my bad escrita por Lulileela


Capítulo 1
I'm the bad one, you right. I'ts my bad.


Notas iniciais do capítulo

Eu só queria quebrar o meu próprio coração mesmo, sinto muito.



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O líquido transparente e amargo desceu raspando pela garganta de Ino, queimando todo o seu interior já danificado, não bateu o pequeno copo de shot no balcão, como faziam os outros bêbados á sua volta, mas não porque se achava “diferente” deles, mas sim porque sofria de um extrema necessidade de tomar cuidado com todos os seus movimentos, desde cumprimentar uma pessoa até beber um gole de vodca. Sentia que suas mãos já haviam causado dano demais ao longo dos anos e que mesmo um pequeno copo de vidro não merecia ser tratado com violência por elas.

Ino Yamanaka não era uma pessoa violenta tampouco, nunca havia se considerado de tal forma e desprezava aqueles que se utilizavam dela. Seu passado havia lhe deixado marcas demais para cogitar usar seus punhos contra qualquer outra pessoa: vinda de um lar desequilibrado, sofrera muito nas mãos de um pai alcoólatra e violento e, apesar de não ter conseguido se afastar muito do ninho dos bêbados, já que era uma frequentadora assídua daquele pequeno e chique bar de recepção de hotel, fazia questão de não ser agressiva e violenta como o velho idiota era.

Mas haviam outras formas de ser violenta, e nisso Ino pecou incessantemente.

Passavam das oito da noite e Ino estava sentada naquela banqueta desde a hora que saíra do trabalho, às sete horas. Ainda estava com o terno branco, porém a gravata que gostava de usar já havia sido retirada, seus nós eram terríveis: Ino nunca aprendera direito como fazê-los, tinha que arrumá-los a todo momento agora que não havia mais ninguém para atá-los direito. Pigarreou e coçou a garganta com o pensamento, acariciou o pescoço e se lembrou das mãos delicadas que a tocavam devagar quando a ajudavam a se arrumar para o trabalho, pequenos gestos e toques que agora ficavam gravados em sua pele como uma tatuagem e que, assim como uma, jamais sairiam dela.

Checou o celular mais uma vez, esperando uma resposta para o pedido que havia feito naquela tarde. Olhou o contato da ex-namorada, ainda salvo com apelidos fofos e emojis de coração e coelho, como ela gostava de chamá-la. Sua coelhinha, sua boca não cansava de repetir o tal apelido, de chamá-la para seu colo e acariciá-la como sua coelhinha. Uma lágrima escapou, escorrendo devagar pela bochecha até chegar em seus lábios, salgada. Hinata Hyuuga havia sido a melhor coisa que lhe acontecera.

Observou a mensagem mal planejada, um pedido simples para se encontrarem e conversarem. Fazia uma semana que Hinata havia dado um basta naquilo, naquela relação que Ino tanto desprezou sem saber, ou será que realmente não estava ciente de tudo? Ela não sabia responder. Nas diversas discussões que tiveram ela não conseguia encontrar uma palavra sequer para se defender, não podia aguentar os olhos marejados e os gritos desesperados da ex-namorada, não era possível que ela nunca havia percebido tudo aquilo. Não era possível que era realmente aquele monstro que ela tinha tanto medo.

Abriu o contato dela, uma foto que Ino havia tirado em uma viagem de longa data, onde tudo parecia tão simples e melhor. Sabia que aquilo era mais um passo para esquecê-la, já que a foto anterior era das duas, juntas e abraçadas em algum lugar que ela também não se recordava, não sabia nem se havia a foto guardada. Agora, a foto de Hinata a encarava de canto de olho, a garota sempre fora uma modelo nata, uma musa para o hobby estúpido de fotografias de Ino, aquela foto enigmática numa viagem aleatória, onde era parecia tão meiga quanto mortal. Ás vezes, quando brigavam, Ino tirava fotos aleatórias para tentar fazer as pazes, talvez aquela tenha sido de algum momento como estes, como sempre, a Yamanaka não conseguia se lembrar.

Em algum ponto de sua vida, havia perdido a total capacidade de perceber as coisas. Não podia culpar o trabalho, apesar de estar sempre atarefada, sempre no escritório, sempre no computador e no celular, aquilo não era desculpa: Hinata trabalhava tanto quanto ela e em dois empregos diferentes, além de estudar para o seu doutorado. Era uma tripla jornada que a Yamanaka nunca entendeu como ela conseguia aguentar e, depois do término, ficou mais claro o esforço que Hinata fazia para manter tudo junto, sem que nada desmoronasse, mas é difícil fazer tudo sozinha, como ela mesmo havia dito.

Ino tentava lembrar onde tudo havia dado tão errado. Bebeu outro shot.

— Quer a garrafa, Srta. Yamanaka? — O bartender perguntou gentilmente.

Ino refletiu se aquele era um bom momento para ficar bêbada, já que não teria ninguém para socorrê-la. Nenhum dos seus amigos apoiavam aquele estilo de vida de bebedeira, afinal, estavam muito velhos para isso. Ino tampouco era uma frequentadora assídua de bares, porém, de vez em quando — quando Hinata não aguentava mais seu jeito intragável — ela se via nessas situações onde seus pensamentos não lhe davam trégua e a única coisa que lhe sobrava era o entorpecente do álcool.

Antes de decidir, sentiu o celular vibrar.

Bunnygirl ♥: Venha depois das nove. Vamos conversar e mais nada.

Bunnygirl ♥: Eu estou farta de você.

Ino sentiu como se tivesse levado um soco no estômago, mas sabia que merecia. Recusou gentilmente a oferta do garçom e até devolveu o copo, pediu sua conta. O bartender olhou com curiosidade para seu cartão diferenciado e ela se sentiu seu ego inflar um pouco.

Não ficou muito tempo no lobby do hotel, lá fora fazia frio e ameaçava cair uma tempestade, ainda faltava um tempo para as nove horas e Ino não queria pegar um táxi para casa, queria ir até o apartamento de Hinata naquele mesmo momento, mas queria respeitá-la. Precisava aprender a fazer as coisas do jeito que as pessoas lhe pediam, não havia necessidade de fazer sempre tudo do seu jeito.

Sentiu vontade de beber de novo, a garganta apertava e sua cabeça doía, seu cérebro cheio de perguntas sem respostas, não sabia porque estava a forçando a passar por tudo novamente, pela mesma sessão de discussões, a morena tinha sido enfática na decisão do término e não havia nada que Ino pudesse fazer, não haviam mais segundas-chances para ela. Provavelmente tinha esgotado todas sem nem perceber.

Desesperada, ligou para seu melhor amigo.

— Estou trabalhando, querida. — Sasuke atendeu com uma voz séria.

— Estou indo pra casa de Hinata daqui a pouco. — A voz trêmula de Ino denunciava seu péssimo estado mental.

— Ino… — Sasuke bufou e tirou as mãos do teclado, afastou um pouco a cadeira da mesa e massageou as têmporas, estava tão cansado daquele drama quanto a própria Hinata. — Você precisa deixá-la em paz, para o bem de todos.

— Como isso pode ser bom pra mim? E como eu fico nisso tudo? — Ino deixou a voz aumentar um pouco, as pessoas da rua não ligavam, o centro estava lotado.

— Nem tudo é sobre você, sua loira egoísta. — Sasuke respondeu agressivo, levantando da cadeira e saindo da própria sala para ir às escadas conversar com ela. — Sabe que sou amigo de vocês duas e concordo totalmente com Hinata.

— Que tipo de amigo você é? — Ino procurava na bolsa pelos seus cigarros, suas mãos tremiam.

— O tipo de amigo honesto que vem te dizendo há anos que você precisa melhorar antes de se relacionar com alguém. Ninguém é obrigado a aguentar suas merdas, Yamanaka.

— Eu sou tão ruim assim? — Ela perguntou, tentando acender o cigarro.

— Não venha com essas perguntinhas, tentando desviar a culpa.Lembre-se do estado que você deixou a garota com esse seu ciúmes bobo pela coitada da Sakura. — Sasuke atacou a ferida.

Ino tragou e soltou a fumaça rapidamente para poder bufar, não suportava ouvir o nome daquela garota. Sakura Haruno era uma das amigas de sua ex-namorada, uma diferentona com cabelos pintados e papos de ioga e astrologia. Ino não a suportava, e não suportava o jeito que ela dava em cima de Hinata. Todos lhe diziam que isso era mentira, que nunca tinham visto nada do tipo vindo de Sakura, mas Ino dizia confiar em seus instintos, e descontava todo seu ciúmes em cima de Hinata.

Lembrava-se das brigas, da constante repetição, você não me ama!

— Eu… — Ino soluçou, e então tragou mais uma vez. — Eu não fiz por mal, elas estavam andando juntas muito tempo, ela cancelou planos pra ficar com Sakura.

— Elas são amigas, pelo amor de deus! Quantas vezes saímos juntos e você não levou a Hina? Quando fomos para Tokyo naquela conferência e você não quis levá-la pra podermos aproveitar? O que me diz disso, senhorita egoísta? — Sasuke tinha um jeito arrogante de falar que Ino não gostava, mas sabia que tudo o que ele dizia era verdade.

“Além do mais Ino, você é uma pessoa extremamente difícil de se lidar, você não aguenta nenhuma frustração, briga com todo mundo por qualquer pequena merda, eu perdi a conta de quantas vezes tive de consolar a pobre Hinata, que só sabia ficar preocupada com você — Sasuke não parava nem mesmo para fumar. — Você precisa ser melhor se você quer retomar sua vida amorosa, não vai conseguir segurar ninguém sendo assim.”

— Eu não quero outra pessoa!

— Mas ela não é obrigada a ficar com você mais, querida. Você faz mal para ela.

Ino parou no meio da rua, sentindo as lágrimas quentes no rosto.

— E, por favor, não a peça em casamento, não é justo com ela. Você é exatamente o tipo de pessoa que faria isso para forçá-la a ficar com você. — Sasuke finalizou, e então desligou o celular.

.:.

Hinata morava em um bairro periférico da cidade, comumente chamado de vila estudantil devido aos seus prédios antigos de aluguel barato e sua vizinhança universitária. O prédio onde morava era de tijolos vermelhos e madeira branca, o interfone não funcionava direito e os números estavam quase apagados. Ino jogou o cigarro no chão e pisou em cima com seu salto alto, subiu os dois degraus e interfonou para o apartamento 14B do segundo andar. O alto falante estava quebrado e não dava para ouvir direito quem era, por isso quem visitava precisava avisar o morador. Ino só ouviu o barulho estridente da campainha que liberava a fechadura da porta e entrou.

Subiu os lances de escada devagar e, quando chegou no andar, pensou em dar meia volta e ir embora, mas sabia que Hinata não iria gostar. Provavelmente ela estava uma pilha de nervos com essa atitude repentina da ex-namorada, então Ino não podia voltar atrás. Parou na frente da porta do apartamento dela e colocou as mãos no bolso do sobretudo, sentiu a pequena caixinha que estava lá a quase um mês e se lembrou das palavras de Sasuke e de como ele estava certo. Ino havia pensado em tudo, tudo que podia fazer para manter Hinata ao seu lado.

Largou a aliança no bolso e tocou a campainha.

Sabia que seu coração pularia uma batida assim que visse Hinata novamente, mesmo assim não estava preparada para encarar aqueles olhos melancólicos novamente. Hinata abriu a porta devagar, estava só de regata preta e de calcinha, como se tivesse acabado de acordar, seu rosto estava inchado e vermelho, provavelmente estava chorando, Ino sentiu seu coração partir novamente.

— Não podemos discutir alto, por favor. — Hinata disse, dando espaço para que Ino entrasse.

Ino conhecia bem o apartamento de Hinata, porém, quando namoravam, passavam a maior parte em sua casa, já que seu flat era maior e mais confortável. A residência de Hinata era uma típica residência de universitário e sua colega de quarto, apesar de ter os mesmos vinte e oito anos que elas, vivia em um mundo estudantil de adolescente. Ela sabia que Hinata andava juntando dinheiro para ter um lugar só seu.

Hinata ofereceu o sofá para que ela sentasse e foi até a cozinha preparar um chá, já havia sentido o cheiro de álcool em Ino e definitivamente não teriam uma conversa com ela sob efeito de entorpecentes. Enquanto isso, na sala, Ino encarava os próprios joelhos, tentando se lembrar porque diabos queria passar por tudo aquilo novamente.

— Aqui está. — Hinata voltou com duas canecas na mão, cheias de chá fumegante de morango, o preferido das duas.

— Obrigada. — Ino aceitou a bebida e a seguiu com os olhos até que ela sentasse em sua frente, não podia deixar de encará-la naquele pijaminha diferenciado.

— Nada que você não tenha visto, não vou me trocar. — Hinata comentou, e então tomou um gole do chá. — O que você quer, Ino?

— Eu… — Ino abriu a boca, porém nada saia.

Não havia nada que pudesse dizer para consertar o seu já acabado relacionamento, uma parte de si a obrigava a falar as mesmas bobagens: Transfira a culpa, faça-a de ruim também, transforme-a numa mulher ruim como você sempre fez. As memórias dos seus estúpidos argumentos vinham como flashes de guerra em sua mente, fazendo-a questionar suas atitudes, como era possível que tinha feito tudo aquilo para a pessoa que mais adorava no mundo? Como pode deixar que sua raiva a dominasse e a fizesse descontar em alguém que só lhe fazia bem?

Sentia saudade do que vinha depois, dos abraços e carinhos, das desculpas falsas que eram dadas, sabia agora que nada havia sido esquecido, e como poderia ser, quem esqueceria coisas tão horríveis quanto acusações de traição, de falta de amor? Ino havia feito de Hinata uma pessoa ruim, havia a culpado de coisas que seus próprios demônios haviam criado em sua mente, e isso era seu pecado mais imperdoável.

— Eu sou uma escrota, eu sei, foi tudo minha culpa. — Ino jogou as palavras, as reais palavras que queria dizer. Hinata a encarou com olhos confusos.

— O que isso ajuda agora? — Hinata perguntou, sua voz já se tornava trêmula e sua garganta ameaçava soluçar. — Depois de tudo o que você me fez passar, o que adianta admitir culpa depois que o estrago já está feito?

— Não adianta nada, eu sei. — Ino abaixou a cabeça e bufou, sentia o chá na garganta, querendo sair. — Eu não quero fazê-la sentir pena de mim como sempre fiz.

“Eu não vou mais inventar desculpas pelos meus erros, eu sei o que fiz, sei que fui uma merda e uma escrota, eu vou tentar melhorar pra que você não se machuque mais por minha culpa. Fiz as mesmas promessas antes, promessas vazias, mas sei que agora nunca mais a terei, então é a hora de mudar, porque só percebo o quão merda fui depois que te perdi. Você não merece isso, não merece uma pessoa ruim lhe dando dor de cabeça e pesadelos, minhas mentiras cada vez maiores e a verdade cada vez menor fez você se afastar de mim, eu te fiz infeliz, foi tudo minha culpa, é minha culpa, meus erros.”

“Eu queria poder voltar — Ino continuou, os soluços tomando conta de sua voz — e você iria querer voltar? Entrar em uma máquina do tempo e descobrir quando é que eu fiquei tão fodida e idiota e poder reverter tudo, voltar a ser a garota ideal, a ser seu bolinho, uma namorada leal, confiável, seguir em uma direção certa, boa, real. Mas eu sei que não podemos, sei que não é assim, não é? Minha garota infeliz, eu te fiz tão infeliz. Eu me sinto congelada por dentro, o ar está tão frio. Eu preciso deixar isso pra lá, você já deixou também, então eu precisava falar isso pra você, falar pra mim mesmo, precisamos deixar isso morrer, não é mesmo? Deixar nosso amor, que um dia foi belo, descansar.”

Ino levantou o rosto cheio de lágrimas e encontrou Hinata encarando a própria caneca, suas lágrimas caindo em seu chá, seu cabelo caindo sobre os ombros, escondendo sua tristeza. Hinata encarou Ino novamente, as suas bochechas vermelhas, como se estivesse envergonhada, triste e com medo ao mesmo tempo, Ino sentia-se dopada, não conseguia sentir as próprias mãos.

— Eu sinto muito, coelhinha, eu te fiz tão infeliz. — Ino disse, sorrindo tristemente.

Hinata não conseguiu segurar os soluços, a caneca caiu no chão, quebrando e derramando todo o seu conteúdo no chão, Ino não conseguiu controlar seus instintos e foi até ela, Hinata colocava as mãos sobre o rosto e o afundava nelas, Ino segurou seus pulsos tentando acalmá-la e ela lutava contra, até que não não conseguiu mais resistir e abraçou Ino, que a pegou no colo e deixou que ela a apertasse com toda a força que tivesse, sentiu vontade de se afogar em seu colo, queria beijá-la e acalmá-la genuinamente, nunca sentira essa necessidade tão forte, mas sabia que era porque já havia a perdido.

— Por favor, não chore mais. Eu sinto muito, foi mal, foi tudo minha culpa. — Ino repetia enquanto acariciava os cabelos de Hinata.

Minha garota infeliz, por favor não chore mais. É tudo minha culpa.

 .:.

Want to go back? To before or after? 

Hop on a time machine and go to any time but now 

A trustworthy guy, an ideal direction; 

I guess I can’t be that, my unhappy girl 

Can’t breathe at all in this frosty atmosphere 

Just give it a rest, please babe…

I’m the jerk, you right. It’s my bad...


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