A roseira e os espinhos. escrita por Misa Presley


Capítulo 8
Confissão desestabilizadora.




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            Quando ao dois entraram na sala, Annelise já estava sentada. Como prometido: os lugares estavam reservados, na última fileira. Acostumara-se a ver filmes naqueles lugares, quando ia ao cinema com Lysandre. Um hábito que jamais perdeu.

            Castiel se sentou ao seu lado, envolvendo os ombros da namorada com o braço, enquanto Lysandre a contragosto, se sentava ao lado dele. Continuava se sentindo enojado ao ver aquelas demonstrações de afeto.

            — Vocês demoraram! — Annelise disse, ao se virar para Castiel, que ainda a abraçava. — Onde estavam? — A moça indagou, em tom baixo.

            — A fila lá fora estava enorme! Esperamos por um tempão, mas, ficamos com medo de perder o filme, então desistimos da pipoca. — Castiel respondeu, sorrindo de canto. Esperava que fosse uma desculpa satisfatória.

            Annelise achou aquilo um tanto mal explicado, mas preferiu não dizer nada. Esperava que os dois ao menos tivessem se entendido, lá fora. Não estava disposta a aguentar discussões.

            O filme havia acabado de começar, quando os rapazes chegaram. Era mais uma boa razão para esquecer aquele assunto. Afinal, saíra apara espairecer e não para ter aborrecimentos.

            Conforme o filme ia passando, Annelise e Lysandre pareciam compenetrados na obra. Prestavam atenção a cada mínimo detalhe, de modo totalmente interessado. No entanto, Castiel, estava terrivelmente entediado. De fato, o ruivo bocejava, lançando um olhar desinteressado ao telão, apoiando o queixo sobre a mão destra. Aquele filme era mais chato do que ele imaginava! Mal podia esperar para que acabasse.

            Vez ou outra, olhava para Annelise, cujos olhos marejavam nas cenas mais “melosas”, assim como Lysandre que algumas vezes secara os olhos. Francamente? Castiel não conseguia entender como eles poderiam gostar daquele tipo de filme.

            No entanto, sua salvação veio no momento em que o celular vibrou em seu bolso. Pegou-o, desbloqueando a tela, onde surgiu uma mensagem de Zack, que dizia:

            “Castiel, volta para o estúdio, cara! Deu um problema com a gravação. Teremos que refazer. Todo mundo já está aqui, vem logo!”

             — Merda! — Disse baixo, ainda olhando para a tela do celular.

            — O que foi? — Annelise sussurrou, desviando a atenção do filme, para olhar o namorado.

            — Deu um problema com a gravação de hoje. Terei de voltar ao estúdio. Desculpa, gata. Prometo te trazer depois para ver o filme. Mas temos que ir agora. — Ele disse. A verdade, era que estava aliviado por não ter mais de continuar ali. Estava quase dormindo, de tão entediado.

            — Você pode ir, Castiel. Eu quero continuar vendo o filme. — Annelise respondeu.

            — Mas, como vai voltar depois? Vai ficar tarde! — Castiel rebateu.

            — Eu pego um taxi, pode ir. — A moça disse, em tom baixo para não atrapalhar os demais.

            — Mas pode ser arriscado! — Castiel ainda tentou convencê-la. A realidade, era que não queria deixá-la sozinha com Lysandre.

            — Eu concordo. Pode ser perigoso voltar sozinha. Eu a levo em casa, Annelise. — Lysandre disse, lançando um olhar significativo a Castiel, como se quisesse lembrá-lo da conversa que tiveram no corredor.

            Era óbvio que Castiel ficara aborrecido. Entretanto, decidiu não falar nada. Precisava se controlar, para não desagradar a namorada. Além do mais, não poderia ficar ali por mais tempo. Acabaria atrasando seu trabalho.

            — Está bem. Agora tenho que ir. Te vejo em casa, gata. — Ele beijou rapidamente a bochecha de Annelise, se levantando em seguida. Não estava muito seguro em deixar os dois sozinhos. Mas, não tinha escolha. Por mais que a insegurança o atormentasse, precisava voltar ao trabalho. Afinal, sua carreira sempre esteve acima de tudo.

            Castiel passou por Lysandre, que teve que “encolher as pernas” para deixá-lo passar. No entanto, antes de sair dali o ruivo fez questão de olhar para o rapaz, de modo desafiador. Evidenciava que não confiava nele e que queria-o longe de sua namorada.

            Lysandre, por sua vez, pareceu ignorar Castiel completamente, voltando sua atenção ao filme, enquanto o rapaz saía da sala de cinema.

            Annelise percebendo o lugar vazio ao seu lado, e Lysandre sentado distante, resolveu chamá-lo para sentar mais perto. Afinal, se foram juntos ao cinema, não fazia sentido que ficassem afastados.

            — Lys. — Chamou-o em voz baixa, fazendo com que o rapaz virasse o rosto para olhá-la. — Senta aqui. Não fica aí sozinho. — Ela disse, ainda usando o mesmo tom baixo.

            Constrangido, Lysandre se aproximou um pouco mais, se sentando na poltrona da qual Castiel havia acabado de sair. Estava tão perto de Annelise, que não conseguia conter a ansiedade. De fato, seu peito arfava por baixo do fraque. Porém, a ansiedade se tornou ainda maior, quando ele sentiu a cabeça de Annelise pousando sobre seu ombro, enquanto ele não ousava desviar o olhar. Seu coração acelerou, a respiração se tornou descompassada. Não sabia o que fazer, naquele momento. Então, por reflexo, acabou deitando a cabeça sobre a dela.

            Ao sentir que Lysandre retribuíra seu ato de carinho, Annelise entrelaçou o braço ao dele, continuando a ver o filme. O rapaz, por sua vez, ao sentir o braço de Annelise entre o seu, acabou segurando-lhe a mão. Estava inseguro quanto ao que fazia, imaginando que seria repelido. Porém, foi uma agradável surpresa quando Annelise entrelaçou os dedos aos seus.

            — Estou feliz que esteja aqui. —  Annelise sussurrou, ainda com a cabeça aninhada no ombro de Lysandre.

            O rapaz esboçou um sorriso amplo ao ouvir o que ela tinha dito. Era bem verdade que estava apreciando a companhia dela. Depois de tantos anos longe, era reconfortante estar ao lado da mulher amada.

            — Eu também. — Ele disse, afagando a mão dela com o polegar, enquanto seus dedos continuavam entrelaçados. Estar assim, com ela, o remetia aos velhos tempos, quando ainda eram um casal. Queria que as coisas nunca tivessem mudado.

            No estúdio, Castiel não conseguia se concentrar. Tudo no que pensava, era em Annelise sozinha com Lysandre. Sentia um medo real de que eles pudessem acabar se reaproximando. Afinal, sabia quão intenso fora o passado dos dois. Queria confiar na namorada! Queria mesmo! Mas, a insegurança falava mais alto. A cabeça doía, pesava. Parecia ter uma tonelada, pesando acima do pescoço. Os ombros estavam rijos, pela tensão que o consumia. Esperava verdadeiramente, que Lysandre tivesse o mínimo de bom-senso e não fizesse nenhuma idiotice.

            Quando o filme acabou, Lysandre deixou a caminhonete no estacionamento do cinema, por mais algum tempo. Queria caminhar um pouco, com Annelise. Pretendia levá-la a um lugar, onde costumavam ir quando estavam juntos.

            A noite estava agradável! O céu estava limpo, repleto de estrelas, que luziam sobre o firmamento escuro, ao qual era agraciado com o brilho da lua cheia.

            As ruas iluminadas pela luz bruxuleante dos postes, estavam vazias. De modo, que caminhavam tranquilos até a entrada do parque. Apesar do horário, não viram problema algum em passar algum tempo ali.

            — Não acredito! — Annelise ria, olhando para Lysandre enquanto ainda caminhavam com os braços entrelaçados.

            — É verdade! Levei meses para conseguir arrumar a bagunça. Voou feno para todo o lado! Meu celeiro ficou destruído, porque eu esqueci de travar o freio do trator, quando saí. — Ele ria também, contando as desventuras da fazenda, enquanto se dirigia ao parque.

            — Meu Deus, Lysandre! É sua cara, fazer isso. — Annelise disse em tom brincalhão, quando entraram no parque. — E como conseguiu resolver? — Ela indagou, ainda caminhando ao lado dele.

            — Ainda estou resolvendo, na verdade. Estou tendo de reconstruir o celeiro, já que o destruí completamente. — Ele riu nervosamente.

            — Imagino que não deva ser fácil gerenciar uma fazenda sozinho. — Annelise comentou.

            — De fato, mas com o tempo você acaba se acostumando. O problema, de verdade, está em não ter ninguém com quem conviver. É um pouco solitário. Se eu pudesse escolher, não viveria lá. — Lysandre respondeu, agora parecendo um pouco mais sério.

            Ele havia tocado em um assunto delicado. Algo, que Annelise sempre se perguntou. Afinal, nunca conseguiu compreender o que o fizera abandonar tudo e voltar para o campo.

            — Então por que continua com isso? Por que foi embora? — Ela perguntou, agora parando de andar, virando-se para olhar nos olhos dele.

            O rapaz pareceu ponderar por alguns segundos, sobre o que diria. Não gostava muito de falar sobre o que acontecera nos últimos anos. Afinal, aquela não era a vida que queria para si.

            — Quando meus pais morreram... — Começou. — A fazenda ficou abandonada. Leigh tinha uma vida aqui. A loja, a Rosalya... Não queria de forma alguma, a responsabilidade de cuidar do patrimônio de nossa família. Não tive escolha, Annelise. Meus pais batalharam tanto para construir aquele lugar! Eu não poderia deixar que tudo desmoronasse. Chamei para mim, a responsabilidade de manter a fazenda funcionando. Desde que se mudou para cá, Leigh jamais colocou os pés na fazenda novamente. Não suportava a vida no campo. Como filho mais velho, essa era sua função, mas se recusou a executá-la. Sei que meus pais iriam querer que nosso lar jamais fosse abandonado, ou vendido. Como homem, fiz o que foi preciso para que nossa casa jamais fosse perdida. — Lysandre respondeu, de forma pesarosa. No entanto, ainda havia muito a ser dito.

            — Deixar a cidade, foi a coisa mais difícil que eu já fiz. Mas, nada doeu tanto, quanto perder você. Todos os dias, eu sofri pensando em como queria que estivesse comigo. Em como sentia sua falta. As noites eram solitárias e a dor era constante. Meu coração queimava, Annelise. Queimava como brasa, quando me dava conta de que não poderia vê-la. De que não poderia tocá-la! Beijá-la!  Acredito que ainda continue queimando, pois sinto-o ferver em meu peito, cada vez que vejo que Castiel a tem. Meu coração chora. Não sou capaz de lutar contra esse maldito ciúme que está me destruindo. — A voz dele embargou, de modo que quase travou em sua garganta. Os olhos de Annelise tornavam a marejar, enquanto agora podia sentir a mão de Lysandre alcançando a sua face.

            — Seu lugar é junto a mim. Preciso de você! Jamais a esqueci e tenho plena convicção de que jamais serei capaz de fazê-lo. — O polegar dele deslizava pela bochecha da moça, secando uma das lágrimas que escorriam de seus olhos azuis.

            — Aqui, nesse mesmo lugar, há oito anos atrás, eu disse pela primeira vez que te amava. Você se lembra disso? — Lysandre perguntou, e Annelise respondeu com um movimento positivo com a cabeça.

            — Estamos aqui novamente, tal qual naquela época. E tudo o que tenho a lhe dizer, é que por favor, acredite quando eu digo que ainda te amo. — As palavras escapavam por seus lábios, de modo que ele não era capaz de controlar. Tudo aquilo jazia preso por tempo demais! Precisava ser dito.

            A confusão se instaurava no coração de Annelise, que não sabia o que fazer, naquele momento. Sonhara por tantos anos com o momento em que Lysandre diria que ainda a amava, que agora não conseguia ter qualquer reação.

            Num ímpeto desesperado, Annelise envolveu o pescoço de Lysandre com os braços, abraçando-o com força. Soluçava nos braços dele, sentindo-o envolver sua cintura, apertando-a mais naquele abraço que tanto lhe fizera falta.


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