É natural que as pessoas tenham hábitos, afinal, com o tempo, cada um vai criando seus próprios padrões de comportamento.

Mas cá entre nós; sempre existe aquele hábito que tendemos a achar desnecessário e irritante.

É claro que depois de enfrentar uma guerra que engoliu todo o continente e conquistar o Grancrest, Theo deveria estar acostumado com certos hábitos de quem o acompanhou desde o início de sua jornada, o que não quer dizer que isso tornasse alguns deles menos... irritantes.

E havia um certo hábito de Siluca que inicialmente não era tão incômodo assim, afinal, havia motivos para ele. Mas a situação havia mudado e ela ainda insistia em continuar com...

— Theo-sama? — Ela o chamou.

...os honoríficos.

É claro que o problema não era usar os honoríficos em si, e sim que Siluca continuava com eles mesmo quando estavam os dois sozinhos. E Theo estava disposto a finalmente cortar aquele hábito pela raiz. A ideia perfeita para resolver o problema ele já tinha, só restava aguardar o momento adequado para colocar o plano em ação.

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Era noite no castelo de Sistina. No escritório do lorde, Theo folheava um livro enquanto terminava de analisar uma série de documentos que certamente demandavam mais atenção do que ele estava disposto a dedicar naquele momento.

Cansado, o lorde já pensava em deixar a papelada para algum momento no futuro quando a porta se abriu.

Siluca entrou no escritório e viu a situação precária em que Theo estava, e não conseguiu evitar o comentário:

— Acho que o ideal seria parar por aqui, Theo-sama.

— Eu já estava pensando em parar mesmo, Siluca. — Ele suspirou enquanto terminava de arrumar os papéis. — Não sei como você aguenta lidar o dia todo com a papelada.

— Ah, essa pilha? Na academia de magia tinha muito mais do que isso como tarefas. — Ela deu de ombros como se fosse nada.

Theo acompanhou Siluca até um ambiente mais tranquilo e confortável, mas lá no fundo, aquele hábito estava sendo um incômodo permanente em sua mente.

Siluca olhou a expressão fechada de Theo e ficou preocupada. Será que havia acontecido algo?

— Theo-sama, aconteceu alguma coisa?

— Siluca, como? — Theo foi pego de surpresa. Estava tão óbvio que tinha algo o incomodando?

— Você está com aquela expressão de novo, a mesma de quando está preocupado com problemas complicados. Então me diga, o que é dessa vez?

— Então... — Ele respirou fundo antes de tomar coragem para falar a verdade. — Será que você poderia parar com os honoríficos?

— Mas Theo-sama...

— É sério. Eu já estou casado com a maga mais brilhante do continente. Pedir pra ela ser mais casual é algo tão absurdo assim? — Ele foi se aproximando no sofá em que estavam sentados, pronto para começar o plano de extinção daquele hábito.

— Pare com isso, Theo-sama! — Siluca estava ficando cada vez mais vermelha, e se apossou de um travesseiro para se vingar de Theo.

— O que eu posso fazer se é verdade? Ouch! — Ele abriu um sorriso bobo e a almofada o acertou em cheio. — Eu estaria perdido se não fosse a minha esposa pra me desenterrar da papelada.

— Mas é claro. Afinal, tem horas que parece que você nunca pegou em um documento oficial e sobra tudo pra mim. — Ela notou o sorriso travesso dele. — Ei, não desvie o assunto!

— Desculpa, estava só admirando a maga genial que nunca precisou que à protegessem.

— Pare com isso, Theo-sama! — Siluca já estava muito, mas muito vermelha. Já não bastava as vezes que durante a guerra o relacionamento dos dois foi usado para provocar inimigos e erguer a moral. Agora, até quando estavam só os dois ela tinha que aguentar Theo sendo um romântico terrível? — De onde você tirou essas? Por acaso não pediu ajuda para o Alexis, pediu?

— Quem sabe? Talvez eu tenha. — Theo respondeu, provocando novamente. — A não ser que você queira que suba o nível? — Ele foi se aproximando, como se fosse beijá-la só para provar um ponto.

— Por todo o amor que você sente por mim, Theo. Chega! — Siluca colocou a almofada entre eles e Theo parou no exato momento que o objeto se tornou uma barreira.

Ele olhou confuso para ela. Ela olhou com o rosto queimando e uma expressão irritada para ele, até que percebeu o que tinha acabado de acontecer.

Siluca jogou a almofada para longe e se sentou meio emburrada do lado de Theo.

— Não acredito que você fez isso. Agora você vai pagar pelo que fez.

— Pagar como?

E Theo apenas sentiu um puxão em sua camisa e os lábios macios de Siluca se encontrando com os seus. Apesar que isso não a deixou menos vermelha.

— Se queria um beijo, era só ter falado.

E ele à puxou para outro beijo, cheio de amor e admiração. E entre discussões, almofadas voando e beijos cheios de amor, a noite foi seguindo no castelo de Sistina.

Mais tarde, quando Arvin fosse checar se tudo estava bem, apenas encontraria os dois dormindo juntos no sofá da sala, enrolados em uma coberta. Com um sorriso, o chamberlain apenas fechou a porta e instruiu todos a não incomodar o local.

Mas as reações de surpresa de todos ao saber o que tinha causado uma comoção tão grande no castelo... ah, essa sim foi... inesquecível.