The Last Christmas escrita por deboradb


Capítulo 5
Capítulo 5




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— E então doutor, o quão grave é o estado do meu filho? — perguntou Evelyn tentando conter as lágrimas que a todo custo banhavam suas bochechas.

— Bom... Desde a última vez em que Peeta esteve aqui, seus exames mostraram que o seu aneurisma já havia se agravado bastante, e com isso os riscos de ele se romper foram de 60%... para 90%... — ele encarou cada um presente naquela sala, todos agoniados e com expressões de tristeza, ansiando por boas notícias da qual ele não possuía — O que Peeta teve é conhecido como hemorragia subaracnóidea. Esse sangramento irrita as artérias e pode causar vários estrangulamentos vasculares, conhecidos por vasoespasmos. Isso faz com que o paciente fique sem irrigação em um setor do cérebro, provocando inchaço cerebral e falta de circulação. — Haymitch soltou um longo e pesado suspiro antes de prosseguir — Em outras palavras... o aneurisma do Peeta se rompeu. — concluiu.

Katniss, que até então tentava segurar suas lágrimas, simplesmente desabou nos braços de Finnick, sentindo seu coração ser comprimido em seu peito, como se alguém o estivesse esmagando com as próprias mãos. Já Evelyn, por outro lado, tinha o seu choro abafado pela camisa de James que se via completamente estático, incrédulo e sem chão.

— Quanto... Quanto tempo ele ainda tem? — quem perguntou foi Cato, sua voz saindo tremula devido à emoção.

— Não muito. — aquelas palavras foram como facas acertando em cheio o coração de cada um ali presente — Eu aconselharia vocês a se despedirem agora, os próximos minutos podem ser os últimos dele. — Haymitch avisou antes de deixar a sala, sentindo-se extremamente mal com tudo aquilo.

E então eles foram, um a um, caminhando em direção à sala onde o loiro se encontrava internado. Evelyn e James foram os primeiros a entrarem no quarto, vendo Peeta sobre aquela cama com os olhos fechados, a pele pálida e com inúmeros fios ligados ao seu corpo. E aquela imagem fora a responsável por acabar com qualquer resquício de alto controle que Evelyn poderia ter. Era torturante ver seu filho naquele estado, preso na pequena linha tênue entre a vida e a morte. James a abraçou pelos os ombros, impedindo que a mesma fosse de encontro ao chão antes de guiarem seus passos até Peeta. Era surreal a forma como o tempo passava tão rápido, em como pessoas entravam e saiam constantemente de nossas vidas. Era tudo tão delicado, semelhando-se a aquela florzinha do mato chamada de dente-de-leão. Bastava um soprinho à toa, em qualquer direção, e tudo se desmanchava. Por isso nunca deveríamos perder a oportunidade de dizer para aqueles que amamos o quanto significavam para nós, pois em um único segundo tudo poderia mudar, e então ser tarde demais.

— Hey, campeão... — James sentou-se ao lado de Peeta e apertou levemente a mão do loiro, porém o mesmo permaneceu inerte sobre a cama — Estamos todos aqui, filho... e nós te amamos muito... — sua voz saiu embargada — Você mandou muito bem, campeão; e eu quero que saiba que, você sempre estará conosco, em cada recordação de cada momento que passos juntos ao longo desses 18 anos... — sorriu de forma melancólica — Eu não prometo uma vida sem lágrimas, porque haverá momentos em que a saudade será tanta que simplesmente escorrerá por nossos olhos. Mas eu prometo que continuaremos vivendo, por você, sempre. — ele beijou a bochecha de Peeta, sentindo na pele aquela dor tão dilacerante que era ter que dizer adeus ao próprio filho.

— Nós não queremos perder você, meu amor... — Evelyn acariciou os fios loiros de Peeta com delicadeza, do mesmo jeito que fazia quando ele era somente um bebê — Mas sabemos que partir não é uma escolha sua, porque se fosse, tenho absoluta certeza de que você escolheria ficar. — fungou — Você foi a melhor coisa que nos aconteceu. Foi o presente mais lindo e gracioso que a vida poderia nos dar. Você mudou a nossa forma de pensar, a nossa forma de agir e colocou em nossos sonhos os seus sonhos também. — sorriu em meio às lágrimas e James a abraçou — Eu quero que saiba que, você foi e sempre será a melhor parte de nós, filho. — ela beijou de forma demorada a testa de Peeta — Nós te amamos querido, e jamais nos esquecemos de você.

E então eles saíram do quarto, tristes e quebrados após o terrível adeus. As lágrimas grudadas nos olhos, a cada instante forçando o caminho por seus rostos. Com a melancolia apertando o peito. Com a saudade rasgando ambos os corações, mas ainda sim, com a promessa de serem felizes. Se despedir era uma tarefa realmente difícil, às vezes até impossível. Mas o adeus seria sempre algo provisório, pois a presença daqueles que amamos sempre seria eterna em nossos corações.

— O que nós iremos fazer sem você, cara? — perguntou Cato ao adentrar o quarto e dar de cara com o amigo desacordado sobre aquela cama, sua voz saindo carregada de angústia e tristeza.

— Foram tantas as lembranças, tantas as brincadeiras, tantos momentos bons da nossa infância que deixarão saudades... — Finnick suspirou e repousou a mão sobre o ombro do amigo — Você foi especial de tal forma que, deixará até mesmo o pôr do sol sentindo a sua falta. — os olhos verdes do loiro se tornaram marejados, e naquele momento Cato apenas lhe deu as costas e começou a se afastar com o rosto banhado pelas lágrimas — Cato? — chamou um pouco confuso com a atitude do amigo.

— Desculpa cara, mas eu não consigo me despedir. — falou sem olhá-lo — Eu achei que poderia lidar com isso, mas dizer adeus para quem à gente ama é doloroso demais...

— Então não encare isso cosmo um adeus. Encare apenas como um até logo. — argumentou.

— Eu... — balançou a cabeça negativamente — Não dá... E-Eu sinto muito. — e então ele saiu, sentindo o coração ser comprimido no peito pela angústia. Cato não estava preparado para dizer adeus ao seu melhor amigo, e talvez nunca estivesse. Finnick suspirou profundamente e voltou seus olhos para Peeta.

— Obrigada por tudo, cara. Você foi o melhor amigo e irmão que poderíamos ter. — sorriu emocionado — E não se preocupe, eu prometo cuidar da Katniss, sempre. Nunca deixarei que nada de mal aconteça a ela. — afagou os cabelos de Peeta enquanto as lágrimas faziam caminho por suas bochechas, indo de encontro ao colchão — Dizer-lhe adeus é doloroso demais, mas me consola saber que para sempre terei nossas lembranças para reviver na memória... Até a próxima, amigo. — disse, e aquelas palavras saíram tão amargas de seus lábios quanto o ferro.

Após a saída abalada de Finnick do quarto, Katniss respirou fundo e finalmente entrou. A morena sentia suas pernas fraquejarem devido ao compilado de sentimentos que a embalava naquele momento, por isso foi necessário que a mesma se apoiasse na porta para não ir de encontro ao chão. Com o coração acelerado e um pouco relutante, Katniss enfim ergueu o olhar e encarou Peeta. A visão do loiro deitado sobre aquela cama, com inúmeros fios e tubos ligados ao seu corpo enquanto seus olhos encontravam-se fechados, fez com que os pulmões da morena simplesmente parassem de bombear o ar, tornando a simples tarefa que era respirara quase impossível.

Com passos incertos e cambaleantes, Katniss se aproximou até estar parada ao lado de Peeta. Com a mão um pouco tremula ela tocou-lhe o rosto, rememorando os traços tão bem desenhados do loiro. Ele, por outro lado, permaneceu inerte, sem mover um único músculo. Aos poucos o corpo da morena começou a tremer devido ao choro e ela levou as mãos até a boca, com o intuito de abafar os soluços. Já sem forças nem mesmo para permanecer de pé, Katniss sentou-se na cama ao lado de Peeta e segurou em sua mão, notando que a pele do loiro estava pálida e fria.

— Oi, amor... — suas palavras não passaram de um sussurro — Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui com você, sempre. — ela inclinou o corpo um pouco para frente e colou seus lábios nos de Peeta, em um breve, porém significativo selinho.

— É sempre bom acordar assim. — a voz um pouco falha e extremamente rouca do loiro ecoou pelo quarto, fazendo os olhos de Katniss se arregalarem levemente. — Oi. — ele sorriu para a morena após abrir os olhos, tendo sua visão levemente distorcida por alguns segundos antes de enfim acostumar-se com a claridade.

— Oi. — ela sorriu mais abertamente e enxugou os resquícios de lágrimas em suas bochechas — Como você se sente?

— Dolorido, mas respirando. — brincou, tentando ajeitar-se sobre a cama, porém a dor em sua cabeça o impediu.

— Shh... Fica quietinho, não faça esforço. — pediu preocupada.

— Eu só queria dar espaço para você deitar aqui ao meu lado. — ele se moveu com mais cuidado desta vez — Vem. — abriu os braços e Katniss não pensou duas vezes antes de se deitar ao lado do amado, repousando a cabeça em seu peito, tendo o prazer de ouvir o som ritmado de seu coração. Ambos ficaram ali abraços e em completo silêncio por incontáveis minutos, apenas apreciando a sensação de estarem na companhia um do outro, até o momento em que Katniss resolveu quebrar o silêncio.

— Você sabia, não era? — questionou com a voz embargada — Sabia que hoje era o seu último dia.

— Sim, eu sabia. — Peeta soltou um suspiro pesado e a morena ergueu o rosto para poder encará-lo — Não sei bem ao certo como, mas de alguma forma eu sabia.

— E por que não me contou? — voltou a questionar, sentindo os olhos arderem mais uma vez por conta das lágrimas.

— Porque eu não queria que você sofresse. — respondeu acariciando as bochechas rosadas da morena. Naquele momento Peeta descobrira o quanto odiava ver Katniss chorando, ainda mais por sua causa.

— Eu já estou sofrendo, Peeta... — um bolo se formou em sua garganta — E eu não quero ter que me despedir de você, por isso, apenas lhe agradeço por ter feito parte da minha vida.

— Nossa despedida nunca acontecerá, meu amor. Duas almas não podem ser separadas, jamais! — ele sorriu e a olhou profundamente — E eu tenho uma solução perfeita para isso.

— Ah, é? E qual solução seria essa? — perguntou; perdida no pequeno oceano que eram os olhos de Peeta.

— Em uma outra vida, eu voltarei como outra pessoa. Talvez um roqueiro maluco que se joga na plateia a cada final de show...

— E eu estarei lá, te assistindo. — completou, sorrindo-lhe de modo genuíno, porém melancólico — E será amor à primeira vista.

— E será amor à primeira vista. — o loiro repetiu, vendo a imagem de Katniss se tornar embaçada conforme a dor em sua cabeça aumentava.

Estava perto. Muito perto.

— Nossa história pode não ter sido para sempre, mas foi incrível enquanto durou. E eu quero que saiba que, mesmo que eu pudesse, não mudaria nada. Não desistiria de um segundo sequer do nosso pequeno infinito juntos. — a morena declarou em meio às lágrimas, o coração se tornando cada vez mais apertado em seu peito.

— Eu também não, meu amor. — Peeta colou suas testas, sentindo as próprias lágrimas se encontrarem com as de Katniss no final de suas bochechas — Sabe? Quando eu descobri sobre a minha doença, eu passei a desejar mais tempo do que provavelmente teria. Mas então você apareceu e me deu a eternidade dentro dos nossos meros dias numerados, me mostrando que o valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas sim na intensidade com que elas acontecem, e não sabe o quanto sou grato a você por isso, Katniss. Eu te amo, e esse amor eu levarei comigo para muito além da vida. — declarou igualmente emocionado.

— Eu também te amo, loirinho. Sempre e para sempre.

E então eles se beijaram. Se beijaram com todo o amor, intensidade, afeto e carinho que sentiam um pelo outro. Tendo o gosto salgado de suas lágrimas se misturando ao beijo, o último beijo. Seus corações estavam acelerados, seus pulmões reclamavam por ar, mas eles não pararam, não enquanto não houvessem saboreado e aproveitado cada gota daquele último toque tão significativo e singelo. Mas quando a necessidade por ar se tornou realmente necessária, eles foram obrigados a se separarem, entretanto, suas testas permaneceram coladas enquanto seus olhos estavam igualmente hipnotizados um pelo outro. O azul no cinza. O mar e a tempestade. O desastre e a beleza. E foi ali, naquele exato momento onde Peeta sentiu aquela estanha sensação novamente, aquela leveza, como se o seu corpo não fosse seu; só que agora com muito mais intensidade. Era como se o seu corpo, ou melhor, sua alma estivesse sendo puxada por uma força muito maior. E então ele soube. Sua hora havia enfim chegado.

— Foi um imenso prazer conhecer você, Srta. Everdeen. — o loiro sorriu com os olhos marejados.

— O prazer foi todo meu, Sr. Mellark. — devolveu Katniss com um sorriso triste, sentindo o vazio tomar conta de seu coração. E então ela apenas ficou observando a forma lenta e preguiçosa com que os olhos de Peeta foram se fechando, as batidas de seu coração parando, e a sua respiração cessando. Era como se ele estivesse caindo no sono, de forma aconchegante e silenciosa, só que desta vez para nunca mais acordar.

Quando o bip da máquina ao seu lado se tornou ensurdecedor e continuo, ela soube o que havia acontecido. Aquele havia sido o primeiro e último natal que ela passara ao lado dele. Havia sido o último “eu te amo” proferido por ele. Havia sido o seu último suspiro, o último sorriso, a última vez em que ela tivera o prazer de admirar os olhos extraordinariamente azuis que o loiro possuía. A última vez em que ela ouvira a melodia doce e aveludada de sua voz. A última vez em que ela sentira a maciez dos lábios dele sobre os seus... Não havia adeus mais difícil do que aquele que sabíamos que seria para sempre, entretanto, mesmo que a despedida houvesse causando tanta dor, ela não diminuía as alegrias que haviam sido vividas até a hora do adeus. E ali, naquela manhã fria de 26 de dezembro de 2014, Peeta Mellark fora levado pelos braços da morte.

Momentos. Nossa vida é um conjunto de momentos, e cada um deles é uma jornada para o fim. Amar, desapegar, sofrer, se apaixonar... A vida não espera você parar para se lamentar das coisas que deram errado, muito pelo contrario, ela continuava mesmo com a sua ausência, por isso você deve viver a cada momento, amar a cada minuto. Como Peeta, que havia partido e deixado para trás muitas lágrimas, mas também um legado de ensinamentos e de muitos sorrisos. E fazendo jus a sua promessa, Katniss não permitiu que ele fosse esquecido. Ela fez questão de por o nome dele em cada canto do mundo, assim como ele havia feito questão de lhe deixar o presente mais precioso e extraordinário de todos. O pequeno serzinho que crescia firme e forte em seu ventre. A morte havia deixado uma dor que ninguém poderia curar, mas o amor havia deixado memórias que ninguém jamais poderia apagar.

“Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós.”

— Amado Nervo.


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