You've got the love escrita por Fanfictioner


Capítulo 2
I'll keep you satisfied


Notas iniciais do capítulo

Primeiro de tudo, eu queria deixar um agradecimento GIGANTE para todo mundo que recebeu a história com tanto amor capítulo passado. Remus asmático e ansioso é extremamente identificável, eu descobri, e nem sonhando que eu achei que um clichê desses fosse ser tão querido hahaha.
Todo mundo que favoritou a fic, vocês são completamente INCRÍVEIS! Sintam-se homenageados com o capítulo de hoje... Vamos conhecer nosso Black favorito!
Boa leitura!



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(narração de Sirius Black)

Eu queria escrever para Remo naquele sábado para saber se ele chegara em casa bem, e se conseguira tirar o vômito da roupa. Se os pais dele tinham descoberto que ele saíra ou coisa do tipo, mas achei que não tínhamos intimidade para isso, então fiquei só na curiosidade.

Pouco depois do almoço, no dia seguinte, sem eu estar esperando de maneira alguma, Remo me mandou mensagens.

 

[Lupin iPod – 12:52]

Sirius?

Tá aí?

 

[Eu – 12:55]

Ei!

Estou sim, não esperava sua mensagem :)

Como foi ontem?

Conseguiu chegar em casa?

 

[Lupin iPod – 12:56]

Foi apertado, e minha roupa foi

enfiada no tanque escondida de todo

mundo, mas deu certo haha

 

Eu ri, imaginando a cena. Parecia o tipo de coisa que só aconteceria com Lupin mesmo.

 

[Lupin iPod – 12:57]

Mas então, eu mandei mensagem para

falar daquilo que comentei com você.

Sobre as artes para seu material de

divulgação.

 

As coisas eram realmente curiosas. Eu tinha ficado muito interessado quando Remo mencionara essa ajuda que se dispunha a me dar com material de divulgação das minhas músicas, caso eu fizesse mesmo um álbum, mas nem animei muito porque imaginei que não iria mesmo adiante. Afinal, quem trabalharia de graça?

Eu, com certeza, não faria. A menos, é claro, que rolasse um segundo interesse, porque daí claramente eu até rastelava um quintal de graça.

Certo, provavelmente não chegaria a tanto por uma transa. Eu odeio jardinagem.

 

[Eu – 12:58]

Ah, sim! Nossa, eu adoraria falar

mais sobre isso... seria incrível!

Mas estou realmente sem grana, Remo

Não é não ter grana para pagar caro

É não ter grana nenhuma :(((

 

[Lupin iPod – 13:00]

Bem, eu falei pensando em ajudar você mesmo,

não em cobrar por isso, Sirius.

Você guardou meu iPod, e qualquer outra pessoa

teria pegado para ela.

É o mínimo que eu o ajude, sabe?

 

Pessoas como Remo realmente existiam? Ele estava disposto a ajudar uma alguém que mal conhecia em troca de seu iPod? E mesmo assim, eu já tinha devolvido o aparelho, não era como se estivesse fazendo uma chantagem ou barganha, e Remo certamente não me devia nada.

Bem, é claro que eu não seria estúpido de dizer não a uma oportunidade dessas de alavancar minha carreira musical. Não quando a oportunidade vinha através de um garoto tão interessante e atraente, em quem eu, com toda certeza, daria uns amassos se pudesse.

E tiraria as roupas também, porque aquela carinha de santinho tinha que esconder uma mente muito suja, eu tinha certeza.

Remo era estiloso e algo nele era absurdamente instigante, embora antes de nos encontrarmos pessoalmente eu não colocasse muita fé quando James dissera que ele era bonito, porque o gosto de James em geral era muito duvidoso, à exceção da Ruiva.

Mas até que para um hétero, James sabia escolher machos para mim, eu não podia reclamar.

 

[Eu – 13:01]

Você quer mesmo gastar seu tempo ajudando

um músico que você nem sabe se é bom?

Você nunca nem me viu tocar/cantar

Está confiando demais em nosso casal Jily

 

[Lupin iPod – 13:01]

Jily kkkkkk

Bem, mas se eu gostar da sua música são

as condições, não é tão difícil resolver isso...

Me avisa quando e aonde for tocar que eu tento ir :)

E aí, então se eu gostar, eu ajudo

 

Eu conseguia sentir o deboche e a provocação nas mensagens dele, e achei graça, porque Remo era exatamente como eu, nesse sentido, e era bom me sentir representado em meu humor ácido.

 

[Eu – 13:02]

Eu toco hoje (mas imagino que não possa)

E toco de terça à sexta-feira, das 19h

a meia noite.

 

[Lupin iPod – 13:05]

Até terça-feira então, Almofadinhas

 

E por algum motivo, quando ele escreveu aquilo, eu senti um calor gostoso irradiando pelo meu corpo. Era uma coisa gostosa e acolhedora, descendo pelo abdome, me consumin-

Ah, merda, não podia ser tesão num cara que eu vira uma única vez, podia?

Hormônios vagabundos.

***

Na real, eu não colocava a menor fé que Remo fosse aparecer na terça-feira. Primeiro porque era dia de semana, e se os pais dele não deixavam ele sair em um sábado, que dirá em dia de semana. Segundo porque, uma parte de mim estava ficando muito empolgada de que ele aparecesse, por algum motivo, e eu não queria mesmo ficar me sentindo mal ou, de alguma forma, enganado se Remo não fosse ao Três Vassouras.

Então, considerando a racionalização das expectativas que eu mesmo já havia feito em minha cabeça, foi um completo susto quando vi James, Lily e Remo sentados em bancos do balcão do pub, de frente para mim, quando levantei a cabeça daquele amontoado de fios do chão. Era eu quem montava meu palco com os amplificadores, microfone, violão e baixo.

— Eu não estou acreditando que você realmente veio, magricela! – eu disse, batendo a poeira que tinha acumulado nos joelhos da jeans depois de eu me arrastar pelo chão ligando cabos.

— Como se eu fosse o tipo de pessoa que perderia a chance de julgar seu gosto musical como você julgou o meu. – ele respondeu e eu ri.

— Em minha defesa, eu não sabia que era o seu gosto musical. Era o de algum retardado que perde iPods em cafeterias, sabe? E aí, ruiva! Tranquilo? – perguntei me adiantando para dar um abraço em Lily e tapinhas no ombro de James. – Fabian, vê duas cervejas bem geladas para eles aqui, fazendo favor. E uma água com gás para ele, ele é menor de idade!

Remo crispou os lábios sentindo a impotência diante da minha implicância ao ter dito ao barman que ele era menor de idade, mas o que eu podia fazer senão rir? Eu tinha uma predileção por encher a paciência das pessoas, e por mais atraente que fosse, por mais que eu estivesse interessado em dar uns amassos nele, Remo não seria exceção à minha regra.

Será que ele era gay? Será que havia um meio de saber se ele era gay sem demonstrar estar realmente interessado?

A playlist dele contendo covers de música pop e Florence podia ser uma referência, mas estava mais para emo indie do que gay, e Beatles e classic rock era um gosto que pendia para “hétero demais”, do tipo que bebe vinho caro e janta no The Shard com a noiva, então eu ficava em dúvida. E é claro que não poderia perguntar a Lily sobre isso, então precisaria de algum esforço para saber se Remo jogava no meu time.

— Vai tocar música boa hoje, Sirius? – perguntou ele, devolvendo a provocação, e eu senti uma vontade inesperada de dar um sorriso.

— Eu toco música boa, Aluado!

E não era por presunção que eu falava aquilo, mas por ser verdade. O Três Vassouras era conhecido por ser um pub meio morto até algum tempo atrás, e quando a gerência mudou houve muito investimento em modernizá-lo para atrair público. Uma das ideias foi contratar covers, e se tinha uma coisa da qual as ruas de Londres estavam cheias eram jovens aspirantes a músicos que tocavam nos metrôs e nas calçadas, esperando uns trocados.

Eu tinha sido um deles por umas semanas, logo que fugi para a casa de James, um ano e meio atrás. Tocar nas ruas me fez conhecer os ouvidos das pessoas, as coisas que elas gostavam e as faziam virar a cabeça em minha direção. Não eram as letras, eram as batidas, os arranjos, os tons... então eu criara coragem para começar a mixar minhas próprias versões das músicas que eu gostava, e foi aí que a vida de tocar em pubs surgiu.

Dado meu histórico, meu princípio de formação acadêmica em música e as muitas horas perdendo as pontas dos dedos em dedilhados no violão, eu aprendera a só tocar músicas em jeitos que seriam apreciadas, então não havia outra opção.

Naquela noite eu estava animado e inspirado, e para homenagear a presença de Remo, apresentei algumas versões minhas de músicas de rock bem conhecidas, ambientando o pub em um clima gostoso e jovial, já que em começo de semana nós costumávamos ter um público bem universitário e turístico, e houve momentos até em que algumas pessoas cantaram comigo.

A princípio não era minha intenção, mas percebi que cada vez mais frequentemente nas músicas eu voltava meu olho em direção à bancada em que James, Lily e Remo estavam sentados, especialmente observando Remo. Houve vezes em que ele estivera me olhando também, fazendo o clima ficar esquisito, mas de um jeito muito instigante.

Em algumas músicas eu liguei o computador com as mixagens de som que eu fizera e apenas cantei, puxando Lily para uma ou outra dancinha boba, fazendo James e Remo rirem, e quando ele gesticulou indicando que estava para ir embora, devido ao horário, eu quis fazer uma gracinha a mais.

— Gente, nessa noite eu tenho o privilégio de receber meus amigos para me assistirem tocar, e queria desejar essa próxima música a um deles, em especial. – eu podia ver, com o canto do olho, Remo corando violentamente e precisei me esforçar para não rir. - Esse meu amigo tem um gosto musical bem peculiar, mas é fã de rock, então essa é toda sua, Lupin.

Ele riu, com uma expressão de quem dizia “Você me paga”, e eu sorri com bastante arrogância quando comecei a cantar Don’t Stop me Now, do Queen, do jeito mais melodramático e cheio de trejeitos que podia, numa péssima imitação de Freddie Mercury. Eu cantava com passinhos dignos de performances originais da banda (eu pensava) e a turma mais nova do pub estava empolgada entrando em minha onda, cantando junto o refrão.

James ria batendo palminhas estúpidas, cantando as partes mais altas com falsetes péssimos, que eu identificava por conhecê-lo há muito tempo, mas a reação de Remo era a mais animada. De algum modo, ele parecia estar envolvido e, ao mesmo tempo, debochando das minhas coreografias exageradas.

Mas ele cantava olhando diretamente para mim.

Eu não teria a presunção de falar que olhava em meus olhos porque o pub era pessimamente iluminado, e eu ficava tão cego quanto o Pontas depois de ficar na meia-luz tanto tempo, mas sim, Remo me encarava, com certeza. E eu não me sentia intimidado de forma alguma, ao contrário, eu queria sustentar e retribuir aquela encarada, sentindo uma tensão e um calor bons a respeito daquilo.

Certo, talvez aquele calor fosse tesão e eu só não quisesse admitir. Mais uma vez.

Quando a música ia chegando em seu final, eu finalmente me acalmei e me sentei novamente no banquinho aonde costumava ficar, baixando a voz até acabar e ser aplaudido. Eu tinha suado? Porque estava subitamente muito quente ali. Pedi licença para buscar uma água, indo na direção do balcão e vendo meus amigos ali.

— Usar o Queen para tentar me ganhar para trabalhar para você é uma política suja, sabia?

— Só músicas boas aqui, meu caro... já estão indo? – perguntei, tirando o cabelo dos olhos.

— Remo sim, nós vamos ficar mais... – disse Lily, pedindo outra cerveja.

— E então, eu terei as minhas artes de divulgação, Lupin?

— Espere e verá, Black... eu falo com você depois. – ele disse com um sorriso enviesado e eu não soube dizer se realmente havia malícia no que ele dissera ou se eu só queria que houvesse.

Claro que eu queria que houvesse. Pela santa dos roqueiros gays, eu queria tascar um beijo naquele garoto!

Mas nós só trocamos um soquinho de cumprimento e ele saiu em seguida, me deixando na companhia de James e Lily.

— Arrastando a asa pelo Remo, Almofadinhas?

Mostrei o dedo do meio para James enquanto ele ria, sabendo que eu não diria sim.

— Ele não parece ser gay, de qualquer maneira. Não é, Lily?

— Da minha boca você não saberá nadinha de nada, Sirius, nem tente! – provocou ela com um risinho irônico e eu tive que aceitar que eles dois podiam ser muito implicantes às vezes.

***

Embora não me mostrasse o que estava fazendo, Remo perguntara, várias vezes naquela semana, algo sobre minhas músicas, meu gosto de cores, referências de coisas que eu gostava, minhas opiniões sobre algumas imagens aleatórias, e eu supunha que tinha a ver com as artes que ele se disponibilizara a fazer para me ajudar.

Quando eu pensava sobre isso, me sentia meio mal, porque claramente estava dando um trabalhão, e Remo nem mesmo me cobraria por isso. E embora eu não tivesse dinheiro para pagá-lo, gostaria de ressarcir o esforço dele assim que possível.

Para além disso, nós nos falávamos diariamente de um modo muito natural. Compartilhávamos memes, comentávamos alguma aleatoriedade do dia e, principalmente, falávamos de música. Eu queria revê-lo pessoalmente e conversar, mas não sabia como ele receberia o convite.

Eu não ficava tímido ou receoso perto dos garotos com quem queria ficar, nem era de ficar batendo papo furado antes de ao menos ter dado uns amassos, ou ido para cama, e saber se gostaria de um replay, mas Remo Lupin estava sendo uma exceção cabal a tudo que eu costumava fazer. E eu nem mesmo sabia se ele gay!

Por isso, quando ele perguntou se podia me ver no sábado eu fiquei confuso e empolgado na mesma medida. Oh, céus, as humilhações meus hormônios e minha sexualidade me faziam passar!

Ser gay realmente não era uma tarefa fácil.

Sábados eram meus dias de folga, e eu costumava ficar na casa de James para rever meus “pais adotivos”, o Sr. e Sra. Potter, mas daquela vez eu achei que estaria tudo bem abrir mão disso. Única e exclusivamente porque Remo viria me mostrar as artes que passara a semana toda criando, tanto para a capa do possível EP que eu gostaria de gravar, quanto materiais de divulgação de mim e meu trabalho, embora eu não fizesse ideia do que seria isso.

Ele apareceu perto das 14h, e eu senti de novo aquele calor anormal no pescoço enquanto ele tirava o casaco na entrada da minha quitinete, em um prédio do outro lado da rua da casa de James.

— Apê legal! – disse ele, observando os posters emoldurados que eu pendurara nas paredes da sala/quarto. – É de verdade?

Perguntou ele quando viu o mini telescópio que eu deixava encostado na janela do apartamento, virado em direção à constelação de cão maior.

— É sim. Foi uma das poucas coisas que eu consegui trazer da casa dos meus pais, embora eles tenham ficado muito putos comigo por isso. – comentei rindo e me sentando no sofá, puxando uma mesinha de canto meio capenga, de canos e madeirite, que eu mesmo tinha tentado construir no verão passado.

Não precisava ser especialista para ver que eu não nascera para ser carpinteiro. Minhas habilidades com as mãos eram outras.

Remo continuou admirando as quinquilharias variadas e interessantes que eu tinha no apartamento, como meus instrumentos pendurados na parede, os livros de colecionador, CDs e vinis na pequena estante da parede que dividia o banheiro, e as action figures de Star Wars que eu deixava no peitoril da janela.

— Cara, muito massa! Deve ser incrível poder ter sua própria casa! – ele disse, sentando-se no pufe que havia em frente ao meu sofá-cama. Eu ri da percepção dele, porque era o que eu ouvia de quem conhecia minha casa.

— Bem, fazer compras de mercado e limpar banheiro não é nada divertido, garanto. E as contas no fim do mês também não são meu grande deleite, mas a privacidade e a autonomia são legais sim. E poder trazer quem eu quiser sem ouvir nada, óbvio!

Ele deu um risinho de concordância, acrescentando que os pais eram muito rígidos com visitas e ele não lembrava de poder ter tido autonomia em levar qualquer pessoa para casa sem ouvir um monte dos pais, e eu me perguntei se era em um sentido relativo a amigos ou ficantes. E qual seria o gênero desses ficantes.

Sim, eu estava um pouco obcecado em minha vontade de dar uns amassos em Remo Lupin.

Em minha defesa, ele não parecia que deixaria de ser gostoso nem se tentasse! Por que caras com carinha de lerdos ou meio emocionalmente prejudicados sempre ficavam muito mais gostosos, Deus?!

— Então, quanto às artes... deixa eu mostrar um pouco do que fiz. – falou ele, puxando um iPad da bolsa de lado que ele trouxera, me fazendo questionar quantos aparelhos diferentes da Apple ele devia ter.

Houve um alerta de “hétero cristão riquinho” em meu subconsciente e eu fiquei levemente incomodado com essa ideia, porque Remo era legal demais para ser esse tipo de pessoa, e eu me decepcionaria se fosse. Mas não. Ele, com certeza, não era esse tipo de pessoa.

A primeira coisa que Lupin me mostrou foi um modelo de cartão de visitas, minimalista e com uma espécie de logo com meu nome, o qual eu gostei muito, seguido de um modelo de panfletagem para algum evento público meu.

— Não precisa ser usado agora, mas faz parte da sua identidade visual, e você pode editar quando for o momento de divulgar seu trabalho. – explicou ele, indicando como eu poderia editar o arquivo, o que parecia simples.

Quanto a possível capa do EP que eu gostaria de gravar, Remo mostrou alguns papéis com referências e perguntou o que eu achava, dizendo que seria legal ser um processo participativo, que eu garantiria ter mais da minha identidade na arte final.

— Mostra um pouco do que você já tem composto aí, para a gente ir pensando sobre... você já tem um nome para o EP? – perguntou ele.

Eu não tinha nome decidido, mas tinha ideias das quais gostava. E tinha algumas músicas bem boas já mixadas, as quais deixei tocando no computador enquanto servia cervejas geladas para mim e Remo.

Ficamos trabalhando nas ideias durante algum tempo, e Remo rabiscava os rascunhos que trouxera com alguns comentários que eu fazia, ou coisas que explicava sobre as músicas.

— É incrível como essa troca é muito maior pessoalmente! Eu ia errar muito se fizesse a arte que estava pensando... eu precisava conhecer você melhor para  entregar algo mais a sua cara. – disse ele à certa altura.

Ou Remo era de fato muito Aluado, ou estava se fazendo muito bem, porque estava ignorando solenemente toda a leve tensão que havia no ar, bem como minhas encaradas longas na direção dele (sim, eu estava secando o amigo de Lily) e apenas concentrando-se em juntar informações sobre a arte para o meu EP a ser gravado em um futuro distante.

Ah, por Deus! Eu estou muito a fim de agarrar você, Lupin! Colabora!

— Quer comer algo? Eu ia jantar no James, mas podemos pedir pizza se quiser...

“Você pode ser a comida também, eu não me faria de rogado.” pensei, sentindo vontade de rir por esse tipo de piada ruim.

— Eu adoraria, Sirius. Mas estou com o horário apertado e preciso estar em casa até as 20h. – comentou ele olhando o horário. – Escuta, acho que essa arte vai acabar precisando de mais trabalho conjunto do que pensei... não quer aparecer na UAL qualquer dia?

— Na sua faculdade? – perguntei confuso enquanto ele juntava seus papeis e o iPad.

— É! Você tem ótimas ideias, e minha criatividade está fluindo muito melhor trabalhando com você... aparece na faculdade segunda de tarde, eu tenho alguns horários de folga e a gente trabalha mais nisso, o que acha?

— Ahm... claro. Com certeza, é o Chelsea College, né? Campus da Lily?

— Isso! Vou esperar você lá... e vamos nos falando! – disse ele, gesticulando com o celular que colocou no bolso da jeans. – Obrigado pela cerveja, Sirius.

Ele tinha recém colocado o casaco e então inclinou-se para deixar um beijo em minha bochecha e eu fiquei completamente estupefato.

Por acaso esse é o seu jeito de me dizer que estamos no mesmo barco, Lupin?

É um sinal verde para eu te colocar na parede e dar os amassos que quero?

— Até mais, então!

Remo tinha ido embora antes de eu ter a chance de retribuir o beijinho de despedida, embora fosse óbvio que eu teria beijado outro lugar.

***

Durante a semana que se seguiu eu passei a frequentar assiduamente o Chelsea College, trabalhando com Remo todos os dias um pouquinho na arte do meu EP, e eu precisava admitir, ele era muito talentoso!

E muito paciente também. Na segunda-feira ele me pedira para levar o computador e então, ao invés de apenas fazer a arte para mim, Remo estava me ensinando a usar softwares de edição de imagem. Nada elaborado, é claro, mas agora eu sabia mexer na saturação, brilho e contraste de imagens, além de recortá-las e outras coisinhas mais.

“Autonomia é tudo! E se você souber fazer, ao menos um pouco, vai saber não ser extorquido por editores de imagem meia boca que tentarem vender qualquer coisa para você!” tinha dito ele.

Não que eu fosse admitir, mas estava gostando de ter desculpas para passar algum tempo diário com Remo, embora fosse óbvio que eu preferia que usássemos nossas bocas em outras funções que não conversar sobre a estética da arte do meu EP não gravado.

Bem, eu não tinha alguma confirmação de que Remo era, de fato, gay, e nem que, se fosse, se gostaria de dar uns amassos comigo. Não que eu fosse rejeitado com frequência, ao contrário. Ainda assim...

Àquela altura eu já achava que estava sendo cognitivamente afetado por ainda não ter ficado com Lupin, porque eu não me recordava de já ter sido rejeitado, e ainda assim estava receoso de perguntar se ele beijava caras.

James, por sua vez, estava se fartando de rir e escarniar da minha cara ao saber que eu estava me encontrando com Remo regularmente e até então, não havia sequer conseguido um beijo.

— Tempos de vacas magras, eim, Almofadinhas... – comentara ele no Três Vassouras comigo na quinta-feira. – Quem diria que Sirius Black ficaria arrastando asa para um universitário de artes, não é mesmo? Cadê o garanhão de Hogwarts, eim?

Eu tinha tido a educação de só mostrar o dedo do meio para ele, fazendo-o rir.

— Hogwarts foi há muito tempo, Pontas. E não tô arrastando asa para ninguém, só quero... ahrg! – fiz um gesto impaciente, esperando que representasse meu desespero para pode enfiar a língua na boca de Lupin, e James riu.

— Remo não vai ter atitude, Sirius. Coloca ele contra a parede e agarre-o de uma vez como todos sabemos que você quer, seu lascivo! Ele não reclamaria, com toda certeza.

— Você está me dizendo que... – perguntei, afinando meu baixo.

— Que é óbvio que Remo é gay, Sirius! Meu Deus, você tinha dúvidas ainda?!

— Ele escuta rock! – eu disse, como se fosse óbvio.

Rock é um gênero hétero demais, e eu era uma exceção à regra dos gostos musicais e sexualidades.

— Você toca rock, seu imbecil! Eu não acredito, Sirius! Eu achei que vocês ainda não tinham ficado, nesse tempo todo, porque pela primeira vez você estava tentando não ser o grande pegador e queria criar um clima antes!– disse James, rindo de confusão. – Eu achava você obtuso, mas não a esse ponto, sabe!

— Que porra de criar clima! Eu só quero uns amas- - James me olhou com descrença. – Certo, uma transa não seria ruim, também. Em minha defesa, não apareceu ninguém aqui no pub que valesse a pena, ultimamente.

James estava rindo da minha cara e eu me sentia cada segundo mais constrangido. Era então escancarado para todo mundo que eu queria pegar Remo? E todo mundo sabia que ele era gay e não tinha me falado?

— Sirius, quando Lily disse que você não saberia nada da sexualidade Remo através dela, era claro que ela já estava confirmando isso para você, seu imbecil. E pelo amor de Deus, você nunca viu as olhadas que ele dá em você? Eu chego a ficar com vergonha por você, Almofadinhas! – continuou ele, ainda risonho.

Ótimo! Agora eu estava constrangido, levemente irritado e, com certeza, excitado com a possibilidade de, de fato, colocar Lupin contra a parede e conseguir os amassos que eu estava intencionando há quase duas semanas. Ele então realmente tinha ficado me encarando aquele dia no pub.

Mas até domingo, não houve oportunidade de conversar sobre essa tensão sexual reprimida entre mim e Remo, já que nos encontramos apenas na sexta, na UAL, entre todos os amigos dele, e seria completamente sem noção tentar flertar com ele ali. No sábado ele ficou envolvido com estudos com Lily e a amiga deles, Dorcas, e eu não pude fazer muita coisa tampouco.

É claro, eu não perdi as oportunidades de provocá-lo sempre que possível quando conversávamos por mensagens, e eu achava que estava mais do que óbvio que exalávamos vontade de agarrar um ao outro.

Eu estava levemente sedento por Remo, o que era compreensível, dado que ele estava me cozinhando em banho maria há quinze dias. A perspectiva de ficarmos parecia mais verossímil depois do que James me dissera, e a parte de mim que era extremamente sacana estava criando mil ideias de como seria esse amasso com Remo.

Certo, admito, a parte sacana já tinha parado de fantasiar o amasso a tempos e já estava em outro nível, um que envolvia bem menos peças de roupa.

Fosse o que fosse, precisava acontecer o mais rápido possível para eu deixar de ser obcecado por uma pessoa e voltar a ser o velho Sirius cafajeste e de papo solto de sempre. Haveria uma semana de promoções no pub e eu estava certo de que brotaria turistas procurando cerveja barata, e eu particularmente adorava um sotaque espanhol. E gostava mais ainda da pegada dos espanhóis.

Por isso, quando Lily me ligou no domingo eu soube que precisava dar um jeito de mudar minha escala de trabalho no dia seguinte.

— Ei Sirius! Como vão as coisas?

— Fala, ruiva! Tudo bem, você e o Pontas?

— Tudo certo, ele está mandando oi...- eu ouvi Pontas murmurar cumprimentos em uma voz sonolenta do outro lado do telefone. Ele devia estar dormindo na casa de Lily. – Você vai amanhã?

— Amanhã...

— Para o aniversário do Remo, na casa dele. Ele não convidou você? Ele me disse que iria chamá-lo também.

Naquele momento, como se fosse uma coisa combinada, pude ver uma notificação de mensagem de Remo aparecer na tela do meu computador, sincronizado com o celular. Não conseguia ler tudo, mas começava com “Sei que você trabalha amanhã, mas é meu aniv...”, então me apressei a responder.

— Ah, sim! Sim, claro! Eu só tinha me confundido... vocês vão?

— Óbvio! Queria saber se pode fazer um favorzão... – a voz de Lily estava manhosa e eu podia sentir que ela estava fazendo um biquinho pidão para tentar me ganhar.

— O que é que você me pede sorrindo que eu não faço chorando, Lily... desembucha!

— Dorcas e eu encomendamos um bolo da confeitaria Fortescue, em Picadilly. Mas não calculamos bem, e não vamos ter tempo de ir buscar sem que o Remo descubra, e a ideia é ser surpresa. E como você é o novo queridinho do meu amigo... pensei que você podia pegar o bolo e quebrar um enorme galho para nós, além de ganhar pontinhos com o Rem...

Eu podia sentir o sorriso malicioso que brincava no rosto de Lily naquele momento.

— Ruiva, ruiva... sabe que está me manipulando não sabe? – perguntei no mesmo tom.

— Ah, qual é, Sirius! – disse ela me fazendo gargalhar.

— Eu pego, eu pego... mais alguma coisa que eu tenha que fazer para ver se o seu amigo se toca que eu quero dar uns pegas nele?

— Bem, não seria nada ruim se você colocasse ele contra a parede amanhã, quando tivesse chance...

— Você e o Pontas são iguaizinhos, sabia? – comentei, fazendo ela rir.

— Até amanhã, Sirius!

Eu desliguei a chamada ainda achando graça e então fui responder à mensagem de Remo e pedir para meu chefe trocar meu turno de trabalho. O convite virtual de Aluado dizia que não seria nenhuma coisa chique, só umas pizzas e pipoca na sala da casa dele após a faculdade, e um pedido de que eu comparecesse, ainda que por alguns minutinhos, se pudesse. Dizia ainda que, infelizmente, nosso consumo de álcool seria velado e servido em copos de papel para que os pais dele não desconfiassem, e mandava o endereço da casa dele, em East Putney, perto da estação de metrô.

Bem, eu não perderia a chance de provocá-lo e, ao mesmo tempo, deixar claro que eu estava afim dele.

 

[Eu – 16:18]

Sei que você não sabe mais viver sem

minha companhia, Aluado

Mas não se preocupe, eu estarei aí ;)

***

A segunda-feira foi bem corrida para mim. Eu tinha trabalhado, excepcionalmente, até duas horas da manhã naquela madrugada, o Três Vassouras tinha ficado aberto até mais tarde devido à vitória do time do Tottenham e acabei tendo que acordar cedo de manhã.

Eu tinha que resolver algumas questões no banco, além de achar um presente para Remo e, só então, passar na confeitaria para buscar o bolo e chegar no local do aniversário antes das 19h, para ajudar James a organizar a decoração, conforme ficara combinado, mas no final tudo acabou dando certo, mesmo com os estresses necessários até decidir o presente que eu daria ao aniversariante.

Quando cheguei na casa dele, a mãe de Remo me recebeu, dando um sorriso educado e me convidando a entrar, embora o pai dele não tenha feito uma cara boa para meu cabelo grande ou para o casaco de couro. Ignorei, porque já era versado na arte de lidar com pais difíceis. James e um amigo de Remo, Peter, estavam envolvidos em tirar coisas quebráveis de perto de onde ficaríamos e afastar a mesa de centro para um canto da sala, para jogarmos videogame com tranquilidade, e eu acabei tomando parte da organização dos lanchinhos, junto com a Sra. Lupin.

Quando Lily, Dorcas e uma outra garota, que depois eu soube que se chamava Marlene, chegaram, acompanhando Remo, tudo já estava pronto e estávamos sentados no sofá, batendo papo e bebendo refrigerantes, parecendo bons jovens cristãos na frente dos pais do aniversariante.

Ainda bem que nenhum deles podia ler meus pensamentos pouco puros sobre Remo.

— Ah, eu não acredito! Vocês trouxeram bolo! – disse ele assim que cumprimentou todos nós e bateu o olho no bolo de chocolate decorado com plaquinhas com artes autorais dele sobre bandas que ele ouvia.

— De chocolate, Rem... – acrescentou Lily, fazendo referência ao sabor favorito dele, eu vim a saber depois.

Clichê. Remo Lupin era um clichê piegas ambulante, como podia eu estar arrastando asa para ele?

Eu sabia a resposta. Ele era gostoso demais para o próprio bem, e a carinha de santo só excitava cada vez mais meus pensamentos mais sacanas. Hormônios infernais e mente suja demais.

O Sr. e  a Sra. Lupin fizeram recomendações de comportamento, como todos os pais controladores sempre faziam, e disseram que estariam no quarto, se necessários fossem. Enquanto eles subiam as escadas, Remo fazia mímicas imitando, de um jeito debochado, os trejeitos do pai ao dar as ordens, e quando a porta lá em cima se fechou, ele disse, num grito sussurrado:

— Finalmente liberados. – disse ele, jogando-se no sofá e pegando um dos copos de papel com Cranberry Vodka que Peter estava entregando. – Como foi que trouxeram o bolo para cá? Eu achei que James viria direto da aula...

— E eu vim.

— Levou um bolo de aniversário para sua aula no St. Thomas Hospital?!

Ele fez uma cara de nojo diante da ideia de seu bolo de aniversário ter ido dar um passeio no hospital aonde James tinha aulas de medicina. Eu também não seria um grande fã de uma fatia de bolo com vírus e bactérias hospitalares.

— Claro que não, Aluado, seu idiota! – disse James rindo e me fazendo achar graça no fato de que Remo podia ser lento, às vezes. – Sirius trouxe seu bolo...

Eu levantei meu copo num gesto educado de “De nada” enquanto Remo sacudiu a cabeça numa negativa, risonho. A troca de olhares não devia ter sido muito inocente, porque Dorcas deu uma pigarreada meio alta e então foi se levantando da poltrona e perguntando.

— A gente vai ouvir música e dançar ou só ficar olhando um para a cara do outro mesmo?

— Eu fiz uma mixagem para hoje, era para ser seu presente, Remo, mas acho que nesse caso... – disse, buscando uma capinha de CD com uma capinha ridícula que eu tinha tentado fazer no software que Remo estava me ensinando a usar.

Eu claramente tinha falhado.

— Vai em frente, DJ... a música está por sua conta hoje!

— As músicas estão melhores que a arte da capa, juro! – debochei, jogando a capinha para ele pegar e colocando o CD no aparelho da sala.

A sala dos pais de Remo tinha uma acústica excelente, porque eu conseguia ouvir todas as variações e transições que tinha inserido nas músicas, numa releitura particular da playlist que eu ouvira no iPod de Remo semanas atrás. Todos pareceram gostar do ritmo twist que eu dera às poucas músicas pop que escolhera para o CD, além das músicas da era de ouro do rock com harmonias de indie.

— Você fez maravilhas com essas músicas! – disse ele em certo momento, e eu quis responder que “maravilha” seriam nossas bocas juntas, mas pensei que podia soar demais para ele.

Remo tinha toda cara de soft gay, e eu estava realmente penando para saber como acessaria ele para dizer que eu estava sedento por uma ficada.

— Digamos que você expandiu meu pensamento sobre harmonias musicais com aqueles álbuns da Florence. – respondi ao me sentar no sofá e colocar os braços atrás da cabeça. – Eu sou mais progressivo e hard rock, mas é bom variar um pouco...

— Então eu não estava errado, afinal!

— Perdão?

Remo caiu na gargalhada e eu sorri, muito confuso. James e Lily estavam fazendo uma dancinha estranha para a versão indie rock e disco que eu gravara de uma música do Rolling Stones, Peter e Dorcas estavam cortando fatias de pizza na mesa da sala de jantar (havia um clima entre eles ou era impressão minha?) e a única pessoa razoavelmente próxima de nós era Marlene, mexendo no celular.

— Antes de conhecer você, eu meio que... uhm... criei um estereótipo mental de quem era Sirius Black. – ele se interrompeu para rir. – E, entre outras coisas, ele era o tipo de pessoa que ouve Iron Maiden. E no fim eu estava certo, não é?

Ele tinha se levantado e gesticulado que ia para a cozinha servir mais bebida. Como um bom curioso, eu me levantei e o acompanhei.

— Mas espera, baseado em que...

— Ah, sei lá! Seu nome, não sei! Black. Acho que ativou um gatilho automático para Black Sabbath e eu imaginei que você ouvia hard ou punk rock. – disse Remo, rindo de si mesmo. Eu estava me divertindo com aquilo.

Enquanto ele se servia, me sentei sobre uma bancada da pia e estendi meu copo para ser enchido também. Ele estava muito errado se pensava que podia simplesmente dizer que tinha me imaginado de outro jeito e que eu fosse me contentar com isso. Eu queria saber o que mais ele fantasiara a meu respeito.

— Agora estou curioso... o que mais imaginou?

— Uhm... ruivo. E uma barba tipo Ragnar, de Vikings. – explicou ele, ficando meio sem graça, e eu explodi em risos. – E, sei lá, tatuagens, motocicleta, um cachorro grande e babão...

— Você pensou que eu era algum punk de Schoreditch, Aluado! – eu não estava aguentando aquela imagem que ele tinha de mim. – Que grande decepção eu acabei sendo, eim? Sem barba de viking, sem tatuagem... só acertou mesmo na moto. Mirou em Ragnar, ganhou o Patrick de...

— 10 coisas que eu odeio em você! Você conhece esse filme?!

— Deve ser, tipo, um dos poucos filmes de romance que eu já vi na minha vida, e tudo por conta do Heath Ledger. – comentei, pulando da bancada e tomando um gole de Cranberry Vodka. - Mas é, eu até que gosto. A gravação que eles fizeram de Can’t take my eyes off you é provavelmente uma das melhores que eu já ouvi...

— O dia que alguém como Heath Ledger cantar daquele jeito para mim, eu juro que não respondo pelas minhas ações.

Agindo como o bom e velho Sirius cafajeste e sacana que cantava garotos no pub agiria, eu comecei a cantar baixinho, de um jeito que saberia que só Remo, ali perto, conseguiria ouvir e entender.

— You don't need anybody to kiss you, every day I'll be here by your side, don't go away, I'll keep you satisfied… *

Remo se virou ao ouvir que eu estava cantando, prestando extrema atenção em mim e, especialmente, aos meus lábios.

Oh, merda! Você pode ser menos gostoso, seu grande idiota!

— Beatles, I’ll keep you satisfied… fácil demais essa, Sirius. – disse ele, com um sorriso malicioso brincando na boca e um tom claro de provocação.

Então, ignorando completamente o fato de que havia meia dúzia de outras pessoas na sala ao lado que poderiam entrar na cozinha a qualquer segundo, e me apegando ao que James dissera sobre o interesse de Remo em mim e ao olhar meio lascivo que ele estava dando para minha boca, eu o beijei.

Senti meu corpo esquentar como se um vulcão das dimensões do Vesúvio tivesse acabado de entrar em erupção dentro de mim, e tudo acabou sendo mais intenso do que eu imaginara a princípio. Primeiro porque Remo correspondeu ao beijo com o mesmo desejo, e porque a boca quente dele, com gosto de Cranberry, contra a minha, era uma sensação indescritivelmente boa.

Diferenciando muito do jeito dele quando nos conhecemos, Remo me beijava de volta sem qualquer timidez. Havia uma fome no jeito como os lábios dele procuravam os meus, e eu sentia vontade de me fundir nele.

Então, de súbito, Remo se soltou de mim e murmurou, meio ofegante:

— Não. Não vai rolar assim.

Ele abriu uma porta de armário, como uma espécie de despensa, e me empurrou para lá. Bati a cabeça de leve contra uma prateleira, mas antes que eu pudesse protestar com a dor, a porta se fechou e tudo ficou escuro demais, em seguida, veio a sensação recentemente conhecida dos lábios de Remo me beijando.

O cabelo dele era, provavelmente, o mais macio que eu já tinha sentido, e eu enfiei meus dedos por entre eles enquanto aprofundava o beijo. Minha língua conseguiu se encontrar rapidamente na boca de Remo, num encaixe bom demais para ser verdade, e logo ele me apertava mais forte, tão inebriado de desejo quanto eu.

O amasso escalonou rápido e, por mais forte que estivesse o cheiro de umidade e sabão em pó ali dentro, nenhum de nós dois parecia muito interessado em interromper aquilo. Eu só queria me concentrar o máximo possível em todas as sensações do corpo dele no meu, passear minha mão pelas costas de Remo, por sobre a camisa, tentando achar uma brecha nos botões, para tocá-lo melhor, ouvindo todos os gemidos que ele abafava na minha boca ao me beijar.

Infelizmente coisa toda não deve ter durado mais do que uns cinco minutos, porque logo ouvimos Dorcas perguntando por Remo, e ele teve o bom senso de gritar de volta.

— Estou indo! Procurando velas para o bolo! – a voz dele nem mesmo tremia ou dava qualquer alteração que indicasse o que realmente estávamos fazendo.

Dei um jeito de roubar mais alguns beijos dele antes de deixá-lo abrir a despensa e, finalmente voltarmos à sala com a vela. Antes de sair, Remo colocou pedras de gelo em nossas bebidas, me mandando colocar o copo na boca.

— Achou a vela, Aluado? – perguntou James com uma cara maliciosa no segundo em que entramos na sala.

— Precisei da lanterna do celular porque a luz estava queimada, mas consegui. – respondeu ele com a maior tranquilidade, bebendo a vodca e estendendo as velas para Peter e então dando uma piscadinha na direção de todo mundo. – Vou chamar meus pais para o parabéns, escondam coisas que um jovem cristão não teria, por favor.

Eu ri. O miserável era um gênio da arte de esconder o que fazia! Quer dizer, ao menos esconder dos pais, o que já era suficiente, porque todos naquela sala deviam saber o porquê de termos sumido na cozinha por um tempo. Mas quando Sr. e a Sra. Lupin perguntassem a ele sobre a boca vermelha, o copo gelado demais não deixaria eles desconfiarem do que quer que fosse. Remo era habilidoso nessa coisa de ficar com as pessoas no sigilo.

Eu quis rir, bebendo calmamente e pensando nos últimos minutos dentro do armário, com a sensação do pescoço quente de Remo ainda muito viva na minha mão, a língua dele dançando na minha.

— Melhor pensar em outra coisa se não quiser deixar na cara, Almofadinhas... – disse James, dando um tapinha no meu ombro e levando nossos copos para o lixo.

— Eu não falei nada.

— Eu conheço você, não precisa. – ele deu uma piscadinha e eu ri.

Eu não confessaria, mas James era meu amigo a tempo suficiente para me conhecer e saber que sim, eu tinha ficado com Remo.

Depois do parabéns e das orações que o Sr. e a Sra. Lupin quiseram fazer pela vida de Remo, ou coisa assim, eles subiram para a sala de tv e todos nós ficamos ali mais um pouco, conversando e dançando, aproveitando o calor da sala de estar e as pizzas já frias e meio duras, evitando precisar encarar o vento gelado lá de fora, e a hora de ir embora.

Bem, ao menos foi o que James e Lily me disseram, depois, que todos tinham feito, porque Remo e eu tínhamos dado um jeito de continuar o que tínhamos interrompido, depois de comer algumas fatias de pizza e bolo, regadas a mais bebida gelada de Cranberry com vodca.

— Obladi, oblada, será que a gente já pode ir se beijar? – murmurou baixinho perto de mim antes de eu dar uma sonora gargalhada pelo trocadilho infame com os Beatles e me enfiar na despensa da cozinha com ele.


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Notas finais do capítulo

*: em tradução literal, Você não precisa de alguém para beijá-lo, todos os dias eu estarei ao seu lado. Não vá embora, eu o manterei satisfeito.

Quem pegou a referência Obla-di Obla -dah? Opiniões nesse Sirius roqueiro, galinha e um tanto lerdo? Vejo vocês nos comentáriossss! Beijooo ❤



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