Interativa - Enquanto As Estrelas Brilharem escrita por Allyssa aka Nard


Capítulo 13
A Calmidade Antes Da Tempestade - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Acabei demorando muito mais do que pensei pra escrever esse capítulo rsrsrs
Espero que gostem ♥
(ps: se você não souber jogar truco, você vai ficar muito confuse no pov do Nick)



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P.O.V Nard

 

Acordei com suor descendo na minha testa. Minha respiração estava ofegante e pela minha visão borrada. Temi estar no mesmo pesadelo de antes. A enfermaria continuava silenciosa, mais dessa vez, meu braço estava bem mais dolorido.

Me sentei, tentando ignorar a dor latejante na minha cabeça e esfreguei meus dedos nos olhos, o que causou os dedos a arderem também. Quando minha visão finalmente se clareou, vi que meus dedos estavam enrolados em gaze e meu braço estava enfaixado na articulação perto do cotovelo.

Tentei desenrolar a gaze no meu braço, mas no final do processo a gaze estava presa na minha pele. Apertei meus dentes para tentar segurar a dor e dei um puxão forte, o que me deu a sensação de ter a pele arrancada fora do braço.

Olhei para a articulação, vendo um corte costurado lá. A dor era insuportável e a visão era extremamente grotesca. Hesitei um pouco, mas decidi desenrolar um de meus dedos, o dedo indicador. Desta vez, a gaze estava ainda mais presa, então mordi a manga da minha camisa quando puxei, mas uma parte da gaze continuou presa. 

Dei outro puxão forte, e berrei de dor, o que causou a cortina ao meu lado se abrir. Vi Aurora com uma expressão de confusão e surpresa, sentada na cama do leito ao lado. Olhei para o meu dedo desenfaixado e vi que não havia mais pele ali, estava apenas a carne viva. Fiquei com náusea ao ver o estado do meu dedo e quis vomitar, mas me controlei na hora. Ouvi os sussurros na minha cabeça recomeçarem e antes mesmo de Aurora puder falar, perguntei “Cadê a Hanna?”

Ela ficou um tempo sem falar, pensativa, o que me deixou preocupado. “A Hanna… Sumiu”, ela disse, me deixando extremamente confuso. “Como assim, sumiu?”, indaguei. “Alguma coisa rolou, e ela e mais 3 Campistas sumiram”. Praguejei em voz alta, já que só Hanna tinha meus comprimidos e os meus estavam dentro da Cabana 5.

“Porque tá tudo vazio aqui?”, perguntei. “Tá tendo um anúncio de alguma coisa no refeitório, geral foi pra lá” ela respondeu, para meu alívio. Ouvi a porta da enfermaria se abrir e logo depois minha cortina se abriu, com o Eve aparecendo.

 

P.O.V Nick

 

Havia uma tensão palpável na mesa, com um xingamento a casa blefe, sendo logo após ignorado com uma brincadeira. Fiquei surpreso com a velocidade em que Mevans aprendeu a jogar truco, e a rapidez para detectar os blefes simples. Normalmente nossos jogos são muito barulhentos, com muitos gritos, ameaças e palavrões, tudo na brincadeira, mas como eu estava preocupado com o estado mental do Mevans, pedi para o Rogelio e o Zed pegarem leve.

Rogelio foi um dos primeiros amigos que conheci no Acampamento, provavelmente por nós dois falarmos espanhol, e sempre dávamos uma “sacaneada amigável” na Maggie quando podíamos, mesmo que normalmente as “vinganças” dela fossem perigosas. Ele tinha olhos verdes brilhantes, cabelo escuro encaracolado curto, pele escura e um nariz fino.

 Zed era um filho de Hefesto, que fiquei amigo depois de ser parte do time dele em um “Capture a bandeira”. Ele tinha um cabelo muito loiro, quase branco, longo, e normalmente usava um rabo de cavalo. Olhei suspeitamente para o jeito que eles se encaravam, e supus que eles tivessem um “zap”

Minha mão estava péssima, eu tinha um rei de copas, um “mata-zap” e um “2” de paus, mas Mevans me sinalizou com um sinal de mão que ele tinha uma manilha. Eu era o primeiro da jogada, então joguei o meu “2”, já querendo ganhar de cara a primeira rodada. Zed jogou logo depois de mim, e simplesmente colocou uma rainha de paus. Pelo grunhido vindo da boca de Rogelio, pude dizer que havíamos ganhado a rodada. Mevans colocou um valete de ouros e Rogelio simplesmente colocou uma carta virada.

Na rodada seguinte, coloquei o meu rei de copas, já sabendo que eles ganhariam essa rodada. Zed colocou um “3” e Mevans e Rogelio colocaram cartas viradas. Confiante na mão de Mevans, e desconfiando que Rogelio tinha um “zap”, bati minha mão na mesa e berrei “É truco, corno!”. 

“Meio-pau!”, Zed respondeu, o que faria a rodada valer 6 pontos. “Nove!”, Mevans disse, me pegando de surpresa. Zed e Rogelio se encaram por alguns segundos, mas aceitaram. Zed colocou uma carta virada e Mevans colocou sua manilha, um “7” de copas. Rogelio colocou o seu “zap”, como eu havia previsto e começou a cantar vitória com Zed.

Deixei os dois comemorarem um pouco, ignorando as “sacanagens” que eles me falavam, e lentamente coloquei o meu “mata-zap” na mesa. Os dois ficaram com um rosto de incredulidade sem preço, e eu e Mevans rimos por uns belos 30 segundos. Logo, Rogelio sorriu e disse “GG”, apertando minha mão. 

“Preciso voltar lá pra ferraria, falou” disse Zed, saindo do refeitório. Eu e Mevans decidimos ir para o campo de treino, onde ficamos um grande tempo lutando e sacaneando um ao outro. Sentamos em uma bancada e encaramos o sol refletir nas árvores.

 

P.O.V Eve

 

Eu já achei que eu tivesse visto uma bagunça, mas a Cabana 5 me pegou de surpresa. Beliches desalinhados, camas bagunçadas e lixo jogado no chão. Andei em meio ao caos até achar a cama de Nard, o beliche de cima mais à esquerda do fundo. Segundo ele, eu encontraria os comprimidos numa fresta dentro do travesseiro dele.

Demorou um pouco, mas eu finalmente consegui encontrá-los, e os guardei no meu bolso. Enquanto voltava para a enfermaria, vi Maggie indo para a ferraria, com Aurora apoiada nos ombros dela, mancando. Mesmo assim, as duas sorriam e continuavam andando, conversando entre si. Me aproximei da porta da enfermaria e entrei, notando que a cortina do leito de Nard estava aberta.

“Tu achou?” ele perguntou, quando eu cheguei perto. “Sim” respondi, estendendo os comprimidos para ele. Ele pegou eles rapidamente, como se fosse uma criança tentando pegar um doce. “Mas não sei como vocês conseguem viver naquela bagunça” adicionei. Ele fungou e disse “Você devia ver nos dias de ‘Capture a Bandeira’”. Ele tomou os comprimidos secamente, sem nem beber água, e pela expressão no rosto dele, eles foram bem efetivos

“Bro, eu não quero ser xereta, mas o que caralhos aconteceu ali atrás?” perguntei, vendo o rosto dele se fechar com a pergunta. Ele murmurou alguma coisa e depois disse: “Tu já ouviu falar de ‘néda’?”. Fiquei confuso e respondi que não. “Néda sua conta curioso” ele disse, muito secamente para alguém fazendo uma piada.

Saí do leito, indignado, mas ouvi ele rindo alto ao longe. Voltei para ver a expressão taciturna dele sumir, dando lugar a um rosto feliz e sorridente, como se fosse uma criança no corpo dele. “Tu caiu que nem um pato mano” ele disse, logo voltando a rir.

Mesmo com o meu orgulho ferido, acabei rindo junto. “Se a Hanna confia em tu, eu confio em tu também” ele disse, o que me deixou feliz e restaurou um pouco do meu ego. Ele respirou fundo e falou lentamente, tentando achar as palavras certas para se expressar. “Eu e a Hanna… A gente não vem de um lugar legal, sabe? A gente passou 10 anos naquele lugar, tendo que sofrer todos os dias. Ela só tinha 5 anos quando deixaram ela surda e eu tinha 8 quando comecei a ouvir vozes”.

“Como assim ‘deixaram’ ela surda?” perguntei, ainda bem confuso. “Ela não te falou?”, ele respondeu, com um rosto de confusão. Movi a cabeça em negação e ele respirou fundo. “Se tu falar pra ela que fui eu que te falei, eu te mato” ele disse, mas logo depois continuou “Os ‘veteranos’, os moleques mais velhos, tavam putos que ela tinha tropeçado na mesa deles, e aí eles seguiram nós dois pra um corredor… Seguraram a gente e…” a voz dele começou a falhar, e vi que ele começou a chorar, coisa que eu nunca havia visto. “Eles tinham uns lápis afiados e eles… eles… eles colocaram com força nos ouvidos dela. Era tanto sangue, eram tantos gritos… A gente deu sorte que Atena deu um aparelho anonimamente pra ela…” ele disse, fungando.

Ele passou a mão no rosto, enxugando as lágrimas. “Porque você acha que eu sou sempre o ‘cara bacana’, que eu to sempre ajudando os outros? É porque se eu não consigo nem lidar com os meus problemas, eu pelo menos tento ajudar outras pessoas a lidarem com os delas mesmas. Pelo menos eu consegui passar isso pro Nick, mas ainda assim, essas ‘crises’ que eu tenho são uma merda”. Tentei confortá-lo com um abraço, mas ele se virou de costas quando me aproximei.

No começo eu queria chegar perto dele e o reconfortar, mas sabendo o quão mal ele estava, decidi pegar um pouco de ambrosia para ele. Ele comeu em silêncio, mas quando me levantei para sair, ele segurou a minha mão e disse “Fica”. Olhei para ele com uma certa confusão, e ele completou dizendo “Por favor”. Sentei na cama do lado dele e senti ele apoiar a cabeça no meu ombro.

 

P.O.V Aurora

 

A ferraria estava vazia, com exceção de nós duas. Por mais que minhas costelas estivessem me incomodando, sair da enfermaria para ter um pouco de ar foi reconfortante e a presença de Maggie apenas aumentou esse sentimento. Ela me disse que tinha uma surpresa aqui, mas ainda não havia me mostrado.

Ela parecia procurar algo no meio das mesas e vi ela encontrar um pedaço de metal que parecia um controle. Ela apertou um botão do controle e as cortinas do lugar se fecharam, nos deixando em uma pequena penumbra. “Antes de você ver a surpresa, eu preciso que você feche os olhos” ela disse.

Obedeci o comando, me sentando em um banco e ouvi ela fechando a porta da ferraria. Ouvi ela se aproximar de mim, e senti a respiração dela na minha frente, de tão perto que ela estava. Percebi ela se aproximando lentamente e senti um beijo logo depois. Os lábios dela eram extremamente macios e senti um calor subir pelo meu corpo. Apoiei meus braços nos ombros dela, e logo depois senti as mãos dela na minha cintura, levando um pouco de susto com o quão fria era a prótese dela.

Abri um pouco meus lábios, deixando que minha língua saísse, e senti ela fazer o mesmo. Brincamos um pouco com a língua uma da outra e senti ela sentar em meu colo. Perdi a noção de tempo de quanto tempo ficamos nos beijando, mas eventualmente nos separamos. “Você beija muito bem pra alguém que não é filha de Afrodite” eu disse brincando.

Ela corou bastante, mas depois respondeu: “Você também não é nada mal” ela respondeu, e eu sorri junto com ela. Ela sentou do meu lado e apoiei minha cabeça na dela. Ouvi a porta se abrir e levei um susto ao ver Hanna, coberta de suor e com a perna sangrando. “Cadê o Quíron?” ela perguntou, ofegando.


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Notas finais do capítulo

Eu confesso que foi bem difícil escrever o final do capítulo. Eu sou arromântica, então foi bem difícil fazer um cenário "plausível"(embora eu ache que tenha uma grande diferença entre "bitoquinha" e isso rsrsrsrs)
Espero que tenham gostado, deixem seus comentários♥