Faziam exatos quatro dias que eu havia acordado, eu começava a compreender tudo que havia acontecido comigo nos últimos dias, ao menos tudo que meus pais e os médicos diziam que tinha acontecido porque minhas memórias dos últimos meses da minha vida não haviam voltado.

Eu mexi a colherzinha plástica dentro do pequeno pote de sorvete e o levei a boca, eu estava muito bem, me sentia muito melhor que minha última lembrança em Jacksonville, mesmo assim o médico havia alertado que era necessário eu ficar mais uns dias no hospital caso alguma sequela além da falta de memória aparecesse.

A comida do hospital era uma droga, Bella havia trazido o sorvete escondido com a ajuda do namorado dela, que coincidentemente era filho de Carlisle Cullen o médico que eu havia conhecido, embora ele não aparentasse ter idade para ter um filho da idade de Edward mas segundo Bella ele era adotivo.

Apesar da falta de memória eu não tinha do que reclamar, eu não queria ser uma coitadinha desmemoriada e nem transformar isso em um drama, eu odiava dramas e por isso havia decidido encarar esse problema da melhor maneira possível.

Mamãe entrou no quarto com uma bandeja nas mãos e sorriu quando me viu tomando sorvete as nove da manhã – Oh meu Deus Nessie, você ainda nem tomou seu café! Reclamou ela se aproximando com a bandeja nas mãos e a deixou sobre minhas pernas – Bella está estragando você.

Estreitei meus olhos – Mãe eu tenho quinze anos não sou mais um bebê para ser estragada.

—Na verdade você tem dezesseis – Me corrigiu ela tirando o potinho de minhas mãos – Eu devolvo quando tomar meu café.

Rolei meus olhos e suspirei olhando para a bandeja – Quando eu vou poder ir para casa? Essa comida é horrível.

Mamãe sorriu – Tenho boas notícias, nesse exato momento Charlie está falando com o médico sobre isso, como você ficou bem esses últimos dias não há razão para continuar aqui.

Dei um suspiro de alívio olhando para o copo plástico com uma coisa que parecia um mingau – Se você provar e gostar eu prometo de como isso – Disse oferecendo o copo para ela.

Mamãe suspirou e olhou para mim pegando o copo da minha mão levando a boca, mas logo afastou fazendo uma careta – Tome o sorvete! Disse ela me fazendo rir enquanto me devolvia o potinho e tirava a bandeja das minhas pernas – Vou pedir autorização ao Carlisle para trazer algo da lanchonete para você – Disse ela caminhando até a porta e após abrir saiu.

Baixei a cabeça rindo.

Infelizmente o potinho de sorvete não era o suficiente para conter a minha fome, eu suspirei deixando o copo vazio na mesinha ao lado da cama e enrolei meus cabelos fazendo um coque, eu sentia meu corpo quente como se eu tivesse febril, mas segundo Carlisle era normal devido aos medicamentos.

Peguei o livro que Bella havia trazido para me distrair e folheei algumas páginas, ouvi o som do abrir da porta e virei meus olhos acreditando que fosse Reneé, então vi um rapaz parado olhando para mim, ele era alto, na verdade parecia ser mais alto do que a porta, tinha o corpo musculoso e atlético, cabelos e olhos castanhos que combinavam perfeitamente com a cor bronze da sua pele.

Uma mistura de sensações percorreram por meu corpo, como um choque elétrico percorrendo por minha espinha, os pelos de meu corpo se ouriçaram e meu coração acelerou, eu me sentia como se uma nova onda de felicidade tivesse tomado conta da minha vida, inexplicavelmente como se minha felicidade tivesse se resumido ao estranho que estava a minha frente.

Era como se ele fosse meu novo ponto de gravidade.

Minhas bochechas coraram.

Ao perceber que havia o encarado demais eu tentei disfarçar meu constrangimento – Está procurando alguém? Eu perguntei voltando a manter meus olhos nos deles.

Era impossível eu não o olhar.

O rapaz engoliu a própria saliva e suspirou – Eu – sussurrou ele – A Bella...

— Ela não está! Eu respondi – Mas você pode esperar, ela ficou de vir aqui, você pode se sentar.

O rapaz concordou e fechou a porta, novamente ele manteve seus olhos fixos em mim e eu não consegui não manter meus olhos nos dele.

— A propósito – Disse ele quebrando o nosso silêncio – Eu sou o Jacob, acho que não se lembra de mim.

Eu sorri – É eu não lembro do que comi nos últimos meses.

Jacob riu.

— Nós já nos conhecemos?

Ele concordou com a cabeça – Sim, mas não se preocupe com isso, você vai se lembrar.

—Eu espero que sim – Respondi.

Houve novamente um silencio, eu desviei meus olhos de Jacob voltando a corar, me perguntei se eu sempre me sentia assim antes, ele havia dito que nos conhecíamos então será que eu sentia a mesma coisa quando estava com ele?

— Algum problema Nessie? Perguntou Jacob fazendo com que eu o olhasse novamente – Está sentindo alguma coisa? Quer que eu chame a enfermeira? Seu semblante mudou para preocupação.

Neguei com a cabeça e tentei arrumar meus cabelos, eu estava péssima e com um pijama de hospital, novamente a porta se abriu e Bella entrou acompanhada de Charlie – Oi Jacob! Disse Charlie desviando o olhar dele para mim.

— Vem comigo! Bella falou puxando Jacob pelo braço e ele se deixou ser puxando por ela enquanto seguiam na direção da porta.

Jacob não tirou os olhos de mim até sair do quarto com ela.

Um aborrecimento inexplicável me dominou.

— Algum problema Nessie? Perguntou Charlie percebendo o meu silêncio.

— Não- eu sorri timidamente.

—Você se lembrou de Jacob?

Neguei com a cabeça – Eu teria alguma razão em especial para me lembrar dele?

Meu pai me olhou pensativo – Bom, vocês já se conheceram então acreditei que pudesse ter lembrando dele.

Olhei para Charlie e sorri timidamente, eu não me lembrava de Jacob Black mas com toda certeza eu não o esqueceria mais, mamãe entrou no quarto com uma nova bandeja nas mãos e se aproximou de minha cama enquanto Charlie nos dava a noticia sobre a minha alta.

Eu tomei meu café e me senti feliz por finalmente voltar para casa, mas dentro de mim havia uma voz que eu mesma não conseguia compreender, uma voz que chamava incansavelmente pelo rapaz que eu havia acabado de conhecer.

A voz chamava por Jacob Black, eu tinha a necessidade de novamente vê-lo.