Seguro firme no corrimão. Os gritos são altos, quase ensurdecedores a essa altura.

Por que eles são tão obcecados em matar? Não estamos com fome, então não há a necessidade de fazer tantos humanos serem o prato do dia. 

Já deveria ter se acostumado. Diz uma parte irritante de meu cérebro. Os Volturi são sempre assim.

É, eu sei que são. Mas também são a única família que tenho, então preciso me acostumar. 

E logo. 

— Está aí de novo? — diz uma voz fria às minhas costas, e fico rígida ao notar sua presença. — Pensei que fosse juntar-se a nós hoje. 

Continuo observando o povo lá embaixo, sabendo que Jane permanece atrás de mim. 

— Relaxe, se eu não for sobra mais para vocês — eu respondo calmamente, agradecendo ao vento fresco que bate em meu cabelo. 

— Hoje foi divertido — comenta ela, juntando-se a mim no corrimão. Seus fios louros estão presos em um coque, o penteado que mais usa, e os olhos brilham num tom vermelho. — Havia até uma criança no meio. 

Engulo em seco, pega repentinamente de surpresa. Uma criança? Eles mataram uma criança?

— Vocês realmente não têm piedade — falo com uma risada, escondendo minha verdadeira opinião. — Os gritos maiores eram dela? Da criança? 

Olho para Jane, torcendo pra que ela não interprete errado a minha curiosidade.

— Não... eram de uma mulher — diz Jane solenemente, sorrindo enquanto contempla a paisagem. — Muito escandalosa.  

— Deveriam pegar apenas pessoas silenciosas — eu murmuro, abaixando o olhar para fitar minhas mãos. — Assim não tenho que ficar ouvindo aquilo. Chega a irritar. 

Incomodar seria uma palavra melhor, mas não quero que ela pense que eu fiquei com pena. 

— Seria mais divertido se estivesse conosco — repete Jane, virando o olhar para mim. — Assim poderia calar os gritos com suas próprias mãos. 

Solto uma risada fraca, porque realmente não tenho mais nada para dizer. 

— Ah, aqui estão. 

Ambas nos viramos em direção à voz, e sorrio ao ver Aro. Ele também sorri, uma expressão malvada que conheço bem. 

— Temos um lugar para ir — anuncia Aro, cobrindo seu cabelo preto comprido com uma touca. — E é bem longe daqui. 

— Lugar? — Tento esconder a surpresa, pois raramente saímos de Volterra. — Onde? 

Mas Aro não responde, apenas lança aquele sorriso malvado para mim e se vira de volta para dentro. 

— Se quer uma pista — sussurra Jane ao meu lado, os olhos ainda fixos nele —, é nos Estados Unidos. 

Abro a boca, apenas um segundo antes de fechá-la novamente. EUA? Faz anos que não vou lá. 

Desde a minha transformação, mais especificamente. 

— Esconda a surpresa, Bella — diz Jane calmamente, já caminhando para dentro. — Assim você vai estragar tudo...

Fico parada lá, me apoiando no corrimão para não perder o equilíbrio. 

E só penso em tudo que deixei para trás.