Não que viver no Século XXI fosse tão fácil assim para Go Hajin, já que ela fora perseguida pelos credores de dívidas que não eram dela antes de se afogar num lago. No entanto, nenhuma das dificuldades que ela enfrentara antes de sua bizarra viagem no tempo envolviam a vida de pessoas que ela amava. Agora é a vida dela que está por um fio, e amanhã a vida dela vai legalmente perceber a um homem que um dia ela amou, mas que agora odiava.

Viver em Goryeo é difícil, e é por isso que ela vai endurecer seu coração.

Ela vai endurecê-lo para que ele não seja esmagado dentro de seu peito.

— Tem certeza disso? — Ele pergunta mais uma vez, sem gostar da ideia dela e ainda tentando convencê-la a fugir com ele.

Soo não o culpa. Ao contrário dela, So não sabe com certeza que ele se tornará Rei logo em breve, e vai manter sua posição por muitos anos. Ao contrário dela, ele não vai ser forçado a um casamento nem será usado como refém. Ela consegue entender, mas ele também precisa entender que não há outra alternativa.

— Eu sirvo o Rei há um ano, — ela diz numa tentativa de tranquilizá-lo, — Eu duvido que 8º Príncipe seja pior.

So apenas sacode a cabeça em um firme protesto, e ela sabe que isso vai ser mais difícil do que ela pensara

— Você não sabe disso, — ele argumenta com um tom desesperado, — Eu sempre desaprovei meu terceiro irmão, mas Wook é diferente, — ele faz uma careta ao dizer o nome do 8º Príncipe, — Você nunca sabe o que ele está pensando, não com aquele sorrisinho dele.

Aquele sorrisinho dele realmente era um problema. Tudo seria mais fácil se o 8º Príncipe não tivesse sido tão gentil e afetuoso com ela. Se ele tivesse uma falha notável, então ela talvez não tivesse dado um segundo olhar na direção dele. Se ela não tivesse sido enganada pela fachada que ele colocava para o mundo, se ela não tivesse oferecido seu coração para ele, nem tomado sua mão, então talvez eles não estivessem nessa situação.

Mas ela foi encontrá-lo naquela noite, então ela prometeu sua mão a ele, e então tudo desmoronou. No entanto, a ganância do 8º Príncipe não era apenas pelo trono que corrompia a todos, mas por ela também. E agora ele tinha posto as garras nela.

Ela suspira em derrota, incapaz de fazer nada para reverter suas escolhas.

— Isso é minha culpa também, me perdoe.

— Sua culpa? — Ele recusa seu pedido de desculpas, — Você não é só mais uma vítima das intrigas do palácio?

— Por não ter aceitado seu pedido daquela vez, — ela explica com uma voz abatida, — A gente não teria nenhum problema agora se eu não tivesse sido tão teimosa.

O 4º Príncipe olha para o chão por alguns segundos, então ele respira fundo antes de encará-la de novo.

— Você me rejeitou por causa de Wook? — Há um pouco de insegurança na voz dele; saber sobre o antigo relacionamento dela em meio a tudo o que estava acontecendo não estava ajudando a melhorar a ansiedade dele.

— Eu te recusei por outros motivos. E a maioria deles tinha a ver com você.

Soo sabe que é uma péssima desculpa, mas é a verdade. E é da verdade que eles precisam agora. A verdade é a única coisa que vai ajudá-los a superar o que está prestes a acontecer.

— Isso não ajuda muito.

— Eu só te contei essas coisas porque eu prefiro que você não duvide de mim enquanto está longe. — Ela não quer brigar, não agora, quando eles estão prestes a serem separados e condenados a se apoiarem numa esperança frágil, — Você sabe tudo que tem pra saber, então se você souber de alguma outra coisa, é mentira, não acredite.

Com certeza isso não é tudo. Ainda tem um segredo que Hae Soo guarda do mundo, mas não é como se mais alguém soubesse e estivesse planejando usá-lo contra ela.

O 4º Príncipe exala e fecha seus olhos antes de desistir, sua cabeça pendendo num gesto exagerado.

— Você também, — sua resposta vem num suspiro, sua voz falhando, — Eles podem te contar coisas. Você não pode nem deixar mostrar que está abalada. Não importa o que seja.

Ele é quem parece estar abatido, mas ele pega sua mão e a segura com força, então ela sorri para tranquilizá-lo.

— E se você ver o 8º Príncipe você não pode ameaçá-lo.

Ele ri em zombaria, mas não solta a mão dela, então ela se aproxima, seus braços envolvem seu pescoço enquanto ele reclama, — Isso sim vai ser difícil.

— E se ele disser alguma coisa pra te irritar, você precisa ficar calmo.

Ele fica em silêncio depois dessa recomendação, abraçando-a uma última vez, olhando nos seus olhos que olham nos dele.

— Eu acho que é melhor eu só te sequestrar, — ele diz depois de uma pausa e ela ri.

— E se você pensar em vir me ver, não venha. — Ela enterra o rosto no seu peito, saboreando a sua presença, e suspira com ele enquanto pensa na distância que já começou a se formar entre eles.

A tristeza está presente quando eles se beijam. E também a relutância de se afastarem, um sentimento pesado e saudoso que queima no fundo do seu peito. E o toque dos seus lábios diz que ele sente a mesma coisa.

É algo que os dois odeiam, mas eles sabem que se afastar agora é a melhor escolha para eles ficarem juntos sem medo no futuro.

— Eu com certeza vou voltar, — ele diz com uma confiança renovada e ela sorri de alívio.

— Eu sei.

— Se alguma coisa acontecer, fale com Ji Mong ou Baek Ah, eles vão te ajudar.

— Eu vou falar.

Soo se levanta com ele, e resiste à vontade de agarrá-lo e fazê-lo ficar enquanto ele começa a se preparar para partir.

— Se ele ousar olhar pra você do jeito errado, bata nele e venha até mim.

Ela o fita com uma expressão divertida, mas então dá de ombros em provocação.

— Eu vou bater nele e continuar esperando.

— O que eu faço com você? — Ele ri e ela grava o som da sua risada na sua memória.

Então, lentamente, ela o deixa se afastar do seu abraço, do seu toque. Soo observa a tristeza tomar o seu rosto e ela sabe que está com uma expressão parecida. Ela sabe que parece com uma mulher que perdeu o mundo.

E ela perdeu mesmo, mas só por um tempo.

Ela perdeu o seu mundo, mas ele prometeu voltar para ela. E ele nunca volta atrás com sua palavra.

Desde que ela tenha essa promessa, ela pode manter seu coração batendo.

— Boa sorte com a conquista do trono, — ela fala de uma vez antes que ele alcance a porta, e ele se vira para olhar para ele.

— Eu vou conseguir, — ele diz com um sorriso determinado e ela sorri também.

— Eu sei que vai.

O 4º Príncipe vai embora mais uma vez, e ela fica sozinha no seu quarto.

Logo será manhã, e as damas da corte vão chegar para prepará-la para o seu casamento. Mais tarde, o 8º Príncipe vai chegar para fazê-la sua.

Ela vai morrer umas mil vezes antes de deixar isso acontecer.

.

.

.

.

esses breves momentos deixarão feridas,
a indiferença logo as infectará.
mesmo que vire as costas
não dá pra fugir


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Notas finais do capítulo

Quase que eu esqueço de colocar a música -> https://youtu.be/j9UhrORim9M

Opiniões são bem-vindas.
Elogios sempre aceitos.
Críticas apreciadas.

:)



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