Loving the enemy escrita por Trice


Capítulo 2
UM – Tudo aquilo que engana parece libertar um encanto.


Notas iniciais do capítulo

Oieee gente!

Eu ia demorar um pouco mais para postar o primeiro capítulo, mas sendo o prólogo tão curtinho, decidi já postar o primeiro. Espero que vcs gostem!

Obrigada por terem dado uma chance! Por acompanharem e comentarem! Um obrigado especial à celest por ter favoritado ♥♥



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Tudo aquilo que engana parece libertar um encanto (Platão).

R O S E

Rose Jane Granger-Weasley experimentava uma montanha russa de sentimentos em sua vida de princesa do Reino de Hogwarts. Eram momentos drásticos: ou amava ou detestava.

Perguntava-se, às vezes, se continuaria sendo uma princesa e, principalmente, herdeira do trono, caso tivesse alguma oportunidade de escolha. O fato de não ter optado voluntariamente em ser uma princesa e, mesmo assim, necessitar cumprir com a função de modo excelente, era um ponto que não ajudava. 

Não era como se Rose não gostasse da vida de princesa. Ela amava seu povo e sua nação, sendo esses os motivos que a mantinham no caminho de amadurecer a fim de tornar-se uma excelente monarca. 

Apenas se sentia sufocada em alguns momentos. Na maioria das situações, a pressão era gigantesca. Tinha que pesar cada atitude sua, afinal, princesas não eram temperamentais (diziam). O cerne era que Rose Jane Granger-Weasley era impulsiva, de uma maneira nada principesca. E isso consistia em problema, que resultava em desordem. 

Naquele dia em especial (sabe-se lá o porquê), Rose acordara inspirada. Não de um jeito bom. Bem longe disso. Era mais como um propensão para o caos e o desastre – suas especialidades, digamos. 

Seus pais, rei Ronald e rainha Hermione, sabiam que a herdeira possuía uma personalidade singular e sempre tentavam prestar a devida atenção em cada passo dela. Assim, Rose possuía muitos guardas. O dobro, na verdade, do que seu irmão mais novo (o que ela achava uma injustiça imensa). Sorte sua que, quando realmente queria, arranjava um modo de livrar-se deles. 

E adivinhem? Exato. Ela planejava dar um chá de sumiço nos guardas naquela noite. Nada perigoso, não se preocupem.

 Tratava-se de uma feira nos campos do Palácio. Comidas e bebidas nacionais de Hogwarts, isto é, muito suco de abóbora e cerveja amanteigada. Música alta. E, apesar de existir um salão central para esse tipo de evento, as barracas comerciais (as melhores da feira) foram montadas ao redor da estrutura. 

Rose fora autorizada a comparecer; contudo, só poderia ficar no salão central - o que destruía a inteira graça de ir ao evento. O melhor da feira acontecia aos arredores. Nada de interessante sucedia no salão central.  

Destarte, lá estava ela. Finalmente, sozinha. Conseguira se enfiar no banheiro feminino só, com a desculpa – que não deixava de ser verídica – de que os guardas não poderiam entrar no local. Ela tentou despistá-los por uma longa hora – sessenta minutos torturantes. Não fora nada eficiente. Tentara, ainda, procurar por Roxanne, Albus, James ou Fred, já que eles costumavam ter piedade e ajudavam-na em momentos como aquele. Também não teve sucesso algum. 

Ela fitou a janela do banheiro. Não era tão alto. Não seria impossível. Talvez difícil, mas alcançável. Afinal, ela era alta e ainda estava com saltos. Claro que os guardas a achariam. Isso era incontestável, no entanto, teria uma meia hora ou até uma hora livre – caso tivesse sorte. 

Então, abaixou-se um pouco e pulou, mas nada. Não conseguiu alcançar a janela. 

— Inferno – chiou.

— Vossa Alteza?

Rose deu um pequeno pulo de susto. Ela virou seu pescoço e viu uma garota com cabelos negros sedosos, olhos castanhos que pareciam – quase – felinos e uma pele pálida. Não a conhecia, mas havia algo naquela mulher que fazia Rose ficar atenta. 

— O que estava pretendendo fazer? Fugir? – ela sorriu, como se fosse óbvio. E, possivelmente, era. Afinal, a ruiva estava pendurada na janela de um banheiro – Eu vi os guardas lá fora – continuou, sem dar abertura para resposta – Posso te ajudar a subir aí, Alteza.

Os olhos verdes, de um tom puro de jade, encararam os castanhos firmes. Rose analisava as palavras dela, tentando compreender o que a mulher estava propondo.

— Olá, prefiro que me chame de Rose apenas, por favor. E quem é você? – foi obrigada a perguntar – Desculpa, mas acho que nunca a vi.

— Nunca viu mesmo, Rose. Eu sou da companhia de Scorpius Malfoy.

Rose esquecera completamente que o herdeiro da família Malfoy chegaria naquela noite. Ela entendia o quão importante era receber Scorpius Malfoy no reino. A melhora nos relacionamentos entre as famílias era esperada por todos, porquanto afastava o medo de uma nova guerra surgir. A princesa prometera que iria se esforçar em ser agradável com o Malfoy.

— Ah, claro. É um prazer conhecê-la...

— Lyra Parkinson.

Sorriu.

— É um momento constrangedor, srta. Parkinson, mas eu estava realmente pretendendo fugir. Precisava respirar um ar puro – explicou.

— Eu entendo. Sem julgamentos – Rose gostou dela e a sensação estranha que sentira no início começara a se dissipar – Vai querer a ajuda, Rose?

Vamos lá, Rose Jane Granger-Weasley. Não era isso que queria? Fugir? Nem que fosse por uma hora? Meia hora? Ela sugou o ar e tomou coragem, ao dizer:

— Sim. 

Eram alguns segundos de coragem e pronto. Teria seus minutos libertinos. 

Quando a fitou, Lyra estava digitando no celular; contudo, logo guardou-o no bolso e sorriu, erguendo as sobrancelhas. Ela pôs-se a caminhar em direção à Rose.

— Então, eu te dou o impulso e você sobe? Pode ser? 

— Parece bom.

Lyra Parkinson juntou as mãos e abaixou-se, então, Rose pegou o impulso oferecido por ela e grudou-se, novamente, na janela. Dessa vez, com a ajuda da garota dos cabelos negros, a ruiva conseguira passar metade do corpo para fora. 

Quando olhou pela janela, percebeu que, talvez, não tivesse sido uma boa ideia. Havia algumas pessoas ali fora. Agradeceu, mentalmente, por nem ter todas terem notado a ruiva pendurada na janela. Assim, ela começou a se arrastar mais um pouco para fora. 

— Você deve estar muito desesperada. 

Rose olhou para baixo. Ela, quase, esqueceu como se respirava ao vê-lo. 

Ele possuía cabelos loiros, de um tom dourado, bem alinhados. Os olhos eram de um azul escuro, acinzentados em alguns pontos – pareciam, demasiadamente, com um céu tempestuoso. Estava com a barba loira por fazer, mas bem aparada. Possuía traços aristocráticos, os quais davam-lhe um ar elegante. Além do mais, um sorriso leve envolvia seus lábios.

Era bonito demais, o que não devia ser nada bom. 

— Provavelmente – suspirou ela e, deixando toda sua dignidade de lado, dizendo: – Então, vai me ajudar? 

Ele riu e pareceu uma risada fácil. Rose ficou, um pouco mais, desconfortável. Ele estava rindo dela? 

— Com toda a sinceridade, a sua visão desse ângulo é... – ele abaixou os olhos e Rose notou que o desconhecido estava encarando seus seios – Tentadora o suficiente para que eu pense em não a ajudar. 

Ficou sem reação por alguns segundos, o que era raro. Rose sempre possuía uma opinião sobre tudo. Será que ele não sabia que ela era a princesa? Improvável. Possivelmente, só era atrevido demais para falar daquele jeito com ela.

— Você é sempre imbecil assim? Ou foi só a primeira impressão? 

— Sempre, definitivamente sempre.

Então, ele se aproximou. Rose arrependeu-se de toda aquela situação, de imediato. Reputando, claro, que pedira a ajuda dele e não considerara o fato de que, muito provável, ele teria que segurá-la para retirá-la da janela. Sentia-se patética em um nível nunca conquistado. 

Pelo menos, para sua sorte, ele era alto. Assim, o desconhecido ergueu os braços, ainda com um sorriso pairando nos lábios. 

— Você precisa se jogar. 

Foi a vez de Rose rir. 

— E você vai me pegar? 

Ele ergueu as sobrancelhas, fazendo pouco caso da descrença dela.

— Pode apostar que sim. 

Pensou em voltar. Seria mais fácil, simplesmente, jogar-se para trás do que para frente. E já estava tempo demais ali, não demoraria para que os guardas desconfiassem e invadissem o banheiro. Estava até surpresa por eles ainda não o terem feito. 

Encarou os olhos azuis acinzentados daquele desconhecido. Ele mexeu as mãos, chamando-a. Rose deixou um suspiro de derrota escapar. Assim, impulsou o corpo para frente. Não demorou muito para sentir mãos firmes a segurarem pela cintura, puxando o restante das suas pernas para fora. O desconhecido continuou segurando-a até que os pés dela tocassem o chão. 

— Viu? Sã e salva – ele piscou. 

Rose reparou, agora que estava de frente para ele, que o desconhecido era mais alto do que parecia da sua visão limitada da janela. Ele possuía um cheiro bom, ainda. Sândalo. Eles se encararam por alguns segundos. As mãos fortes dele não se afastaram. 

— Acho que devo te agradecer – pontuou ela. 

— Não com palavras, eu espero. 

Começou a perceber que talvez o homem não soubesse, realmente, quem ela era.

Ele encostara seu corpo firme no de Rose. Uma das mãos dele se abriu na lombar dela, pressionando-a. Seria fácil e, muito provavelmente, bom, beijá-lo, mas ela precisava sair dali. O ponto era que não podia sair beijando bocas alheias, principalmente em público. Olhou para a janela do banheiro, o melhor era ficar o mais longe possível do salão central. 

— Eu preciso sair daqui – avisou ela e desgrudou-se dele, afastando-se. Depois, espanou o próprio jeans escuro e arrumou o sobretudo nude, que ficara torto com o pulo da janela.

Sentiu frio no local em que ele a segurava. 

— Calma aí, ruiva – ele a chamou, caminhando atrás dela até alcançá-la – Qual seu nome? 

Rose o olhou de canto, sem parar de caminhar. Então, ele, de fato, não sabia quem ela era? Começou a pedir licença e empurrar, de leve, as pessoas pelo caminho, além de tentar esconder o rosto com os cabelos. A feira começara a ficar lotada. Era bom, assim, iria dificultar o serviço dos guardas de achá-la. 

— Jane. 

Não era uma total mentira. Não falar seu nome completo evitaria muitas perguntas e bajulações. 

Rápido, o desconhecido andou mais e parou na frente dela, evitando que Rose continuasse sua fuga. A ruiva olhou para os lados, na busca pelos guardas ou por Hugo. Seu coração pulsava desesperado. 

— Você está fugindo de alguém? – ele indagou, fazendo com que Rose, finalmente, encarasse-o – Afinal, você pulou uma janela de banheiro e parece, realmente, com alguém que está sentindo-se perseguida. 

Rose não tinha motivos para mentir sobre aquilo.

— Sim – ela o empurrou para o lado e voltou a andar, mas, continuou falando: – Você não disse o seu nome. Você não é daqui do Reino?

— Hyperion Greengrass. Não sou. Na verdade, sou da...

— Companhia de Scorpius Malfoy? – Rose adivinhou.

Será que era um pré-requisito ser bonito para poder ingressar na companhia de Scorpius Malfoy? Considerando que Lyra Parkinson e Hyperion Greengrass não eram, de forma simples, apenas agradáveis aos olhos. Eles eram bonitos de um modo que deixava Rose nervosa.

— Exato.

Agora fazia mais sentido. As suas fotos não eram divulgadas. Seus pais achavam que poderia ser um ponto fraco todos conhecerem o rosto da princesa. Assim, apenas as pessoas que frequentavam a corte, evidentemente, conheciam a fisionomia de Rose. Claro que todos sabiam dos cabelos cobres, a marca registrada da família Weasley. O fato de que metade das suas primas serem ruivas ajudava, pois deixava a maioria das pessoas confusas.

Sabia que acontecia um tipo de bolão pelo Reino, no qual eram realizadas apostas de quem seria, verdadeiramente, a princesa de Hogwarts. E quem estava em primeiro lugar? Molly II, o que não era nenhuma surpresa para Rose. Sua prima possuía muito mais os trejeitos de uma princesa, já Rose? Bem, digamos que sua língua afiada, a falta de tato para alguns assuntos e a predisposição para burlar regras, não formavam a imagem de uma princesa.

Além de tudo, Rose ainda estava proibida de registrar fotografias suas. Porém, a situação mudaria em algumas semanas, pois faltava menos de um ano para o seu aniversário de vinte e um anos, o que significava que, assim como já estaria, teoricamente, capacitada para subir ao trono, seu rosto também estaria estampado por todo o Reino de Hogwarts.  

A Weasley coçou distraidamente atrás da orelha. Exista outro ponto deixando-a desconfiada: como Lyra Parkinson sabia quem ela era e Hyperion Greengrass não? Talvez a Parkinson possuísse uma posição superior na companhia de Scorpius Malfoy e, à vista disso, teve acesso às informações mais privilegiadas. Parecia crível, apesar de Rose não conseguir sentir-se inteiramente confiante.

Rose notou quando ele segurou sua mão. Ela puxou a mão, retirando do aperto de Hyperion. Rose voltou-se para ele, parando mais uma vez. Os cabelos cor de carmim já estavam desgrenhados àquela altura, e voavam livres toda vez que a ruiva se mexia. Ela estreitou os olhos.

— O que você faz na companhia do Malfoy? – inquiriu, desconfiada.

— Eu... sou o treinador de remo dele.

Levantou as sobrancelhas.

— Ele trouxe o treinador de remo?

Rose já achou Scorpius Malfoy um tremendo exibicionista. Quem levava o próprio treinador de remo para uma curta estadia em outro reino? Revirou os olhos mentalmente.

— Questão de saúde – respondeu Hyperion com firmeza.

Saúde? Ou Scorpius Malfoy era tão egocêntrico que só pensava em manter o abdômen trincado no meio do seu intercâmbio diplomático? Talvez estivesse criando conceitos injustos sobre o Malfoy. Tentou evitar o tipo de pensamento, afinal, prometera que, pelo menos, esforçar-se-ia para que o tempo do herdeiro Malfoy em Hogwarts fosse agradável.

De qualquer jeito, não poderia negar que Hyperion parecia deveras com um atleta. O tronco largo. Toda aquela altivez que esportistas costumavam carregar. Parecia verdade, mesmo que algo estivesse inquieto dentro de Rose.

— Tudo bem por enquanto, Hyperion – e virou-se em direção às barracas, mas indagou: – Você já provou a cerveja amanteigada?

— Nunca, mas eu adoraria – disse ele e procurou a mão de Rose novamente. A ruiva soltou-o, mais uma vez – Algum problema?

— É melhor não sermos vistos de mãos dadas.

— Você tem namorado?

Rose riu. Ela nunca tivera um relacionamento que pudesse chamar o outro de namorado. Nem ao menos lembrava-se direito da sensação de beijar alguém. Princesas, infelizmente, não possuíam muitas oportunidades de flertar livremente.

— Não. Pior.

— Tipo o quê?

— Ah... pai ciumento.

Além de uma mãe excessivamente responsável.

Uma mídia ávida por qualquer deslize – considerando que eles não tinham quase acesso à vida da herdeira e, obviamente, qualquer informação era preciosa e transformava-se nas maiores manchetes dos jornais de Hogwarts.

Ainda, uma corte inteira de olho em cada passo seu.

Portanto, mesmo que não fosse o real motivo, Rose pensou que não poderia ser considerada uma mentira, afinal, Ronald Weasley era um pai protetor.

Finalmente, chegaram à barraca que servia a mais saborosa cerveja amanteigada.

— Alte–

— Alte? Não, meu é Jane— interrompeu, antes que seu disfarce fosse por água abaixo – Vamos querer dois copos de cerveja amanteigada, por favor.

A atendente, uma mulher que Rose reconhecia de outros eventos no Palácio, encarou-a com um pouco de confusão; contudo, após dar uma olhada no acompanhante de Rose, sorriu levemente e preencheu os copos como pedido. Assim que pegaram a cerveja, a ruiva tratou de agradecer e sair, com celeridade, do local.

— Então, por curiosidade, como é Scorpius Malfoy? –perguntou Rose enquanto afasta-se do centro da feira.

Hyperion desviou o olhar com um sorriso.

— Provavelmente diferente de como você o imagina.

— Isso foi bem raso. Você não pode falar sobre ele?

Ele riu e Rose perguntou-se se perdera algum pormenor daquela conversa.

— É, mais ou menos.

— Tudo bem, Hyperion. Eu entendo.

Na realidade, Rose estava mais interessada no homem à sua frente, não em Scorpius Malfoy para insistir.

— Então, você é um Comensal.  

Não era uma pergunta, porquanto, se Hyperion participava da companhia de um Malfoy, era, consequentemente, um Comensal. Não combinava com ele, para ser sincera. Realmente Hyperion possuía aquele ar altivo e arrogante, sem contar que ele parecia sempre prestes a tomar alguma atitude questionável. Não era surpreendente que ele fizesse com que Rose se sentisse mais viva. 

A questão residia no fato de que ser um Comensal não poderia ser algo bom. Antigamente, eles eram conhecidos como os membros da corte da antiga família Malfoy. Eram cruéis, egocêntricos e sugavam qualquer riqueza que o povo pudesse ousar possuir. Atualmente? Foram os que restaram da clássica ordem dos Malfoys. Pelos seus estudos, Rose sabia que durante aqueles trinta anos, eles vinham tentando uma rendição e, aparentemente, estavam conseguindo, reputando que era a primeira vez que, depois da Guerra, suas entradas foram autorizadas no Reino de Hogwarts.

Mas Hyperion? Não parecia nada com os Comensais dos livros da biblioteca real.

— Eu senti um tom preconceituoso aí – apontou ele, sorrindo – Mas, tudo bem, acho que merecemos. 

— Bem, eu nunca, realmente, conheci um Comensal. Mas você já me ajudou hoje, então, parece bom... – ela parou, de repente e o encarou – A não ser que você esteja planejando me matar.

— Matar não – a voz saiu rouca – Mas não posso negar que esteja planejando outras coisas com você.

Foi ouvindo aquelas palavras que Rose reparou que estavam afastados o suficiente da feira. Conseguia ouvir a música; porém, os guardas demorariam mais para achá-la. Ficou atrás de uma das grandes árvores do local e virou-se para Hyperion. Os olhos azuis dele fixaram-se nela. Rose sentiu seu estômago contrair, deixando-a nervosa novamente.

Bebericou a cerveja amanteigada, ganhando tempo. Pensou nas palavras de Hyperion. Eles haviam acabado de se conhecer. Era um pulo no escuro, certamente. Além do mais, ele era lindo e do fato de que Rose não conseguia sequer lembrar-se qual fora a última vez que beijara alguém. 

Sabia que estava sendo inconsequente. Conseguia, praticamente, ouvir as palavras da sua mãe na sua cabeça, acerca das suas responsabilidades e de como Rose agia contrariamente às atitudes que uma monarca deveria ter. Então, fitou Hyperion. Um beijo faria mal? Na sua posição, talvez sim. O fato dele não a reconhecer era um ponto positivo. Só teria que, depois disso, manter-se o mais longe possível do lago, do remo e, principalmente, do loiro.

— Vai me contar de quem estava fugindo, Jane?

Quando ele disse seu segundo nome, Rose sentiu-se um pouco culpada. Qual a diferença se ele soubesse seu primeiro nome? Hyperion só não poderia saber seu sobrenome. Porém, decidiu que seria, um pouco, ridículo contar que Jane, na verdade, não era seu primeiro nome. Afinal, seria apenas um beijo debaixo de uma árvore nos campos do Palácio. 

— Eu matei a princesa e precisei desovar o corpo, mas acabei numa perseguição – Rose utilizou a sua entonação mais séria. 

  Hyperion deixou uma risada audível escapar. Rose reparou que parecia um riso verdadeiro e teve vontade de sorrir, mas, manteve-se séria a fim de fundamentar suas últimas palavras. 

— Eu... gostei de você. 

Ele parecia, um pouco surpreso, olhando-a com algo que Rose não soube identificar o que era. 

— E, da próxima vez que precisar matar alguém, pode me chamar para ajudá-la. 

Agora era Rose que esperava que Hyperion estivesse brincando. 

— Vou cobrar – prometeu ela.

— Jane – ele chamou, aproximando-se. Rose sentiu aquela sensação novamente, como se alguém estivesse esmagando a boca do seu estômago – Juro que estava tentando não assustar você, mas... – ele sorriu e já estava próximo o suficiente para que Rose conseguisse sentir o perfume amadeirado dele – você é linda e eu não sou nada paciente. 

Os olhos azuis, mais escuros devido ao ambiente, estavam ávidos, fitando-a com curiosidade e, novamente, uma faísca que Rose não conseguia decifrar. Mas, o que quer que fosse, ela conseguia sentir. Fazia-a querer, mais do que nunca, a liberdade. Rose poderia fingir, não? Só por aquela noite?

Ele estendeu a mão e a tocou no braço. Um toque leve, que já a fez, quase, estremecer. Então, ele deu mais um passo, encostando os corpos dos dois. E subiu a mão, caminhando pelo seu braço, até chegar na sua clavícula e, depois, na sua nuca. 

Assim, ele a beijou. E Rose agradeceu por tê-lo encontrado no meio da sua fuga.

A boca de Hyperion estava com o gosto característico de cerveja amanteigada, a qual Rose tanto gostava. Sentiu uma das mãos dele segurar sua cintura, pressionando-a. Ela não se importou, já que a boca dele invadia a sua, com uma ardência sincera. Ele a queria, realmente, não por ela ser a princesa e herdeira do trono de Hogwarts. Aquilo fez com que Rose intensificasse o beijo, agarrando-o pelos ombros e, em seguida, subindo as mãos para os cabelos loiros. Em algum momento, os copos deles se perderem.

Rose começou a ouvir uma música e abriu os olhos. Parecia um celular tocando – e não era o seu, já que fizera questão de desligá-lo. Só podia ser o dele. 

— É o seu celular? – ela indagou, a voz um pouco fraca.

Hyperion suspirou no pescoço dela, fazendo Rose sentir um arrepio na espinha. 

— Sim – respondeu, simplesmente, e tentou retomar o beijo. 

— Você não vai atender?

— Não – ele disse, levantando os olhos azuis sinuosos para ela. 

— Por que não? Pode ser importante – pontuou Rose. Apesar de não querer, realmente, que Hyperion se afastasse, ela fora ensinada a sempre atender o celular e a música tocando, quase com desespero, estava deixando-a irritada. 

Ele passou umas das mãos pelos cabelos loiros. 

— Estou muito ocupado – e acariciou o rosto dela para, em seguida, empurrar o pescoço de Rose para o lado, arrastando a boca pelo local. Ela evitou engolir em seco – E você é muito gostosa. Parecem motivos suficientes para mim. 

Ninguém nunca havia dito que a achava gostosa. Era considerado um desrespeito, afinal, ela era quem era. A única vez que beijara alguém ao ponto de pensar em sexo, não fora nada que fizesse seu coração palpitar. A ruiva percebeu que, provavelmente, sentiria falta daquilo no dia seguinte. 

— Tudo bem? – pelo que parecia, Hyperion reparara que Rose o enfrentava com os olhos verdes. 

— Eu... – ela fitou aqueles olhos azuis ambiciosos. Decidiu falar a verdade, em parte – Ninguém nunca me chamou assim. 

Hyperion pareceu surpreso. Sua testa franziu e uma das mechas loiras caiu no seu rosto, quando ele sorriu. 

— Bem, mas você é. Apesar de que entendo, considerando quem você é. 

Rose estreitou os olhos quando as palavras dele fizeram sentido. Hyperion sabia quem era ela? Então, o olhar chocado dele o denunciou. Ele sabia o tempo todo e fingira, descaradamente. Rose juntou as mãos no peito dele e o empurrou, pronta para sair dali.

Ele a segurou no pulso e Rose puxou o braço, com força. 

— Você sabe quem eu sou – lançou, começando a andar.

Rose sentiu as mãos dele em sua cintura. 

— Eu sei quem você é, Rose ou Alteza? – ele disse ao pé do ouvido dela e riu, provocando um arrepio na coluna dela devido ao seu hálito quente. Rose deu uma cotovelada no abdômen dele, conseguindo afastar-se o suficiente de Hyperion.

— Vá para o inferno. 

— Não muda nada quem você é – ele afirmou e esfregou a pele no local que a ruiva o acertara.  

— Não? Então por que não me contou que sabia?

Hyperion suspirou.

— Você parecia não querer que eu soubesse – argumentou ele – Mas não estou aqui apenas por você ser Rose Jane Granger-Weasley.

— Você está aqui por que, afinal? 

— Pelos mesmos motivos que não atendi meu celular – ele afirmou e cruzou os braços, esperando que a ruiva decidisse. 

Ainda que nunca fosse admitir em voz alta, desejava continuar beijando-o. Entretanto, a racionalidade começou a se instaurar, porquanto ela ainda era a princesa de Hogwarts e ele um Comensal. Rose levantou o dedo indicador, apontando-o no peitoral dele. 

— Isso não significou nada. Se você contar para alguém, eu vou negar até a morte. 

Ele sorriu, mostrando os dentes bonitos. 

Rose virou as costas para Hyperion e saiu de perto dele, sem olhar em nenhum momento para trás. Decidida a nunca mais ter que lidar com a presença dele. Ela ainda sentia o rosto corado pela raiva.

 


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Notas finais do capítulo

Eu SEI que esse capítulo explica pouquíssimo da trama e dá apenas leves dicas de alguns futuros acontecimentos, mas decidi ir soltando as informações ao longo dos capítulos.

E aí, o que vocês acharam desse primeiro capítulo? ♥