Ela me encanta escrita por Agome chan


Capítulo 1
One shot


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer pela capa a @severoxnape que ficou mais do que incrível. Acho que planejávamos lançar a fic até o carnaval, mas acabou que tivemos imprevistos. De toda forma aqui está para contribuir na categoria The Arcana que não é muito movimentada, mas sou viciada cada dia mais por esse jogo.



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O ex-marido de Nadia Satrinava, Lucio, adorava dar bailes de máscaras, principalmente em seu aniversário. Adorava a atenção que obtinha em grandes festas glamourosas, ser amado como conde pelo povo de Vesuvia. E mesmo que fossem celebrações grandes no palácio, nada se comparava às carnavalescas entre a realeza e o povo numa mistura efervescente de gente. Não se resumiam a bailes ou batalhas num coliseu. A comemoração sem selecionar convidados, nas ruas os blocos, os desfiles, tudo cheio de cores e as linhas separatistas sociais se dispersaram.

Esse era o detalhe em específico, o “anonimato”, que Lucio não era fã, mas era o que Satrinava mais gostava e mesmo que sua memória tivesse turva e confusa sobre os anos que passou casada e os mais recentes eventos, ainda se lembrava da sensação dessas festanças.

Gostava de se esgueirar pelo o povo, aprender mais sobre eles, assim como governanta poderia lhes auxiliar depois. E também por mesmo fazendo anos que vivia ali, sentia que tinha muito a aprender ainda.

O carnaval lhe dava mais oportunidades com as máscaras, as fantasias, de se inserir nas ruas e aproveitar entre os diversos círculos sociais, transitar e festejar. Relaxar por um momento das responsabilidades que pesavam em suas costas.

O que marcava ainda sua memória depois que despertou com amnesia em relação aos três anos anteriores era uma das recordações vagas sobre o baile de carnaval. Uma das apresentações no salão cheio e decorado, um grupo se apresentava energicamente, Nadia assistia a tudo sentada numa visão privilegiada da plateia do piso superior. Em suas recordações não estava certa em relação a quem estava ao seu lado, se suas irmãs estavam presentes ou não, ou dos rostos dos demais lá embaixo dando um show ao soltarem álcool de suas bocas contra as tochas inflamando as chamas, só ficava claro a mulher que surgia exuberante em saltos entre elas.

Ela girava com seus véus rosados, leves tecidos como as peças de roupa que usava. As chamas dançavam ao redor do seu corpo esbelto, curvilíneo de pele de um tom mais escura de Nadia. Mesmo os olhos por trás da máscara enfeitada com cristais, seus olhos rosados, como o grande e volumoso cabelo crespo dela que parecia uma nuvem de uma fantasia, faiscavam dando a condessa a sensação que olhavam diretamente para si o tempo todo.

E olhava.

Satrinava não sabia, mas aquelas suas lembranças não eram da primeira vez que a tinha visto em sua vida e sim a primeira que pode a ver dançar. Aquela lembrança como as demais, quando puxava na memória, lhe dava dor de cabeça, mas por outro lado valia a pena recordar. Garantia bons sonhos com aquela enérgica mulher, a forma como ela movia as mãos e o brilho não natural que aparecia em suas palmas, um troque de luzes, mas não tinha certeza, não poderia confiar tanto em algo tão incerto.

Mas ouvir a grande reputação de magos por ali as peças pareciam se encaixar.

Em sua carruagem se aventurou pela noite, deixando seus servos de lado e se indo a pé pelas vielas, usando o véu para passar despercebida, escondendo seu rosto tão característico e conhecido pelo povo.

A viu por ali.

Seu coração errou uma batida.

Uma coisa era se lembrar dela, era sonhar com ela a brincar pelos corredores do palácio, ou sentada em sua cama estendendo a mão lhe chamando, entrando na fonte de seu jardim sem se importar, molhando os pés descalços no calor do verão com um grande sorriso. Outra coisa era vê-la ali, em carne e osso, em roupas comuns, os cabelos presos em dois altos coques, a comprar o pão, trocando conversa fora com o padeiro.

Foi se aproximando como se fosse atraída magneticamente. Não era o comum de Nadia se comportar assim, ela só estava curiosa demais desde que tal recordação lhe veio e dominava sua mente, entretanto tinha ido ao centro da cidade apenas para investigar, perguntar por aí.

Talvez devesse ter ouvido a Portia e deixado tudo com ela, mas já estava tão grata por ela já ter encontrado o paradeiro possível da dançarina mágica de suas fantasias. Mesmo Portia sendo a serva governante de seu palácio e confiando tanto em sua pessoa a tendo como amiga, não queria extrapolar em seus pedidos, ela já possuía muito trabalho a fazer.

Há coisas que tem necessidade de fazer por si só e Nadia estava convicta a isso.

Entretanto estava agindo de forma irracional, levada a emoções, sem planejar nada quando se aproximou da moça sem ao menos saber o que dizer, apenas lhe tocando o braço. Ao que ela se virou, vendo seu rosto por baixo do véu, os olhos rosas encontram com os seus púrpuros e faiscaram.

Os lábios grossos e carnudos dela se moveram:

— Nad— iria chamar pelo seu nome, mas parou no mesmo instante olhando ao redor ao se dar conta do quase deslize.

A moça pegou em sua mão, agradeceu o pão ao padeiro confuso, e conduziu a Satrinava para sua casa.

Nela tinha um doce cheiro pelos os incensos, fragrância que não lhe era incomum.

“Já estive aqui antes?” — Pensou Nadia. — “É o cheiro dela?” — E se fosse o aroma impregnado na dançarina, no passado já esteve acostumada com ele?

Murmurou a fragrância:

 — Lavanda…

Olhando a dançarina de seus sonhos andar de um lado para o outro, falando sem parar, mas mal conseguia focar no que dizia. Estava estupefata em ver claramente o rosto que ora estava escondido por trás de uma máscara ou não tão visível em seus sonhos.

E ela prosseguia a falar:

— Poderia ser perigoso, sabia? Apenas véu  não adianta se estiver com suas roupas chiques, postura de aristocrata e… você é bem alta! Poderiam ter te notado, condessa.

— Nadia.

— … perdão?

— Meu nome. Sei que sabe.

Ela mordeu o lábio superior e moveu a cabeça concordando, puxando uma cadeira para se sentar em frente a condessa

— Quase disse na padaria. — completou Nadia.

— Sim, me desculpa por isso.

— Não, está tudo bem, não precisa se desculpar.

Cruzou as pernas e deixou as mãos descansar em seu joelho, sentada ereta. Para si, sendo alguém de posição tão elevada na sociedade, era natural ter uma postura marcante. Notava agora a observação que misteriosa dançarina tinha lhe feito era correta, estava certa sobre ser perigoso andar por aí por isso, precisaria se misturar na próxima.

A viu rir lhe olhando.

— Pode me contar o que acha engraçado?

— É essa sensação de dejá vu.

Ah, sim. Nadia estava a sentir também:

— Não é a primeira vez que temos tal conversa certamente?

Ela deu ombros:

— Não é. Pelo o que me lembre.

Satrinava se inclinou mais em direção a ela, curiosa, incentivando a ela elaborar mais a fala:

— Pelo o que se lembra?

O que ela lhe devolveu um olhar com a mesma curiosidade:

— Sim, Nadia.

Respirou fundo, passando delicadamente as pontas dos seus dedos em sua testa, sentindo pontadas de leves dores de cabeça.

— Devo confessar que minha memória está afetada por tantas coisas que me ocorreram, então peço perdão se estou sendo muito… agressiva e persistente, é só que… — não pode evitar de pegar a mão dela nas suas e acariciá-la. — …tenho tantas dúvidas. Só sei que você está em meu passado.

Olhando intensamente nos olhos dela em silêncio, no calor daqueles olhos luminosos lhe puxando com a força de uma correnteza, teve um clarão em si e disse saboreando como cada sílaba soava ao escapar de seus lábios:

 — Ya-na. Yana.

Os olhos de Yana se arregalaram e se umedeceram, apertou mais as mãos de Nadia na sua, e colocando a própria palma da outra sobre as delas. Trouxe para contra seu rosto e beijou-as.

O calor ao toque das mãos de Yana nas suas aumentou e notou o brilho rosado das palmas aparecer, atraindo sua atenção. A maga só tinha se deixado levar pelas emoções, estava já a pedir desculpas e desfazendo a emanação pequena de seus poderes. Costumava a fazer no passado com a bela condessa, tinha se deixado levar pela nostalgia, entretanto já tinha feito efeito o suficiente para dar dor de cabeça a ela que já levava as mãos a testa novamente, enrugando o cenho.

— Me desculpa, me desculpa. Irei pegar o chá.

E no que Yana saiu da sala para a cozinha, Nadia ergueu a cabeça com o olhar surpreso se sentindo até tonta, boquiaberta.

Outra lembrança. Ou melhor, lembranças que passavam como flashes.

Estava em seu quarto olhando-se no espelho, escolhendo vestidos. Um deles estava usando no baile do palácio, mas depois voltou correndo para seus aposentos, se trocou as presas por um outro vestido dessa vez curto, vermelho vivo decotado, trançando seus longos cabelos vermelho-púrpuras com a ajuda de… Asra. Parecia próxima a ele. E ainda por cima o médio, Julian, também parecia ser seu íntimo, os três na verdade. Os dois a ajudando a se aprontar. Estava tão animada. Vestiu uma máscara maior cobrindo o rosto por inteiro e saindo do palácio discretamente com eles.

Finalmente aproveitando a festa no meio do povo encontrou Yana.

— Você conseguiu, Nadia! — lhe gritou.

— Estou aqui, não estou?!

E riram.

Desta vez ela usava uma máscara preta combinando com as penas falsas do seu traje carnavalesco cheio de adornos em suas costas e na tiara no topo de sua cabeça, usando uma curta saia leve e longa, cheia de correntes com pedrarias soando barulhos quando ela se movia requebrando o quadril, e por cima top cintilante como o vestido de Satrinava, deixando seu ventre exposto, pintado com brilhos além da joia em seu umbigo.

Yana se movia no ritmo da música agitada, puxando a alta mulher por quem estava apaixonada pela mão. Dançarem juntas na folia animada, Nadia tinha decorado os passos que todos faziam e nas canções lentas as duas abraçavam. Apoiava seu queixo sob a cabeça de Yana que estava deitada em seu peito, o mundo ao redor parecia parar.

Caminharam pelos caminhos de mãos dadas. Yana rindo da fascinação da fina condessa pelas coisas simples como as comidas de rua, as bebidas geladas não sofisticadas bem diferentes das que ela estava acostumada a ter.

— Você faz parecer que esse espetinho de camarão é cinco estrela. — comentou vendo a delicadeza que Nadia puxava um para fora do palitinho com o guardanapo para comer.

Dobrou o mesmo guardanapo para limpar os lábios e argumenta com essa provocação:

— Algum problema com a forma que como, senhorita Yana?

Como resposta, ela passou os braços no pescoço da alta e bela mulher de vestido vermelho a trazendo mais para perto de si, e Nadia, como em um passo de dança, rodopiou com ela para lhe prensar contra a parede entre os sorrisos de ambas cortados apenas pelo toque dos lábios uns contra os outros num beijo carinhoso e quente.

Se intensificou ainda mais pela forma que passaram a se tocar.

A maga acariciava a nuca e descia as ligeiras pontas dos dedos por dentro do vestido, descendo da nuca para as costas. Enquanto a condessa segurava seu rosto, mesmo que com a outra mão só estava nas costas de Yana a aproximando, a maga não estava de vestido, suas roupas eram pequenas peças e deixavam suas costas praticamente nuas, o contado direto ao toque era eletrizante.

Quando pararam o beijo já sentiam falta.

— Não tenho nenhum problema, Nadia. — E a forma que ela sorriu ao dizer seu nome fez sentir as borboletas em seu estômago se remexerem todas.

Em outras recordações perdidas, conseguia ouvir a voz de Yana ao longe, mas é incapaz de se mexer. Está tudo… escuro.

E as memórias param.

Yana já voltava da cozinha lhe dando a xícara de chá de ervas.

Deu o gole sem tirar os olhos da misteriosa maga e dançarina. Era mesmo muito bela, muito atraente, os sentimentos do passado estavam ali, podia senti-los e a forma que notava que Yana lhe olhava… ah, não era cega, nem tola.

— Eu despertei a pouco tempo.

Não se sentia confortável em tocar no assunto, mas algo seu sexto sentido a garantia que ali era um espaço seguro para desabafar.

— Eu sei. — lhe respondeu exatamente como esperava.

— Esteve lá comigo? Foi me visitar nesse período, não foi?

Ela mordeu o lábio superior. Novamente seu sexto sentido dizia que era a mania de Yana de quando ficava sem saber o que dizer, geralmente sem jeito. Achava adorável.

Tinha muito o que perguntar, porém acabou por só deixar a xícara sobre a mesa e se erguer da cadeira, surpreendendo a dançarina quando a puxou para um beijo repentino.

Não resistia a ela antes, não iria agora.

E a forma em que rapidamente lhe correspondeu, necessitada, a empurrando para o sofá, deixava claro que sentia o mesmo. A mesma falta.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado tanto como eu adorei escrever! E agradeço muito por ter participado desse projeto ❤



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