Além De Um Sonho escrita por Lady Jées


Capítulo 3
Capítulo III - Tower


Notas iniciais do capítulo

O capítulo 2 foi curtinho, mas os outros não serão. Espero que gostem



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/792788/chapter/3

Já fazia alguns meses que Athy e Lucas estavam juntos. Agora o jovem mago vinha mais vezes durante a semana e testava algumas magias na garota. Não que a usasse como cobaia, ele apenas queria descobrir o que a mantinha presa. No começo havia procurado por objetos ou qualquer coisa que entrelaçasse sua alma a torre, mas descartou a ideia uma vez que, se ela estivesse amarrada ao lugar, a vida de Athy também pausaria quando ele parasse o tempo. 

O curioso foi saber que o corpo da garota também possuía mana. Não que isso fosse incomum, afinal, todo ser vivo possuíam mana, todavia, a energia da garota parecia muito mais pura e nobre. 

— Certo, deixe-me tentar isso. – Lucas estendeu uma das mãos enquanto a outra segurava um grande livro de feitiços. Uma luz azulada cercou Athy e alguns padrões surgiram a frente. Por reflexo, a loira fechou os olhos, esperando que não sentisse dor, mas não sentiu nada além de um leve formigamento. – Essa também não adianta. – O mago suspirou. 

— Lucas, não podemos dar uma pausa? Estou cansada e faminta. – Ela o indagou. O adolescente estava prestes a ralhar com ela, mas se deteve quando viu as duas esferas cristalinas o olhando com expectativa. De certa forma, Athy parecia um cachorrinho.

— Tudo bem, você venceu. – Lucas cedeu. Imediatamente o adolescente estalou os dedos e uma mesa apareceu no meio do quarto. Com rapidez, encheu a mesa com bolos e sobremesas dos mais variados sabores e tipos enquanto que, ao lado, uma peça de porcelana era preenchida com um liquido quente e uma fragrância suave. Athy não conteve a alegria. 

— Parece tão bonito e delicioso. - Athy olhou para o mago com um grande sorriso no rosto. – Lucas com certeza é o melhor mago do mundo. 

— Sejamos sinceros, você me bajula só por causa da comida, certo? – Perguntou sarcasticamente. Os olhos carmesins olhavam desconfiados para a garota que ainda mantinha o sorriso. Athy havia se acostumado com o temperamento narcisista de Lucas. 

— Do que está falando? Lucas é um grande mago genial. 

O sorriso que Athy lhe mostrava era verdadeiro, mesmo que suas palavras fossem apenas uma brincadeira. Lucas suspirou, mas sorriu. Passar cada vez mais tempo com a garota o estava afetando consideravelmente. Antes de Athy se sentar à mesa, o adolescente pediu que ela esperasse e, com um gesto das mãos, mudou as roupas que a loira vestia por novas. Um vestido rosa claro envolveu o corpo da garota. A saia possuía um véu com pequenas flores pregadas sobre ele e que se amontoavam na cintura. Os laços enfeitavam graciosamente a parte de cima do vestido que era acompanhado por outro véu posto sobre os ombros, também coberto por flores delicadas. No pescoço e nos braços adornos de ouro e o cabelo, quase sempre amarrado em um rabo de cavalo, agora estava solto e trançado com flores. 

Lucas sorriu satisfeito. 

Ele sabia que a garota era bonita, mas queria que ela também se sentisse assim. 

Athy o olhou sem entender, então o mago fez aparecer um grande espelho, mostrando à loira sua aparência. Os olhos de joias se arregalaram quando viu a jovem que a olhava de volta. 

— E-essa pessoa... – não conseguiu terminar, então Lucas continuou. 

— Sim, é você. – Completou. 

Athy chorou. Desde o momento em que acordou naquela torre, jamais viu o seu rosto tão nitidamente. No máximo, via o reflexo distorcido pelas vidraças. Sabia que tinha o cabelo dourado e que seus olhos eram provavelmente azuis, mas não imaginava que seriam olhos como cristais brilhantes e bonitos assim. 

Por reflexo, a adolescente se aproximou do espelho e tocou-o, como se para ter certeza de que era realmente ela. A garota que a encarava de volta fez o mesmo movimento e Athy voltou a chorar. Ela estava feliz por Lucas lhe mostrar algo tão encantador. De certa forma, olhar para aqueles olhos de cristais, lhe trazia uma saudosa nostalgia. Lembrou brevemente de que olhos como aqueles a olhavam de forma amorosa. 

— Vamos, se continuar chorando assim, vai acabar ficando feia. – Lucas comentou. Athy o encarou com um pouco de raiva por ele quebrar o momento, mas logo passou quando ela viu os olhos de rubi a olhando tão carinhosamente. 

— Você é um estraga prazeres. – Bufou, fingindo estar chateada. 

— É a verdade, não estrague meu trabalho. – O mago retorquiu enquanto fazia o espelho desaparecer. Lucas se aproximou até ficar de frente para Athy. – Escute, - começou seriamente dessa vez – ainda não descobri como a tirar daqui, mas ao menos posso fazer com que você sinta a sensação de estar do lado de fora. 

Athy não entendeu, todavia não demorou muito para que descobrisse. Lucas com movimentos rápidos, fez com que a aparência do lugar mudasse drasticamente. O que antes era um quarto com pintura desgastada, um velho tapete encardido e alguma mobília, se tornara um cômodo com pinturas que davam a impressão de estarem em um jardim. Não só isso, Athy pode sentir a fragrância de rosas e uma leve brisa soprar ao redor. Com espanto, notou que o quarto estava realmente coberto pelas flores. Era um lugar novo, belo e encantador. 

Ela olhou para Lucas maravilhada e viu que ele não tinha desviado o olhar de seu rosto. Abaixou a cabeça envergonhada, mas o mago a trouxe de volta, enxugando os resquícios de lágrimas que havia ficado em seus olhos. 

— Isso a deixa, ao menos um pouco, feliz?

Era raro ver o mago falando algo tão seriamente. Athy assentiu e lhe deu o mais sincero sorriso. Ela estava feliz, muito mais do que Lucas podia imaginar. 

...

Passaram horas conversando quando, de repente, Lucas sente algo invadindo a barreira que ele propositalmente colocou na cidade. Um fato era que, apesar da idade jovem, o adolescente possuía um grande poder mágico, sendo capaz de se comparar com grandes magos do passado. 

Por isso, sempre quando estava com Athy, colocava um círculo mágico ao redor. Assim, quando qualquer pessoa que entrasse na cidadela, automaticamente seria parado pela magia. Mas havia uma exceção. Se houvesse outro mago, forte o suficiente e com grande mana, a barreira não faria efeito e Lucas logo o notaria. 

Esse era exatamente o caso. Enquanto conversava com Athy, a presença de uma mana diferente o alertou. Era a primeira vez em meses que isso havia acontecido e ele não deixaria passar. Talvez conseguisse informações. 

O relógio voltou a rodar imediatamente quanto o invasor ultrapassou o círculo mágico, deixando Lucas com poucos minutos para voltar as coisas ao normal. Athy o olhou surpresa pela atitude do adolescente. 

— O que aconteceu? 

— Desculpe, não queria ter que te voltar ao normal, mas aparentemente temos visitas. – Proclamou e logo depois trocou as roupas da adolescente pelas antigas. 

Lucas não gostava dos trapos que Athy usava, mas não podia fazer muito em relação a isso agora. Rapidamente estalou os dedos e todo o lugar voltou a sua forma original. 

— Lucas... – tentou perguntar, mas foi cortada por ele. 

— Não temos tempo, prometo que voltarei logo, então finja que eu nunca estive aqui, certo? – Ele pediu olhando profundamente nos olhos de joias. Athy concordou ainda confusa. Respirou fundo e colocou a melhor expressão de solidão e tristeza que conseguia fazer. Não era muito difícil, uma vez que, a partir do momento que Lucas sumiu, os sentimentos se tornaram mais do que verdadeiros. 

O homem adentrou. A túnica marrom cobria completamente seu corpo e o capuz impedia que Athy visse o rosto, todavia, ela sabia. Ele tem sido seu algoz. Por anos, esse homem vinha para inspeciona-la e, ás vezes, lhe provocar. 

— Você é realmente bem resistente, não é? – Perguntou. – Achei que seria divertido vê-la implorar, mas você parece melhor do que eu imaginei. – Ele era louco, afinal, era impossível que alguém sobrevivesse tanto tempo sem alimento. Athy porém, nada respondeu, sentia o olhar penetrante e enraivecido do homem. – Alguém tem alimentado você?

— Não existe tal possibilidade senhor. – Iniciou ela. – É impossível alguém entrar e sair daqui além de você.

— Então, você simplesmente se tornou imune a fome? – O escarnio era quase palpável na risada do encapuzado. – Não brinque comigo, não sou estupido. – Ele se aproximou, agarrando Athy pelo cabelo. Ela chiou com a dor, seus belos olhos quase derramando lágrimas. 

— Me desculpe, não quis ofendê-lo. – A loira proferiu. O homem ainda a segurava pelo cabelo. Pelo canto dos olhos, Athy pode ver a figura de Lucas aparecendo. Os olhos, normalmente aconchegantes e gentis, olhava para o encapuzado com raiva e uma aura assassina. – Eu... A-aprendi a lidar com a fome. – Continuou, precisava fazer Lucas se acalmar. – Racionei o alimento que me trazia, assim pude me alimentar bem. 

Era mentira, Lucas sempre trazia muita comida para ela, mas essa informação não podia ser dada. A adolescente olhou discretamente para o mago e pedia silenciosamente para que ele não fizesse nada. Nesses momentos, Athy pensava mais do que Lucas. Ele se segurou, mas ainda se manteve lá, espreitando. 

Lucas usou magia de invisibilidade e manteve sua mana oculta, assim, apenas Athy sabia de sua presença ali. 

O carrasco a olhou por mais alguns momentos antes de a soltar. A loira, instintivamente levou a mão a cabeça, em tentativa de aliviar a dor. Seu único desejo agora, era que o homem fossem embora o mais rápido possível. 

O encapuzado percorreu o lugar buscando algo que denunciasse um invasor, contudo, Lucas era minucioso e não deixou nada que alertasse o homem sobre sua presença. De maneira rápida, o adolescente analisou o visitante e constatou que ele também era um mago. Muito provavelmente ele sabia sobre a magia que prendia Athy. A decisão foi rápida. Lucas o seguiria para saber mais. 

— Você, com certeza é alguém peculiar. – O homem falou pouco depois de terminar de examinar o lugar. – Me pergunto se isso tem a ver com o seu sangue. 

— O que quer dizer? – Athy sentiu a curiosidade pela primeira vez desde que conheceu o homem. 

— Nada. – Riu – Aqui, sua comida. 

O homem jogou um saco feito de juta¹ nos braços da adolescente. Ela prontamente o agarrou. O homem continuou a observar esperando a resposta de Athy. Ela gemeu em frustração, mas não permitiu que ele notasse, por fim, respondeu.

— Muito obrigada por sua gentileza. 

Lucas que ainda observava toda a cena, mais uma vez se conteve. Aquele homem desprezível e arrogante merecia a morte. A hora do encapuzado, com certeza chegaria, e Lucas garantiria que ele sofresse o dobro que Athy estava sofrendo. 

Logo após satisfazer seu ego, o homem, enfim, saiu. Odiava aquele serviço e se não fosse pela quantidade que o estavam pagando, certamente teria deixado a garota morrer a tempos. Sua mente se surpreendia cada vez que a via. Meses atrás, quando a deixou por vários dias sem alimento, acreditava que poderia se divertir um pouco ao ver o rosto alvo envolto de tormento e fraqueza, todavia, o que encontrou foi totalmente diferente. Ela estava mais forte e, muito provavelmente, mais saudável. Imaginou que ela usara magia de alguma forma, mas nada indicava que sua mana tivesse sido liberada. Por fim, apenas se resignou a atormentá-la e vê-la muito mais raramente do que antes. 

Quando o encapuzado deixou o lugar, trancando a porta novamente, Lucas se fez visível e correu para o lado de Athy. Ela mantinha a cabeça baixa, sentia vergonha pela humilhação passada na frente do seu único amigo.

— Athy...- Chamou-a, mas sem resposta. – Hey, por favor, olhe para mim.

O adolescente gentilmente levantou a cabeça da loira. Espantado, viu quando grossas lágrimas percorreram o rosto doce. A raiva o invadiu novamente. Ele definitivamente faria aquele homem pagar. Usou os polegares para enxugar as gotículas que corriam, mas mesmo que fizesse isso, mais escorriam.

— Não chore... – Suplicou. - Por favor, não chore. Não sei o que fazer quando você chora assim. Eu vou tirá-la daqui, então te levarei comigo e nunca mais terá que passar por isso outra vez. 

— ...L-lucas... – Tentou proferir, mas os soluços impediam qualquer outra palavra além do nome dele. Lucas a abraçou e ela o segurou com toda esperança. 

Ele não sabia como consolar as pessoas, mas quando se trata de Athy, Lucas se torna o mais perfeito dos tolos. Não havia mais motivos para negar que a garota se tornara essencial em sua vida. Gentilmente ele a puxou para mais perto e, com cuidado, levou os lábios aos olhos de Athy, na esperança que ela parasse de chorar. 

De certa forma, deu certo. A garota aos poucos se acalmou. O conforto e o calor dos braços e gestos de Lucas a traziam de volta a realidade. Ela já não estava mais sozinha. Os olhos de rubi encararam os azuis de cristais profundamente. Esse sentimento que surgia no coração de ambos era a força que necessitavam para prosseguirem em frente. 

E, nesse ambiente cálido e reconfortante, o amor que aos poucos nasceu, tomou forma em um singelo beijo entre dois corações apaixonados.   

...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Nota: ¹Juta: é o nome do tecido usado para fazer sacos de batatas. Acredito que esse é o material mais usado nessa época em específico.

GOSTARAM DO LUCAS ATHY?
AAAAAAAAAAH ❤️❤️❤️❤️❤️

Não deixe de comentar caso tenham gostado, é mais para a galera ver que existe a categoria agora e que podem postar nela.

Kissus ❤️❤️



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Além De Um Sonho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.