Meus olhos se abriram lentamente, eu não sentia dor como momentos antes de ser consumida pela minha escuridão, mesmo com a visão embaçada pude ver o rosto da mulher que sorria para mim – Ela finalmente acordou – disse ela ao homem que aparecia ao seu lado.

Percebi que estava deitada sobre algo imensamente confortável, mas não era uma cama, o lugar era como um campo rodeado de arvores e flores, o local me recordava a clareira, uma clareira coberta de flores.

— Onde eu estou?  Foi a primeira frase que veio a minha mente em forma de pergunta, as últimas imagens que havia em minha mente era eu presa dentro da minha caminhonete e com minhas roupas cobertas por sangue – Vocês me socorreram? Perguntei deduzindo que era isso que havia acontecido.

— Você está em La Push – Respondeu a mulher de olhar angelical e sorriso cativante, eu me perdi em seu sorriso novamente, ela era linda, tinha os traços bastante comuns entre as mulheres da reserva Quileute mas tinha algo mais nele que encantava.

Será que eu era lésbica?

Eu sorri timidamente – Se eu estou em La Push provavelmente estou em um hospital? Eu não sabia que os métodos medicinais quileutes eram tão rústicos, Jacob me trouxe para cá é isso?

A mulher sorriu e o homem que estava ao seu lado me olhou com um semblante de confusão – Jacob meu pequeno Jacob! Sussurrou a mulher, eu pude perceber que ao sussurrar o nome de Jake seus olhos foram dominados por um brilho diferente, eu diria que cheio de amor.

O homem e a mulher viraram seus rostos na direção das grandes samambaias, eu estava acostumada com o tamanho das samambaias de La Push, mas essas eram um pouco muito maiores, como samambaias mutantes ou vindas de outro mundo, um rosnar fez com que eu me encolhesse e então o grande lobo negro apareceu diante deles.

Era o mesmo lobo dos meu sonho na noite da fogueira.

Apesar do susto minha reação foi inusitada até mesmo para mim, eu comecei a rir, ri alto como se tivesse acabado de assistir uma comédia ou ouvido uma piada – Eu estou sonhando! Disse em meio a meus risos, mas me calei quando o lobo olhou para mim.

— Desse modo vão assustá-la! Reclamou a mulher aproximando-se de mim.

—Como se ela não tivesse acostumada a ver lobos em sua frente – Rosnou o grande lobo e meus olhos se arregalaram, eu podia ouvir o lobo naquele sonho também.

— Você me entendeu Ephraim!

O grande lobo rolou os olhos e logo atrás dele outro lobo surgia.

— Por favor! Reclamou a mulher.

Os dois lobos partiram na direção das Samambaias e eu fechei meus olhos conferindo em voz alta – 1...2...3...4...5...6 – então abri meus olhos.

Dois homens saíram de dentro da floresta, um trajava uma bermuda surrada, o outro estava vestido como do homem que estava ao meu lado que eu acordei ambos tinham vestes que lembravam de nativos.

Um deles deu alguns passos aproximando-se e parou a minha frente tocando suavemente uma mecha do meu cabelo, eu o encarei, seus traços me lembravam alguém – Os mesmos olhos de Ellen, os mesmos traços, a pele tão clara quanto a lua nova- disse ele me olhando com um olhar doce, eu ruborizei.

Ellen? Quem era Ellen?

— Vocês estão a amedrontando- disse a mulher lançando um olhar de repreensão sobre eles, sua mão pousou sobre a pulso do homem que tinha a minha mecha de cabelo na mão – Por favor Levi controle-se.

— Por favor Sara, releve- Murmurou o outro homem aproximando-se – É natural que Levi tenha emoções ao ver uma garota tão parecida com Ellen.

Ergui uma das minhas sobrancelhas. Levi, Sara? Direcionei meus olhos no homem que havia dito aquelas palavras, era o homem que trajava a roupa nativa, lembrei das histórias que Jacob sempre me contava sobre seus antepassados, Levi, o nome me era familiar, Levi Ulley?

Meus olhos se arregalaram quando eu os direcionei a mulher, Sara? Lembrei do brilho em seu olhar ao citar o nome Jacob, então eu lembrei do sorriso de Jacob, Sara Black?

— Meu acidente deve ter sido muito grave para que estar sonhando com todos os antepassados quileutes – Sussurrei tentando respirar, em seguida o ar me faltou novamente – Será que eu...será que eu estou morta?

O medo e o pavor me consumiram...

— Acalme-se querida – Disse Sara tocando gentilmente meu ombro – Você não está morta, se está aqui é porque precisa ser preparada, esses são Levi Ulley, Ephraim Black e Taha Aki.

Novamente eu comecei a rir descontroladamente – Que sonho mais louco Nessie...falei comigo mesma.

— Você acredita que isso seja mesmo um sonho? Disse o homem que segundo a mulher era Taha Aki.

Minha risada cessou enquanto o homem me encarava.

— Para que isso funcione ela precisa saber a verdade! Disse Levi.

Taha Aki sorriu- Me acompanhe! Sussurrou ele dando as costas para mim e caminhou na direção do campo de flores.

Temerosa, eu olhei para Sara que acenou com a mão para que eu caminhasse, como era um sonho, o meu sonho decidi não me amedrontar, caminhei calmamente atrás do quileute.

Ele estendeu a mão na direção do campo e o cenário mudou.

Não estávamos, mas no campo, estávamos no hospital de Forks, meus pais estavam sentados na sala de espera, tinham o cansaço e o sofrimento explicito em seus semblantes – Charlie...eu murmurei caminhando em sua direção e me abaixei ficando de joelhos a frente dele – Pai, eu estou bem.

Meus olhos agora se direcionavam para Jacob que estava encostado próximo ao balcão da recepção, meu coração apertou em meu peito, eu sabia que meus pais estavam sofrendo, Bella estava sofrendo, mas Jacob, eu tinha ciência que e Jacob o sofrimento era mais devastador, o lobo deveria estar o dilacerando por dentro.

— Meu Jake! Eu sussurrei tocando seu rosto, mas ele não sentiu o meu toque.

Então o cenário mudou mais uma vez, agora estávamos em um quarto do hospital, olhei na direção da cama e caminhei lentamente, havia uma garota desacordada com aparelhos em seu corpo e um bip que se tornava cada vez mais distante um do outro.

A garota era eu.

Eu pisquei meus olhos e estávamos de volta ao campo, mas eu não conseguia me mover, olhei para os três homens e para a mulher e senti que as lagrimas dominaram meus olhos – Eu...engasguei em minha própria voz- Estou morrendo é isso?

Os três negaram com a cabeça em silêncio.

Eu os encarei por mais alguns segundos tentando digerir o que estava acontecendo comigo.

—Agora!

Sussurrou Taha Aki olhando para mim.

Dei dois passos para trás e parei ao sentir o queimar em minha pele, como se meu sangue começasse a ferver.

— O que é isso? Eu perguntei ofegante olhando para minhas próprias mãos.

—O seu teste começou pequena Ulley, chegou o momento de decidi sobre seu destino – A voz de Levi Ulley saiu como um sussurro atrás de mim.

Tudo ao meu redor se tornou diferente, as cores pareciam mais vivas e o cheiro das arvores, flores, terra eram divididos em meu olfato, como se meus sentidos estivessem aguçados.

Meus olhos caíram na direção do campo onde um animal movia-se a quilômetros de distância e minha garganta queimou.

Eu parti na direção dele tão rápida que eu mesma não compreendi como eu estava fazendo aquilo.