Na manhã seguinte eu acordei cedo, Jacob não estava mais em meu quarto, me levantei descansada, porém tensa pela minha discussão com Bella na noite anterior, talvez Jacob tivesse saído do meu quarto para evitar constrangimentos com Charlie.

Segui em passos largos pelo corredor e desci as escadas, Bella aainda estava no sofá, enfiada sob os cobertores que colocara ali para Alice, e pude ouvi-la falando com Charlie na cozinha. Parecia que Charlie preparava o café da manhã para ela.

— Foi tão ruim, Charlie? — perguntou Alice de um modo delicado, e a princípio pensei que eles estivessem falando dos Clearwater. Charlie suspirou.

— Muito ruim. — Conte-me tudo. Quero saber exatamente o que aconteceu quando partimos. Houve uma pausa enquanto uma porta de armário era fechada e um queimador era apagado no fogão. Esperei,

— Nunca me senti tão impotente — começou Charlie devagar. — Não sabia o que fazer. Aquela primeira semana... Pensei que ia ter que hospitalizá-la. Ela não comia nem bebia nada, não queria se mexer. Nem a chegada da irmã foi o suficiente para ajudá-la.

— Ela superou?

— Pedi para Renée vir e levá-la para a Flórida. Eu simplesmente não queria ser o responsável...

Charlie parou. Era difícil ouvir aquilo, sabendo quanta dor Bella causara a ele.

— Mas? — incitou Alice.

 — Ela voltou à escola e ao trabalho, comia, dormia e fazia o dever de casa.

— Mas agora ela parece melhor.

— É. Desde que começou a passar o tempo com Jacob Black, percebi uma grande melhora. Jake é maduro para a idade dele — continuou, ainda na defensiva. — Ele cuida da saúde do pai como Bella cuidou da mãe emocionalmente. Isso o fez amadurecer. É também um garoto bonito... Herdou da mãe. Ele é bom para Bella, sabe — insistiu Charlie.

— Então é bom que ela o tenha — concordou Alice.

Não sei por que aquilo me deixou tão aborrecida  cortei a sala e segui para a cozinha — Bom dia pai! Eu falei interrompendo propositalmente a conversa deles.

— Bom dia! Alice respondeu, mas eu não respondi nada, apenas caminhei até o armário, peguei a caixa de cereais, a tigela e a colher, em seguida puxei a cadeira e me sentei a mesa.

Charlie franziu as sobrancelhas — Algum problema?

— Por que eu teria? Murmurei enchendo a tigela com leite — a proposito você viu o Jacob?

— Vou esperar Bella acordar na sala! Alice falou com sua voz de vampira delicada, eu não respondi absolutamente nada, apenas o som dos cereais sendo jogados em minha tigela responderam a ela.

Charlie puxou a cadeira — Muito bem, qual o problema?

— Por que teria algum problema? Perguntei levando a colher de cereal a boca.

Charlie bufou, suas mãos pousaram sobre a mesa e seu olhar se manteve fixo ao meu — Faz algumas semanas que eu tenho notado uma certa aproximação entre você e Jacob — iniciou ele.

Eu apenas sorri — Não se preocupe pai, eu não sou o tipo de garota que toma os pretendentes alheios, existem coisas mais importantes na vida que relacionamentos.

— Você gosta do Jacob? Perguntou Charlie.

— Faça essa pergunta a Bella! Respondi — Vou escovar os dentes.

— Carlie! Ele me chamou com um tom mais ríspido em sua voz, mas eu simplesmente o ignorei subindo as escadas, seguindo de imediato para o banheiro, fiz questão de gastar muito tempo presa lá dentro, quando finalmente eu sai, Bella esperava do lado de fora, abri a porta e passei por ela em silencio indo para o meu quarto.

Charlie já havia saído, ele estava ajudando Sue Clearwater com os preparativos do enterro, Bella estava ocupada demais atualizando Alice sobre todo seu “sofrimento.”

 O tempo todo que passei em La Push com Bella havia representado um monte de negligências em casa, e decidi colocar meus deveres em dia. Eu queria fazer algo, qualquer coisa que me ocupasse e evitasse que eu tivesse de falar com Bella e facilitasse mais a vida de Charlie, talvez ele se sentisse um pouco melhor ao voltar para uma casa limpa e organizada. Comecei pelo banheiro, era o cômodo que mostrava os maiores sinais de desleixo.

Eu estava literalmente até os cotovelos em desinfetante, esfregando o chão do banheiro, quando a campainha tocou.

Desci a escada correndo, era Jacob, é claro, ele estava parado a uns dois metros da porta, o nariz franzido de nojo, mas seu rosto era tranquilo  como uma máscara. Ele não me enganava; eu podia ver o leve tremor de suas mãos.

— Oi — Bella disse por fim, uma vez que ele não falou nada.

Os olhos dele se direcionaram para a escada e ele sorriu — Oi! Ele murmurou ao passar por ela e caminhou na direção da escada — Me perdoe por sair sem avisar, mas eu tive uma emergência.

— Tudo bem! Respondi dando um sorriso.

— Agora decidiu me ignorar? Bella cruzou os braços.

O olhar dele se voltou para ela e em seguida para a bagunça de lençóis na sala de estar— Festinha do pijama? — perguntou ele, num tom sarcástico.

— É — Bella respondeu com o mesmo nível de acidez— O que você tem a ver com isso?

Ele franziu o nariz de novo como se sentisse um cheiro desagradável. — Onde está sua “amiga”? — Pude ouvir as aspas em seu tom de voz.

— Ela teve algumas coisas para fazer. Olhe, Jacob, o que você quer?

— Não foi por sua causa que eu vim aqui! Ele respondeu voltando a olhar para mim, o clima novamente estava tenso, eu suspirei descendo os degraus e o puxei pela mão na direção da cozinha.

Ele respirou fundo e seus dedos trêmulos de repente ficaram imóveis. Seu rosto se suavizou numa máscara de serenidade, ele novamente me puxou para seu abraço apertado de urso, eu novamente não recusei o gesto dele, que diabos estava acontecendo comigo?

Bella apareceu na cozinha e os olhos dele se endureceram. — Então lamento que tenha vindo — Ela respondeu ao que ele dissera na sala. — Por que não me diz de que precisa? Assim pode ir embora.

— Precisa saber que só podemos vigiar nosso próprio território com uma Cullen aqui. Vocês só ficaram seguras em La Push. Não posso mais protegê-las aqui.

— Tudo bem. É só isso. Bela respondeu.

Encostei-me na bancada e enterrei o rosto nas mãos. Como Bella pudera criar essa confusão toda? Como ela pudera ficar tão diferente? Mesmo percebendo isso agora, eu não podia pensar no que falar, estava começando a ficar cansada, eu nunca fora o tipo de garota que gostava de dramas pessoais, ao contrário da minha irmã que transformava sua própria vida em uma novela mexicana.

— Ness..? — perguntou Jacob numa voz trêmula, tirei as mãos do rosto e ele se  colocou na minha frente, baixando a cabeça para que seus olhos ficassem na altura dos meus — Você está bem?

— Não se preocupe, eu estou bem! Murmurei.

Bella suspirou e seu olhar se voltou para mim, porém não disse nada, apenas deu as costas e nos deixou a sós na cozinha.

Aquela situação estava começando a ficar chata.

— Eu não gosto do jeito como as coisas estão. Murmurei olhando para ele, aquela situação, Bella, Jacob e eu, começava a me incomodar, eu não queria brigar com minha irmã por um garoto, além disso, as palavras que Charlie havia dito mais cedo haviam me afetado como tapas na minha cara, na cabeça de Charlie era Bella quem deveria ficar com Jacob.

Jacob libertou um braço para colocar a mão grande e castanha sob meu queixo e me fazer olhar para ele.

Eu suspirei.

 Ficamos nos olhando por um longo momento. A mão dele queimava em minha pele. No início seu rosto refletiu o meu, mas depois, como nenhum de nós desviava os olhos, sua expressão mudou. Ele me soltou, erguendo a outra mão para passar a ponta dos dedos em meu rosto, descendo-os até meu queixo. Eu podia sentir seus dedos tremerem desta vez, não de raiva. Ele colocou a palma em minha bochecha, para que meu rosto ficasse preso entre suas mãos ardentes. — Ness— sussurrou ele. Fiquei paralisada.

Não sabia se podia fazer isso e agora estava sem tempo para pensar, mas também eu não tinha o menor desejo de  rejeitá-lo, eu o fitava. Ele não era o meu Jacob, mas podia ser, naquele exato momento, eu preferia que ele me pertencesse. Além disso, a quem eu estava traindo? Sem tirar os olhos dos meus, Jacob começou a inclinar a cabeça para mim, o toque agudo do telefone nos fez pular, mas não interrompeu seu foco. Ele tirou a mão de sob meu queixo e estendeu o braço para pegar o fone, mas ainda segurava meu rosto com firmeza, a mão em minha bochecha. Seus olhos escuros não deixavam os meus. Eu estava desnorteada demais para reagir, na verdade havia uma parte de mim que não queria reagir — Residência dos Swan — disse Jacob, a voz rouca baixa e intensa — Ele não está — disse Jacob — Foi a um enterro.

Depois Jacob desligou o telefone.

Bela correu de volta para cozinha gritando de forma desesperada — Jacob quem era? — Perguntou ela furiosa.

— O Dr. Carlisle Cullen. Respondeu ele.

— Por que não me deixou falar com ele?!

— Ele não perguntou por você — disse Jacob com frieza

— Como você se atreve a fazer isso na minha casa e no meu telefone? O olhar dela se voltou para mim — Como você permitiu isso?

— Como eu podia adivinhar? Perguntei olhando confusa para ela.

— Ele perguntou onde Charlie estava e eu respondi. Não acho que tenha quebrado alguma regra de etiqueta.

— Agora olhe aqui, Jacob Black...  

— Chega Bella! A interrompi, novamente puxei Jacob pela mão o tirando da cozinha e segui com ele pela sala, eu estava usando o restante de minha paciência para não brigar novamente com ela.

Alice estava imóvel ao pé da escada.

— Bella — engasgou-se e correu para o lado dela, seus olhos eram aturdidos e distantes, a face contorcida e mais branca do que osso. Seu corpo magro tremia com um turbilhão íntimo. — Alice, qual é o problema? — Bela gritou colocando as mãos em seu rosto, tentando acalmá-la.

— Edward — foi só o que ela sussurrou.

Alice pegava um pequeno celular prateado na bolsa quando meus olhos voltaram a focalizá-la. Seus dedos discaram os números tão rápido que foi como um borrão, falou com alguém ao telefone e depois seus olhos se voltaram para Bella— Edward ligou para cá, pensou que Jacob estivesse se referindo ao seu enterro.

Alice olhou de um jeito estranho para mim. — Você não está perturbada — sussurrou ela.

 — Bom, o momento é horrível, mas tudo isso pode ser consertado. Da próxima vez que ele ligar, alguém dirá a ele... o que... na verdade... — eu parei. Seu olhar estrangulou as palavras em minha garganta.

— Bella — sussurrou Alice. — Edward não vai ligar de novo, ele foi para a Itália.

— NÃO! — A negação aos gritos foi tão alta depois das palavras sussurradas que todos nós pulamos— Não! Não, não, não! Ele não pode! Não pode fazer isso!

— Ele se decidiu assim que seu amigo confirmou que era tarde demais para salvar você.

— Mas ele... Ele foi embora! Ele não me queria mais! Que diferença isso faz agora? Ele sabia que um dia eu ia morrer!

— Não acho que ele tenha planejado viver muito tempo após sua morte — disse Alice em voz baixa.

— Não podemos ligar para ele? Carlisle não pode?

 Ela sacudia a cabeça.

— O que está acontecendo? Perguntei confusa.

—  Eu o vi indo aos Volturi... e pedindo para morrer. — Respondeu Alice.

A resposta me deixou mais confusa ainda.

— Bella, eu... eu não acho que possa pedir a você para... — Ela parou de falar, indecisa.

 — Peça! — Bella exigiu.

Olhei desconfiada para ela, dei alguns passos em sua direção, mas Jacob me segurou.

— Talvez tenhamos tempo.

— Vamos!

— Preste atenção, Bella! Quer tenhamos tempo ou não, estaremos no meio da cidade dos Volturi. Seremos consideradas cúmplices dele se ele for bem-sucedido.

— Espera ai! Falei em um tom alto de voz me soltando dos braços de Jacob — Como assim Bella, vamos? Você vai para onde?

— Rápido, Bella — interrompeu Alice com urgência.

— Não você não vai! Eu falei em um tom mais alto de voz enquanto a seguia pela escada na direção do seu quarto — Bella você não pode sair assim, você está maluca?

— Não vá — sussurrou Jacob. A raiva desaparecera completamente, agora que Alice estava fora de vista.

— Por favor, por favor, por favor, cuide de Charlie! Ela falou para mim enquanto saia do quarto com a mochila nas costas.

Jacob e Alice estavam presos em algum tipo de confronto diante da porta aberta, tão separados ali que a princípio não se pensaria que estavam conversando. Nenhum dos dois pareceu perceber meu reaparecimento ruidoso. — Você pode se controlar de vez em quando, mas esses sanguessugas de onde a está levando... — Jacob a acusava furiosamente.

— Sim. Tem razão, cachorro. — Alice também rosnava. Os Volturi são a essência de nossa espécie... São o motivo para seus pelos se eriçarem quando você sente meu cheiro. Eles são a substância de seus pesadelos, o pavor por trás de seus instintos. Não estou alheia a isso.

— E vai levá-la para eles como uma garrafa de vinho a uma festa! — A enfrentei.

— Parem com isso! — Bella gritou louca de impaciência. — Discutam quando voltarmos, agora vamos!

Alice e Bella desceram as escadas correndo, Jacob e eu corremos atrás delas.

— Por favor, Bella. Estou pedindo. Um nó tomou minha garganta.

Mas ela apenas me puxou me dando um abraço apertado — Jacob ama você! Sussurrou em meu ouvido e em seguida se afastou, em seguida ouvi o motor do Mercedes; o ritmo aumentou quando Alice o acelerou com impaciência, a porta do banco do carona estava aberta à espera, Bella atirou a mochila por sobre o apoio de cabeça e entrou, batendo a porta. — Cuide de Charlie! — Ela gritou.