Eu sinceramente queria acabar a história aqui.

A Hinata se declarava, eu percebia que ela era sensacional e a gente ficava junto.

Mas se fosse assim eu não estaria com essa dor maldita no meu rosto e nas minhas mãos pela briga com Toneri.

Enfim, voltando. Quando eu li a carta eu fiquei confuso. Completamente. Quer dizer, a Hinata era a minha amiga, legal, paciente. Porém eu nunca tinha pensado nela além daquilo. É importante lembrar também que ela vinha de uma família tradicional, rica, do tipo que ficaria a quilômetros de distância de um cara como eu. Mas ela me amava.... As letras dela eram arredondadas na carta, ela era toda caprichosa. Como que alguém como ela ia gostar de mim?

Depois disso fui para casa. Com a cabeça fervilhando, li mais umas três vezes a carta e guardei na gaveta.

No dia seguinte, na escola, eu nem conseguia olhar para ela. Eu não podia responder aquilo. Eu nunca tinha pensado nela daquela forma, como é que ela me amava?

E aí começa, oficialmente, a grande merda que eu me enfiei. Eu não respondi a declaração dela. Nem com um “muito obrigado”. Eu não sabia como responder, pensei que talvez ela estivesse enganada, sei lá, tinha bebido aquele dia, não sei. Passou uma semana, duas e ela não se aproximava de mim. Às vezes eu pegava ela me olhando na minha direção, mas logo desviava o olhar, ou então Sakura – que não saía do lado dela – me olhava com desdém, sabe? Mas nós nunca falamos sobre isso.

Quase três semanas depois um dos jogos mais importantes de beisebol agitava a escola. A minha cabeça estava focada no jogo, eu não pensava em mais nada. Nós íamos jogar contra o time de Suna, uma cidade vizinha de Konoha. Não seria um jogo fácil, os caras eram bons.

Uma semana antes do jogo, Gai-sensei nos contou que a equipe de animadoras de torcida perguntou se elas podiam animar antes do nosso jogo. A equipe de futebol tinha sido eliminada do campeonato, as animadoras estavam livres e sabiam que aquele jogo seria importante para nós. Eu nem me importei com isso, mas a equipe tinha ficado mais animada.

 Já aviso: eu sou um cara. Um cara idiota. Não se esqueça. E como um cara idiota eu sabia o porquê nosso time tinha ficado animado. As meninas eram gatas. Gostosas mesmo, sabe? Eu já tinha reparado, mas estava mesmo concentrado no jogo. Depois desse acordo, as meninas começaram a ensaiar durante nossos treinos, naquela semana antes do jogo. Era comum eu ter que chamar a atenção de algum deles – Kiba, principalmente – porque ficavam babando nas meninas. Nesse tempo, eu havia percebido que uma delas em especial ficava sempre me secando. Shion.

Shion era gostosa. Daquele tipo que a gente só vê em revista, sabe? Loira, avantajada (eu não vou entrar em detalhes para não ser ainda mais imbecil). Às vezes eu retribuía a encarada, só que eu ainda estava mais preocupado com o jogo e nada mais. Nem Shion, nem a carta da Hinata estavam na minha cabeça, nada.

No dia do jogo a arena estava lotada e todos da turma estavam ali, incluindo a melhor de todas, Hinata, ao lado das meninas da nossa turma. O jogo estava demorado, o placar apertado. Eu estava ficando puto. Os caras eram realmente bons. Até que eu tinha que lançar a última bola. O tempo estava estourado. O tal do Gaara, que era o receptor do outro time, não podia rebater aquela bola. Eu tinha que ser bom. Arremessei da melhor forma possível, e o ruivo conseguiu rebater, correndo em seguida para as bases. Faltavam alguns segundos para o jogo acabar. Foi com surpresa que eu vi que o cara não tinha conseguido percorrer as bases a tempo e ninguém tinha pego a bola!

O juiz, rapidamente, declarou Konoha como vencedor! Todos do time correram para o meio da arena, a gente começou a gritar, o time a me abraçar. Tinha sido um dos momentos mais fodas para mim se eu não tivesse estragado. De repente Shion aparece na minha frente. Sorrindo, assim como todo mundo em volta.

“Parabéns, campeão!”

Eu não consegui responder. Ela me agarrou, puxando meu pescoço para baixo e me dando um puta beijo. As pessoas a nossa volta se afastaram e gritaram ainda mais alto e eu fiz aquilo que não devia ter feito. Sem pensar muito, eu retribuí. Eu não quero justificar minha atitude, mas apenas imagine: ela era uma das meninas mais gostosas da escola, eu estava felizão, ela me beija, eu sou um cara idiota.  

O beijo não durou muito, mas eu lembro mais do fim do que do começo. Quando eu olhei para arquibancada Hinata não estava mais lá. Nem ela e nem Sakura.  Eu me senti estranho, senti meu peito apertar quando eu percebi que ela tinha ido embora. Mas durou pouco. Shion me puxou pela mão me chamando para comemorar.

No dia seguinte não se falava mais em outra coisa na escola: Shion e eu éramos um casal. Eu não soube como reagir aquilo. Não sabia se desmentia ou se concordava, a gente só tinha se beijado. Só que quando ela apareceu no intervalo fez questão de confirmar os boatos. Me deu um selinho e disse que me esperaria na saída. Na saída lá estava ela ao lado do meu carro velho, toda arrumada e com um batom avermelhado na boca. Não tive nem tempo de dizer oi. Em segundos nós estávamos nos agarrando.

Foi assim que eu comecei a namorar a mais gostosa das líderes de torcida. A gente sempre se pegava quando tinha oportunidade, ela sempre me procurava. Teve uma vez que a gente quase transou escondido no chuveiro masculino, ou então das vezes que ela me agarrava no portão da escola e a gente levava bronca. Foi com Shion a minha primeira vez, no carro, umas duas semanas depois do jogo.

E não precisa dizer nada. Eu já sei que nesse ponto você já me odeia. Nesse tempo eu não pensava muito na Hinata, eu devo ser sincero. Eu estava ocupado demais ficando de pau duro e me agarrando com a Shion. A Hinata também não estava mais por perto, nem oferecia mais ajuda como antes. Ela vivia com os nossos amigos enquanto eu me afastava por conta do meu namoro. Eu e Shion não conversávamos muito, às vezes ela era arrogante demais e exigia coisas de mim que eu nem sabia que eram importantes. Me cobrou várias vezes para levá-la em restaurantes caros, dizia que eu tinha que ser mais romântico. Mas eu não tinha vontade de fazer nada daquilo e nem tinha dinheiro.

No começo essas discussões acabavam com nós dois no banco de trás do meu carro, ela sem calcinha e eu com as calças abaixadas. Depois, nem com um selinho. Ela ia embora emburrada e eu voltava para casa.

Eu nunca tive paciência com ela. E não eram um par de peitos e um pau duro que segurava um relacionamento, afinal. A gente não parava de brigar. Meus amigos não iam muito com a cara dela – o Sasuke não fazia questão alguma em disfarçar – e eu começava a preferir eles a ela. Não demorou muito. Ela terminou comigo no mesmo lugar que havíamos começado a namorar – no estacionamento da escola, do lado do meu carro velho. Podia mentir aqui e dizer que eu fiquei triste, no entanto eu me senti estranho e aliviado. Nosso namoro tinha durado uns dois meses. Depois eu percebi que sentia mais falta do sexo do que dela como pessoa, mesmo. Eu não tinha gostado dela de verdade.

Depois do término nossa relação não era mais assunto na escola. Todos estavam ocupados demais com as provas do final de ano letivo. Shikamaru até tinha montado um grupo de estudos para nos ajudarmos e me chamou. Nele estavam Sasuke, Sakura, Shikamaru, Ino, Chouji, Sai, Kiba, Shino eu e Hinata. Eles faziam sempre uns resumos bem legais das matérias.

Nesse tempo eu e Hinata nos reaproximamos. Ela sempre me explicava algum conteúdo complicado quando eu ficava com vergonha de perguntar aos outros. Graças a ela eu fui bem nas provas. Ela estava nas finais dos jogos de beisebol, ela era sempre como um anjo para mim.

As aulas acabaram e as férias de verão chegaram. A galera da escola (os mesmo do grupo de estudo) se encontrava às vezes e a gente decidiu viajar para a praia juntos. Essa viagem foi bem legal. Nós conversávamos até tarde na varanda da casa de praia da família de Ino. Em um dia em especial ficamos só Kiba, Hinata e eu. Todos decidiram ir para a cama enquanto nós estávamos na varanda, jogando UNO. Depois só ficamos conversando. A Hinata sempre ria de alguma bobagem que eu dizia. Falamos sobre filmes, séries, várias coisas. O Kiba até chegou a cochilar enquanto a gente falava.

Essa noite está registrada na minha cabeça, em detalhes. Foi a primeira vez que eu reparei no quanto a Hinata era linda. Ela era branquinha e com o sol do dia tinha ficado avermelhada, e com os shorts e a blusa do pijama eu conseguia reparar. Os olhos dela eram grandes, atenciosos o tempo todo. Eu não parava de encarar a boca dela. Quando ela sorria, se iluminava. Ela parecia tão confortável, do tipo que eu não ligaria se ficasse deitada sobre mim por horas. Até a voz dela era confortável, eu nunca tinha reparado.

Naquela noite eu constatei uma coisa: eu beijaria a Hinata inteirinha. Quando eu pensei nisso me senti o pior dos homens. Ela estava ali, falando sobre um filme de comédia que tinha assistido, e eu pensando besteira. Eu reprimi aquele pensamento rapidamente. Hinata não era para mim. Eu duvidava que aquela carta ainda tinha sentimentos reais naquele ponto. Acredite: quando eu pensei na carta senti uma dor no peito, feito um soco. Que aqueles sentimentos foram apenas impressões. Que Hinata não podia ter mais sentimentos daquele tipo por mim. Ela era gentil e legal não comigo, mas era como ela era mesmo, sabe? A personalidade dela. Eu não era especial. Uma menina como ela não iria se apaixonar por um cara como eu. Se isso sequer tinha acontecido, já tinha passado. A carta provavelmente tinha sido um erro.

Ela era uma tonelada de areia e eu era uma carroça.

Com aquilo doendo em mim, disse a ela que precisava ir dormir. Ela sorriu delicada como sempre e concordou. Me deu boa noite e foi para o quarto das meninas. Eu continuei por um tempo ali encarando o vazio do lugar dela ao meu lado.

Ela ir embora deixou não só o lugar vazio, mas meu peito também.

Quando as férias acabaram, eu achei que o segundo ano seria melhor. Torcia para que a minha amizade com Hinata continuasse boa. Eu só não sabia que nesse ano teríamos o mais odioso de todos os alunos: Toneri Otsutsuki.