Marcus estava exposto, pendurado, todo ensanguentado, quase morto. Seria melhor se estivesse morto. Era o retrato do que a Capital era capaz com pessoas dos Distritos que desrespeitassem suas regras, que tentassem passar por cima de seus ideais. Aqueles que tentavam apenas sobreviver.

Sejanus sentiu seu estômago revirar, estava enjoado e empasmado. Haviam o torturado de todas as formas, violência física não parecia ser a única usada. O pior era que tinham-no deixado com vida, a barbaridade se mostrando em um nível extremo.

― Monstros! – ele gritou e atirou uma das cadeiras na tela. A TV se rachou bem no rosto de Marcus.

Ele saiu, não queria o olhar morrer, não dessa maneira, não dá forma mais brutal possível. Sabia que iria morrer, ou de exaustão, ou por um Tributo. Imaginou-o implorando para que o matasse de uma vez. Seus olhos encheram-se de água. Seu coração partiu-se em pedaços.

Seu amigo de escola ressurgiu em suas lembranças. O garoto introspectivo, grande e que se mostrou só pra ele. Lembrou-se de uma conversa.

― Quando crescer quero ser professor.

Sejanus o olhou confuso. Nunca imaginou que seu amigo de oito anos quisesse seguir carreira escolar.

― Quero ser professor para ficar marcado na vida das pessoas, ensinar o que é verdade. Quero ser rebelde.

Com “ser rebelde” Sejanus entendia que era tudo aquilo que o pai odiava e queria eliminar.

Naquela época não sabia, mas Marcus ficaria intrincado em sua vida para sempre. Como um melhor amigo, o garoto da neve, o que gostava de sanduíches de rosbife, que oferecia chicletes como pedidos de desculpas ou agradecimentos. Ficaria marcado como o Tributo do qual era responsável e que morreu da pior maneira que um ser humano poderia morrer. Exposto como rebelde. Um rebelde que só queria o direito de viver.