III

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{you think I don't see who you really are}

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A risada ecoava alta pelo cômodo. Aquele quarto secreto, tão bem escondido em um corredor no sétimo andar, era o único lugar de Hogwarts no qual as duas não precisavam sussurrar. Narcisa Black e Rita Skeeter não planejaram que aquilo acontecesse. Não planejaram que seus destinos e corpos fossem se entrelaçar de forma tão inusitada.

Primeiro se despiram de seus segredos, mesmo que ambas soubesse que aquela era uma péssima ideia. Skeeter ainda era uma fofoqueira ardilosa que faria qualquer coisa para sobreviver. Black ainda era uma perigosa princesa de sangue-puro que andava na companhia de temíveis Comensais da Morte. Em seus âmagos, no entanto, ainda era duas meninas solitárias e confusas.

Narcisa se afogava diariamente em um mar negro. As escolhas e expectativas de sua família repousando em seus ombros finos com mais força a cada dia. Seus pais não tinham filhos homens. A sanidade de Bellatrix se dissipava diariamente, enquanto sua rebeldia e violência a tornavam incontroláveis demais para uma mulher. E Andrômeda caminhava na beira de um precipício, flertando de forma imprudente com a ruína e o perigo. A caçula amava as irmãs, mas as via como eram: desgraças destinadas a destruir o legado daquela dinastia.

O primo Sirius era tão ruim quanto. Talvez pior. Já Regulus nunca havia tropeçado no caminho da grandeza, embora a garota soubesse que iria. Havia uma fraqueza nos olhos dele que ninguém mais parecia perceber. Narcisa, entretanto, percebia tudo e, mesmo aos 17 anos, sabia que era a única esperança dos Black. A única que faria os sacrifícios que fossem necessários. A única que, diante a tanta incompetência, precisava ser perfeita.

Rita, por sua vez, não tinha laços sanguíneos ao qual se amarrar. Sua única família era a avó que, a menina sabia, não viveria por muito mais tempo. Ela estava a um passo de ficar sozinha no mundo, sem ninguém para cuidar dela e sem um centavo no bolso. Seu querido pai havia se assegurado de levar os Skeeter à falência, antes de encontrar seu caminho para a morte, daquela forma que homens estúpidos, violentos e bêbados sempre acabavam encontrando. Sua mãe desistira de tudo aquilo anos antes, se lançando voluntariamente nos braços da morte, mas não sem antes ensinar a única filha que por trás de toda bela fachada havia um telhado de vidro. Dessa forma, não restava nada à garota além de lançar pedras e fazer com que o vidro estilhaçasse da forma que lhe fosse mais lucrativa.

E então Narcisa e Rita se esbarraram. Os segredos se foram e quando já estavam totalmente nuas, as roupas também. Era para ser apenas um experimento. Não tinham interesse verdadeiro uma na outra. Queriam somente saber como era estar com outra mulher. Como era a sensação que sempre imaginaram, sonharam e desejaram. E, por um tempo, fora apenas aquilo: um experimento. Até que deixara de ser.

Porque as muralhas entre elas já não existiam e as duas se enxergavam por inteiro. Todo bom e todo mal. Porque entre aquelas paredes não precisavam fingir. Não havia mentiras ou segredos. Apenas verdades dolorosas, conversas longas sobre passado, presente e futuro, fofocas venenosas sobre qualquer um que não elas e risadas. Muitas risadas. Havia afeto genuíno e inusitado. E, contrariando todas as expectativas, havia amor.