A roseira e os espinhos. escrita por Misa Presley


Capítulo 45
O grande dia.




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            Os meses que se seguiram ao casamento, foram os mais felizes da vida de Lysandre. Era incrível poder ver, que o filho crescia e se desenvolvia, no ventre de Annelise. Cada chute, cada movimento que o bebê fazia, cada momento em que a barriga se tornava maior... Tudo isso, o emocionava profundamente.

            Incontáveis foram as vezes, que ele de madrugada, ficou acordado, imaginando em grande ansiedade, como seria o momento em que veria o rosto do filho pela primeira vez. Imaginava qual seria a cor dos olhos dele, do cabelo, como seria o narizinho, as mãozinhas; e, quão forte elas agarrariam seu dedo. Imaginava como seria o som da risada dele, do chorinho e até mesmo, quão sorridente o filho seria.

            Constantemente, estava abaixado junto a barriga da esposa, a afagando e conversando com o bebê. Queria que ele reconhecesse sua voz, quando nascesse. Que soubesse que ele era seu pai! Que Lysandre sonhava dia após dia, com o momento em que ele chegaria. Que era extremamente amado e esperado.

            Uma vez, lera que os bebês conseguem ouvir vozes e sons externos. Então, além de o casal constantemente conversar com o bebê, Lysandre também colocava música clássica para que ele pudesse ouvir. Sempre usando headphones que eram colocados sobre a barriga de Annelise.

            Ficava embasbacado, ao ver como o bebê se acalmava imediatamente no ventre da esposa, quando ouvia música clássica. Não importava quão agitado o pequeno estivesse: sempre que o pai colocava música, ele ficava quietinho. O que fazia Lysandre imaginar, que o filho seria músico, igual a ele.

            Além disso, não era raro ver Annelise lendo contos infantis em alta voz, enquanto afagava a barriga. Ela gostava de sentir o filho se mexendo, reagindo à sua voz, cada vez que ela contava a estória do patinho feio, dos três porquinhos, ou qualquer outro conto retirado de um livro que Lysandre havia comprado para o bebê.

            Eles eram a definição perfeita de “pais coruja”. Pois, desde que souberam da gravidez, passavam o tempo todo pensando em como seria o nascimento da criança.

            Quando descobriram que seria um menino, se apressaram em decorar todo o quarto que ele ocuparia. Ambos queriam algo que fosse delicado, mas ao mesmo tempo, de bom gosto. Pintaram uma das paredes de azul claro, enquanto deixaram as outras cobertas com papel de parede branco, repleto de estampas de coelhinhos azuis, para que houvesse contraste com os móveis azuis, que foram escolhidos à dedo.

            Foram dias e mais dias, ficando cobertos de tinta azul e cola para o papel de parede, enquanto eles mesmos pintavam as paredes daquele quarto. Mas, não pareciam se importar com a sujeira. Tudo o que queriam, era que o filho tivesse um ambiente acolhedor para dormir, quando chegasse.

            A escolha das cores, dos móveis, do lustre, dos tapetes, das prateleiras, dos objetos de decoração... Todas foram difíceis de se fazer! Cada vez que entravam em uma loja para comprar as coisas para o bebê, a indecisão acabava os vencendo. Afinal, aquele era o primeiro filho que teriam! Perfeição era algo que ambos buscavam. Mas, quando finalmente conseguiam decidir, viam que valera a pena as horas discutindo na loja a respeito dos móveis.

            De fato, era agradável ver o berço azul claro e o roupeiro na mesma tonalidade, contratando com a brancura imaculada das paredes, que traziam suavidade ao cômodo. Além disso, a poltrona confortável, na mesma cor, que estava pousada ao lado do berço, também trazia certo ar de sofisticação.

            Encheram as paredes brancas, com prateleiras azuis, abarrotadas de bichos de pelúcia, brinquedos e livros infantis. Afinal, cada vez que iam a uma loja de artigos para crianças, compravam praticamente tudo o que viam, pela frente.

            Era engraçado ver, como o casal ficava apaixonado pelo tamanho minúsculo dos sapatinhos, luvinhas, macacões, camisetinhas... Cada vez que seguravam entre os dedos uma roupinha de bebê, era inevitável o sorriso ao imaginar como o filho deles ficaria usando aquilo.

            Passaram meses, organizando e montando o quarto do bebê. Queriam que tudo fosse perfeito! Absolutamente cada mínimo detalhe, deveria ter o toque dos dois. E, satisfatoriamente, puderam ver que haviam conseguido o que queriam. O quarto finalmente estava pronto! Perfeitamente de acordo com tudo o que haviam imaginado. As cores, os móveis, o tapete felpudo azul claro, sobre o assoalho de madeira... Tudo era agradável de se ver.

            O lustre azul em formato de balão, onde um coelhinho estava dentro de uma cestinha, trazia um toque a mais de delicadeza e um ar mais infantil, contrastando com o teto branco. Além, é claro, de combinar com a silhueta azul das estampas de coelhinho sobre as paredes brancas.

            Na parede azul, colocaram alguns quadros com desenhos de coelhinhos brancos, em uma moldura branca, para trazer algum contraste. Além, é claro, de uma placa de madeira branca, com detalhes em azul escuro, recortada perfeitamente no formato do nome do bebê: Logan. Algo, que trouxe um charme a mais ao quarto, além de identificar quem é que dormiria ali, dentro de alguns meses.

            Estava sendo uma rotina exaustiva, a de conciliar a decoração do quarto de Logan, o café e a fazenda. Era quase como fora, quando estavam reformando a casa antes de casarem. Mas, sabiam que quando estivessem com o filho nos braços, cada mínimo esforço teria valido a pena. Cada enjoo, cada tontura, cada oscilação de humor, cada peça de roupa que não entrava mais, cada desejo absurdo de madrugada, onde Annelise obrigava Lysandre levantar da cama e lhe trazer as combinações de comida mais estranhas... Tudo isso iria valer a pena, quando Logan estivesse ali. Eles sabiam disso perfeitamente, pois, cada dia que passava a ansiedade crescia, de modo que quase não eram capazes de aguardar pela hora em que ouviriam o choro de seu bebê, pela primeira vez.

            Os meses continuaram avançando, eles não parariam. Mesmo que cada segundo fosse para o casal, uma eternidade. Porém, em uma manhã fria, em um sábado no Outono, o grande dia finalmente chegou.

            Estavam em uma correria terrível, no café. Precisavam montar os doces e o bolo para um aniversário de quinze anos, que seria à noite. Então, todos estavam correndo contra o tempo, para entregar tudo antes do entardecer.

            Para que dessem conta da demanda, tiveram que fechar o café naquele dia. Afinal, era uma encomenda enorme! Teriam de dar total atenção ao pedido feito pela mãe da aniversariante, que fora bem específica na escolha dos doces e no sabor dos recheios que queria.

            Até mesmo Nina que apenas servia as mesas, agora estava ali, enfiada na cozinha, decorando cupcakes com um creme cor-de-rosa, repleto de glitter comestível.

            Lysandre tratava de preencher os profiteroles com ganache de framboesa, para ganhar tempo enquanto as tortas de nozes com creme de avelã, gelavam na geladeira. Além é claro, das quase quatrocentas tortinhas de morango, mais as outras quase quatrocentas tortinhas de limão, que estavam em formas pequenas, gelando para que fossem entregues impecáveis.

            Annelise, por sua vez, decorava ao bolo da aniversariante, com pasta americana cor-de-rosa-choque, alisando-a o melhor possível, antes de colar as rendas de açúcar em tom rosa-claro.

                  — Como estão os bombons de licor, Nina? — Annelise perguntou, enquanto ia começando a colocar as rendas delicadas, no enorme bolo de quatro andares, recheado com três tipos de ganache: chocolate ao leite, chocolate branco e morango. 

                  Nina largou ao saco de confeiteiro, caminhando até a geladeira para verificar como estavam os bombons. Abriu a porta, verificando os quinhentos chocolates, que gelavam já embalados. De fato, tinham passado o dia anterior inteiro, os embalando. — Estão bem firmes. — Nina respondeu. 

            Haviam começado o trabalho há três dias, para que tudo ficasse pronto no prazo certo. Mas, naquela manhã, a correria era ainda maior do que nos dias anteriores. O problema, é que não imaginavam que a correria se tornaria ainda maior, por conta de um pequeno imprevisto, que se mexia inquietamente no ventre de Annelise.

            Ela parecia cansada. Naquela noite, não havia dormido quase nada! Logan não parava de se mexer um minuto, em meio a chutes que a deixavam sem ar. Seus pés estavam terrivelmente inchados, assim como todo o seu corpo. De fato, já não cabia em mais nenhuma de suas roupas, tendo que usar as calças de moletom de Lysandre, quando estava em casa. E, no trabalho, tendo de usar apenas os enormes vestidos de gestante, que tinha comprado.

            Sua coluna doía, pelo peso do bebê. O que não era de se estranhar, já que estava na última semana de gravidez. Tudo o que queria, era terminar logo o trabalho daquele dia, para poder descansar um pouco. Precisava dormir, isso era evidente, pelo modo como ela sequer aguentava ficar em pé. Mas, Logan, não parecia disposto a dormir. Ao contrário: ele se mexia muito mais do que mexera durante toda a gestação.

            Annelise havia acabado de colocar as rendas no bolo, começando agora a enfeitá-lo com as flores de açúcar, quando sentiu uma dor forte, vindo do útero. Sua primeira reação, foi largar a rosa de açúcar que iria colocar no bolo, segurando a borda da mesa com as duas mãos. Ela soltou um urro de dor, trincando os dentes, enquanto tentava respirar fundo.

            Lysandre ouviu o urro de dor da esposa, largando imediatamente o saco de confeiteiro e correndo em direção a ela. Amparou-a ao ver que suas pernas tremiam, por conta da dor. Ela não parecia estar bem. — Querida! O que houve? Está com dor?! — Lysandre perguntou alarmado, ainda segurando Annelise, que continuava respirando fundo.

            — Está tudo bem... Foi só mais uma daquelas cólicas que eu tive de madrugada. — Ela respondeu. Não sabia que estava começando a ter contrações.

            Apesar da intensidade da dor, foi algo rápido, passando em seguida. Mesmo que ela estranhasse aquilo, decidiu continuar decorando o bolo. Afinal, teria de entregá-lo em poucas horas. — Está tudo bem, querido. Vamos voltar ao trabalho. Temos muito o que fazer, antes das 15h. — Ela afirmou, em tom amável.

            Porém, em seguida, veio mais uma vez a dor, acompanhada de um barulho de água caindo no chão. Annelise podia sentir as pernas totalmente encharcadas, olhando para baixo enquanto via uma poça de água no chão da cozinha.

            Ela ficou sem reação, ao contrário de Lysandre que ficou apavorado ao se deparar com a poça abaixo de sua esposa. Ele ficou totalmente pálido, trêmulo, sem saber o que fazer naquele momento. — A bolsa estourou! — Ele disse alarmado. — Nina, preciso que você termine a encomenda! — Ele disse, sem conseguir manter o controle da voz. Logo, começou a desatar o nó do avental de Annelise, arrancando-o do corpo da esposa, retirando seu próprio avental em seguida. 

            — Não, nós  precisamos terminar de preparar os doces! Temos muito o que entregar! — Annelise rebateu. Não teriam tempo de deixar tudo pronto, se eles saíssem dali naquele momento.

            Mas, Nina obviamente foi contra a decisão da chefe. Não podia deixá-la ali, depois da bolsa ter estourado. — Mas de jeito nenhum! Seu filho está nascendo, Annelise! Você precisa ir para o hospital! Eu posso ligar para a Chani e pedir ajuda. Pode deixar que eu me viro! Agora vai logo! — Nina praticamente expulsou a chefe da cozinha. Ela precisava ir rápido para o hospital! O bebê iria nascer!

            Annelise ainda tentou protestar, mas não teve tempo. Lysandre não permitiria que ela ficasse ali, quando a bolsa já tinha estourado e as contrações estavam aumentando. Então, ele tratou de arrastar a esposa para o carro, ajeitando-a o mais confortável possível no banco do passageiro.

            Estavam totalmente despreparados naquele momento! Apesar da bolsa com as coisas para a maternidade estar pronta, não a tinham levado! Então, Lysandre precisaria contar com a ajuda de alguém, para levar as coisas, enquanto ele levava Annelise para o hospital. Não iria parar em casa de jeito nenhum! Como pai de primeira viagem, estava desesperado! A preocupação era enorme, de modo que ele não sabia o que fazer, enquanto Annelise soltava novos urros de dor, dentro do carro, cada vez que uma nova contração vinha.

            Ele arrancou com o carro do estacionamento do café, dirigindo rápido pela cidade, precisava chegar logo ao hospital, para que a esposa fosse atendida.

            Lysandre sempre fora extremamente cuidadoso ao volante. Mas, naquele momento, parecia esquecer de toda a cautela, tirando o celular do bolso e ligando para Castiel. Precisava da ajuda dele.

            O telefone chamava em uma demora irritante! Parecia que estava esperando há horas, quando na verdade não se passara nem mesmo um minuto completo. Talvez, fosse pela aflição, ao ouvir os gemidos de Annelise, que tentava novamente controlar a respiração. — Calma, querida, já estamos a caminho. — Lysandre disse, tentando confortá-la, enquanto dirigia com uma mão e com a outra segurava o telefone no ouvido.

            Finalmente a ligação foi atendida e Lysandre pôde ouvir a voz de Castiel ao outro lado da linha. Sequer deu tempo para o amigo falar mais alguma coisa, não tinha um segundo a perder. — Castiel! Preciso que me faça um favor! A Annelise entrou em trabalho de parto no café! Nós estamos indo para o hospital, mas não tivemos tempo de pegar a bolsa com as coisas do bebê. Por favor, vá até minha casa e traga a bolsa para mim no hospital. Ela está na sala, ao lado do sofá. Já deixamos lá para o caso de uma emergência. Tem uma cópia da chave no café. Peça para a Nina, ela vai te entregar. — Enquanto Lysandre falava, Annelise teve mais uma contração, um pouco mais forte que as outras. Isso a fez soltar um gritinho, forçando-a a respirar cada vez mais rápido. Lysandre ficou ainda mais alarmado, notando que Castiel também se desesperava ao outro lado da linha. Era uma situação aflitiva para ambos. — Por favor, venha rápido! Nós estamos quase chegando no hospital! — Lysandre reforçou a urgência da situação, desligando o celular para poder dar maior atenção ao caminho. Enquanto não chegassem ao hospital, ele não se sentiria tranquilo. Aquele, era sem dúvida o momento mais importante de sua vida! O momento, em que seu primeiro filho viria ao mundo.


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