Copos que andam escrita por Aniverse


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Relou gentem.
Mais uma ficzinha para o @Aniverse.
Dessa vez com um tema mais "pesadinho".



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Em meio ao breu de seu quarto, uma jovem segurava um boneco de palha azul-escuro em sua mão. Seu corpo tremia devido à raiva que sentia. 

— Maldita! Não deixarei que fique impune depois de tudo o que fez... — sussurrou, enquanto puxava o laço vermelho do boneco, que se desmanchou e desapareceu no ar. Em seguida, ela ouviu uma voz dizer:

 Eu ouço e executo sua vingança. 

A menina de cabelos escuros deixou-se cair de joelhos sobre o piso, enquanto grossas lágrimas escorriam de seus olhos, em um claro sinal de alívio. Naquele instante, lembrou-se de tudo o que viveu até aquele momento.

[...]

—Início do ano letivo.-

Aiaka levantou-se mais cedo do que costumava e arrumou-se para o primeiro dia de aula no ensino médio. Depois de pronta, pegou suas coisas e foi até à escola.  Ao mesmo tempo que ela estava empolgada para conhecer seus novos colegas, também estava um pouco receosa, porque sempre foi bastante tímida. Às vezes, as pessoas se aproveitavam ou debochavam dela por causa disso.

Após alguns dias de aula, sua atenção foi direcionada à três meninas do segundo ano que eram bastante populares. Para se sentir enturmada na escola, ela decidiu tentar se aproximar delas. De início, ela foi ignorada, no entanto, após muita insistência, ela foi finalmente aceita no grupo. O que Aiaka não imaginava era que sua insistência em se aproximar daquelas  garotas lhe custaria um alto preço.

 Uma semana após ser aceita pelo grupo, as três garotas chamaram Aiaka para um velho galpão abandonado e mesmo receosa, ela decidiu se encontrar com elas. Ao chegar no local, o grupo sentou-se em volta de uma mesa. No centro desta, havia uma folha com todas as letras do alfabeto e no meio do papel, havia as palavras "sim" e "não" escritas. 

— Estão prontas? — a menina com cabelos curtos e azuis perguntou para as demais, enquanto colocava um copo transparente com a boca virada para baixo no centro do papel. 

— E-eu não sei!!! — Aiaka respondeu, temerosa.

— Ora, deixe de ser medrosa!!! — uma loira desdenhou.

— Mas pode ser perigoso mexer com isso. — a menina respondeu. 

— Não é perigoso não, eu já fiz isso várias vezes. — a azulada disse. — E outra, eu jamais colocaria a vida de vocês em risco. 

— Isso mesmo!!! — a última das meninas resolveu se pronunciar. Esta tinha os cabelos ruivos. 

— Tá bom! Vamos fazer isso logo. — Aiaka, mesmo com medo, resolveu fazer o que as amigas queriam. Pelo menos, ela acreditava que as três eram suas amigas. 

— Assim que se fala!!! — a azulada afirmou. — Agora segurem no copo, fechem os olhos, peçam proteção e que a entidade se manifeste. 

As três fizeram como a jovem havia pedido. Fecharam seus olhos, se concentraram e não demorou para que o objeto começasse a se mover.

— Deu certo!! — a loira falou, animada. 

— Agora vamos fazer nossas perguntas. — a ruiva complementou.

Aiaka estava receosa, porém acabou por se soltar e começou a fazer perguntas, que eram respondidas prontamente. As quatro jovens ficaram por mais um tempo usufruindo daquela brincadeira e a encerraram apenas quando sentiram-se satisfeitas.

— Agora, temos que quebrar o copo e queimar o papel. — a menina de cabelos azuis falou, enquanto pegava o isqueiro. 

A ruiva foi até a parte de fora e jogou o copo contra uma parede e ele se partiu em vários pedacinhos. Em seguida, elas se despediram e cada uma foi para sua casa. Porém, o que elas não sabiam, era que mexer com essa "brincadeira", que elas consideraram tão inofensiva, poderia trazer graves consequências e  Aiaka pagaria um alto preço por não ter seguido sua intuição em não participar daquilo.

Quando chegou em casa, Aiaka foi direto para seu quarto, pois já estava tarde e queria descansar. No dia seguinte, ela teria aula cedo da manhã e não queria se atrasar. Como estava cansada, não demorou para adormecer, mas no meio da noite, um barulho insistente fez com que ela despertasse. 

— Que barulho é esse? — sussurrou, ainda sonolenta. 

Por um momento, achou que o som poderia ter sido fruto de seu estado de dormência, porém este manteve-se insistente, o que fez com que ela se levantasse para averiguar o motivo do barulho. Ela sentou-se sobre a cama, acendeu a luz do abajur e quando olhou para o lado, seu coração acelerou. Ela jurou ter visto alguém sentado na poltrona de seu quarto, quando olhou de relance. Entretanto, quando ela virou o rosto novamente, não havia mais ninguém ali. 

— Que susto! — falou ao levar a mão até o peito — Devo ter ficado impressionada por causa da brincadeira.

Depois de alguns minutos, voltou a deitar. Virou-se para o lado da parede, mas seu coração começou a bater acelerado, pois tinha a sensação de haver alguém atrás de si. 

"Não tem ninguém Aiaka, para de bobagem e volte a dormir!" — pensou, para tentar dissipar todo aquele medo.

Mas um novo barulho de algo caindo no chão fez com que desse um sobressalto e sentasse na cama, enquanto um grito escapou de seus lábios. Foi aí que seu maior temor se concretizou: parado em um canto do quarto, havia um espírito que a olhava com intensidade. Aiaka ficou paralisada. Ela queria gritar, sair do seu quarto, mas simplesmente seu corpo não a obedecia. Ela não soube precisar quanto tempo se passou. A entidade desapareceu subitamente e ela continuou paralisada até que o dia amanhecesse. O susto ainda a fazia tremer.  Mesmo assim, ela tentou se concentrar em suas tarefas diárias, como ir à escola. 

Na escola, foi difícil se concentrar nas aulas, pois a situação vivida por ela durante a madrugada não saía de sua mente. No intervalo, ela avistou as "amigas", porém resolveu não dizer nada, por medo de que a achassem uma medrosa. Quando o horário escolar se findou, Aiaka retornou para casa e foi até seu quarto. Em todo o tempo que permaneceu no quarto, a sensação de medo e de que estava sendo observada fez com que ela ficasse nervosa e, por diversas vezes, ela se perguntou se era apenas medo ou aquilo estava acontecendo mesmo.

Aquela situação se repetiu por vários dias e a sensação era cada vez pior. Além dos vultos, haviam os barulhos insistentes, seja de algum objeto caindo no chão ou de coisas sendo arrastadas, batidas em portas, janelas ou telhados ou outras situações aterrorizantes que estavam deixando Aiaka cada vez mais assustada. Ela já não conseguia mais dormir, se alimentar e seu rendimento escolar havia caído consideravelmente. Cansada e com medo de tudo aquilo, a jovem decidiu ir falar com as meninas e contar o que estava acontecendo, na esperança que elas pudessem ajudar.

Todavia, como esperado, elas não acreditaram e ainda debocharam dela, afirmando que aquela história era apenas fruto de sua imaginação. Porém, o que Aiaka não sabia, era que as meninas que ela julgava serem suas amigas estavam apenas a usando. Depois que Aiaka foi para casa naquele dia, as outras três voltaram a fazer o jogo e pediram para que ela fosse amaldiçoada. Esse seria o preço que Aiaka pagaria por ser uma tola e ter insistido em fazer parte do grupo. 

[...]

Após alguns dias, Aiaka descobriu a verdade. Sem que as outras três percebessem, ela ouviu uma conversa em que elas contavam como a haviam amaldiçoado e ainda debochavam de sua situação. Mesmo com raiva, Aiaka resolveu permanecer calada. Mas, em seu íntimo, ela jurou vingar-se das três. Como ela já havia ouvido falar sobre a Linha direta do Inferno, naquela mesma noite, ela acessou o site e digitou o nome da garota de cabelos azuis, sem medo ou consciência pesada. 

— Me chamou!? — quando fechou a tela do notebook, ainda achando que aquele site era só uma lenda urbana, ela viu uma jovem de longos cabelos castanhos-escuros e olhos intensamente vermelho se materializar em sua frente, o que a assustou. — Eu sou Enma Ai. 

No mesmo instante,  a paisagem mudou e Ayaka foi transportada para um local estranho. Ela notou  que elas estavam embaixo de uma árvore, onde o céu tinha as cores do crepúsculo. 

— Pegue! — a donzela do inferno entregou o boneco de palha para Aiaka. — Se você deseja se vingar, basta puxar o laço vermelho e assim terá um contrato comigo. Mas, lembre-se: quando uma pessoa é amaldiçoada, dois túmulos são cavados, então, depois que morrer, sua alma irá para o inferno. — novamente a paisagem mudou para o quarto de Aiaka. — o resto é você que decide. — a voz fria de Enma ai ainda pôde ser ouvida. 

Por um momento Aiaka pensou em tudo o que ouviu da donzela, por um momento pensou em desistir, mas logo tudo o que vinha passando nos últimos meses veio à tona em seus pensamentos com força. 

— Não. Ela vai pagar pelo que está fazendo comigo. — então, com determinação, ela puxou o laço do boneco, que logo desapareceu. 

[...]

—Em algum lugar-

A garota de cabelos azuis estava adormecida em sua cama, quando barulhos insistentes em seu quarto fizeram  com que ela acordasse. Ao olhar em direção ao som, viu Aiaka sentada numa cadeira próximo de sua cama. 

— O que está fazendo aqui, garota? — perguntou, raivosa.

— Sabe, eu não tenho conseguido dormir direito, então vim dormir com você. Quem sabe eu tenha uma boa noite de sono. — Aiaka se levantou e foi em direção à cama. 

— Nem pensar! — a outra garota levantou-se com brusquidão e colocou a mão nos ombros de Aiaka, para impedi-la de avançar. — Vá embora! Eu não tenho nada a ver com seus problemas. 

Aiaka colocou sua mão sobre a da menina e quando ela iria retrucar, um grito saiu de sua garganta. A outra jovem havia se transformado em um esqueleto. 

— O que foi? Não gosta mais de mim? — Hone Onna perguntava com uma voz manhosa. 

— Não! — a garota gritou mais uma vez e empurrou a ajudante da donzela. Ela correu de seu quarto, mas um grande olho se abriu sobre a mesma, assim que ela chegou na porta.

— Onde você pensa que vai? — a voz de Ren ecoou pelo quarto. — Não adianta fugir, pois somos reais. 

— Quem são vocês? O que querem comigo? — a azulada já estava em pânico. 

— Você  aprenderá que mexer com o que não se deve pode trazer consequências indesejadas. — Hone Onna falou mais uma vez.

— Do que você está falando? Eu não fiz nada! — novamente, a azulada tentou correr. Ela conseguiu sair do quarto, porém não havia nada no lado fora. A garota suspirou aliviada. — Foi só um sonho!

No momento que terminou de falar, o chão começou a pegar fogo. Ela tentou correr novamente, entretanto as mãos esqueléticas de Hone Onna a prenderam no lugar, ao passo que as chamas a queimavam e ela se debatia.

— Eu não fiz nada! — gritava em meio ao seu desespero. 

— Donzela, é isso que ela diz! — Ren disse e atrás de si, surgiu Enma Ai usando seu kimono florido. 

— Pobre alma sombra envolta em escuridão. Tuas ações trazem dor e sofrimento à humanidade. De que forma deseja ver a morte? 

— O-o quê? — a jovem, antes assustada, agora estava em pânico. — Por que está dizendo isso? — perguntou, em meio às lágrimas. 

— Você realmente não sabe? — foi a vez de Ai perguntar. Quando a azulada notou, Enma remava uma espécie de barco em direção às portas do inferno, enquanto a garota chorava. E quando esta negou ter feito alguma coisa,  Enma mostrou uma imagem de Aiaka. 

— Eu só queria brincar com ela!! Por favor, me leve para casa!

— Eu levarei seu sofrimento para o inferno. — a donzela do inferno sussurrou. 

[...]

No dia seguinte, quando Aiaka chegou até a escola e não viu a ex-amiga, percebeu que tudo o que havia acontecido tinha sido real. As outras duas meninas não pareceram se importar com o sumiço da garota. E, para alívio de Aiaka, os estranhos acontecimentos sobrenaturais também desapareceram, o que permitiu que a jovem voltasse a ter sua vida normal. 


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Notas finais do capítulo

Como sempre, quero agradecer ao @Aniverse e a _La_Fleur_ e @Adoniss pela capa e betagem maravilhosos.



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