London Boy escrita por AnnaP


Capítulo 1
London Boy


Notas iniciais do capítulo

O combo de inspiração para esta história foi:
Tema: Aniversário - Música: London Boy, Taylor Swift - GIF: Bella e Edward dentro do carro em Eclipse.

Espero que gostem do agradinho para a dona da coisa toda!



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London Boy - Capítulo único

6 meses em Londres – Setembro

Eu cheguei para trabalhar na Inglaterra querendo ir embora para casa. Eu sentia falta de tudo. Era um mundo tão diferente do meu, que eu não conseguia me adaptar. Eu estava apaixonada pela minha casinha na Palm Street, sentia falta das minhas viagens para o sul da Califórnia para visitar minha mãe, dos dias ensolarados, de tomar um uísque do Tennessee. Eu tinha um pouco de vergonha de estar tão perto da Escócia e pedir por um uísque tão específico dos Estados Unidos.

O que eu queria em Londres era me aperfeiçoar o máximo possível na minha profissão e voltar para casa com uma super promoção. Minha vida era ir do trabalho para casa, de casa para o trabalho, contando os dias para o meu contrato acabar e eu ser transferida de volta.

Fiquei nesse desespero por seis meses. Então algo aconteceu. Eu o ouvi rindo. Se antes eu não via a hora de ir embora, depois dele as coisas se complicaram bastante.

Alice, minha amiga e diretora de Marketing nos Estados Unidos, torcia para que eu conhecesse além do meu pequeno apartamento alugado.

E aconteceu.

Não sei o que deu em mim certo dia, que aceitei o convite de Kate e Garrett de ir para um pub depois do trabalho. Justo no dia do meu aniversário. Os dois sabiam que eu não gostava de comemorações, prometeram que não iriam espalhar para ninguém. Mas, além de não ter para quem eles espalharem, eu estava tão saudosa de casa que estava sentindo falta das pessoas disfarçando e me dando parabéns. Talvez eu me desse algumas doses de Jack Daniels se presente.

Eu acho que o homem que pediu para ver minha identidade antes de entregar minha cerveja captou os meus pensamentos saudosos de receber parabéns disfarçados, ele fez questão de gritar para todos no pub que eu fazia anos naquele dia. Passei a noite recebendo parabéns (nem um pouco discretos), e cantadas, de vários desconhecidos. Eu estava morrendo de vergonha!

Um desses parabéns foi o dele. Eu vi as covinhas primeiro, querendo lambê-las, e depois ouvi o sotaque, querendo lambê-lo todo.

O que eu tinha na cabeça para querer lamber covinhas? Meu Deus!

Ele levantou seu copo de uísque, Jack Daniels, eu vira quando fora cheio, e fez uma saudação enquanto me falava suas felicitações.

— Muito obrigada. – Eu estava novamente sem graça. Dessa vez, mais pelo estonteante homem parado ao meu lado do que pela felicitação de um estranho.

— Posso pagar sua próxima bebida?

Eu aceitei, desistindo de começar e terminar a noite com a enorme caneca de cerveja na minha mão. Outros se ofereceram antes, mas a dificuldade de olhar para ele e falar ao mesmo tempo me fizeram aceitar sem pensar.

— Eu me chamo Edward Cullen.

— Bella Swan. – Apertei, com a minha pequenina mão, a gigante mão que ele havia estendido.

— Você não parece ter vindo comemorar seu aniversário no pub.

— Não mesmo. Eu odeio comemorar o meu aniversário. Eu só resolvi sair com dois amigos, - Apontei Garrett e Kate, que nessa pequena interação descobri conhecerem Edward dos tempos da faculdade. – e o nosso grande colega ali resolveu espalhar a notícia para todo mundo.

— Você pelo menos ganhou uma bebida grátis?

Mostrei a caneca de Foster para ele.

— Vou sair daqui essa noite sem precisar colocar a mão no bolso. Minhas economias agradecem.

— Você viajou com dinheiro contado? – Edward franziu as sobrancelhas e sacudiu a cabeça. – Desculpa, essa pergunta saiu errada. Esquece que eu a fiz.

— Não, está tudo bem. Eu estava só brincando sobre as economias. Eu tenho dinheiro suficiente para encher a cara em um pub de vez em quando. Mas eu prefiro guardar mesmo.

Eu ainda estava de pé, apenas apoiada no banco atrás de mim esperando para pegar minha bebida e voltar para a mesa. Resolvi me sentar e mostrar para Edward que estava mais do que disposta a passar a noite conversando com ele.

— Você é aqui de Londres mesmo? – Perguntei, querendo ouvir mais daquele sotaque naquela voz deliciosa dele.

— Sim, nasci em Highgate. Minha mãe é norte-americana, morei até os três anos lá e depois voltamos.

— Highgate... Não sei se ouvi falar.

— Quais lugares você conheceu? Faz quanto tempo que você está aqui?

— Não estranhe, mas eu estou aqui faz seis meses e só conheci a Louis Vuitton da Bond Street. – Edward arregalou os olhos, mas não deixei que ele falasse. – Eu sei, mas não me julgue ainda, tive que acompanhar uma colega de trabalho até lá. Se não, nem isso conheceria.

— Eu estou julgando, Bella, desculpa. – Riu. – Mas não o lugar que foi, e sim você ter conhecido só ele. E não foi nem um passeio turístico. Você mora aqui, ou está a passeio? Por que não conheceu nada?

Eu estava um pouco chocada por um homem lindo como Edward estar perdendo o tempo dele fazendo perguntas sobre mim. Ele parecia realmente curioso sobre os motivos de eu não ter conhecido mais da cidade dele. Talvez esse fosse o caso, Edward estava curioso apenas por sua cidade estar sendo negligenciada, e não por mim.

— Vim para trabalhar, e não estou fazendo nada além disso. Tenho um contrato de dois anos para empurrar com a barriga.

— E por que não está fazendo nada além de trabalhar?

— Porque eu ainda não desapeguei de casa. Porque tenho medo de me distrair e desperdiçar a oportunidade. Esse só não é o primeiro pub que entrei porque, bem, às vezes fico com preguiça de cozinhar e tem um pub ótimo que serve comida na esquina de onde moro. Mas, para beber mesmo como a maioria faz? É a primeira vez.

— E o que te trouxe aqui essa noite, se não veio comemorar seu aniversário?

— Apesar de não gostar do meu aniversário, eu senti falta dos meus amigos implicando comigo e comemorando mesmo assim. Eu estava me lembrando de uma dessas amigas, que, por sinal, é minha chefa, e em como ela hoje cedo me mandou aproveitar um pouco a vida e levar outro tipo de conhecimento para casa, não só o profissional.

Edward abriu um sorriso de lado, se ajustando no banco para ficar de frente para mim.

— Kate passou por mim na hora que desliguei o telefone e me chamou para vir. Ela tinha desistido de tentar alguma coisa, mas me achou meio... chateada e resolveu tentar a sorte.

— Eu não ia dizer nada, - Edward se aproximou como se fosse contar um segredo. – mas ela e Garrett que me incentivaram a vir aqui.

— Como assim?

— Enquanto eu os cumprimentava, vi você abrir seu sorriso americano para agradecer alguém pelos parabéns. Posso ter ficado distraído e deixado os dois falando sozinhos. Kate me deu um cutucão: "O nome dela é Bella." E Garrett completou: "Não lembre que é o aniversário dela e você vai ficar bem.".

— E mesmo assim você lembrou que é meu aniversário. – Abri meu sorriso americano para ele.

— E mesmo assim ficou tudo bem. – Ele piscou. Meu interior virou gosma.

— Sim, ficou. – Corei. – Interessante você comentar sobre o meu sorriso. Eu vi você antes que chegasse até mim. Ouvi quando riu de alguma coisa que o barman falou, virei para ver a quem a risada pertencia e posso ter me embaralhado nas palavras e pedido mais do que gostaria de beber essa noite. – Levantei a caneca ainda cheia.

Eu realmente me embaralhei para fazer o pedido, pensando que aquele homem podia ser o meu presente de aniversário. Não me importaria de passar os meus dias aqui se pudesse ter um homem daquele para me distrair.

Nós conversamos mais um pouco no bar até decidirmos nos juntar a Kate e Garrett na mesa. Eles não conseguiam esconder a curiosidade para saber o que estava rolando entre mim e Edward.

— Quando eu fui ver, ele estava correndo nu em volta do chafariz rodando a camisa para o alto e gritando "Os casacas vermelhas estão chegando, os casacas vermelhas estão chegando!". Ganhamos a penitência de ficar um mês limpando o chafariz duas vezes ao dia. Nunca mais deixei esse puto tocar em Tequila, e é por isso que vocês não deviam deixar que ele vire esse copo. – Edward terminou sua história sobre Garrett apontando para o copo em questão.

Garrett riu para o amigo e virou o shot de cima da mesa mesmo assim.

— Pobrezinho. – Alisei o braço de Edward, que sacudia a cabeça para os lados se fingindo de derrotado.

Ele pegou a minha mão e a beijou.

— Obrigado pela solidariedade, Bella.

— Nós devíamos brindar que a Bella está aqui. – Garrett levantou. – Ela nunca está aqui.

Ele levou Edward até o bar para comprarem quatro canecas de cerveja para o brinde.

Kate chamou minha atenção.

— Alice mandou os parabéns.

— Eu falei com ela mais cedo. – Franzi as sobrancelhas sem entender porque Alice me mandaria parabéns por Kate.

As duas eram amigas, se conheceram em uma das muitas viagens que faziam entre Estados Unidos e Inglaterra, mas não fazia sentido nenhum ela fazer isso.

— Bem, diga a ela que eu agradeço. De novo.

— Não parabéns pelo seu aniversário, lerda, por aquilo. – Duas mãos viraram o meu rosto para a direita. No meu campo de visão, Edward estava apoiado no bar de costas. Ele era executivo de um banco e viera direto do trabalho para o pub, o que o deixou vestido com uma social cinza clara que abraçava o corpo dele perfeitamente.

Como se sentisse que eu estava olhando, ele se virou, abrindo um sorriso torto e piscando para mim.

Eu provavelmente não era a única com a calcinha úmida depois dessa.

Respondi da melhor forma que eu podia: corando. O sorriso dele ficou enorme.

— Ela está muito orgulhosa de você por isso. Muito mesmo. – Voltei a olhar para Kate.

— Ela quem está orgulhosa?

— Alice. Quem mais seria?

— Espera, como ela está orgulhosa de mim por causa de Edward? Eu acabei de conhecê-lo. E apenas isso.

— Mas eu não.

— Você armou isso? Kate? Não sei se te torço o pescoço, ou se te agradeço de uma forma bastante... empolgada.

— Como eu teria armado se você nunca sai com a gente, Bella? – Eu levantei uma sobrancelha, não acreditando. – Eu não sabia que Edward estaria aqui logo hoje, a gente se encontra por aí pela noite, temos diversos amigos em comum, porém, foi apenas uma feliz coincidência. Ele veio nos cumprimentar e eu dei um empurrãozinho. Vocês são dois emocionados que se merecem.

— E como Alice sabe?

— Eu enviei para ela uma foto de vocês muito próximos um do outro enquanto conversavam no bar. A qualidade ficou péssima, mas ela sentiu a tensão sexual de lá.

Eu também tinha sentido daqui. Claro que tinha sentido. Quando Edward me ajudara a levantar da banqueta colocando uma mão nas minhas costas, uma quentura que nada tinha a ver com vergonha tomou conta do meu corpo. Não suprimi um gemido, e aí sim meu rosto esquentou de vergonha, porque ele ouviu o gemido e deu um apertão na minha cintura.

— Ridícula. – Falei para Kate.

— Eu tive que enviar outra só dele para ela ter uma visão melhor do material.

— Pelo menos você se lembrou de enviar para mim também? Sabe, para a posteridade.

— Por e-mail. Eu não sabia se você ia ser inteligente de não abrir a mensagem na frente dele e estragar tudo. Por email acho que você vai se controlar melhor.

— Obrigada? – Edward provavelmente ficaria assustado se visse que Kate estava enviando fotos dele para mim. Foi melhor mesmo ela não ter enviado por mensagem. Eu precisava conhecer mais desse londrino espetacular, e não ser estranha e espantá-lo. – Sim, definitivamente obrigada.

Olhei para Edward e Garrett ainda esperando pelas cervejas, olhei para meu celular, inclinei o corpo para que não tivesse jeito de ninguém ver a tela, e abri a imagem. Um close do rosto meio de lado, de óculos escuros, a pele lisinha de uma barba recém-feita, a mão tentando domar o cabelo ruivo despenteado.

— Kate... Acho que acabei de ter um orgasmo. É possível?

— Pela sua cara, é sim. Muita informação. – Kate fingiu estar com nojo.

Garrett e Edward voltaram quando eu já tinha fechado a foto de Edward depois de ter comentado coisas obscenas o suficiente. Eles distribuíram uma caneca para cada uma e nos fizeram brindar.

— Só isso? Um brinde? Ninguém vai falar nada?

— Não precisa. – Lancei um olhar para que Edward ficasse quieto.

Ele piscou para mim e me ignorou.

— Hoje é um dia especial. – Continuou. – Eu acho que você ter saído pela primeira vez em seis meses merece uma comemoração. Não é todo dia que se sai pela primeira vez em seis meses. Você não concorda, Kate?

— Concordo!

— Vocês nem pensem em cantar parabéns para mim. – Ameacei. Mas eu acabei rindo. Edward estava muito fofo querendo brindar o meu aniversário sem me deixar brava com ele. A mão dele encontrou a minha embaixo da mesa e ele deu um aperto de leve.

— Quem falou em parabéns? – Kate se fez de inocente. – Nós vamos apenas fazer um brinde por você ter saído pela primeira vez em seis meses. – Ela fez uma pausa. – É sério isso? Eu não tinha reparado que fazia tanto tempo.

— Ela foi até a Louis Vuitton da Bond Street. – Edward a corrigiu. – Mas não conta.

— O que você foi fazer lá sem mim? E por que Edward, que acabou de te conhecer, e apenas isso, sabe disso? Agora eu fiquei com ciúme. Achei que fosse sua única amiga aqui, pelo visto perdi o posto.

Kate estava brincando sobre o ciúme, até Edward via o quanto ela estava radiante por eu tê-lo incluído no nosso ciclo, mas expliquei mesmo assim o motivo da minha ida até a loja, e como Edward sabia. Enquanto eu explicava, vi Edward coçar os olhos e disfarçar um bocejo. Ele fechou os olhos lentamente, inclinou a cabeça para trás um pouco e moveu o pescoço de um lado para o outro, se alongando.

Só percebi que fiquei paralisada olhando quando ganhei um chute debaixo da mesa. Edward abriu os olhos assustado com o meu pulo.

— Ai, merda! – Alisei a perna. – Kate, qual o seu problema?

— Garrett, querido, acho que está na hora de irmos. – Ela me ignorou.

— Mas já?

— Edward está quase deitando na mesa para dormir. – Kate apontou para ele, que sacudiu a cabeça para despertar.

— Não, nada disso, eu estou bem.

Mas ele não estava. Qualquer um que olhasse para ele veria o cansaço estampado no rosto. Não sei como não reparei antes.

Eu não queria encerrar a nossa noite, fiquei nervosa sem saber como dizer que não estava pronta para me afastar dele. Ao mesmo tempo, não queria atrapalhar a vida de Edward. O homem precisava dormir, coitado.

— Kate tem razão. – Foi com muita dificuldade que deixei essas palavras saírem da minha boca. – Falta pouco para o pub fechar, de qualquer forma. Vamos.

Levantei, juntei minhas coisas e olhei para Edward ainda sentado. Ele parecia um menino fazendo birra para ir embora.

— Vem. – Estiquei a mão para ele e sorri enquanto o ajudava a se levantar.

— Você vai me levar para casa? – O modo como ele me olhava com aqueles olhos verdes não lembrava nem um pouco um menino.

Mordi o lábio inferior enquanto pensava na resposta. Edward ficou olhando para a minha boca, a dele aberta. Eu tirei coragem não sei de onde e o beijei. Segurei seu cabelo entre meus dedos e puxei sua cabeça para mim. Eu não estava pronta para deixá-lo ir. O aperto dele na minha cintura parecia passar a mesma mensagem.

— Eu falei que tinha que ter insistido em apresentar os dois. – Garrett, achando que estava sendo discreto, falou para Kate. – Mas você quis esperar, dar tempo para ela, que Bella precisava ter espaço... Não estou vendo espaço nenhum ali agora.

— Garrett, só... cala a boca.

Nós paramos de nos beijar para rir.

Edward pegou a minha mão na dele e a apertou para chamar minha atenção, o casal ainda discutindo.

— Vem comigo para a minha casa?

Eu fui.

E estava tentando sair de lá até hoje.

Eu, que não gostava de aniversários, poderia repetir aquele pelo resto da minha vida. Edward me desejando parabéns enquanto beijava partes diferentes do meu corpo era o melhor presente que eu poderia ganhar.

/--London Boy--

8 meses em Londres – Novembro

Duas semanas depois, eu e Edward estávamos... juntos. Ninguém falava em namoro, em relacionamento sério, em rótulos, a gente só vivia o momento. Ele era meu guia turístico, meu amigo, e, claro, um amante maravilhoso. Eu agora conhecia mais de Londres do que achei ser possível.

Edward todo dia me apresentava um lugar novo para almoçar e jantar. Eu conhecia o West End, o entorno da sede da empresa que eu trabalhava, de ponta a ponta. Se antes eu não saía do meu apartamento, agora só passava lá para dormir quando estávamos cansados demais para ir para casa dele, ou para pegar uma muda de roupas e atualizar a que estava embaralhada no armário dele.

Nos fins de semana, Kate, Garrett e mais alguns amigos em comum deles, se juntavam com a gente para assistir um jogo de rugby em um pub, ou apenas passar uma tarde bebendo e jogando conversa fora. Eu amava ficar sentada vendo a empolgação de Edward durante um jogo, ou as caras e bocas que ele fazia contando histórias do tempo da Universidade.

Depois de cinco semanas que estávamos saindo juntos, ele me levou para conhecer Highgate. Passamos um fim de semana só conhecendo o lugar aonde ele nasceu e cresceu, eu fascinada descobrindo cada detalhe da história dele. E se estávamos aonde ele foi criado, é claro que conheci seus pais. A mãe dele ouvira rumores sobre Edward estar conhecendo alguém e insistira para saber se era verdade. Não vi problema nenhum em ir com ele até lá e dizer que todos os rumores eram verdadeiros.

Kate e Alice, direto dos Estados Unidos, estavam maravilhadas assistindo a minha mudança.

Estávamos em uma das muitas casas de chá que eu o fazia me levar, não podíamos viver apenas de pubs, sentei de lado na cadeira, mais virada para Edward do que para a mesa. Eu estava com um uma saia colada um pouco curta naquele dia, e Edward não estava se aguentando. Desde que me buscara no meu apartamento os olhos dele desviavam para as minhas pernas. Ou, inconscientemente, tentava ver entre elas. Eu o assustei duas vezes enquanto estava distraído olhando. Estava complicado manter um diálogo, mas era divertido acompanhar as reações do corpo dele a mim.

Ele se empolgou no meio de uma brincadeira mais ousada e colocou a mão na minha coxa. A toalha da mesa era longa, estávamos protegidos por paredes de madeira, somente eu via, e sentia, os dedos dele subindo mais do que deveriam naquele momento.

Meu corpo começou a responder ao toque, minhas pernas se descruzando para facilitar o acesso. Dessa vez foi ele que percebeu que estávamos indo longe demais, tirando a mão como se estivesse pegando fogo.

— Edward Cullen, você vai me fazer ser deportada por atentado ao pudor.

— Nós devíamos ter ficado em casa hoje. – Ele deu mais uma olhada nas minhas pernas, puxando o ar pelo nariz e soltando com força pela boca.

Ajustei o corpo, colocando as pernas debaixo da mesa.

— É mais seguro assim. Parece que perdi o controle das minhas pernas.

— Eu perdi o controle do meu sangue. Não que eu alguma vez tenha tido. Por favor, fale alguma coisa ruim e me distraia para que eu consiga sair do estado de tesão e volte ao normal.

— Saber que a qualquer momento alguém pode nos ver não adianta, não é?

— Não mesmo. – O canalha piscou para mim e abriu um sorriso torto.

Pensei em alguma coisa muito ruim para contar, mas nada veio. Qualquer coisa que eu pensava não parecia ser ruim o suficiente para atordoa-lo. A não ser que tivesse acontecido comigo, e envolvesse uma experiência sexual horrível.

— Vou resumir, então, uma experiência... um tanto traumática relacionada a mãos que aconteceu comigo. Está preparado?

— Um segundo, é uma história real, ou você vai inventar uma história de terror?

— Uma história de terror que aconteceu comigo. Adianto que você não precisa ficar preocupado comigo. O trauma passou e está tudo bem. Ent-

— Que inferno, Bella, como você fala isso e não quer que eu fique preocupado? Tem certeza que quer me contar isso aqui?

— Não ficando. Essa foi a única coisa que me veio à mente capaz de circular o sangue de volta para a cabeça de cima. – Ambos olhamos para o colo dele, vendo que a história ainda era necessária. – E está tudo bem, ela agora vai ser traumática apenas para você. – Ri quando ele rolou os olhos. – Posso?

Edward fez um gesto com a mão para que eu começasse.

— Eu estava namorando fazia um ano. El-

— Entendi sua história, funcionou. – Edward brincou, mas pediu que eu continuasse.

— Ele me deu um tapa forte na bunda durante o sexo. Eu coloquei a mão por cima e pedi para ele não fazer aquilo. Ele fez de novo, mais forte. Dessa vez eu segurei a mão dele e a tirei de perto de mim, mostrando que estava falando sério. Na terceira vez, tentei me desvencilhar, mas ele me puxou para trás pelo cabelo e segurou o meu pescoço com a outra mão. Eu desmaiei de susto.

— Bella! – Edward fez menção de levantar da cadeira, mas pensou melhor e sentou. – Acredito que ele esteja preso agora? Seu pai com certeza não deixou um homem desses à solta.

— Então...

— Inferno, Bella, você não contou para ele?

Alice era a única que sabia. Ela também brigou comigo quando soube. Quis ir atrás do dito cujo e tirar satisfações. Foi difícil convencê-la de que não era necessário. Na verdade, ela nunca se convenceu.

— Não, só contei para Alice. O cara estava desesperado quando eu "acordei". – Fiz as aspas no ar. – Eu vi que ele estava... perdido no momento e achou que eu estivesse gostando, fazendo charme. Ele chorou de arrependimento.

— Bella... Não...

— Eu sei. Eu sei que, mesmo esse sendo o caso, ele devia ter parado da primeira vez que pedi. Ambos ficamos traumatizados o bastante com a experiência. Terminei com ele assim que consegui levantar da cama e me vestir. Fui dali direto para um hospital, apenas para confirmar que estava tudo bem. Ele demorou um tempo para parar de me pedir desculpas e seguir com a vida. Acho que a perseguição dele depois foi a parte mais traumática em si. – Estremeci ao lembrar do quanto Jacob havia me infernizado com seu sentimento de culpa.

— Você levou quanto tempo para superar o trauma? – Eu desviei os olhos para a mesa, sem precisar dizer com palavras que ele era o primeiro homem com quem eu me relacionava depois daquilo. Edward se mexeu desconfortável. – Há quanto tempo isso aconteceu?

— Dois anos.

— Bella... – Meu nome não passou de um sussurro.

Eu olhei de novo para Edward sem conseguir decifrar o que ele estava pensando. Estiquei a mão e segurei firme a dele, que retribuiu.

— Eu falo sério quando digo que estou bem, acredite. Eu não estaria aqui usando essa situação praticamente como uma piada se não estivesse. Acredita em mim, ok? – Edward levou minha mão à boca que a beijou. – Eu demorei a ficar com alguém porque, admito, fiquei com receio de confiar em homem de novo. E com preguiça, também. Esse negócio de se arrumar, ter que rir das piadas sem graça do cara, fingir que a companhia dele é maravilhosa... Não. Preferi deixar a vida amorosa de lado e focar na profissional. O que me trouxe até aqui.

— Então, se eu não tivesse ido até você naquele dia nós não teríamos nos conhecido?

— Se dependesse de mim, provavelmente não. Eu estaria sofrendo sozinha pensando na sua risada. Tendo sérios problemas para me concentrar no trabalho. Talvez a cerveja me fizesse tomar a iniciativa de ouvir a sua risada de novo, não sei. Provavelmente Garrett teria perdido o medo de Kate e nos apresentado em algum momento.

— Eu prefiro que tenha partido de você. No caso, que você tenha aceitado a minha aproximação, achado que valia a pena rir das minhas piadas sem graça, e fingido que minha companhia era maravilhosa. Significou mais. Principalmente depois dessa história macabra que me contou. Obrigado por ter confiado em mim.

Eu não conseguia nem começar a explicar a atração que senti por ele e que me levou a essa confiança toda.

— Obrigada você também, por estar sendo digno da minha confiança. Eu estou muito feliz por ter resolvido ir para aquele pub. Eu agora até queria que fosse meu aniversário todo dia.

Edward deu uma gargalhada, aliviando o humor que havia ficado um pouco azedo.

— Meu próximo aniversário nunca vai conseguir superar esse. – Fiz bico fingindo estar triste.

— Eu tenho quase um ano para pensar em algo.

— Vai se apresentar para mim de novo? Vai me desejar feliz aniversário de uma forma ainda melhor? Edward, você não tem ideia do nível no qual está colocando as minhas expectativas.

— Você vai ter que esperar para descobrir. Até lá, contente-se com o que eu tenho para oferecer no dia a dia.

— Que sacrifício vai ser. Querido, não me ameace com um tempo bom.

— Ano que vem.

— Eu nunca achei que fosse contar os dias para o meu aniversário. Não! A gente não precisa! – Quase gritei na ânsia de revelar minha ideia. – Sabe, devíamos comemorar os aniversários dos meses que eu estou aqui. Melhor! Dos meses que nos conhecemos. Faz mais sentido.

— Ficou louca? – Os olhos arregalados dele me deixaram um pouco assustada. – Essa ideia é terrível!

— Por quê?

— Porque seria um mês a menos para você ficar aqui. Uma "contagem progressiva" – Fez as aspas no ar. – para você ir embora.

— Eu não tinha pensado dessa forma. – Desanimei.

A mesa caiu em um silêncio horrível. Fiquei mexendo na colherinha do açucareiro, enquanto Edward olhava para o teto.

— Mas você ainda vai ter que se superar no meu aniversário no ano que vem. – Insisti.

Ele deu a risada gostosa que começou tudo isso entre a gente.

— Aguarde.

— Eu te odeio, Edward Cullen.

— Você tem um jeito bastante peculiar de mostrar seu ódio. O que me faz ficar curioso para saber como é quando você ama alguém.

Eu engasguei sem saber o que falar, meu rosto queimando enquanto eu tomava um gole de chá para disfarçar.

— Eu não saberia dizer.

Edward não foi enganado nem por um segundo, mas deixou para lá.

— Então, para onde vamos depois daqui? Você escolhe hoje.

— Não sei.

— Vamos lá, Bella. Eu sei que você a essa altura está curiosa para conhecer algum lugar.

— Ok, ok. Então, por favor, me mostre Hackney. Eu li sobre um lugar que tem cordeiros e a gente pode mexer neles.

— Você quer ver cordeiros, Bella?

— Tem cabras também. – Edward levantou uma sobrancelha. – Galinhas, se preferir.

— Leões, talvez?

— Não. Maaaas... tem museu. Tem bastante coisa antiga para saciar nossa alma velha. – Essa informação o agradou. – Espero que não seja muito complicado ir até lá agora.

— A gente dá um jeito.

/--London Boy--

1 ano em Londres – Março

Os dias cinzentos e úmidos deixaram de ser ruins e mal-humorados depois que dei uma chance para eles. Eu ainda sentia muita falta dos meus pais e do sol, mas o que eu tinha sob a chuva e o frio com Edward estava se tornando a minha coisa favorita no mundo.

Edward tinha carro, mas na maioria das vezes nós preferíamos usar o metrô, ou os famosos ônibus de dois andares. As chuvosas viagens de táxi eram as minhas preferidas, eu me aconchegava a ele no banco de traz enquanto assistia a chuva cair pelo vidro, ele apontando um lugar e outro. Quando saíamos de casa ele já me mostrava o céu cinzento, sabendo quando era sinal de chuva ou não, e oferecia sempre a opção do táxi quando sabia que ia chover.

Recordações de quando morei com meu pai em Forks, um lugar esquecido pelo sol, enchiam a minha mente e deixavam o meu peito apertado de saudade. A presença de Edward na minha vida aliviava isso. Fosse me apresentando um novo país, uma nova cultura, ou me conhecendo fora (e dentro) do quarto.

Nos dias que eu ficava sozinha no meu apartamento, costumava pensar na minha casa na Califórnia, em como eu a estava decorando do meu jeitinho, nas tardes no jardim lendo com um som tão alto de fundo que nunca ouvia Alice tocar a campainha ou ligar.

Meus pensamentos agora tentavam mesclar Edward. Como seria se ele estivesse comigo lá? Mas eu não conseguia de fato imaginar as cenas. Quando eu tentava me lembrar do meu pequeno sofá preto, ele era automaticamente substituído pelo marrom de Edward. E, então, eu estava na sala dele, os pés em seu colo enquanto fazia minha leitura. Tudo que eu fazia em casa era substituído por um equivalente daqui. Edward sempre presente.

Comentei sobre isso com Alice pelo telefone, esperando ouvir que meus pensamentos estavam ficando obsessivos em relação a ele, que minha amiga me mostrasse que meu tempo era contado e eu ainda tinha um contrato para cumprir com a empresa nos Estados Unidos.

Eu estava falando de Alice, ela nunca seria esse tipo de pessoa.

— Quer dizer que Londres está te conquistando? — Eu conseguia ouvir o sorriso dela pelo telefone. – Quando posso começar a empacotar suas coisas aqui?

Se eu não a conhecesse, acharia que estava tentando se livrar de mim.

— Está empatada, vai. Seis meses horrorosos contra seis meses... Magníficos não. Estupendos? Eu não sei te descrever como estou amando esse lugar agora.

— Posso ajudar? Edward Cullen. Descreva assim e não tem erro.

— Melhor presente de aniversário que eu já tive na vida! Alice, eu amo tanto esse homem. Seis meses me apaixonando por qualquer respiração dele.

— E ele sabe disso?

— Não. Nós não estamos nem namora-

— Como não? Bella, você está apaixonada por ele! Cont-

— Alice, ele sabe que eu só vou ficar aqui por mais um ano.

— E daí? Bella, acorda! Achei que você estivesse feliz. Não te entendi. E você acabou de falar que está tudo maravilhoso? O que foi? Ele deu algum sinal de que não corresponde? De que é só um caso?

— Não, nada disso. Edward é um amor, Alice. – Suspirei. O que só a fez bufar por não estar entendendo nada. – Eu sei que ele gosta de mim, só não sei o quanto. Não quero gostar mais dele do que ele de mim. E, eu vou embora. Não quero bagunçar mais a vida dele.

— E daí que você vai embora? Lamento informar, você o ama! Pelo amor de Deus, Bella! Eu vou criar uma forma de te enforcar pelo telefone! Conta para ele. Se ele não corresponder... Vai ser complicado, mas a gente dá um jeito. E se ele disser que te ama também... — Suspirou dramaticamente. – Conta logo! Eu quero ver foto brega de vocês: Minha Rainha Americana. – Caí na gargalhada.

— Que legenda horrorosa é essa?

— Os ingleses amam a Rainha, Bella. É claro que ele vai fazer alguma referência.

— Eu espero que não.

— Vai pagar pela língua.

Comecei a me despedir de Alice quando o interfone tocou avisando que Edward estava subindo.

— Conta para ele! Se você perder esse homem por burrice e teimosia, eu te mato!

 Tchau!

Fiquei com aquilo na cabeça o dia todo. Edward notou que eu estava um pouco distraída e perguntou se eu não preferia ficar em casa. Íamos dar uma volta no Camden Market mais uma vez essa tarde, ficar por lá ouvindo música com alguns comes e bebes, mas desistimos.

— Bella, o que foi? Alice te deixou com saudade de casa?

Passei por Edward para me sentar ao lado dele no sofá, ele me puxou pela mão e me fez sentar em seu colo. Sentei de lado entre as pernas dele, inclinada com as costas no braço do sofá.

— Não, até que eu não fiquei saudosa dessa vez. Ela até me achou feliz demais e perguntou quando poderia enviar minhas coisas para cá. – Rolei os olhos.

Eu estava decidida a tentar entrar no assunto e descobrir o que Edward sentia por mim.

— E o que você respondeu? – Edward inclinou para perto de mim, a mão subindo e descendo pela minha coxa.

— Na verdade, nada. Comentei sobre outra coisa que ela falou antes, e ficou por isso. – Talvez essa não tenha sido a melhor tática para entrar no assunto.

— Hmm.

Esperei que ele falasse mais alguma coisa, nada veio. Edward estava chateado pela minha falta de resposta? Ele olhou para frente, fingindo estar assistindo televisão.

— Eu não respondi em voz alta, mas pensei. – Nada dele me olhar ainda. – Sabe o que? – Ajustei-me para ficar mais próxima, uma mão fazendo carinho no cabelo da nuca dele.

— O que? – Perguntou sem me dar atenção.

— Em você. – Edward girou o rosto meio desconfiado. – Eu me imaginei indo para longe de você. – As sobrancelhas dele se uniram em confusão. – E eu não gostei. Foi... estranho. Eu me imaginei na minha casa fazendo o que sempre fazia, e senti sua falta. Aí comecei a te colocar lá. Caindo do meu sofá muito pequeno, dando com a cabeça no meu chuveiro baixo demais, ou andando de bicicleta comigo na praia, dando um mergulho depois de quase morrer de calor. – Abri um sorriso lembrando novamente das imagens. – Isso não durou muito tempo, meu cérebro começava a embaralhar tudo, ao invés de estarmos nos equilibrando no meu sofá, era o seu que aparecia. O seu chuveiro, a sua casa.

Edward inclinou sobre mim, me empurrando até que eu estivesse apoiada novamente no braço do sofá. Ele levou uma mão ao meu pescoço, fazendo carinho na minha bochecha com o polegar.

— Esses quatro dias que você ficou ocupada e não nos vimos, eu me senti patético dentro de casa. Como consegui esquecer o que eu fazia antes de conhecer você? Eu ia do quarto para a sala, e voltava, achando que estava esquecendo alguma coisa, procurando alguma coisa. Eu saí para beber com o pessoal, nós assistimos nosso jogo, mas, sei lá, eu olhava para o lado e ficava esperando você aparecer ali. Faz sentido? Deu para entender?

Ele estava tão bonitinho tentando se explicar, as sobrancelhas unidas, a boca com um biquinho, que, antes de responder qualquer coisa eu o beijei. Edward riu enquanto me beijava de volta, resmungando um "Acho que sim".

— Sim, entendi, você sentiu a minha falta.

— Não, Bella, não foi só isso. Você não entendeu. – Ele sacudiu a cabeça. Depois ficou me olhando, os olhos passeando pelo meu rosto.

Eu sentia que ele queria dizer alguma coisa, que estava organizando os pensamentos. Será que ele ia falar primeiro? Meu coração se acelerou com a possibilidade de Edward dizer que me ama.

— Darling, I fancy you.

Meu sorriso não cabia no meu rosto. No inglês dele, dizer aquilo significava que ele não me amava. Ainda. Era algo entre estar apaixonado por mim e mais do que apenas gostar de mim. E eu estava mais do que satisfeita com aquilo.

/--London Boy--

1 ano e 3 meses em Londres – Junho

Edward estava empolgado demais no dia de hoje. Era um sábado, fazia um calor considerável e eu estava com um vestidinho que, novamente, deixava as minhas pernas a mostra. Nós estávamos caminhando pelo SoHo, Edward entrando em toda loja de música possível. Nas outras vezes que viemos, concordamos em conhecer tudo de forma geral, e só depois perderíamos nossas preciosas horas dentro de lojas. Esse depois era hoje.

— Pensa rápido, Beatles ou Rolling Stones? – Ele mostrou um LP de cada.

— Tem resposta certa? Eu acho os dois tão... diferentes entre si.

— Apenas escolha um, Bella.

— Queen! Eu ainda estou tentando não ser deportada, por favor, não me complique. – Edward olhou do meu rosto para as minhas pernas e colocou os LPs no lugar.

— Ok, ok.

— Christina Aguilera ou Britney Spears? – Foi minha vez de pegar dois CDs e perguntar.

— Britney tem as melhores músicas, mas a voz da Aguilera é outro nível.

Seguimos com nossa brincadeira por todas as lojas. Quando foi a minha vez de me divertir em uma livraria, a brincadeira perdeu um pouco a graça. O que Edward conhecia de música, não conhecia de literatura.

— Eu estava me perguntando quanto tempo ia demorar até aparecer um defeito seu.

— Por favor, aceite minhas mais sinceras desculpas por esse desvio de caráter. – Ele fez uma reverência exagerada.

— Foi bom você ter tocado nesse assunto, eu me lembrei de uma coisa.

— Não entendi. Qual assunto? Meus defeitos?

— Não, a temática de realeza. – Apontei para ele em referência ao gesto da reverência. – Eu quero conhecer o Hyde Park. Por que não fomos lá ainda?

— Eu não sabia que você queria ir lá.

— Eu tinha esquecido que ele ficava aqui em Londres.

— Como? Por isso não fomos ao Big Ben ainda, você esqueceu que ele também fica aqui?

— Ridículo! – Empurrei-o no ombro. – Não sei. Passou despercebido. Os passeios que fazemos estão me mostrando mais de tudo do que se eu conhecesse os pontos turísticos óbvios.

— Ok. E o que o parque tem a ver com – Apontou para si mesmo. – essa temática real?

— Ele aparece em praticamente todos os meus livros de época.

— Tipo Orgulho e Preconceito?

— Tipo isso. – Abri um sorriso enorme por ele saber o nome de um dos meus livros preferidos. – Você leu? Não, claro que não, você viu o filme. – Isso também servia.

— Muito esperta. – Apertou meu nariz.

— Por que você assistiu?

— Por que não assistiria? – Deu de ombros.

— Por que você não lê o livro? – Devolvi.

— Eu posso ver o filme com você se quiser, mas não me faça ler o livro.

— Você está se oferecendo para assistir o filme para disfarçar que não gosta de ler.

— Sim, querida. Estou tentando compensar meu defeito.

Fiquei na ponta dos pés e segurei seu rosto, colando nossos lábios rapidamente.

— Quais as chances de algum desses cinemas aqui perto estar passando esse filme?

— Eu não vou entrar em uma sala escura com você nesse vestido. Estamos tentando fazer com que não seja deportada, lembra? – Deu uma olhada nas minhas pernas.

— Meus olhos estão aqui em cima.

— O Hyde Park é relativamente perto daqui, quer ir lá antes de esquecer a existência dele de novo?

— Sim! – Edward novamente olhou para as minhas pernas quando meu vestido subiu com um saltinho feliz que dei. – Não? Acho melhor irmos amanhã quando eu estiver mais vestida.

— Desculpa. É mais forte que eu.

— Sem problemas. Só que você vai ter que se aguentar até voltarmos para casa, não passeamos o suficiente. – Bati com um livro no braço dele. – Deixa só eu pagar meus livros e saímos.

De lá, continuamos o nosso passeio pelo SoHo. No meio do caminho a mãe de Edward ligou nos chamando para jantar. Não deu tempo de passarmos em casa para Edward matar a vontade das minhas pernas antes de seguirmos para lá, eu esperava que ele conseguisse se comportar na frente da família.

Os pais dele mais uma vez me receberam maravilhosamente bem. Esme tentou chamar outros familiares para me conhecerem, mas Edward barrou.

— Bella conheceu a London Eye? – Carlisle perguntou.

Edward se aproximou de mim, falando como se eu fosse uma criança.

— É uma roda gigante que fica aqui em Londres. Os turistas costumam fazer filas para dar uma volta e admirar a vista.

— Não sei se conheço. – Brinquei.

Se Carlisle e Esme em algum momento acreditaram que eu não conhecia um ponto turístico tão famoso, não deixaram transparecer.

— É muito romântico, vocês deviam ir. – Eu não conseguia imaginar como estar suspensa em uma coisa metálica girando em cima de um rio poderia ser romântico, mas preferi não expressar a questão para a mãe dele.

— Não está na lista de lugares para conhecer, mas, quem sabe?

— E você tem uma lista? – Edward perguntou, ele estava muito engraçadinho.

— Eu vou fazer uma lista. Vou achar os pontos turísticos mais cheios, mais insuportáveis, e te fazer me levar até lá.

— Bella, Bella, você vai estar lá do meu lado.

— Mas eu vou estar bem feliz vendo você sofrer na fila.

— Com você me fazendo companhia? Como acha que isso vai me fazer sofrer? Basta escolher os lugares, caso venha a se lembrar de algum, e eu enfrento a fila que for com você.

Meu rosto estava fervendo. Eu estava morrendo de vergonha por ele ter falado aquilo na frente dos pais dele, mas o sorriso enorme no meu rosto eu não consegui esconder. Consegui não agarra-lo e enche-lo de beijos.

— Como você é ridículo, Edward Cullen.

— Não sabia que ser sincero ia me fazer ser xingado. Mas não retiro o que disse.

— Cala a boca. – Sussurrei. Eu queria me enfiar debaixo da mesa.

— Amanhã nós vamos ao Hyde Park. – Edward anunciou como se não tivesse se passado nada. – Bella não sabe o que é, vou apresentar para ela.

— Ridículo! Vai dormir sozinho hoje.

— Pique nique? – Carlisle perguntou.

— Não. – Respondemos os dois juntos.

— Só dar uma volta mesmo para eu conhecer.

— Edward, você sabe que o lugar é enorme. Melhor levar alguma coisa para comer.

— Não vai dar tempo de comprarmos nada para levar, mãe. Vamos comer em algum lugar por perto. Conhecer mais um restaurante.

— Como têm sido sua estadia, Bella? Está gostando do que está conhecendo?

— Sim, Esme! É maravilhoso como eu meio que criei uma rotina: noites em Brixton, Shoreditch à tarde, passear pelo SoHo. Agora você pode me encontrar em um pub assistindo rugby com os amigos do Edward, e não enfurnada no apartamento. E eu amo chá da tarde! Minha vida mudou depois que troquei o café pelo chá.

— Meu sono agradece.

— Você passeava tanto assim nos Estados Unidos, Bella?

— Não, só ficava com a cara enfiada nos livros. – Edward respondeu por mim.

— Mas o senhor está demais hoje. – Coloquei a mão na coxa dele e apertei. – Quando eu morava com a minha mãe, sim. A gente conhecia a maior bola de elástico do mundo, o maior pote de catchup, essas coisas. Depois que entrei para a faculdade nunca mais. Só faço alguns passeios na praia, e visito a minha mãe ou meu pai. No geral, fico com a cara enfiada nos livros. – Sorri para Edward.

— Eu disse. Acho que eu deveria ter dado um jeito de você não comprar aqueles livros ontem.

Esme ignorou o resmungo do filho.

— Estica a viagem até outros lugares. Tirem um fim de semana para ir até Paris. Ou vão até Roma!

Os passeios eram maravilhosos, mas eram melhores porque Edward estava comigo. Eu não estava nessa exatamente por eles, e sim pela companhia. Claro que eu estava encantada por Londres, mas ela tinha toda aquela áurea porque eu estava conhecendo com ele. Londres era a nossa bolha, onde vivíamos o nosso mundinho sem falar sobre sentimentos. Eu apaixonada por ele, fingindo que estava tudo bem, que tudo ficaria bem.

Talvez um dia a gente conhecesse outros lugares. Em outra realidade.

— Eu sempre quis ver a Torre Eiffel. – Comentei, passando longe de dizer o que realmente estava pensando.

— Da Torre Eiffel ela lembra.

— É ciúme porque estamos dando mais atenção a você do que a ele. – Esme fez um gesto com a mão como se dissesse "esquece ele".

Ao meu lado, as orelhas de Edward ficaram vermelhas enquanto corava. Ele parecia um menino, como quando o vi naquela primeira noite no pub. Queria pegar meu celular e tirar foto desse momento. Era a vez dele de ficar com vergonha na frente dos pais.

— Edward, pensou no que vai fazer para o seu aniversário? – Esme perguntou.

Arregalei os olhos. Ele tinha comentado que a data estava chegando, mas eu esqueci completamente. Depois de tanto brincarmos sobre ele fazer o meu aniversário ser especial, a burra esqueceu o dele!

— Eu me esqueci do seu aniversário! Desculpa! Quando é? Por que não me avisou?

Enquanto Esme respondia o dia, 21 de junho, Edward resmungava.

— Você não gosta de aniversários, Bella.

— Achei que tivéssemos entendido que eu comemoraria todo dia se pudesse. – Dei um olhar significativo para ele. – E são os meus! Eu comemoro os aniversários das pessoas que – Engasguei quase falando 'amo'. – gosto, sei que é importante para elas.

— Em duas semanas, então, comemoramos o meu.

— E vai fazer isso como? – Esme insistiu.

— Ainda não pensei em nada.

— Então decida, quero reunir a família para uma coisinha aqui em casa.

— Tudo bem, mãe.

Quando voltamos para o meu apartamento, mais perto do passeio que faríamos amanhã no parque, Edward foi deitar enquanto eu terminava de fazer algumas coisas. Voltei para o quarto para encontrá-lo com meu Kindle na mão.

— Interessante o que eles fazem nas moitas do Hyde Park nesse livro. – Sentei-me na cama enquanto ele bloqueava o aparelho e me entregava. – Foi isso que aguçou sua vontade de ir lá?

— Claro! – Inclinei-me sobre Edward para guardar o Kindle na mesa de cabeceira. – Que não.

Ele aproveitou a posição para apertar a minha bunda.

— Ok, senhor tenho-livre-acesso-a-uma-bunda, o que você quer de aniversário?

— Nada.

— Sem chances, Edward. Escolhe alguma coisa.

— Seu livro me deu algumas ideias...

— Noto um fetiche seu em lugares públicos, Edward Cullen. Não compactuo com eles, desculpa.

— Tem certeza? Eles pareciam estar se divertindo no livro.

— Escolhe algo que não me faça ser expulsa do país, por favor.

— Não tem.

— Que absurdo! – Belisquei a barriga dele. – Você quer eu vá embora e não possa mais voltar?

Edward me girou na cama, pairando com o rosto próximo ao meu.

— Sabe o que eu quero? – Ele me beijou com tudo o que tinha. – Você.

Eu estava sem fôlego. Com o olhar e o beijo somados, não era um 'você' simples. Olhei para ele por tempo demais enquanto absorvia tudo. O momento se perdeu, Edward me beijou na testa e rolou para o lado.

Sentindo o ar frio me envolver, despertei, pegando-o desprevenido e montando nele.

— Seu desejo é uma ordem.

Na manhã seguinte, parecíamos dois idiotas rindo de qualquer moita que aparecesse na nossa frente no Hyde Park. Qualquer local escondido da vista dos outros levantava o interesse de Edward. Eu já não sabia se era apenas piada, ou ele tinha algum fetiche real.

Eu estava deitada com a cabeça no colo de Edward, uma manta estendida sob nós. Eu lia enquanto ele ouvia música. Uma cena bastante clichê. Só faltou a cesta de pique nique.

— Foi essa música que falei outro dia. – Edward colocou o fone no meu ouvido de forma desajeitada sem avisar, me assustando. – Por que ninguém se lembra dela?

— As pessoas lembram dela. Eu lembro.

— Não lembram, Bella.

Nós íamos ficar nessa por um bom tempo, a toa. E que diferença fazia se as pessoas tinham a música na memória, ou não?

— Qual a sua ligação com essa música?

— Nenhuma. – Deu de ombros. – Mas é maior musicão. Ela tem um ritmo interessante, umas pausas dramáticas intensas.

— Eu também gosto dela.

— Bom.

Girei para conseguir olhar para ele, o fone caindo da minha orelha. Edward pegou de cima da manta e colocou de volta, com mais delicadeza dessa vez.

— Tem certeza que essa música é só isso?

— Sim, Bella. Ela é muito boa, eu só gosto dela.

— Tá bom, então.

— Qual sua música preferida?

— Rá! Eu sabia!

— Não. – Edward rolou os olhos. – A pergunta não tem ligação com isso.

— Sei. Não tenho uma favorita. Eu gosto de um monte de coisa. Qual é a sua?

— Não tenho também. Mas Love Of My Life está quase ali.

— Do Queen?

Ele moveu a cabeça para confirmar.

— Gosto também.

— Que bom que seu gosto musical não é uma merda.

— Concordamos em duas músicas apenas.

— Eu sou otimista, querida.

Edward se aproximou de mim para me beijar, surpreendi-o segurando sua cabeça e virando-a para o lado.

— Espera! Edward, você tem a orelha furada? Por que eu nunca notei isso?

— Eu achando que você reparava em todos os detalhes do meu corpo. Estou decepcionado, Bella.

— Provavelmente minha atenção estava voltada para outro detalhe do seu corpo, me distraindo de ver isso. – Cutuquei a orelha dele. – Está fechado?

— Está, o brinco não durou uma semana. Meus pais odiaram. Furei por causa de uns caras com quem andava, eles acharam que eu estava indo para um caminho sem volta.

— Entendi. Não eram as melhores companhias.

— As piores. Não sei o que aconteceu com nenhum deles.

— Não consigo criar a imagem na minha cabeça. – Fechei os olhos. – Não acho que brinco combine com você, Edward.

— Sou muito grato aos meus pais por terem mandado eu tirar isso. Você não curte?

— Não mesmo. – Sacudi a cabeça. Inclinei-me e suguei o lóbulo da orelha dele. – Eu nunca me sentiria confortável o suficiente para fazer isso sem o medo de engolir um brinco.

Edward jogou a cabeça para trás em uma gargalhada gostosa. Engoli em seco vendo o pescoço dele exposto para mim. Controlei a vontade de me esticar e dar uma mordida.

— Bella, por que está me olhando como se fosse me comer?

— Estava pensando em morder seu pescoço.

— Virou vampira?

— Diz aquele que queria morder as covinhas das minhas costas, lembra? Mesma coisa.

— E eu mordi. – Abriu um sorriso orgulhoso, franzindo as sobrancelhas em seguida. – Mais ou menos.

— Foi um dos melhores parabéns que recebi!

— Um dos? Você não está fazendo bem para o meu ego hoje, Bella.

— Sabia que ia falar isso. Naquela noite, você desejou parabéns de várias formas diferentes. Foi isso que eu quis dizer. Fica difícil escolher a melhor.

— A gente sempre pode repetir em um dia comum.

Depois que o conheci, eu já vivia como se todo dia fosse meu aniversário.

— Você colocou o nível lá em cima no dia que te conheci. Incrivelmente, está mantendo assim até hoje. Não decepcionou nem uma vez.

— Nem com o meu gosto literário inexistente?

— Não. Nem assim.

— Bom. – Abriu um sorriso torto.

— Seu ego está inflado o suficiente agora?

— Sempre cabem mais elogios. – Piscou.

— Ridículo. – Dei um selinho nele. – Mais tarde. – Mordi o lábio inferior. – Quando estivermos sozinhos.

Uma música que me fazia lembrar dele começou a tocar. A minha língua coçou para perguntar se havia alguma música que o fizesse pensar em mim.

Eu não sei por que aquela questão começou a importunar a minha cabeça. Mas, se eu tinha uma música, ele tinha uma também. Sei que homens não costumam se importar muito com essas coisas como as mulheres, mas Edward não era um homem qualquer. Uma pessoa como Edward, que gosta de música, que gosta de dar significados para elas, teria uma para mim também. Quer dizer, eu esperava que ele se importasse o bastante comigo para ter designado uma música para mim.

— Edward... Você que ouve bastante música... Alguma te faz se lembrar de mim?

O vermelho no rosto dele me deixou em dúvida. Ou ele não tinha música alguma, e estava com vergonha de admitir isso, ou tinha e não queria me contar qual era. A primeira me frustraria um bocado, mas nada que diminuísse a feição que tenho por ele. Talvez ele apenas não tivesse se apegando tanto a mim, e não queria se lembrar de mim quando eu fosse embora. É horrível associar uma música a alguém e depois não conseguir mais ouvi-la. Se ele amava tanto música assim, até entendo o caso dele se não tiver feito ligação alguma comigo.

No segundo caso, eu morreria de curiosidade para saber qual seria a música. Será que foi alguma que ouvimos juntos? Alguma que mostra como ele se sente? Ou talvez eu só tenha cantado desafinada no ouvido dele, e sempre que a ouve ele se lembra de mim. Fosse qual fosse o caso, eu precisava saber.

Tentei arrancar a resposta de Edward, mas ele desconversou. Jogou nomes aleatórios, fez piadinhas, e emendou no assunto do aniversário dele quando alguém começou a cantar sobre estar fazendo vinte e dois anos. Deixei passar. No privado seria mais fácil arrancar a resposta dele.

— Confirmei hoje cedo com a minha mãe a festa de sábado na casa dela. Ela ia me perturbar se não pudesse comemorar meu aniversário em família.

— Mas eles ainda vão ao pub no dia na terça, certo?

— Comemorar o meu aniversário duas vezes? Claro que Esme não vai perder. Sua amiga Alice, maluca por festas e reuniões é a versão norte-americana da minha mãe.

— Aliás, você não precisava ter contado para ela quando é o meu aniversário. Agora vou ter que ser simpática com ela no dia. E a única pessoa com quem eu quero ser simpática é você. Você me prometeu um aniversário melhor do que o do ano passado.

— Bella, Bella... – Ele sacudiu a cabeça enquanto ria.

— O que?

— Deixa para lá.

— Já falei que você é ridículo hoje?

///////

Na véspera do aniversário de Edward, tive a ideia de fazer um bolo que havíamos comido uma vez em uma casa de chá e ele havia amado. Eu queria fazer surpresa. Tinha avisado que ficaria no meu apartamento aquela noite, e no dia seguinte nos encontraríamos para comemorar o aniversário dele no pub. O problema era que Edward não entendia porque ele não podia estar comigo, e eu era péssima em arrumar uma desculpa.

Eu só estava conseguindo me segurar porque estávamos nos falando no telefone, se fosse pessoalmente, não conseguiria esconder o segredo nem cinco minutos.

Kate passou pela minha mesa e parou ao ouvir que eu estava falando com Edward.

— Tudo bem, tudo bem, Edward. Se tudo der certo, mais tarde vou para sua casa.

— Se tudo der certo... – Edward bufou. Se eu encontrasse os ingredientes no mercado, se não colocasse fogo no apartamento, se acertasse a receita... – Nada disso de andar sozinha pela rua tarde, quando você acabar seu plano misterioso me avisa e eu vou até você.

— Não! – Uma ida à cozinha e ele veria o bolo. – Eu vou! Não sei a hora, mas vou.

— Bella...

— Vai dar tudo certo. Agora eu preciso desligar, Kate está rondando. – Ela levantou a sobrancelha como se dissesse "não me use no seu joguinho". – Beijo!

— Sem beijo para você, querida, tchau.

Kate ainda estava com as sobrancelhas levantadas, esperando a explicação que sabia que eu não negaria. E expliquei tudo para ela.

— Que importância tem Edward ver o isso hoje?

— Qual parte de surpresa você não entendeu? Quero fazer alguma coisa especial, poxa.

— É aniversário dele, Edward nitidamente quer virar a noite com você, e você não quer porque ele não pode ver um bolo. Que foi feito para ele. Dá o que ele quer.

— Acho que você incrivelmente tem razão. Mas eu vou fazer mesmo assim. E vou dormir com ele depois.

Quando perguntei o que ele queria de aniversário, sua resposta tinha sido que ele queria a mim. Eu podia dar esse presente para ele. E podia dar de um jeito especial.

— Que cara é essa, Bella? – Meu rosto esquentou no mesmo segundo. – No que está pensando? É sacanagem, não é?

— Kate!

— Corta essa, Bella! O que é?

— Estava pensando em aparecer na casa do Edward mais tarde de um jeito... diferente.

— Nua?

— Não! Quer dizer, quase. Ele disse que não queria nada de presente, somente a mim.

— Coloca um laço nas partes íntimas e vai.

— Não é para tanto. – Eu não ia conseguir nem passar pela porta do meu apartamento, mesmo com o mais pesado dos casacos me escondendo. – Vou pensar em algo.

— Depois me conta.

— Dividi o suficiente com você, Kate. Vá trabalhar e me deixe pensar!

Não rendi nada naquele dia. Comprei os ingredientes pela internet e fiz com que entregassem na empresa. Não tinha tudo em um lugar só, e eu não me entendia com os aplicativos, toda hora tinha que parar tudo para receber alguma coisa. Quando finalmente tive o que precisava, fiquei a maior parte do tempo decorando a receita. Quanto menos tempo levasse fazendo tudo, mais rápido eu estaria com ele.

Kate enviou uma mensagem para o sistema interno: "guarda um pedaço desse bolo pra mim, parece q vai ficar uma delícia!"

Respondi: "Para de me espionar! Se Edward deixar sobra... Ele é apaixonado por esse bolo! Qlqr dia faço 1 para vc."

Kate respondeu de volta: "q bonitinho ela apaixonada fazendo o bolo preferido dele. 3"

E depois, de novo: "vou cobrar o bolo. Agora sai do YouTube e vai trabalhar."

E deslogou.

Consegui acertar a receita do bolo de primeira. Não fiquei nem duas horas no meu apartamento e estava voltando para o de Edward.

— Achei que eu fosse ficar sem presente de aniversário. – Edward falou do sofá assim que passei pela porta da casa dele.

Sua cabeça caiu para o lado quando viu o que eu estava usando: um casaco longo demais. E salto alto.

Parei de frente para ele, que encarou o laço que fechava o casaco.

— Posso abrir meu presente?

— Convencido. Quem disse que alguma coisa aqui é para você, Edward Cullen?

— Se tudo isso é para você brincar sozinha, será que posso assistir?

Pensei em surpreendê-lo com um striptease, uma dança ou só uma pose sensual. Imaginei vários cenários, criei diálogos, me excitei apenas com os pensamentos. Agora, só conseguia sentir o rosto quente enquanto ele me encarava me comendo com os olhos. O micro vestido e a lingerie que eu tinha por baixo nem haviam sido revelados ainda.

— Bella?

Joguei-me sentada no sofá, as mãos batendo nas coxas em frustração.

— Eu não sei ser sexy, mas que merda!

Edward não perdeu o timing, me inclinando no sofá, passando a mão na minha perna.

— Você só pode estar louca. – Ele subiu a mão para a minha cintura, encontrando o vestido embolado. – Inferno, mata a minha curiosidade e mostra o que está debaixo desse casaco.

— Desembrulha o seu presente. – Mordi o lábio.

Antes de me deixar levantar, Edward atacou a minha boca.

— Eu fico louco quando você morde essa boca. – Gemeu contra os meus lábios.

Ficamos nos amassos por muito tempo, achei que Edward tivesse desistido de ver o que eu estava vestindo.

Enfim fiquei de pé, o vestido, de um tecido levinho, descendo novamente. As mãos enormes dele desfizeram o laço do casaco, revelando o vestido azul floral curtinho. Ele tinha mangas compridas, não era dos mais sexys, mas era o único que eu tinha e mostrava bastante das minhas pernas, algo que Edward amava.

— Essas pernas... – Sorri vitoriosa.

Com o corpo próximo ao dele, corri as unhas por cima da camisa de pijama que usava. Mordi a mandíbula dele, ganhando um gemido em troca.

— Vai ficar só apalpando e gemendo?

As roupas voaram, minhas costas encontraram o sofá, e finalmente, finalmente, minhas pernas estavam em volta dele, puxando para perto, mais perto, não querendo nunca mais que ele se fosse.

Ou melhor, que eu me fosse.

///////

Saí da empresa direto para o pub para comemorarmos o aniversário de Edward. Com o mesmo vestido. Na pressa de terminar o bolo e na distração de pensar em fazer alguma coisa diferente para ele ontem à noite, acabei esquecendo que devia ter separado outra roupa. Alice ficaria horrorizada.

Pelo menos Edward gostou. Como sempre, ele estava tarado pelas minhas pernas. Dessa vez, ele ainda tinha bem fresco na memória os acontecimentos de ontem.

Sentei-me em uma mesa com Kate, Esme e Carlisle. Garrett e Edward estavam perdidos em algum lugar conversando com os amigos.

— Então, Bella, – Kate chamou minha atenção. – o que você deu de presente para o Edward?

Ela estava sendo tão discreta quanto um elefante em uma loja de cristais. Passou o dia inteiro perguntando como a noite tinha transcorrido.

— Nada. – Respondi pela milésima vez. Contendo-me para não chamar a atenção de Esme e Carlisle. – Ele não decidiu o que queria.

— E precisa? Você não pensou em nada para surpreendê-lo?

Esme e Carlisle acompanhavam o diálogo com curiosidade. Eu só queria proibir Kate de beber pelo resto da noite, e que ela fechasse a boca.

— Não, não pensei. Eu não sou criativa, prefiro dar alguma coisa útil.

— Hmmm.

— Se vale alguma coisa, eu fiz um bolo que ele gosta. Como não podia ter um bolo aqui hoje, e aniversários têm que ter bolo, deixei um preparado na geladeira para mais tarde. – Claro que ela sabia aquilo, mas os pais dele não, e eu não queria passar a impressão de que não tinha me preocupado em dar algo para Edward, mesmo ele dizendo que não queria.

— Glicose depois da bebedeira, boa. – Piscou para mim. – Mas você ainda pode dar alguma coisa. Tem a noite inteira para isso.

Eu simplesmente fingi que ela não tinha falado nada. Nunca me concentrei tanto para beber um copo de água.

Mais tarde, depois de Kate finalmente desistir de me fazer passar vergonha na frente dos pais de Edward, entrei no meu prédio rebocando-o pelo caminho.

— Para onde está me levando com tanta felicidade?

— Logo, logo, você descobrirá.

— O que você está aprontando?

Eu estava quicando de tanta ansiedade enquanto esperava o elevador.

— Nada! Confia em mim, sou sua Rainha.

— Você o que? – Ele gargalhou.

— Nada, estou tentando te distrair.

— De que? Nós não estamos indo para o seu apartamento?

— Até a minha geladeira.

A expressão no rosto de Edward foi um misto de assustada com preocupada. Ele devia estar fazendo as contas de quanta cerveja eu tinha bebido. Não que tivesse como, uma vez que ele passou a maior parte do tempo longe de mim com os amigos.

E nem bebido eu tinha. Com Esme e Carlisle por perto, preferi não arriscar.

— Certo. E o que tem de tão especial na geladeira, Bella?

— Tenha paciência.

Como se eu estivesse tendo alguma.

Não precisei empurra-lo dentro do apartamento, ele estava curioso o suficiente para seguir por si só até a cozinha.

— Fica aqui. – Posicionei-o do outro lado da ilha.

Peguei o que faltava em uma das gavetas perto da pia e terminei de enfeitar o bolo ainda dentro da geladeira. Edward tentava espiar o que estava acontecendo enquanto eu me escondia atrás da porta. Comecei a cantar parabéns enquanto puxava da geladeira um bolo já com velas acesas.

Edward estava vermelho novamente. Era ótimo quando não era eu a pessoa envergonhada do recinto.

— Por isso você quis ficar sozinha ontem.

— Surpresa! – Apoiei o bolo na ilha. – Eu tinha que fazer sem você saber, ou não seria surpresa. Vai, faz um pedido! – Bati palmas.

— Ok, aqui vai nada. – Edward se inclinou para assoprar a vela, mas o interrompi.

— Não! Você não pode fazer um pedido com o pensamento de que não vai dar certo. Você tem que acreditar e querer. Deve ter alguma coisa, qualquer coisa, que queira.

— Então é para pedir a paz mundial.

— Se é isso o que você quer, sim. Mas eu acho que é uma coisa mais... íntima. Afinal, é o seu dia, você pode ser um pouco egoísta e querer algo de bom só para você. – Edward me encarou com os olhos arregalados. – O que?

— Para uma pessoa que não comemora o próprio aniversário, você tem bastante apego a tradições.

— Quero ver as pessoas que gosto felizes, não tem problema nenhum com isso. E você merece o mundo! – Abracei-o apertado. – Agora, faz o seu pedido ou a vela vai derreter por dentro do bolo.

Edward sacudiu a cabeça antes de fechar os olhos. Ele respirou fundo, lambeu os lábios e assoprou a vela.

Bati palmas novamente, esperando-o abrir os olhos. Quando o fez, olhou direto para mim. Sério.

— Fez? – Quem quase derreteu fui eu com o olhar dele.

— Fiz. Acho que não tinha como eu ser mais egoísta em um pedido.

— Sabe o que dizem, cuidado com o que pede, você pode acabar ganhando.

— Eu estou contando com isso. – Ele abriu um sorriso torto.

///////

Sábado fomos para a casa de Esme e Carlisle comemorar o aniversário de Edward de novo. Era uma pequena reunião no quintal com alguns familiares. Uma prima dele, Rosalie, que eu não fazia ideia da existência até aquele momento, ficou me lançando olhares feios o dia inteiro. Não comentei nada com Edward, nem devolvi os olhares dela. Não sabia qual era o problema dela, eu que não ia arrumar confusão para o meu lado.

Não desmentíamos quando alguém dizia que éramos namorados, e ninguém parecia sentir o clima estranho que ficava logo após.

Na hora de assoprar a vela, pediram para Edward fazer um pedido.

— De novo? É para pedir a mesma coisa? O pedido de hoje anula o do outro dia? Não quero perder o pedido do outro dia. Bella, me ajuda aqui.

— Não sei. Acho que você ainda pode ser egoísta hoje e pedir o que quiser. Reforçar o pedido que fez, ou pedir algo completamente diferente. É com você.

Edward assoprou a vela ao som de "vai logo!", "pede qualquer coisa, isso é mentira", "eu quero bolo" e outras coisas.

Mais uma vez ele olhou para mim depois do pedido.

Passei a festa inteira fugindo dos olhares da tal prima Rosalie, até que resolvi me afastar, praticamente me esconder, para que se esquecesse da minha presença.

Edward me encontrou apoiada em uma árvore, perto de alguns adolescentes mexendo no celular. Ele chegou me agarrando pela cintura e me pressionando no tronco, os jovens acharam a demonstração de afeto bastante interessante.

— Ei, o que está fazendo aqui?

— Estou vendo você interagir com a sua família. Tão bonitinho o filhinho da mamãe. – Beijei-o na bochecha quando ficou vermelho.

— Quer ir embora já? Está de saco cheio?

Claro que não adiantou nada eu sair do campo de visão de Rosalie, podia sentir a energia negativa de onde eu estava. Tudo o que eu queria era sair dali, mas não podia tirar Edward da própria festa.

— Não, não. Volta para lá, aproveita a sua família um pouquinho, deixa eles te mimarem.

— O pessoal está indo embora, não tem tanta gente assim. Vou só ajudar meus pais a limpar tudo e vamos também, ok?

— Aposto que tem bastante louça para lavar, vou dar uma olhada.

— Não precisa, Bella.

— Faço questão. – Edward não entendeu nada quando corri para a cozinha.

Onde fiquei até a hora de irmos embora.

/--London Boy--

1 ano e 6 meses em Londres – Setembro

Como prometido, Edward conseguiu fazer com que meu aniversário fosse melhor do que o do ano passado. Era bem tarde, estávamos imersos na banheira da casa dele, tomando vinho e ouvindo música. Só faltavam as velas, mas ele me explicou, com o rosto vermelho, que tinha alergia a cheiros muito fortes e preferiu não comprá-las.

Como se estivessem fazendo falta.

Mais cedo, nós havíamos saído para patinar. Edward encontrou um rinque de patinação no estilo dos filmes, com globos de luz, música de discoteca, casais apaixonados... Demos a sorte de ser uma quarta-feira sem movimento, éramos nós dois e outros três casais mais preocupados em se perder na bolha deles do que se divertir. Nem parecia que havíamos acabado de sair do trabalho de tão elétricos que estávamos rodando aquela pista, se equilibrando para não cair com o tanto de luz fazendo efeitos na nossa vista.

Tentamos brincar de pique pega, mas o adolescente mal-humorado que vigiava o lugar disse que não podíamos. Eu pisquei os olhos para ele, disse que era meu aniversário, e consegui, pelo menos, fazer com que ele liberasse o bluetooth do sistema de som para que colocássemos nossas músicas.

Os outros casais nem perceberam.

— Minha mãe ligou mais cedo para te desejar parabéns. – Edward falou enquanto enchia a própria taça na bandeja da banheira. – Mas você estava dormindo.

— E você lembrou de me contar agora, quase amanhã? – Chutei-o, fazendo água cair pelo chão e quase derrubando tudo na banheira. Ele pegou meu pé com uma mão e começou a massagear. Era o paraíso. – Ela me enviou uma mensagem depois. Marcamos de tomar chá da tarde no sábado.

— Se tiver meu bolo... – Apertou meu dedão.

— Eu compro para você.

— Ela vai te perguntar sobre o Natal. Começa a pensar em uma desculpa. Ou não.

— O que sobre o Natal? E por que preciso de uma desculpa?

— O que você vai fazer, se vai estar aqui... Ela vai tentar te chamar para passar na casa dos meus tios. Os pais da Rosalie.

— Ah. – Que tipo de Natal eu teria sendo encarada pela prima dele, Rosalie, o tempo inteiro? – Nossa, mas estamos em setembro ainda, não consigo pensar tão para frente assim. Sei nem como vou estar amanhã depois de tanta taça de vinho. – Levantei a taça em questão, cheia. – Mas, assim, eu esperava fazer como no ano passado, que nós emendamos os dias e dormimos praticamente o tempo todo.

— Eu topo. – Edward abriu um sorriso torto, lembrando do que nós fizemos quando não estávamos dormindo.

— Ela não vai reclamar por eu te tirar do Natal em família pelo segundo ano consecutivo?

— Não. Ou sim. Nós podemos passar o fim de semana anterior ao Natal com eles.

— Ótimo! Combinado. Posso contar para ela?

— À vontade. Acabou de beber? – Apontou para a taça vazia que eu colocara na bandeja.

— Sim.

Edward tirou a bandeja da banheira e levou para cima da pia. Apoiei o queixo na beirada e acompanhei maravilhada enquanto ele andava nu pelo banheiro, a água escorrendo pelo corpo. Estiquei a mão e tentei agarrar a bunda dele. Estava muito longe. Quando estava voltando, ele fingiu escorregar, me assustando.

— Filho da puta! – Xinguei com o coração quase saindo pela boca. – Isso não se faz!

— Desculpa. – Edward voltou para a banheira, me puxando para sentar de frente no colo dele. – Inferno, Bella, seu coração está acelerado.

— Claro, seu idiota, eu achei que você estivesse caindo! – Escondi o rosto no pescoço dele. – Quer me matar no dia do meu aniversário? Eu juro que volto e te assombro para sempre!

— Me perdoa, vai? – Ele segurou meu rosto. – Você estava me comendo com os olhos, achei que tivesse percebido que eu ia fazer isso. Desculpa, Bella.

— Tudo bem. – Escondi o rosto novamente. – Deixa só eu me recuperar.

— Pelo menos você não está na TPM, ou estaria chorando copiosamente nesse momento.

Ri da escolha de palavras dele, fazendo-o se tremer todo. Não segurei a gargalhada.

— O que foi isso, Edward?

— Sua risada me fez cócegas. – Respondeu com o rosto vermelho.

Ele me desarmava quando ficava com vergonha. Era a coisa mais fofa do mundo! Eu só queria apertá-lo! Não o fazia, Edward ia fizer super desconfortável. Eu só enfiei a língua na boca dele. Parecia o mais certo a fazer.

— Passou o susto?

— Sim. Não faz isso de novo! Nunca mais!

— Nunca. Desculpa. – Edward beijou minha testa.

Como podia existir um homem tão maravilhoso assim? E como eu iria para longe dele em seis meses?

— Mas a noite ainda não acabou, Bella.

— Eu sei que não. – Puxei o lábio inferior dele com o dente.

Edward se afastou, me tirando do colo dele e saindo da banheira.

— Já volto. – Piscou antes de enrolar uma toalha na cintura e sair do banheiro.

— Você é ridículo!

Dez minutos depois, levantei da banheira para ver o que Edward estava fazendo, a baixa temperatura da água começando a incomodar. Encontrei-o no meio do caminho.

— Querida, pensa que está indo para onde?

— Vim te procurar para me esquentar. – Abracei-o na cintura, fazendo Edward levantar uma sobrancelha para o roupão que eu vestia.

Seus braços me envolveram, e ele beijou a minha cabeça. Aconcheguei-me a ele.

— Vamos lá, vamos até a cozinha.

— Não vamos para o quarto ainda?

— Cozinha primeiro.

— O que tem lá? – Olhei para cima para o rosto dele.

— Por enquanto, nada.

Sentamos à mesa da cozinha, Edward de frente para mim, esperando alguma coisa. Estiquei a mão para que ele colocasse a dele por cima e a segurei. Ficamos conversando aleatoriedades até um cheiro gostoso de bolo encher o ar.

— Você está fazendo um bolo para mim? – Apertei a mão dele.

Eu não estava na TPM, mas senti uma vontade enorme de chorar. Meus olhos encheram de lágrimas e minha garganta trancou.

— Bella, você tem algum problema com aniversários que não me contou?

— Não. – Funguei enquanto ria. – É só que... – Cada pequena coisinha sobre você faz eu me apaixonar mais e mais. – Obrigada!

— Disponha. – Ele levou minha mão à boca e beijou.

Mais alguns minutinhos e treze velas iluminavam o espaço enquanto cantávamos parabéns para mim. Ele não quis colocar o número de velas correspondente a minha idade, com medo de eu reclamar.

— Faz o seu pedido.

— Não sei o que pedir.

— Você merece o mundo, Bella. Peça, e ele será seu.

Só tinha uma coisa que eu queria naquele momento: Edward.

Eu pedi para que nós pudéssemos ficar juntos de alguma forma. Que houvesse no mundo um lugar para eu ser livre para amar esse homem. Sem medo de ter que ir embora e esquecê-lo. Era tarde demais para conseguir esquecê-lo. E eu não queria.

Deitados na cama um de frente para o outro, eu mal conseguia enxergar o rosto de Edward. Achei que ele estivesse dormindo quando o ouvi suspirar e sussurrar:

— Eu queria que você não precisasse ir embora.

— Eu queria não precisar ir embora. – Sussurrei de volta sem nem pensar.

— Não era para você ter ouvido isso.

Um silêncio tenso caiu sobre nós. Tanta coisa não dita. Meu coração disparou com a possibilidade de Edward sentir por mim o mesmo que sinto por ele.

— O que nós estamos fazendo, Edward?

— Não, Bella, não vamos falar sobre isso. Não agora, pelo menos.

— Hoje faz um ano que a gente se conheceu.

— Sim, nunca dei um presente de aniversário tão bom para alguém.

— Ninguém nunca recebeu um presente tão incrível. Exclusividade minha, desculpa, mundo.

Edward riu alto antes de beijar a minha testa e me desejar boa noite.

— Boa noite, London boy. Obrigada por tudo!

/---London Boy---

1 ano e oito meses em Londres – Novembro/Dezembro

O tempo passou rápido demais, era novembro e minha mãe chegava com Phill para uma visita na época de Ação de Graças. A data não era comemorada na Inglaterra, e minha mãe não era das mais apegadas a tradições, então, demorei a entender o real motivo por trás da viagem: pura curiosidade. Cansada de ouvir minhas evasivas quando perguntava sobre Edward, ela resolveu ver com os próprios olhos o que acontecia.

Nós três primeiros dias de viagem Edward se afastou para que eu pudesse passar um tempo com ela. Renee ficou com um pé atrás, reclamando um pouco por eu estar tão apaixonada em tão pouco tempo. Chegou até mesmo a criticar Edward sem nem conhecê-lo, dizendo que ele estava me usando.

Quase pedi para que Edward não se aproximasse e ninguém se conhecesse, mas Renee teria que ver com os próprios olhos que as teorias dela eram todas erradas. Quando finalmente se conheceram, ela foi conquistada. No fim do dia, depois dele levá-la em várias feirinhas de artesanato, ela me puxou de lado e me mandou parar de "fazer pouco caso do coração do rapaz". Disse que se eu queria alguma coisa só de brincadeira, devia avisar a ele.

Não entendi como ela passou de achar que eu estava apaixonada e ele estava me usando, para o contrário. Depois de um tempo consegui convencê-la de que eu realmente gostava dele.

Quando minha mãe foi embora, Edward chegou em casa do trabalho para me encontrar chorando no sofá. Eu estava chorando de saudade dos meus pais, de Alice, de tudo que deixei nos Estados Unidos. Eu queria voltar, ao mesmo tempo que não. O não ganhando. A minha paixão não era só por Edward, era por todo um estilo de vida diferente que encontrei aqui graças a ele. Até mesmo no trabalho, eu tinha muitas possibilidades de progredir na empresa.

Conversei sobre isso com Garrett, a pessoa mais parcial, ele me incentivou a repassar tudo para Kate e Alice. Eu estava com medo de receber um não, mas comecei a me planejar.

Quando a semana do Natal chegou, eu tinha tudo esquematizado.

Estava cada vez mais difícil me imaginar longe de Edward. Uma dor no meu peito me deixava sem ar toda vez que meus olhos corriam para o calendário. Olhando para o celular, lendo o jornal, ouvindo alguém dizer na rua, cada vez que eu computava qualquer forma de data, travava e precisava respirar fundo para o mundo voltar a fazer sentido.

Faltavam três meses para eu voltar para casa quando Kate me chamou na sala dela. Estava séria, então eu sabia que o assunto seria trabalho.

— Kate, por favor, não me fale que vocês me trouxeram do outro lado do mundo para me demitir aqui. – Sentei-me na cadeira de frente para ela.

— Não. Mas nós precisamos conversar.

— O que?

— Bella, se eu te dissesse que precisam de você de volta nos Estados Unidos agora, o que você faria?

— Como assim?

Meu coração acelerou no peito. Eu não podia ir embora. Não ainda. Não... Nunca.

— Se dissesse que sua transferência de volta saiu antes do tempo e você precisa voltar agora?

— Eu... não sei. Quer dizer, eu diria que está tudo bem e iria embora. Vocês são meus patrões e decidem essas coisas, não tenho escolha. O que mais eu poderia fazer?

— Você pediria para ficar aqui?

— Kate, fala o que está acontecendo, por favor.

— Eu estou falando. – Não, não estava. Eu queria gritar para ela falar de uma vez. – Você ficaria aqui se te chamassem de volta amanhã?

— Eu amo o que eu faço, e meu cargo não existe aqui, mas- – Kate me interrompeu.

— Insistiria que precisamos criar o seu cargo aqui para que possa ficar e continuar trabalhando?

— Existe essa possibilidade?

— Você quer?

— Meu Deus, Kate!

— Bella, preciso que você me responda.

— Talvez. Sim. Sei lá! Você faria isso por mim? Eu adoraria ficar aqui, saber que vocês querem que eu fique e que eu posso ficar. Sem medo de ser demitida, de perder a estabilidade que tenho na empresa. Acho que não, não negaria. Se existe a possibilidade de ficar, eu quero!

— Pelo emprego, ou por Edward?

— Que tipo de pergunta é essa? Pelos dois, por que não? Quem me ajudou a abrir os olhos e enxergar o mundo de possibilidades aqui em Londres foi Edward. Antes dele, eu estava satisfeita de voltar para casa e fazer a mesma coisa de sempre. Vocês não têm nem o meu cargo aqui, vou poder criar o mesmo departamento do zero. Já pensou em expandir a pesquisa para a Europa? Olha quanta possibilidade!

— Vai com calma, querida. – Kate riu da minha empolgação. – A maior parte do tempo vai continuar se reportando para a Alice.

— Não acabe com a minha alegria, Kate. Sei que vou continuar na mesma função, entretanto, nada me impede de crescer.

— Não mesmo! Estou preparando um relatório com todos os cenários da sua transferência definitiva, Bella. Pensei em todas as possibilidades, em tudo que você vai agregar para a empresa.

— Assim que sair daqui envio para você a mesma pesquisa que fiz por conta própria. Se eu soubesse o motivo de estar sendo chamada aqui antes, teria tudo aqui comigo.

— Vou entregar tudo para Alice analisar.

— Como assim, Kate? O que ela tem a ver com isso? Não é só você e seus superiores, decidirem e eu vir?

— Sim e não. Você acha que ela vai abrir mão da sua pessoa assim tão fácil? – Alguns meses atrás Alice estava me perguntando se enviava minhas coisas para cá, talvez ela me despachasse mais rápido do que Kate pensa. – Por aqui, a equipe toda está ansiosa pela sua permanência. Agora eu só preciso esfregar na cara da Alice o que ela vai perder.

— Que feio. Ciumenta.

— Um pouquinho.

— Agora, sério, você não podia ter começado o assunto sem quase me matar do coração? Eu realmente achei que teria que voltar para casa no meio do Natal!

— Desculpa. – Kate disse simplesmente, dando de ombros. – Edward vai amar o presente de Natal!

— Será?

— Se acha que ele não está caidinho por você, Bella... Acho que está prestando mais atenção aos seus passeios do que ao homem que tem do lado. Concentre-se nele e não te restarão dúvidas de que vocês dois estão loucos um pelo outro.

/--London Boy--

1 ano e 9 meses em Londres – Dezembro

Fiquei com medo de contar as novidades para Edward e receber um balde de água fria na cara. Fiz tudo com Kate de fininho, me roendo de felicidade e, ao mesmo tempo, medo.

Era dia vinte e dois de dezembro. Larguei a caneta em cima do bloco de papéis e flexionei os dedos.

— Eu espero que o novo plano de saúde cubra a tendinite depois de assinar tanto papel. – Brinquei com Kate.

— Três sessões grátis para novos contratados. – Nada mais justo. – Bella, nada de contar as novidades para Edward? – Neguei. – Você ama o Edward, não ama?

— Sim, você sabe que eu amo o meu londrino.

— Um passarinho castanho me contou que ele também te ama.

Meu coração começou a bater freneticamente. Eu estava meio atordoada com a informação sendo jogada na minha cara, mesmo ela sendo por outra pessoa.

— Passarinho castanho?

Era Garrett. Ele era mais amigo de Edward que Kate, fazia total sentido essa informação importantíssima ter vindo dele.

— Essa não é a parte mais importante da frase, Bella! Acorda!

— Eu sei, eu sei. Eu posso ir embora? Nós termi-

— Vai para casa, Bella. – Kate ria da minha cara enquanto entregava minhas coisas e me empurrava até a porta da sala dela. – Vai precisar que te coloque no elevador?

— Não. Obrigada. – Abracei-a de supetão, assustando-a. – Você tem sido uma amiga e uma chefe maravilhosa.

— Eu tento. Agora vai contar as novidades para o seu londrino.

Edward não estava na casa dele quando cheguei. Nós estávamos trabalhando por mais tempo, adiantando o máximo que podíamos para ficarmos livres para as festas de fim de ano. Ainda faltavam duas horas para o fim do expediente no banco. Tomei um banho e um chá de camomila para relaxar, mas nenhum dos dois surtiu efeito. Coloquei uma roupa mais quentinha, havia começado a nevar, e saí para buscar Edward no trabalho.

O sorriso no meu rosto era tão grande que Edward fez o caminho todo do saguão até mim com as sobrancelhas franzidas. As olheiras debaixo dos olhos dele combinavam com as minhas.

— Oi! – Abracei-o no meio da rua, as pessoas tendo que desviar para seguirem seu caminho.

— Olá! – Riu. – Bella, você está dançando.

— Estou? – Olhei para baixo, meus pés parados, mas meu quadril indo de um lado para o outro. Quando olhei de novo para ele, o sorriso dele me desnorteou. – Eu não vou embora!

— Ok? – As sobrancelhas dele estavam franzidas mais uma vez.

— Daqui, para casa, eu não vou.

Edward arregalou os olhos. Ele segurou meu rosto com as mãos e me deu um beijo rápido nos lábios.

— Eu acho que entendi o que você está tentando me contar, mas prefiro que espere nós irmos para outro lugar para repetir, ok? Quero ter certeza de que o frio não está afetando o raciocínio de nenhum dos dois.

— Não quer ir para casa? – Alisei os olhos cansados dele.

— Não, está tudo bem, vamos.

Pegamos um táxi e fomos para um Pub mais tranquilo que estávamos acostumados a ir quando queríamos conversar e comer.

Edward apertou a minha mão três vezes no banco de trás do táxi. Eu sabia que essa viagem seria longa, eu estava muito ansiosa para contar logo para ele. Estava difícil de me segurar.

— Frio? – Perguntou sentindo minha mão tremer.

— Nervoso. – Fiz uma pausa. – Empolgação.

Enquanto eu procurava uma mesa para sentar, Edward pegava bebidas e um tira gosto para a gente.

— Você ainda está agitada. – Edward comentou estendendo a minha cerveja.

— Sim! Edward, a Kate conseguiu fazer com que eu ficasse aqui! Não vou voltar para os Estados Unidos! – Soltei um pequeno grito.

— Uow! – Ele abriu um sorriso enorme. – Nossa! Bella... Isso é... Caralho, não consigo formar uma frase. – Esfregou o rosto, frustrado. – Espetacular! Fantástico! Bella... – Os olhos dele se arregalaram e ele ficou vermelho. – Você não vai embora.

— Eu não vou embora. – Mordi o lábio inferior para conter meu sorriso. Ou o choro. – Eu agora posso te perturbar por tempo indeterminado. Quer dizer, até você cansar dessa americana chata.

— Para você? Estarei disponível pelo tempo que quiser me perturbar.

Geralmente eu conseguia me controlar em público e ficar longe dele. Quem tinha fetiche por lugares públicos era Edward, mas, hoje, agora, eu precisava senti-lo perto de mim. Movi minha cadeira até estar quase grudada nele, fui prontamente recebida com um abraço. Eu não estava nada disposta a me afastar. Maldita hora que concordei em virmos para cá. Deveríamos ter ido para casa.

— Parabéns pela promoção, Bella. É uma promoção, não é?

— Sim, é! – Peguei a mão dele que estava mais próxima e segurei enquanto me explicava. – Inicialmente, eu vou continuar monitorando as coisas por aqui e enviar para a matriz, a mesma coisa. Depois temos um projeto de expandir para o resto da Europa.

— Então você vai ter que viajar bastante?

— Só se eu quiser. Não tenho muitos detalhes ainda, tem que dar certo aqui primeiro, a empresa tem que ser lançada em outros países, etc. Pode ser que alguma coisa dê errado no processo.

— Bella, eles te deixaram ficar, já deu certo. E você ainda vai trabalhar na expansão.

— Eu sei! Isso não é o máximo? Mas eu tenho que montar um departamento inteiro, e primeiro nós vamos avançar aqui.

— Depois ganhar a Europa.

— Sim! Meu Deus, Edward, eu estou tão feliz! Nunca imaginei que isso estaria acontecendo. E eu devo boa parte a você.

— A mim? O que eu tenho a ver com isso?

— Você resolveu ir naquele pub no dia do meu aniversário. E resolveu vir falar comigo. E, desde então, me adotou como seu cachorrinho para passear pelos quatro cantos de Londres. – Edward riu com a comparação, me puxando para um beijo na testa. – Se não fosse por isso, eu estaria no limbo, lamentando o tempo chuvoso até hoje. Contando cada segundo desses três meses que faltariam para eu ir embora.

— Nada disso, Bella. O mérito é seu, e somente seu. Você cruzou o oceano para trabalhar com o que ama e, mesmo não gostando nem um pouco dessa mudança, contando os dias para ir embora, se dedicou de corpo e alma ao que fazia. Eles teriam visto os seus atributos e teriam oferecido uma vaga quer eu tivesse aparecido na sua vida e te tirado do limbo, ou não. Você é uma profissional excelente, uma mulher maravilhosa e qualquer um teria visto isso. Estou orgulhoso de você.

— Obrigada. – Falei tímida.

— Eu estou feliz para caralho por você, Bella.

— Eu também! – Agarrei a cabeça dele e o beijei. – Estou tão feliz que parece que é meu aniversário de novo! Eu poderia dançar a noite inteira! Correr uma maratona! Eu estou muito excitada.

— Então nós deveríamos ter ido para casa. Ou podemos ir até o banheiro. – Edward piscou para mim.

— Mas tudo é desculpa para tentar me persuadir a transar em um lugar público. – Belisquei-o na coxa.

— Parece que eu vou ter mais tempo para isso agora. – Edward abriu um sorriso zombador.

— Os agentes da imigração vão amar seus planos para mim.

— Agentes da imigração?

— As pessoas que vão estender meu visto.

— Bella, aaaaacho que não existe tal coisa. – Edward riu.

— Não sei. – Parei para pensar nas questões burocráticas que Kate havia explicado, não conseguindo me lembrar de nada. – Não prestei atenção quando Kate explicou.

— Provavelmente é a cerveja falando por você. – Apontou para a minha caneca vazia. – Quer outra?

— Na verdade...

— Quer ir embora. – Não era uma pergunta.

— Sim!

Pedi para embalarem o que estávamos comendo enquanto Edward virava o resto da bebida.

— Última chamada para o banheiro, Bella. – Edward sacudiu as sobrancelhas.

Empurrei-o para a porta.

Naquele dia mais tarde, Alice me ligou. Eu estava sentada na cama, as costas na cabeceira, Edward dormindo com a cabeça na minha barriga enquanto eu mexia no cabelo dele. Comecei a conversar com ela no quarto, mas fui para a sala para não perturbá-lo. E porque eu precisava desabafar com a minha amiga.

— Alice... E se... E se eu ficar aqui... E se eu ficar aqui e não der certo?

— Você continua a sua vida aí e finge que Edward não existiu, ou você volta para casa e faz a mesma coisa. Você não vai ser a primeira mulher a mudar a vida por causa de um amor, e não vai ser a última. Vai doer, você vai ficar triste, mas a vida vai seguir. Você era uma pessoa antes dele, é outra com ele, e, se por acaso vierem a terminar, vai mudar de novo. Mas vai continuar a ser a Bella, e sua vida vai continuar para ser desbravada. Faz parte de quem somos, nós aprendemos, nós nos fudemos, nos adaptamos, somos pisadas, vamos mudando e mudando enquanto vivemos. A sua vida não vai acabar por causa de homem. Ela pode começar, melhorar, mudar, mas não acabar.E entenda uma coisa, Bella, você não pode começar um relacionamento pensando em um dia terminar. Aproveite intensamente, ame e seja amada. Enquanto você estiver sendo feliz, se joga. Ser feliz é o que importa na vida. Você entendeu?

— Espera eu parar de chorar. – Gemi enquanto fungava.

— Espero. — Alice riu, e continuou depois que fiquei mais algum tempo chorando. – Eu tenho mais para falar, você pretende parar de chorar em algum momento?

— Queria culpar a TPM, mas não posso. Fala de uma vez.

— Vamos lá. Parte dois. Seja sincera comigo. Você teria ficado em Londres se Edward tivesse pedido? Sem o emprego novo.

— Sim. – Suspirei. – Eu tento me enganar e dizer que não, que estaria de volta aos Estados Unidos assim que meu contrato acabasse, mas a verdade é que eu não pensaria duas vezes.

— Bella, aceita que você quer ficar aí pelo emprego, mas principalmente por causa de Edward. Não tem problema nenhum você admitir isso. Se ele estivesse te obrigando a ficar, seria outra história. Mas ele pedir, te amando, você tendo escolha, é perfeito. Olha que maravilha!

— Eu não sei se ele teria pedido para eu ficar, Alice. Eu não sei o que Edward sente por mim.

— Porque você é teimosa e não conversa com ele! — Falou brava. – Todo mundo sabe que você ama esse homem, menos ele. E daí se você disser primeiro que o ama? O não você já tem, corre atrás da humilhação. Se tem alguma dúvida de que vão ficar juntos, você precisa conversar com ele. Nada do que eu diga aqui vai te ajudar nessa questão. É com ele que vai resolver isso. Eu estou apenas te ajudando a organizar os pensamentos com base no que sei sobre vocês. Eu quero que você seja feliz com ou sem Edward, mas ele precisa saber que faz parte desse relacionamento, precisa saber o que você sente e ter o espaço para expressar o que ele sente. — Alice tomou fôlego para continuar a falar. – Você nunca pensou que Edward pode te amar também e ter medo de falar porque você vive dizendo que vai embora? Aposto que não pensou nisso. Ele é super carinhoso com você, Bella, alguma coisa ele sente, pode ter certeza.

— Eu estou me sentindo uma idiota, Alice. Eu realmente nunca pensei nele, nunca pensei nessa possibilidade. Nunca dei espaço para ele falar.

— E você está chorando de novo. Bella, seus hormônios estão bem? Vocês estão se protegendo direitinho? Você está com sono além do normal? Enjoo pela manhã?

— Eu não estou chorando porque estou grávida, Alice.

— Tem certeza?

Na ponta do corredor, um Edward amarrotado do sono me olhava com os olhos arregalados.

— Tenho certeza de que não estou grávida. – Respondi para ela, olhando para Edward parado no mesmo lugar.

— Você está muito chorosa.

— Eu estou chorosa porque sim. – Bati no sofá para Edward sentar do meu lado.

— Se você estiver grávida, o bebê nasce no seu aniversário. A não ser que você tenha feito no seu aniversário, então ele nasceria em junho. Edward é de junho, não é?

— Alice... Vou atravessar esse telefone e te dar uns tapas.

— Eu fiz você parar de chorar, não é necessário. Mas continuando, você tem um emprego dos sonhos, um homem dos seus sonhos, sai do telefone, resolve isso tudo e vai ser feliz.

Olhei para Edward para saber se ele ouvia alguma coisa que Alice falava, mas ele parecia alheio ao mundo.

— Eu estou com vergonha por ter precisado dessa conversa para esclarecer a minha vida.

— Com vergonha por ter usado uma amiga para ter conselhos sobre a sua vida amorosa? Dá um tempo, Bella! Sabe há quantos anos eu espero você ter uma vida amorosa para se enrolar e precisar de mim? Eu te amo e quero sempre o melhor para você. Estou aqui para resolver sua vida por você sempre que precisar.

— Você é idiota, mas eu também te amo. Te ligo quando resolver tudo por aqui.

— Por favor! E eu quero ser a madrinha do bebê, não deixa a Kate ser só porque ela apresentou vocês.

— Não tem bebê, Alice!

— Ainda! Beijo, te amo!

Eu desliguei o telefone e me virei para Edward do meu lado. Ele continuava no mundo dele, a cabeça apoiada para trás no encosto do sofá, aquele pescoço maravilhoso exposto, os olhos fechados.

Será que ele me amava? Será que ele teria pedido para eu ficar com ele? Alice estava certa, eu era teimosa. Todas as minhas dúvidas e inseguranças dependiam apenas de mim para sumirem.

— Edward? Você está acordado?

— Não.

— Tudo bem. – Sorri. – Continue a dormir. Eu só queria dizer que eu te amo. – Ele não se mexeu. – Eu me apaixonei por você em uma noite. Insisto que você foi o melhor presente de aniversário que tive na vida.

— Eu te amo desde que você abriu seu sorriso americano para mim e agradeceu por eu ter te desejado parabéns. – Sussurrou.

Eu sabia que ele não estava dormindo, mas me assustei ao ouvir a voz dele e meu coração disparou. Juntando isso ao que ele falou, meu coração estava mais agitado do que nunca. Não sei como não tive uma síncope e caí dura no chão.

— Deixa de ser ridículo e olha para mim. – Pedi cutucando-o na bochecha.

Edward girou a cabeça para o lado e abriu os olhos.

— Você vai se lembrar dessa conversa amanhã? – Perguntei vendo os olhos dele quase se fecharem de sono.

— Se vou esquecer que eu te amo? Não mesmo. – Ele tateou até achar a minha mão, a levou aos lábios e beijou. – E também não vou esquecer que você me ama.

Eu queria gritar de felicidade, agarrar Edward e enche-lo de beijos.

— Amanhã vou acordar achando que foi um sonho. – Apertei a mão dele.

— Eu amo como você sempre encontra as minhas mãos e as agarra quando está muito feliz com alguma coisa. – Falou olhando para as nossas mãos e dando um aperto.

— Você também faz quase isso.

— Acabei de reparar. – Sussurrou como se estivesse sem forças.

— Vem, – Levantei e puxei-o para cima. – vou te colocar para dormir.

Edward estava tão lento que eu tive que ajeitá-lo na cama e cobri-lo.

— Desculpa não estar no completo controle das minhas funções no momento. – Falou sério.

— Não precisa pedir desculpas por estar com sono, Edward.

— Eu juro que não vou esquecer nada disso amanhã. – Continuou.

— Eu sei. – Fiz carinho na cabeça dele. – Agora descansa. Boa noite.

— Boa noite, Bella.

///////

Comecei a sentir alguma coisa passear pela minha barriga, pela minha cintura, descer pela minha perna. Ao mesmo tempo, senti uma leve pressão na minha cabeça, no meu pescoço, no meu ombro.

— Bella?

— Hmm?

— Seu despertador tocou, você não vai acordar?

— Não mesmo. Esqueci de desativar. Desliga para mim.

— Feito. Vai voltar a dormir?

— Vou.

— Ok. Eu te amo. Eu não esqueci.

— Eu sei. – Sorri e dormi de novo.

Levantei pouco tempo depois de ele ter me acordado e o encontrei sentado na cama ao meu lado, os fones no ouvido, mais do que disposto a continuar o passeio que as mãos e os lábios dele faziam ao meu corpo. Diferente das outras vezes, nenhum dos dois precisou se segurar para não soltar um 'eu te amo' sem querer. Foi uma experiência incrível.

Edward dormia pesadamente no sofá quando saí para comprar nosso almoço. Precisei acorda-ló quando voltei e descobri que minha chave não estava na bolsa. Apertei a campainha por dez minutos e liguei repetidas vezes para o telefone até ser ouvida.

— Edward... Eu te amo, não briga comigo, eu perdi a chave de casa.

— Eu percebi. – Soltou uma risada pelo nariz. – Não tem problema. – Ele beijou a minha testa. – Quer ajuda para procurar?

— Nah. – Tirei a roupa que usava e coloquei novamente o pijama, jogado em uma poltrona, Edward observando com muita atenção. – Volte a hibernar que eu procuro.

— Minha cabeça está doendo de tanto dormir, vou ficar por aqui mesmo. Quer ajuda com alguma coisa? A roupa? A comida?

— Não, obrigada. Sua dor pode ser fome, vamos comer. – Empurrei-o para a cozinha. – Quer remédio ou comida?

— Comida.

— Então senta que eu te sirvo. Depois eu procuro a chave.

— Bella, não precisa me servir. – Eu já estava servindo.

— Preciso sim, é para você aprender e fazer o mesmo por mim quando a minha cabeça doer. – Pisquei para ele.

— Justo.

— E não brigar comigo pela chave.

— Bella, não vou brigar com você pela chave. – Edward alisou minha perna, subindo até entrar pelo short do pijama. – Esquece isso.

— Se não tirar a mão daí, vou esquecer até de comer.

— Senta aí logo, então.

— Só porque pediu com delicadeza.

///////

Decidimos que havíamos dormido o suficiente e acabamos indo para a casa dos tios de Edward no dia vinte e cinco. Passei a viagem quase toda conversando com Alice no telefone. Quando Edward parou o carro, eu estava cabisbaixa, com saudade da minha amiga. Ele não se mexeu para sair, deixou o som ligado e tirou o cinto de segurança.

— Posso dar a volta com o carro e voltamos para casa, se você quiser. – Edward falou depois de um tempo.

Abri um sorriso.

— Não, eu quero ver seus pais. – Ele esticou a mão para que eu a pegasse. – Me dá só um tempinho.

— Quer que eu saia?

— Não, fica aqui comigo.

Ficamos ali, ouvindo a chuva bater no teto, até eu ter certeza que não ia chorar no colo de Esme. Acabamos fazendo planos para uma viagem aos Estados Unidos assim que as festas de fim de ano acabassem. Eu ia começar o emprego novo pedindo folga, ótimo.

O acolhimento da família de Edward depois que nos juntamos a todos me deixou novamente na borda de chorar. Se de um lado eu estava sendo recebida como se fosse da família, no outro Rosalie parecia querer me jogar na lareira acessa. Eu a jogaria primeiro.

Deixei Edward conversando com alguém na sala e fui para a cozinha ajudar com o que quer que tivesse para ajudar. Acabei fuçando a dispensa alheia e encontrando ingredientes para fazer biscoito. Eu estava apoiada na bancada, olhando para o forno quando Edward apareceu.

— Ei. – Tocou o meu cotovelo. – Por que você está escondida na cozinha? Emmett vai distribuir os presentes.

— Estou com saudade de casa. – Falei meia verdade. – Vim sentir o cheiro dos biscoitos que eu fazia em casa.

— Você fez os biscoitos?

— Sim.

Edward farejou o ar igual a um cachorro.

— Inferno, Bella, se o gosto for tão bom quanto o cheiro... Por que você nunca fez biscoito em casa?

— São para o Natal.

— Se o seu aniversário pode ser todo dia, o Natal também.

— E, por acaso, o meu aniversário é todo dia?

— Se você fizer esses biscoitos... – Ele se aproximou para me beijar, mas antes que conseguisse uma voz mal humorada interrompeu.

— Edward, você está ocupado, ou tem tempo para vir abrir os presentes na sala com a sua família?

— Estou ocupado, Rose. – Ele respondeu sorrindo para mim, sem notar o tom dela.

— Você pode engolir a cara dela depois, sua família está esperando na sala.

Qual era o problema dessa mulher comigo?

Desencostei da bancada e fiz Edward dar um passo para trás.

— Vai lá abrir os presentes com eles. Eu guardo um biscoito para você.

— Você não vem?

— Deixa ela aí fazendo os biscoitos, vamos logo.

— Rosalie... Chega. Eu já vou para a sala, podem começar sem mim.

— Depois não vem reclamar comigo. – Ela saiu resmungando da cozinha.

— Inferno. Desculpa, Bella. A Rose, ela...

— Me odeia.

— Você percebeu?

— Que ela quer me matar com os olhos desde o seu aniversário? Não. Eu só não sei o motivo. E sei que não falei ou fiz algo para tê-la ofendido, as adagas voavam em minha direção quando passei pela porta da casa dos seus pais, sem eu ter tido tempo de abrir a minha boca ou piscar.

— Eu não sabia que ela tinha demonstrado para você como ela se sentia.

— Infelizmente, sim. Qual é o problema dela, afinal? Explica por que eu não devo empurrá-la na lareira primeiro e fingir que foi um acidente.

— Ela é muito protetora da família. Como sou mais novo, e mais pacífico, ela sempre me defendeu de tudo e de todos.

— E ela quer te defender de mim. Ela acha que eu vou te sequestrar? Levar para os Estados Unidos e arrancar seus órgãos?

— Não, não é isso. – Edward riu. – Mas ela acha que você vai me fazer sofrer, vai embora e me deixar de coração partido. Acha que vou me entregar para o álcool e virar um amargurado com a vida.

— Edward, sua prima tem problemas. Ela precisa me tratar dessa maneira só por causa disso?

— Desculpa, Bella, eu juro que não sabia que Rose estava fazendo isso com você. Ela conversou comigo e eu pedi para que se metesse com a própria vida, acho que não gostou que fui contra ela e descontou em você.

— Edward, quem precisaria pedir desculpas por alguma coisa seria Rosalie, não você. Mas, sinceramente, não quero me meter com a neurose dela. Eu não devo nada a sua prima, nem você deve a mim. E nem a ela, acho. Enfim, deixa quieto. – Fiquei na ponta dos pés e passei os braços em volta do pescoço dele. Edward envolveu minha cintura e me puxou para si. – Uma hora ela vai ver que eu amo o meu londrino e não consigo ficar longe dele.

— Eu te amo também, minha Rainha Americana. – E me beijou. Ignorei o comentário sobre a Rainha que Alice adivinhou que viria. – Esses biscoitos vão demorar a ficar prontos?

— Merda! Esqueci!

Depois de salvarmos a fornada de ser queimada, finalmente fomos para a sala. Assisti todo mundo ganhar seus presentes não esperando que Emmett fosse chamar meu nome. Edward pegou a caixa da mão dele estendeu para mim.

— Feliz Natal, Bella. – Ele me beijou na testa.

O headfone que ele cobiçou por tanto tempo tinha ficado em casa, junto com o box de livros de edição inglesa que eu namorava fazia anos dos Estados Unidos e ele comprou para mim. Se eu soubesse que ele ia me dar presente aqui também, teria embrulhado o fone de novo ou esperaria para dar aqui.

Abri a pequena caixa preta, encontrando um chaveiro com 'Eu coração Londres'. Quando eu puxei o objeto para perguntar se ele estava implicando comigo por ter perdido as chaves do apartamento, várias peças de metal vieram junto na minha mão.

— As chaves! Você achou e não me avisou. Me deixou procurando pela casa igual a uma louca.

— Elas nunca sumiram, eu peguei na sua bolsa. – Falou com o sorriso mais descarado possível.

— Você é ridículo, Edward Cullen! – Dei um soco no ombro dele. – Por que fez isso?

— Um passarinho preto me contou uma coisa muito interessante no telefone.

— Eu não estou grávida! – Belisquei-o no braço.

Alice ainda me enviava mensagem perguntando se eu havia parado de chorar, se sentira algum enjoo... Depois do susto inicial, Edward entendeu que eu não estava grávida, e, então, passou a participar das piadas com Alice. Era o jeito, irritante, deles de me distrair de ficar triste no Natal.

— Ai! – Edward esfregou o braço. – Eu sei, eu sei. Ele disse que você precisa entregar o apartamento até dia trinta e um de dezembro. – Fiz que sim com a cabeça, meus olhos arregalados de susto por só agora lembrar dessa informação. – Então eu pensei: é uma ótima forma de passar vergonha na frente da minha família e pedir para Bella vir morar comigo.

— Sério? – Guinchei. – Você quer dividir o espaço dos seus preciosos CDs com os meus livros embolorados?

— Praticamente todos os seus livros embolorados estão na minha casa, nós estamos coabitando muito bem. Só falta você.

— Inferno, Edward! – Joguei-me nele e o abracei.

— Isso é um sim?

— Claro! – Pelo canto do olho eu vi Rosalie com uma sobrancelha levantava, intrigada pelo que estava acontecendo. – Melhor do que ficar em Londres, é ficar em Londres com você! Mas tem uma condição.

— Qual?

— Tem que ser meu aniversário todo dia.

— Só isso? – Edward riu, pegando a minha mão e apertando.

— Sim. – Ergui uma sobrancelha para ele. – E aí?

Edward beijou minha mão antes de colocá-la em seu pescoço e me puxar para si.

— Todo dia vai ser seu aniversário, meu aniversário, Natal, dia do livro... Não, dia do livro não. Qualquer outro dia que a gente quiser que seja. O que acha?

— Sem o dia do livro vai ser meio complicado... – Suspirei.

— Deixa de ser ridícula, Bella. – Edward apertou a minha cintura.

— Com certeza eu aceito morar com você, Edward. Eu te amo. – Agarrei a cabeça dele e o beijei.

— Eu também te amo, Bella.

/--FIM—-


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Notas finais do capítulo

Sempre enrolei para escrever uma história baseada em alguma música da Taylor, por isso, agradeço as meninas que criaram o projeto para eu me obrigar a fazer. Prazos são um ótimo incentivo!

Espero que tenham gostado! Fiquei em pânico por alguns dias tentando entender como colocaria o tema 'aniversário' em uma música que é, basicamente, um passeio por Londres. Acho que foi!

Não posso deixar de agradecer minha amada (não)índia Janize pela paciência de ler minhas baboseiras.

Até a próxima!

AH, leiam as histórias das outras meninas e comentem!