Era La Musica escrita por Lanan Tannan


Capítulo 1
Capítulo Um


Notas iniciais do capítulo

Estou tão feliz por estar postando algo sobre descendentes novamente, ainda mais Devie - que quanto mais, melhor!

Esse é o resultado de um contrato que fiz em que eu postaria algo sobre Descendentes todo mês até dezembro SE Bárbara, Juliana e Emily cumprissem certos requisitos.
E elas cumpriram.
Vou deixar o link nas notas finais, elas têm várias VÁRIAS fanfics de descendentes maravilhosas.

(Vocês bem que poderiam ter deixado essa loucura passar, né?)

Ainda me pergunto o que eu estava pensando quando fiz esse contrato, mas rendeu essa historia então não tenho do que reclamar. Eu me apaixonei completamente por ela.

Enfim, aqui está.
Era pra ser uma one-shot, que virou uma duo e agora é uma shortfic de 4 capítulos. Autocontrole passou longe aqui.
Boa leitura



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Era la música

That made me run to you

Era la música

That made my dreams come true

 

05 de junho

Evie suspirou pesadamente, os olhos abrindo-se de encontro com a escuridão do quarto.

Uma noite de sono, calma e tranquila, era tudo o que ela queria depois do dia que tivera. Deitar a cabeça no travesseiro e acordar somente no dia seguinte, com as energias renovadas para enfrentar mais um dia na Scarlet, empresa onde trabalhava. Obviamente acordar às duas da manhã não estava em seus planos, mas existia alguém naquele prédio que sofria de insônia e simplesmente resolveu desrespeitar o silêncio daquela hora.

Nunca imaginou que chegaria o dia em que sua paciência se esgotaria. Mas esse dia estava muito, muito próximo, sentia isso. Entre a chefe ranzinza e o vizinho que atormentava seu sono, a batalha de quem arrancaria Evie de seu estado de calma e tranquilidade estava bem acirrada. Isso sem contar a situação em que seu apartamento se encontrava. Para uma pessoa tão organizada, aquela bagunça não ajudava em nada a manter o ambiente tranquilo e inspirador que tanto precisava.

Tinha se mudado para aquele apartamento no início da semana e boa parte de seus pertences estavam ainda embrulhados em caixas amontoadas pela sala. Isso sem contar os que ficaram no antigo apartamento que costumava dividir com sua amiga, Mal. Nos últimos dias, Evie passava pela porta, via as caixas e qualquer resquício de energia remanescente em seu corpo simplesmente evaporava, dando lugar ao cansaço.

O único lugar completamente organizado era sua área de trabalho. O segundo quarto tinha se transformado em um pequeno ateliê, abrigando agora uma mesa de costura e uma outra de desenho, com cada lápis, caneta, tecido e outros materiais milimetricamente organizados. Esse era o cômodo em que Evie mais gastava seu tempo, permanecendo ali até os últimos minutos antes de ir dormir. Infelizmente, as últimas três noites vinham sendo contempladas com uma trilha sonora que arrancava Evie do sono.

E essa noite não foi diferente.

Evie nem mesmo sabia qual era a música daquela noite ou qual instrumento estava sendo tocado. Não fazia a menor diferença. Ela só queria que seu vizinho respeitasse o maldito horário e ficasse em silêncio.

Evie rolou na cama, puxando o travesseiro sobre a cabeça numa tentativa de abafar o som que atravessava a parede e invadia seu quarto.

 

[..]

12 de junho

— … e, pelo que eu entendi, ele é o queridinho do prédio.

— Ele não é o proprietário, é? Ou algum parente?

— Não. — Evie respondeu, olhando distraidamente pela grande janela de vidro. O lugar onde estavam, no piso superior do restaurante, era formado por conjuntos de mesas brancas e cadeiras douradas, além dos pequenos globos de luz que pendiam do teto como lanternas chinesas. As enormes janelas de vidro forneciam a belíssima visão do jardim colorido e bem cuidado que rodeava todo o estabelecimento.

Kronk's Groove era o restaurante favorito de Mal e foi ali o encontro para o almoço naquela agradável tarde de sexta-feira. Essa era a primeira vez em que se encontravam depois de Evie ter se mudado. E mesmo que conversassem praticamente todas as horas do dia pelo celular, Mal quase fora esmagada em um abraço animado quando Evie chegou.

Depois disso, Mal perguntou como foi a semana e então Evie desatou a falar. Ou melhor, reclamar.

Evie contou sobre o vizinho que atormentava seus sonhos todos os dias com músicas de madrugada. Talvez ela tenha exagerado um pouco, considerando que só havia acontecido uma vez naquela semana. Mas o que importava era o que acontecia, e não a frequência.

Contou também sobre a conversa que teve com o síndico do prédio. Um alegre senhor que abriu o sorriso mais radiante que Evie já tinha visto quando ouviu a menção da música. Isso a fez hesitar durante a conversa, pois não era bem a reação que esperava. Ele explicou que o Sr. Dwarfsen, o “vizinho”, era um professor apaixonado por música e que, segundo o síndico, "alegrava a todos com sua belíssima habilidade". Pela explicação do homem, Evie pode perceber que todos os moradores do prédio adoravam ouvir as melodias desse tal professor e não se incomodavam com as ocasionais músicas fora de hora.

— Tem alguma coisa a ver com aulas de música. Ele é professor em uma faculdade ou algo assim. — Evie explicou para a amiga sentada à sua frente.

— Metade do prédio deve ser de alunos dele.

— Pois é. Ah, eu nunca mais vou conseguir dormir.

Mal pressionou os lábios. Estava sendo bem difícil manter a seriedade perante o óbvio drama que Evie acrescentava a história.

— Deixa eu adivinhar: trocar de apartamento não está em questão porque você fez um contrato de um ano e se romper paga multa?

— Exatamente.

— Qual instrumento ele toca?

Piano, foi o que dissera o síndico. Mas Evie não respondeu, porque agora o sorriso de Mal estava completamente à mostra, o que a fez revirar os olhos.

— Isso, divirta-se com meu sofrimento.

Mal riu ainda mais.

— Estou apreciando esse momento. É tão raro ver você brava desse jeito, chega a ser engraçado. — Evie preferiu ignorar o comentário. — Ninguém mais nesse andar reclamou sobre isso?

— Um apartamento está vazio e os moradores do outro estão viajando.

— Então você é a única, em todo o prédio, que está incomodada?

— Pelo jeito, sim. Uma hora isso deve acabar, não é?

— Ou você poderia bater na porta dele e dizer que a música te incomoda. — Mal ergueu a sobrancelha, o tom de voz ainda divertido ao dar uma batidinha na lateral da cabeça com o indicador. — Esse tanto de informação que você guarda aí, tá deixando seu cérebro meio lerdo.

— Há-há. Como se não bastasse isso, minha chefe continua afundando qualquer chance que eu tenha de entrar para a equipe. — Evie apoiou o braço sobre a mesa, deitando a cabeça na mão. Ela apertou a ponte do nariz, suspirando. — Estou tão focada nisso que nem tive tempo de arrumar o apartamento. Tem caixa em tudo que é lugar.

— Por que não disse que precisava de ajuda com o apartamento?

— Não preciso. — Evie apressou-se a dizer. Mal já estava com o celular em mãos, digitando uma mensagem. — Só estou estressada com esse negócio do desfile.

— Não tem nenhuma outra pessoa? — Mal questionou, parcialmente distraída. Ela conhecia bem aquela história sobre a equipe de estilistas e a gerente que não dava a mínima para as ideias de Evie.

— Não. São os gerentes dos departamentos quem escolhe. Tenho que impressionar ela se eu quiser ter uma chance de entrar nesse time.

— Sei que vai conseguir. Seus modelos são maravilhosos.

Evie abriu um sorriso, tentando soar menos desanimada do que se sentia.

— Estou torcendo pra ela ver isso.

— Prontinho. — Mal guardou o celular, com um sorriso vitorioso. — Jay e Carlos vêm amanhã e aí a gente te ajuda com o que precisar.

— Você não os obrigou a ir, certo?

— Não foi necessário. Você bem que precisa de um momento de distração e eles concordaram.

— Estou com saudade de passar as noites com vocês. — Evie confessou.

— Viu só? Vamos juntar o útil ao agradável. Agora chega de falar desse seu vizinho barulhento e a chefe ranzinza. Tenho um assunto que com certeza vai te deixar mais animada. — A pausa dramática de Mal foi completamente desnecessária, mas o efeito de suas próximas palavras foi instantâneo. — Meu vestido de casamento.

Evie só faltou soltar uns gritinhos de empolgação.

Evie e Mal eram amigas desde sempre. Se conheceram aos seis anos, frequentaram as mesmas escolas e até embarcaram numa viagem de mais de 2 mil quilômetros apenas para estudarem na mesma universidade. Isso rendeu uma nova vida em Merroway.

Foi nessa cidade que Mal reencontrou Benjamin, um antigo colega do fundamental a quem Mal costumava chamar "carinhosamente" de príncipe mimado. O início do relacionamento deles foi uma história muito engraçada, envolvendo até Ben andando de bicicleta nos corredores da universidade com um buquê de flores preso no guidão. Mal passou umas boas horas rindo quando viu isso. Depois de muito esforço, Ben tinha conseguido a façanha de derreter o coração de gelo de Mal e começaram a namorar no início do segundo ano da faculdade. E agora estavam noivos, com casamento marcado para o próximo ano.

Evie era a responsável por fazer o vestido da noiva, é claro. E ela estava muito animada com isso.

Mal continuou:

— Eu vi em uma revista alguns vestidos que-

— Você o que? — Evie exclamou, a surpresa completamente transparente em seu rosto. Evie tinha entregado algumas revistas para Mal, que havia descartado de forma enfática, alegando não precisar daquilo. Alguém tinha mudado de opinião, pelo jeito.

Mal deu de ombros, justificando-se:

— Eu preciso ao menos ver alguns modelos de vestidos pra poder dizer o que eu quero ou não.

Essas foram as exatas palavras de Evie quando tentou convencer Mal a ler as revistas.

— Até ontem você queria jeans e all star.

— Ainda não vejo problemas no all star.

Evie riu, não levando a sério as palavras da amiga.

— Você não vai casar de all star.

— Direitos da noiva não valem? — Mal rebateu. Evie moldou um “não” definitivo. — Enfim, vi alguns modelos interessantes.

— Ótimo. Eu fiz alguns esboços, mas eles estão completamente deploráveis. Bem longe de ser o segundo vestido de casamento mais bonito de todos os tempos.

— Segundo?

— Claro, o primeiro vai ser o meu.

O resto do almoço seguiu-se com os planos para o casamento, sem qualquer menção a trabalho ou vizinhos irritantes.

 

[...]

14 de junho

Evie e Mal estavam sentadas no chão da sala do apartamento de Evie, lugar onde passaram boa parte da noite. As duas começaram a revirar as caixas e organizar o que encontravam, mas pararam tudo ao se depararem com a coleção de fotos polaroid de Evie. Ficaram tão entretidas que nem mesmo perceberam que a madrugada já chegara e nada dos amigos aparecerem.

— Lembra dessa? — Evie estendeu uma das fotos para Mal. — É do primeiro ou segundo ano?

— Segundo, foi minha primeira final de campeonato. — Nessa foto, uma Mal de dezesseis anos, com cabelos curtos e ainda roxos, usando um uniforme vermelho salpicado de terra e grama, estava sentada nos ombros de Jay. O fotógrafo da escola pegara o exato momento em que Jay pulava, fazendo Mal rir com os braços para o alto. — Perdemos esse jogo e ficamos em segundo lugar, mas a gente comemorou como se tivesse vencido.

— Ah, sim. Você chorou nesse dia.

Mal fez uma careta.

— Óbvio que não.

— Ah, chorou, sim. Aí Jay invadiu o campo, te ergueu nos ombros e saiu anunciando que você era a estrela do time.

Evie pegou a foto de novo, relembrando aquele dia. Jay tinha sido o primeiro a entrar no campo, isso porque ele estava quase agarrado na grade tamanha ansiedade. Quando Evie finalmente os alcançou, Mal já estava rindo e tentando fazer Jay soltá-la.

— Depois disso, todo mundo achou que estávamos namorando. — Mal resmungou. Aquilo a tinha irritado tanto.

— Antes disso achavam que ele era meu namorado, não é? Era bem óbvio que eu tinha que estar nos jogos dele e eu só ia aos treinos porque você me arrastava. Mas ninguém entendia isso.

— Não acredito que vocês deixaram passar essa oportunidade de casal clichê. A líder de torcida e o capitão do time de futebol, seria o ápice do nosso ensino médio. — Mal dramatizou, causando um acesso de riso em Evie.

Elas logo voltaram as recordações.

Aquelas fotos costumavam estar penduradas em um mural no antigo quarto de Evie, mas tinha algumas ali que ela não via há algum tempo. A maioria eram compostas de momentos que passara ao lado de Mal, Jay e Carlos.

Evie e Mal eram amigas desde a infância, mas só foi no início do ensino médio que conheceram Jay e Carlos. A nova sensação do time de futebol e o garoto aficionado em ciência.

Em um dos dias que Mal “se dispensava” das aulas, ela fora treinar na quadra vazia de Dragon Hall, a escola onde estudavam. Em determinado momento, um de seus chutes acertou a trave e mandou a bola diretamente na cabeça de um Jay que acabara de se esgueirar até ali, fugindo da aula. Depois da discussão que se seguiu a isso — com Jay dizendo que merecia um pedido de desculpas e Mal o mandando ir falar com a trave — iniciaram uma competição para saber quem era o melhor e quem fazia mais gols durante a temporada. Isso durou o ano todo, mas foi naquele dia que se tornaram amigos.

Já Carlos tinha acabado de se mudar. Ele pulou uma série, o que o tornava o aluno mais jovem da turma e era bem óbvio o quanto estava apreensivo com a nova escola. Em uma das aulas de física, Evie se ofereceu como dupla para um projeto com ele. E, enquanto trabalhavam no gerador eólico que alimentaria a detalhada cidadezinha de madeira e isopor, a amizade dos dois floresceu. No fim, conseguiram nota máxima no projeto e se tornaram bons amigos.

Não demorou muito para os quatros se tornarem inseparáveis, mesmo com a faculdade e a mudança de estado. Jay seguiu o exemplo de Evie e Mal e mudou-se, indo cursar Educação Física numa universidade próxima a Merroway. Evie tinha certeza que Jay escolheu aquele curso porque era o único com menos de quatro anos, mas ele afirmava que era porque amava esportes — sua terceira grande paixão.

Carlos foi o único dos quatro que não se mudou imediatamente, por conta do curso de medicina veterinária que a faculdade local ofertava. Mas bastou estar com o diploma em mãos para ele embarcar no primeiro avião que ia para Merroway. Junto com uma amiga da faculdade, Jane, estavam finalizando a documentação para abrir uma clínica veterinária no outro lado da cidade.

— Não acredito que você ainda tem essa foto. — Mal resmungou, mostrando o que acabara de encontrar.

— Eu gosto dela.

Não tinha nada de mais na foto, era apenas uma selfie delas duas. Mas o problema para Mal era a franja que fizera no terceiro ano. Agora ela a odiava e tentava apagar qualquer prova de que alguma vez já existiu.

— O que eu tinha na cabeça quando fiz essa franja? — Mal se questionou, lançando a foto no amontoado de fotos já vista. Ela abriu um sorriso ao ver outra e mostrou para Evie. — Acho que o Carlos ainda não viu essa.

— Own, é o Dude filhotinho! Tinha esquecido dessa.

Mal franziu a testa, finalmente percebendo a ausência dos amigos.

— Falando em Carlos…

Evie entendeu.

— Será que aconteceu alguma coisa para eles demorarem tanto? — Agora Evie estava preocupada. Tinham se deixado levar pelas lembranças por… ela nem mesmo sabia quanto tempo e não conferiram o porquê da demora dos amigos. — Que horas são?

— São, ahn… — Mal esticou-se para alcançar o celular. Fez uma expressão surpresa. — … caramba, quase uma. Carlos deixou uma mensagem.

Porém, antes que Mal pudesse lê-la, batidas soaram na porta.

— Deve ser eles.

Evie se ergueu e foi abrir a porta, encontrando os dois amigos ali parados. Usando uma jaqueta de couro preta sem mangas, com os longos cabelos escuros escondidos sob uma touca vermelha e a expressão irritada, Jay teria feito qualquer pessoa hesitar antes de lhe dirigir a palavra. Isso, obviamente, até ele abrir um sorriso, que suavizava completamente sua feição como acontecia agora.

Evie devolveu o sorriso, mas teve que se afastar quando Jay fez questão de tentar bagunçar seu cabelo antes de entrar no apartamento.

— Não faz isso. — Evie bateu na mão dele.

— Demoraram, em.

Mal ainda estava sentada no chão, com as fotos no colo. Jay apressou-se em direção a ela e repetiu o mesmo que fizera com Evie, conseguindo dessa vez bagunçar o cabelo loiro de Mal e ganhando um palavrão em resposta.

— Jay estava resolvendo um problema. — Carlos respondeu, ajeitando a alça de uma mochila preta que estava em seu ombro esquerdo. Sob influência de Mal e Evie — que na época possuíam os cabelos roxos e azuis, respectivamente —, Carlos tinha descolorido parte de seu cabelo para tingi-lo de verde. Mas acabou desistindo e deixou algumas mechas de seu cabelo em um tom de loiro esbranquiçado. Ele foi o único que manteve o mesmo visual do ensino médio.

— De que tipo?

— Do tipo que vai me obrigar a atrasar a viagem.

A segunda grande paixão de Jay era viajar. E foi em uma dessas viagens que conheceu Lonnie, sua atual namorada e o grande amor da vida dele. Se conheceram ainda no avião por conta de um erro que acabou trocando a poltrona de Lonnie e a colocando bem ao lado de Jay. Os dois iriam visitar a mesma cidade e acabaram por decidir se aventurar juntos.

Carlos jogou a mochila sobre a mesa enquanto Jay e Mal paravam de se provocar como duas crianças.

— Então, o que temos pra fazer?

— Tem algumas coisas para montar ainda…

— Ótimo. — Jay estalou os dedos e foi em direção a Carlos. Abriu a mochila e começou a revirá-la, tirando alguns objetos. — Eu peguei algumas ferramentas, caso precisasse...

— E umas coisinhas a mais. — Carlos inclinou a mochila para revelar o conteúdo. Evie balançou a cabeça, rindo ao ver as latas de cerveja.

Jay continuava retirando as ferramentas e as colocando sobre a mesa. Por fim, ergueu uma furadeira, balançando-a no ar. Parecia empolgado em começar, a irritação com a qual chegara momentaneamente esquecida.

— Por onde eu começo?

Evie apontou a direção.

— Prateleiras no segundo quarto.

— Evie e eu já fizemos as marcações. — Mal gritou para Jay que tinha acabado de sumir no corredor em direção ao ateliê.

Carlos franziu o cenho, virando-se para Evie que tinha se ajoelhado ao lado de Mal, para ajudar a recolher as fotos.

— Você vai furar parede a essa hora? Não vai incomodar seus vizinhos?

— Ah, não. — Evie apontou para dois pontos, indicando os apartamentos 404 e 402. — Viajando, apartamento vazio e... — Ela abriu um estranho sorriso ao indicar o apartamento ao lado, o que deixou Carlos confuso. — … ele merece um pouco.

 

Carlos estalou a língua em frustração e jogou a carta na pilha no centro da mesa. Ao contrário dele, Mal emitiu uma exclamação de entusiasmo.

— Então meninos… — Um sorriso despontava em seus lábios enquanto pegava a carta que Carlos descartara.

Jay bateu a mão na testa.

— Filha da mãe!

Evie riu alto. Mal baixou as cartas que segurava, mostrando uma sequência e duas trincas que formavam sua mão vitoriosa. Mal e Evie comemoraram enquanto ignoravam as queixas dos rapazes.

O apartamento estava completamente organizado, as caixas haviam desaparecidos, as prateleiras no ateliê foram montadas e a única bagunça que havia agora eram as latas vazias ao lado da mesa. Haviam planejado sair naquela noite, mas considerando o fato de que passava das duas da manhã e que já tinham bebido uma quantidade suficiente para não ser prudente dirigir, decidiram por ficar ali mesmo e jogar algumas partidas de baralho. E Mal e Evie estavam vencendo, para desespero de Carlos e Jay.

— Vocês estão roubando. — Jay acusou, apontando o dedo para as duas. — Não tem como vencer seis vezes seguidas!

— Claro que tem. — Mal deu de ombros, presunçosa. — Vocês que são ruins.

Carlos ainda fitava a pilha de cartas, perplexo. Ele se virou para Evie.

— Deixa eu ver sua mão.

Evie prendeu o riso, entregando as cartas para Carlos. Já sabia o que iria ouvir e estava se divertindo antecipadamente.

— Não é possível!

— Vamos lá, mente brilhante. — Jay puxou a cadeira de Evie, fazendo um ruído alto ao virá-la de frente para ele. — Pode me explicar quais as chances de você fazer a mesma trinca nas últimas quatro partidas? Não é possível que todo Ás vai parar na sua mão.

Evie piscou, com um sorrisinho maroto.

— Não seja um mal perdedor, Jay.

Jay revirou os olhos, ainda revoltado com a derrota. Pegou as cartas que Mal tinha juntado e começou a embaralhar para mais uma partida.

— Devíamos começar a roubar também. — Carlos resmungou.

— Eu tô e não está servindo de nada.

— A-há, seu trapaceiro! — Jay se encolheu com o tapa no braço que recebeu de Evie. —  E você ainda acusa a gente.

Ele riu. Distribuiu as cartas, fazendo questão de não entregar as do topo, pois seriam para ele mesmo. Evie pegou suas cartas e se inclinou contra o encosto da cadeira. Mal inclinou a cabeça, trocando as cartas de lugar com aquele sorriso de canto de boca que ela sempre exibia não importava a situação. Carlos era péssimo em esconder sua expressão, deixava óbvio que a mão dele tinha sido ruim.

Antes que Jay pudesse fazer o primeiro movimento, no entanto, algo o distraiu. Ele ergueu a cabeça, ouvindo.

— Que som é esse?

— Você só notou agora? — Carlos questionou, sem desviar o olhar das cartas. — Faz uns bons vinte minutos que estou ouvindo esse piano.

— Você colocou música?

Evie negou. Ela tinha ouvido assim que os primeiros acordes da música ressoaram, como sempre.

— É o vizinho que atormenta os sonhos da Evie. — Mal explicou, com um sorriso divertido brincando em seus lábios.

— Oh, interessante… — Jay abriu um sorriso sugestivo, compartilhando da expressão de Mal.

— Ele toca piano de madrugada, isso que ela quis dizer. — Evie explicou, fitando as cartas.

Jay inclinou-se sobre a mesa, subitamente interessado.

— Como ele é?

Evie abriu a boca para responder, mas hesitou. O quão estranho era o fato de que ainda não tinha se encontrado com ele?

Jay tinha pensado o mesmo, pela expressão incrédula em seu rosto.

— Você está aqui há duas semanas e ele mora literalmente do seu lado. E você nunca o viu?

— Não... — Evie respondeu, lentamente. — Ele sai mais tarde do que eu e passa o dia inteiro fora, eu acho. Ele é professor, deve estar enfrentando o fim de semestre. Eu só o escuto de madrugada.

— Tá sabendo, em.

— Ah, cala a boca, Jay.

— Ele mudou de música. Essa me parece familiar. — Carlos comentou. Ele tinha desviado a atenção do diálogo entre seus amigos para poder ouvir a melodia.

— Eu conheço! — Mal sobressaltou-se. — É Inside of Me.

Carlos virou-se para ela, boquiaberto.

— Você escuta 3 Doors Down?!

Mal acenou em descaso. Voltou-se para Evie, balançando a cabeça em descrença.

— Eu não acredito que é disso que você estava reclamando, Ev.

— Espera, volta. — Carlos ainda não tinha superado a recém descoberta. — Somos amigos há sete anos e eu só soube disso agora?

— Por que isso é tão importante?

— É a minha banda favorita!

Evie deitou as cartas sobre a mesa, o jogo completamente esquecido.

— Não é nada bom quando você chega em casa querendo se jogar na cama, mas não consegue dormir por conta disso.

— Ou você chegava irritada e precisava descontar em alguma coisa. Já vimos a Mal fazer isso inúmeras vezes.

— Eu não sou a única. — Mal resmungou.

Evie considerou a fala de Carlos. Ela costumava ser o exemplo da calma em pessoa, o que sempre contrastou com a natureza tempestuosa de Mal. Era até estranho se sentir daquele jeito, tão estressada e cansada fisicamente. Sua mente funcionava bem perto do esgotamento também, principalmente enquanto estava na empresa. Mas, afinal, é normal sentir-se daquele jeito de vez em quando, ninguém era imune a momentos de estresse.

— Ah, vai, Evie, isso é bem legal.

Carlos concordou.

— Se a Mal, a pessoa mais resmungona que conhecemos, gostou da música…

— Ei!

— … talvez eu tenha exagerado. — Evie completou, pensativa. Talvez ela estivesse mesmo direcionando sua frustração em outro ponto.

Jay, que estivera em silêncio apenas observando a expressão de Evie, indagou:

— Isso acontece todos os dias?

— Não todos.

Evie assustou-se ao ouvir o ranger da cadeira quando Jay levantou-se de repente.

— Onde você vai?

— Conversar com seu vizinho.

— Jay!

Não adiantou. Os três encararam a porta aberta, surpresos com a súbita atitude de Jay.

Jayden, por ser mais velho — uns ridículos três meses —, possuía um estranho senso de proteção para com os outros três. Somando isso à sua impulsividade, já havia se metido em situações bem desagradáveis. Como o fato de ter sido expulso de um bar, uma vez, ao dar um soco em um homem. Tudo bem que o cara bem que mereceu, mas ainda assim rendeu uma discussão entre ele e Evie sobre o uso da violência.

Carlos foi o primeiro dos três a se mexer, correndo para fora do apartamento. No entanto, parou sob o batente, observando a situação se desenrolar na porta do apartamento ao lado.

A música parou.

— Jay está conversando com ele.

Mal soltou uma risada.

— Viu, não era tão difícil.

Evie lhe direcionou um olhar de censura.

— Eu tô falando sério, Ev. — O sorriso de Mal foi embora. Ela cruzou os braços sobre a mesa. — Se você realmente estivesse irritada com todo esse lance da música, já teria ido pedir para que parasse ou baixasse o volume, sei lá, algo assim. Mas você gosta de ouvir, por isso não fez nada ainda.

— Nunca disse isso. — Evie respondeu, rápido demais. Teimosia era uma característica que as duas compartilhavam.

— Você tá uma pilha de nervos ultimamente. Isso pode ser uma boa distração, não acha?

Carlos acenou freneticamente, chamando a atenção das duas.

— Ele está vindo. — Anunciou, voltando para dentro do apartamento.

Jay logo passou pela porta, fechando-a em seguida. Estava com o cenho franzido em confusão.

— Quem tem um piano no meio da sala?

— Ben. — Mal respondeu com uma risada breve.

— É sério?

Isso foi surpreendente o suficiente para desviar a atenção do que acabara de acontecer.

— Não sabia que ele tocava.

— E ele não toca, acredite. Ben tentou algumas vezes e foi um completo desastre. — Os rapazes continuavam a fitando, tentando entender o sentido naquilo. Mal deu de ombros. — Ele comprou junto com a casa. Não me pergunte o motivo.

Evie não estava interessada na falta de habilidade de Ben ou em suas compras inusitadas. Ela acenou para Jay, atraindo a atenção dele.

— O que foi que você fez?

— Eu só bati na porta. Quando você disse que ele era um professor, achei que fosse mais velho. Mas parece ter a nossa idade. — Jay comentou. Depois ergueu as mãos, defendendo-se do olhar recriminador de Evie. — E fui muito educado, pare de me julgar.

— O que você disse?

— O que vocês disseram, sobre a música ser legal e tal. Mas que estava atrapalhando você a dormir. — Jay acenou para Evie. — Ele pediu desculpas, disse que é uma forma de relaxar. Às vezes não consegue evitar.

— Tipo vocês duas com desenho. — Carlos destacou, lembrando-se de uma conversa que tivera com Evie. — Evie me contou de como quase enlouquecia quando encontrava uma das paredes do antigo apartamento coberta de tinta fresca.

— Nunca entendi porque você abandonava a tela pra pintar paredes.

Mal franziu o cenho.

— Sei lá. Eu estava estressada e as telas me lembravam da faculdade, o que só piorava.

— Você ainda faz isso. — Evie ressaltou.

— Ah, nem vem falar de mim. Eu bem sei que você passa cada segundo do seu dia naquele quarto imersa em seus modelos.

Aquilo não era mentira.

— É o meu trabalho.

— Você faz isso desde o fundamental!

O piano voltou, arrastando as notas lentas de uma nova melodia para dentro do apartamento. Mal riu ao ouvir o suspiro exasperado de Evie.

— É, cada um com seus hobbies. — Jay deu de ombros, pegando as cartas sobre a mesa. — Mais uma partida?

 

[...]

18 de junho

Evie praticamente saltitava no saguão do prédio, enquanto esperava o elevador. Tinha acabado de receber o manequim de moulage que havia ficado no antigo apartamento e agora finalmente seu ateliê particular estava completo. Mas não era por isso que estava tão animada.

A notícia que recebera naquele dia tinha pegado Evie de surpresa, isso porque ela estava quase desistindo de tentar fazer parte da equipe do desfile daquele semestre.

Evie tinha se formado há pouco mais de um ano. Isso, somado a sua curta experiência na empresa, tornava difícil que sua gerente desse credibilidade aos seus modelos. Modéstia parte, Evie sabia que eram bons. Mas precisava da aprovação da gerente de seu departamento para que seu portfólio fosse encaminhado ao responsável pela equipe do desfile.

Para cada semestre, uma equipe era formada a fim de desenvolver e produzir um desfile conceitual com o objetivo de representar as novas peças da marca naquele período. Eram selecionados estilistas, coolhunter, designers de estampas, modelistas, e demais profissionais, em cada uma das filiais da empresa.

O processo de pesquisa e definição dos aspectos técnicos — como a cartela de cores, tipos de tecidos e aviamentos a serem usados — tinham sido finalizados no mês anterior e agora iniciaria a modelagem e corte dos protótipos. Mesmo que não houvesse chances de que qualquer modelo que Evie criara pudesse ser usado nesse desfile, ainda era uma tremenda oportunidade. Ela teria a chance de trabalhar em um projeto gerenciado diretamente pela fabulosa estilista Edna Mode.

O problema, porém, era Medusa. Evie não fazia a mínima ideia se esse era o verdadeiro nome dela ou não, só sabia que começara sua carreira confeccionando joias. Possuía uma joalheria chamada Madame Medusa, a qual foi comprada e incorporada à empresa Scarlet há alguns anos. De alguma maneira, Medusa acabou se tornando gerente do departamento de design.

Medusa tinha recusado todas as solicitações de Evie para participar do projeto, não permitindo-se nem mesmo ver o portfólio antes de ignorar completamente. Exceto por hoje.

Quando recebeu a notícia de que Medusa havia encaminhado sua solicitação, junto com a recomendação, Evie sentiu como se tivesse tirado um peso de suas costas. Ela agradeceu a gerente de forma solene, enquanto por dentro estava quase soltando fogos de artifícios.

Evie precisava agora aguardar a resposta e torcer para que fosse aprovada.

O som anunciando a chegada do elevador fez Evie dar um passo para trás, arrastando o manequim para abrir espaço suficiente para a saída, caso alguém estivesse dentro do elevador. O gesto, porém, não foi rápido o suficiente. Assim que as portas se abriram, uma pessoa disparou lá de dentro, colidindo contra o manequim e quase derrubando-o sobre Evie.

— Uou!

Evie ergueu o olhar, rapidamente encontrando o indivíduo que quase a atropelou. Ela o viu sobressaltar-se por um segundo antes de estender os braços, ajudando-a a amparar o objeto.

— Você está bem?

Evie acenou devagar, em afirmação. Ela voltou-se ao manequim para verificar a situação, mas pelo que parecia tudo estava certo, mesmo que seu coração estivesse batendo um pouco mais acelerado do que de costume, devido ao súbito encontro. Ela respirou fundo, tentando se recompor, e acabou por inspirar um leve aroma de baunilha. Ele ainda estava parado à sua frente, fitando-a com um olhar preocupado sob os óculos tortos.

— Desculpe, eu estava no caminho e-

— Não, não. Eu que não deveria ter saído desse jeito. — Apressou-se a dizer. Apesar da afirmação de Evie, o rapaz não parecia completamente convencido de que ela estava bem. — Tem certeza de que não se machucou?

— Sim. Eu só achei que tivesse quebrado uma das rodinhas, mas está tudo bem.

Ele desviou o olhar para o objeto em que Evie se apoiava. O manequim era do tipo “saia”, um modelo muito comum para modelagem de roupas, representando apenas o tronco do corpo. Mas o rapaz olhou para aquilo como se fosse algo de outro mundo.

— O que é isso?

— É um manequim de moulage.

Ele pousou a mão na nuca, constrangido.

— Agora estou envergonhado por ter me assustado com um manequim.

Então foi por isso o sobressalto.

— Saiba que foi um pulinho adorável.

Ele empurrou os óculos de volta ao lugar e, para surpresa de Evie, enrubesceu.

Uma mulher se aproximou, parando ao lado dos dois. Ela apertou o botão do elevador e as portas se abriram novamente.

— Boa noite, vão usar o elevador?

— Oh, sim. — Evie moveu-se, empurrando o manequim em direção ao elevador. O rapaz se adiantou e o ergueu, passando-o sobre o pequeno vão entre o piso do saguão e o chão do elevador para evitar que as rodas do suporte ficassem presas ali.

Quando passou ao lado da senhora que acabara de chegar, ela soltou uma risadinha.

— Está extremamente cheiroso hoje, senhor Dwarfsen.

O sobrenome pareceu familiar para Evie, porém o deixou de lado para apreciar o incrível tom de vermelho que coloriu o rosto dele. Mesmo assim, ele acenou em agradecimento.

— Obrigada, senhora Wilson.

— Não era hoje aquele recital?

Evie desviou o olhar, agora lembrando-se de onde tinha ouvido o sobrenome. Então esse é o vizinho. Quantas vezes ela tinha reclamado dele naquele mês?

Como Jay tinha mencionado, ele realmente era mais jovem do que seu título sugeria. Não que tivesse imaginado antes a aparência dele, óbvio, mas não era nada do que esperava. Tinha facilmente a mesma idade que ela, talvez um ou dois anos mais velho, mas nada que o entregasse como um professor universitário.

O “vizinho” balançou a cabeça, como se só tivesse se lembrado do recital naquele instante.

— Eu acabei me distraindo. — Ele soltou uma risada sem graça e deu alguns passos para trás, saindo do elevador. Voltou a olhar para Evie no momento em que ela fazia o mesmo. — Me desculpe por ter esbarrado em você.

— Não foi nada, mas obrigada.

Ele arqueou a sobrancelha.

— Por ter esbarrado em você?

— Por ter se preocupado.

— É o mínimo que eu deveria fazer.

Evie o viu sorrir, antes que as portas do elevador se fechassem.

 

[...]

21 de junho

Evie deitou a cabeça sobre a mesa, os cabelos espalhando-se sobre a folha de desenho. O lápis que segurava escorregou pelos seus dedos, mas ela nem fez menção de pegá-lo.

Evie esperava aproveitar aquele tempo para colocar no papel algumas das ideias que discutira com Mal em relação ao vestido de casamento. Os desenhos, no entanto, foram parar diretamente na lixeira assim que eram terminados. Outros, que Evie considerava ter ficado razoavelmente menos ruim, foram separados no canto da mesa. Havia apenas dois deles.

Nenhum de seus esboços estavam saindo como imaginava e ela estava sentada naquela cadeira havia horas. Não estava sendo uma noite produtiva, principalmente pelo fato de sua mente insistir em desviar-se completamente de foco.

Um email. Bastou abri-lo para que toda a tranquilidade desse lugar a uma euforia momentânea, que já tinha desaparecido também. Era um comunicado, avisando sobre uma reunião com a gerente de seu departamento no dia seguinte para dar a resposta sobre a solicitação para o projeto do desfile. Evie o tinha recebido no início daquela noite de domingo e a ansiedade em saber logo a resposta tomara completamente controle sobre ela.

Era seu sonho desde a infância se tornar uma estilista, era apaixonada por criar e dar vida aos seus modelos. Evie poderia abrir seu próprio ateliê, Mal vivia dizendo isso. Mas no momento ela preferia adquirir experiência e conhecimento do mercado, e trabalhar para uma das marcas mais famosas do país oferecia isso. Além da oportunidade de atuar ao lado de grandes estilistas.

Isso, é claro, se conseguisse entrar para a equipe. E, mesmo assim, não havia garantias de que aquilo seria o salto da sua carreira, como tanto almejava.

Evie suspirou, erguendo o corpo e se jogando contra o encosto da cadeira.

— Vamos lá, Evie. Você precisa esquecer isso por um momento antes que enlouqueça. E conversar em voz alta consigo mesma não ajuda em nada.

Certo, talvez ela precisasse de uma pausa para colocar seus pensamentos em ordem. Quem sabe assim conseguisse uma inspiração para voltar a desenhar, porque sabia que não havia nada que a fizesse dormir naquele momento.

E ela não era a única. Evie conseguia ouvir a baixa melodia do piano que vinha do apartamento ao lado, mas a desordem em sua mente era tanta que a música parecia desaparecer.

Evie encostou a cabeça sobre o apoio da cadeira e fechou os olhos. Respirou fundo e prendeu a respiração por alguns segundo, lentamente soltando o ar em seguida. Repetiu aquilo mais três vezes, sentindo o corpo começar a relaxar.

Era algo que ela estava se acostumando a fazer, desde o fatídico dia em que reagira de maneira extremamente rude com um colega de trabalho, naquela mesma semana. Evie tinha acabado de voltar do escritório de Medusa, depois de ouvir mais uma recusa, quando Roland apareceu em sua frente. Ele estava tão animado ao revelar que tinha conseguido entrar para a equipe como um dos assistentes de design de joias.

A reação de Evie, no entanto, não foi a esperada. Ela realmente estava perdendo a cabeça.

Ela pediu desculpas assim que percebeu o que fizera e ele aceitou, parecendo entender a situação. Ainda assim, Evie se sentia culpada por ter descontado sua raiva em alguém que não tinha nada a ver com a frustração que sentia.

Assim como ela fazia em relação ao vizinho músico.

Ela lembrou-se do momento em que se encontraram no elevador. E o sorriso dele antes das portas se fecharem.

Evie não saberia dizer quantos minutos ficou naquela posição, concentrando-se em sua respiração, os pensamentos aos poucos se ordenando. Nem mesmo percebeu quando a outra música começara, mas se viu completamente imersa em sua melodia.

 

[...]

27 de junho

Evie hesitou, de pé, no meio do corredor vazio. A porta do apartamento 401 estava entreaberta e as notas melódicas escapavam por ali. Passava das dez da noite, um horário bem atípico se comparasse com o histórico de “perturbação musical” que seu vizinho causava.

Foi isso que chamou sua atenção. Evie não o tinha visto desde quando se esbarraram no elevador. Ele tinha sido gentil ao ajudá-la naquele dia e agora era um pouco intimidante poder “colocar um rosto” no vizinho sobre quem ela tanto reclamava. Principalmente depois de tê-lo chamado — mesmo que mentalmente e no calor da raiva — por alguns nomes indignos de se pronunciar.

Evie se sentia na obrigação de se desculpar por isso. Embora, tecnicamente, ele não saiba de nada. Mas a ajudaria em diminuir a culpa por ter sido tão teimosa e injusta. E foi por isso que Evie tinha decidido finalmente ir falar com ele, apesar de estar parada no mesmo lugar há mais de cinco minutos.

Se repreendendo mentalmente por estar enrolando, ela foi em direção a porta entreaberta. Evie deu uma leve batida e a porta se abriu um pouco mais. A música ficou mais alta e o canto de sua boca curvou-se em um sorriso involuntário. Evie reconhecia aquela música, era a mesma que ouviu em sua primeira noite ali.

Não parecia mais tão irritante quanto costumava pensar.

Evie tinha dado uma chance as músicas. E, sinceramente, possuíam o efeito magnífico de acalmá-la. Em conjunto a isso e o fato de não ter que trabalhar diretamente com Medusa pelo resto do ano, o estresse de Evie havia diminuído drasticamente nos últimos dias.

Mal tinha razão. As músicas eram boas distrações.

Evie estendeu a mão para a maçaneta e empurrou mais a porta, revelando o interior do apartamento. A luz estava apagada, apenas o brilho da lua que entrava pela grande janela aberta no fundo do cômodo iluminava o lugar. Ao lado da janela, na parede a esquerda, havia uma estante abarrotada de livros. Próximo a porta, um sofá recostava-se contra a parede esquerda, e um violão preso em um daqueles suportes de chão. Eram poucas as coisas que Evie conseguia ver por conta da baixa luminosidade, mas deu para perceber que os móveis foram, propositadamente, dispostos de modo que o centro do cômodo ficasse aberto para a atração principal.

E lá estava ele, sentado em frente ao piano enquanto dedilhava aquela relaxante canção. Com a cabeça baixa, concentrado nas teclas, ele não viu Evie parada sob o batente da porta, observando-o tocar.

E Evie não ousou interromper aquele momento. Ele parecia completamente imerso, reproduzindo as notas com uma leveza e familiaridade fascinantes. O ritmo da música acelerou-se por um momento, tornando-se mais frenética, as notas cada vez mais altas. E, então, retrocedeu, suavizando e se transformando novamente em uma leve melodia.

Quando os últimos acordes deixaram de retinir no ar, Evie soltou um suspiro. Aquela música era linda!

O vizinho — Evie continuava a chamá-lo assim — pôs uma das mãos sobre a nuca, massageando o pescoço, e com a outra estendeu a mão para pegar um copo que estava ao lado da partitura. No momento em entornou o conteúdo do copo foi quando ergueu os olhos e encontrou Evie.

Evie o viu engasgar-se e, por um momento, ele quase derrubou o copo sobre o piano.

— Eu bati, mas você não ouviu. — Evie justificou-se ao vê-lo se aproximar, a mão sobre a boca enquanto tossia. — Você está bem?

Era uma pergunta idiota, Evie percebeu assim que a disse. Era óbvio que ele não estava bem, ou não estaria tossindo e com os olhos tão arregalados. Mas a pergunta saiu antes que ela sequer pensasse direito.

Antes que Evie pudesse adentrar o apartamento para ajudá-lo, ele ergueu o polegar em sinal positivo. Pôs uma mão sobre o peito e respirou fundo. Ele parecia ter pulado da cama direto para o piano, com aquele cabelo bagunçado e os pés descalços, usando uma calça preta e camisa escrita “Coffee” com símbolos da tabela periódica.

— Oi.

— Oi. — Evie respondeu com um sorriso mínimo, vendo-o passar a mão sobre o cabelo. Ele sorriu, sem graça.

— Eu estava te incomodando, não é? Sei que não deveria ter deixado a porta aberta, mas acabei perdendo a noção do tempo.

— Está tudo bem. — Evie assegurou. Ele ainda tinha o rosto avermelhado pela tosse. — Na verdade, eu fiquei surpresa. Você costuma tocar um pouquinho mais tarde do que isso.

Ele pigarreou.

— É, às vezes eu não sei se é insônia ou inspiração. Talvez um pouco dos dois. — Ele estendeu a mão, abandonando um pouco do constrangimento e exibindo um sorriso simpático. — Me chamo Doug, a propósito.

— Evie. — Ela apertou a mão dele. — Você tem mesmo um piano na sala.

— Lindo, não? — Doug virou-se por um momento, soando orgulhoso de ter um piano de cauda no meio do apartamento. — Foi um presente, na verdade. Meu avô é apaixonado por música e, bem, ele tem dinheiro.

— Você deve ser o neto favorito.

— É, talvez.

O sorriso divertido dele esmaeceu. Evie o observou dar um passo para fora do apartamento e lançar um olhar ao longo do corredor. Parecia procurar por alguém.

— Desculpe, você estava esperando al-

— Não, eu só... ahn... — Doug hesitou, dessa vez olhando em direção às portas fechadas do elevador. — Você não viu nada diferente por aí, viu?

— Não. — Evie respondeu lentamente, um leve tom de desconfiança surgindo em sua voz. — Diferente como?

Doug pressionou os lábios, em um gesto de dúvida. Evie arqueou uma sobrancelha, inquisidora, e ele acabou por se render.

— Algo que não devia estar no prédio.

— Ah, okay, agora você me deixou curiosa. Tipo o que?

— Talvez um gato? — Doug respondeu, baixando a voz.

— Você tem um gato? Como entrou com ele no apartamento? — O prédio tinha uma política contra animais de estimação, proibição essa criada depois de um dos moradores ter sido internado por conta de uma alergia ou algo assim. É, o prédio não permite animais de estimação, mas não tem nada contra sons de piano durante a madrugada. Se os moradores estivessem satisfeitos, que continuasse, então.

 — Bem, não é meu. É do meu primo. Ele deixou aqui ontem e eu tinha que cuidar por três dias, mas o gato resolveu fugir hoje. — Doug explicou. Evie olhou para a janela e o temor deve ter transparecido em seu rosto porque Doug apressou-se em dizer: — Não, não! Eu só abri a janela depois que percebi que ele tinha fugido.

— Bom, então. — Aquilo foi um alívio, mas o gato ainda estava perdido. — Você quer procurar ele pelo prédio?

Pela expressão dele, era o que menos queria fazer naquele momento.

— Eu estava na esperança de que ele voltasse sozinho.

— Alguém pode acabar encontrando ele. Isso vai te causar problemas, não? — Doug assentiu. Ele não devia gostar muito do animal porque a animação dele em ir em busca do gato era completamente inexistente. — Eu te ajudo a procurar.

— Ah, não precisa se preocupar com isso.

— Vamos, eu não posso deixar um gatinho indefeso andando sozinho pelo prédio.

Depois de tantos anos de amizade com Carlos, era impossível não se preocupar com um animalzinho, não importando a espécie. E Evie não deixaria um gatinho perdido por aí, não se pudessem ir em busca dele.

Doug acabou por concordar, a contragosto.

 

...

Alguns minutos depois, — com Doug agora calçado e carregando uma bolinha com catnip, que era o objeto favorito de Cheshire, o gato — eles começaram sua busca ao descer as escadas em direção ao terceiro andar. Haviam decidido por procurarem primeiro no saguão do prédio, com receio de que o animal possa estar tentando sair para voltar ao dono. A decisão de ir pela escada viera de Evie, que afirmara ter uma chance maior de encontrá-lo, pois ele podia muito bem estar dormindo em um dos degraus.

Eles desceram o primeiro lance de escada em um silêncio constrangedor. Evie tinha ciência dos olhares de esguelha de Doug e não se impediu de sorrir ao perceber isso. Ele desviou rapidamente o olhar, pego em flagrante.

Evie decidiu, finalmente, por quebrar aquele momento silencioso.

— Então, aquela música que você estava tocando…

— Sim?

— Como se chama?

Doug pareceu aliviado por terem algo com que conversar.

River Flows in You. Era uma das favoritas do meu avô. — Ele deu uma risada breve, parecendo recuperar uma memória distante. — Ele sempre chorava com essa música. Dizia que o fazia se lembrar de uma antiga namorada que terminou com ele, mas não acho que era por isso que se emocionava.

— Não me parece uma música triste. — Evie ponderou, pensando em sua própria experiência ao ouvir aquela música há alguns minutos. Não tinha despertado nenhum sentimento de tristeza dentro dela, na verdade, trazia uma sensação relaxante, como se a fizesse sentir que algo de bom pudesse acontecer a qualquer instante depois de ouvir a música. — É relaxante, mas um pouco animador ao mesmo tempo. Faz sentido?

Ao seu lado, Doug acenou em afirmação.

— Claro que sim. O significado de cada melodia é moldado por quem a escuta, cada pessoa interpreta de uma maneira diferente.

Chegaram ao piso do terceiro andar. Assim como onde moravam, o corredor deste andar estava vazio, exceto pelo vaso de plantas solitário sobre um pedestal.

— Cheshire? — Doug chamou, tentando não erguer a voz e atrair a atenção dos moradores por trás daquelas portas fechadas. Chamou novamente, mas não obteve nenhuma resposta.

— Quem sabe tenhamos sorte no próximo. — Evie disse e retornaram as escadas, e a conversa. — Você disse que seu avô se emocionava com aquela música. E você? O que ela significa pra você?

Ele nem hesitou.

— Pra mim, significa confiança para superar os medos.

— Bem específico.

Doug parou no espaço em que a escada fazia a curva para o segundo andar. Evie permaneceu dois degraus atrás dele, vendo-o se virar para ela.

— Sabe como os acordes começam de forma leve e hesitante? É como se eu estivesse com receio de continuar; o mundo me assusta e eu tenho medo de me expor. E então, o ritmo começa a acelerar porque já estou me familiarizando com a música e eu acabo me empolgando. E todo esse sentimento começa a fluir em uma avalanche.

— Só que aí você volta a música.

— Mas não para o mesmo que foi no começo. — Doug pontuou. Ele parecia ter esquecido a busca pelo gato de seu primo porque continuou parado naquele espaço entre os andares, a empolgação tomando conta de sua voz. — Dessa vez é mais suave, a euforia ainda está ali, mas contida. Não de maneira ruim, eu apenas me acalmo porque percebo que não preciso me preocupar, eu tenho o controle dentro de mim que corre até a ponta de meus dedos. Então, eu ganho confiança novamente, dessa vez mais estável. A melodia se eleva, mais precisa e cada vez mais alta. Eu sei que consigo continuar, porque...

A voz dele foi se perdendo até ser interrompida por completo.

— Estava divagando, desculpe.

Evie desceu um degrau. Ele sorriu, principalmente pelo fato de Evie também estar sorrindo enquanto o fitava.

— Não precisa se desculpar. Isso foi lindo. — Era verdade. O brilho nos olhos verdes dele enquanto falava era tão genuíno. Doug era realmente apaixonado pela música, ela podia ver isso em cada palavra que ele dizia, em seu olhar e na expressão de deslumbramento em seu rosto. — Acho que nunca parei pra pensar nisso. Sobre esses diferentes significados. O próprio compositor cria suas músicas já sabendo qual sentimento quer transmitir, não?

— Sim, mas isso não impede que a pessoa que esteja escutando interprete de outra maneira. — Ele riu, com um dar de ombros. — Se eu escrevesse uma música que falasse sobre amarrar os sapatos, você poderia interpretá-la como uma belíssima canção de amor.

— E a música se tornaria isso. — Evie completou, vendo-o concordar em seguida.

— É como… — Doug gesticulou, buscando as palavras corretas para se expressar. — Não importa sobre o que a música fale, você a associou a um momento em que estava feliz, por exemplo. Então quando a ouvir, terá a mesma sensação.

— Isso é magnífico.

— Por isso é injusto quando as pessoas perguntam "qual sua música favorita". É impossível escolher, seria como ter apenas uma emoção para o resto da vida. Imagine ficar triste o tempo todo? Ou chateado, com raiva, com medo...

— "É humanamente impossível se sentir sempre de um mesmo jeito". — Evie citou.

— Exatamente, isso te torna praticamente um robô.

— Mas eu acho que podemos, sim, escolher uma música favorita.

— É? — Doug insinuou um sorriso divertido. — Se eu te perguntasse agora qual sua música favorita, o que diria? Sem pensar.

— Provavelmente alguma da Taylor Swift.

O sorriso de Doug aumentou.

— Viu, você não conseguiu escolher exatamente qual música.

— Você não me deixou pensar. — Evie o lembrou.

— Por que precisa pensar antes de responder? É a sua música favorita, afinal. Deveria pensar nela assim que te perguntassem.

— Tá, entendi seu ponto. — Evie admitiu, embora ainda restasse um pouco de dúvida.

Eles voltaram a descer os degraus, em direção ao segundo andar.

— Qual música você ia dizer? Agora pode pensar, se quiser.

Evie esbarrou no ombro de Doug, divertindo-se.

Love Story, talvez.

— Hmm, não conheço essa. Vou procurar depois.

 

...

Quando, enfim, chegaram ao saguão do prédio, o lugar estava vazio, exceto pelo porteiro que mexia no celular. Eles haviam explorado cada canto dos corredores nos andares por onde passaram e a esperança de encontrar o gato em um dos degraus também se mostrou frustrada.

— Eu vou lá perguntar se tem alguma encomenda pra mim. — Doug indicou o homem sentado na recepção perante o olhar de dúvida em Evie. — Pode ser que ele comente alguma coisa, caso tenha visto o gato.

— Eu vou procurar por aqui, enquanto isso.

Se separaram por um momento, mas não demoraram a se reencontrar em frente ao elevador, ambos sem informações do gato.

— Ele deve ter subido, então.

— Podemos ir até o quarto andar e de lá seguir pelas escadas. — Evie apertou o botão e o elevador abriu as portas.

Doug continuou verificando o saguão até as portas se fecharem e o elevador começar a se mover. Então se virou para Evie.

— Você trabalha com moda, não é?

— Design de moda, sim. — Ela respondeu. Eles vieram conversando sobre música e os seus efeitos a partir das emoções, então aquela súbita mudança de tópico a surpreendeu. — Por que?

Doug mexeu em seus óculos. Era algo que ele fazia bastante, pelo que Evie notara naqueles últimos minutos.

— Depois da minha reação vergonhosa ao me assustar com um manequim, eu tive que ir pesquisar pra saber o que era.

Evie sorriu com a lembrança.

— Ah, ainda acho que foi um pulinho adorável.

E novamente ele ficou vermelho em decorrência daquela frase. Ele sempre agia assim quando recebia um elogio?

— Quantas pessoas você conhece que se assustaram com aquele manequim?

— Bom, nenhuma que tenha tentado me atropelar antes. — Evie brincou. Ele compartilhou seu sorriso divertido. — Não vou dizer outra vez que sua reação foi adorável, você vai corar de novo.

E assim aconteceu. Evie piscou, fazendo-o desviar o olhar.

O zumbido do elevador parou e as portas se abriram.

— Olha quem está ali.  — Evie exclamou. Um amontoado de pelos cinza estava enrolado ao pé da porta do apartamento de Doug, dormindo tranquilamente.

— Ah, Cheshire. — Doug respirou aliviado. Ele saiu do elevador e se abaixou ao lado do animal para pegá-lo no colo. — Por que você é igual ao dono e tem que me dar tanto trabalho?

— Pelo menos ele está bem.

Evie esfregou atrás de uma orelha do gato que ronronou em resposta.

— Evie, este é Cheshire. — Doug balançou uma das patinhas do gato em direção a Evie. — Cheshire, esta é a bela moça que me ajudou a te procurar.

— Oi, Cheshire. — Evie balançou a patinha fofa do gato, entrando na brincadeira. — Ele é lindo.

Doug fez uma careta. Cheshire tinha começado a se contorcer em seu colo.

— E um reclamão.

Doug segurou o gato meio desajeitado e abriu a porta do apartamento, soltando-o lá dentro.

— Não saia daí, vou te devolver o mais rápido possível.

— Não fale assim. — Evie censurou. — Ele devia estar entediado.

— É, eu não sou uma boa companhia.

Dessa vez, foi Evie quem ficou constrangida.

— Não foi o que eu quis dizer.

Doug riu.

— Eu sei. Mas, sério, a habilidade desse gato em desaparecer e reaparecer em um lugar completamente aleatório é assustadora. Me deixa maluco.

Cheshire começou a se encaminhar em direção a porta, mas Doug foi mais rápido e a fechou, impedindo a saída. O gato miou lá de dentro, arranhando a porta.

Doug fingiu nem ouvir.

— Eu acabei não perguntando o motivo de você ter vindo aqui.

— Ah, sim. — Evie balançou a cabeça. Tinha se esquecido do objetivo inicial, distraindo-se com a busca pelo gato e a encantadora conversa que tiveram. — Na verdade, vim aqui para te agradecer.

— Pelo que?

— Pelas músicas. Tem me ajudado bastante nos últimos dias. Apesar de eu ter ficado com um pouco de raiva no início, confesso.

Doug se recostou na porta.

— E está tudo bem agora?

— Sim, eu estava estressada com o trabalho e acabei descontando em algo que não tinha nada a ver. — Evie fez uma pausa antes de continuar. — Na verdade, eu gosto de ouvi-las. Você toca muito bem.

— Obrigado. — Doug pareceu exultante com o elogio. — Qual era mesmo o nome daquela música da Taylor?

 

[...]

29 de junho

Evie nem se deu ao trabalho de abrir os olhos quando os primeiros toques da música chegaram aos seus ouvidos. Mas ela estava acordada, como em todas as outras vezes. E, dessa vez, não houve um primeiro momento de estranheza ao tentar identificar a música. Porque Evie a reconheceu imediatamente.

“I close my eyes and the flashbacks starts”, a letra surgiu em sua mente.

Doug estava tocando Love Story.

Um sorriso surgiu em seus lábios sem que ela pudesse se impedir. E porque o faria?

Evie continuou assim nos minutos que se seguiram, deitada com os olhos fechados, um sorriso no rosto, apenas apreciando a melodia do piano preencher todo o quarto. Aos poucos o sono foi retornando, e a última música embalou os sonhos de Evie pelo resto da madrugada.


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Notas finais do capítulo

Ah, a cena do elevador..., eu amo uma cena clichê, desculpem

Então o que acharam? Merece continuação ou finalizo aqui como uma one mesmo
Eu vou escrever os outros capítulos, mas postar já é outra história rs

...
Bárbara: https://fanfiction.com.br/u/326972/
Juliana: https://www.spiritfanfiction.com/perfil/julianabs

se vocês puderem cobrar elas pra atualizar logo, eu agradeceria



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