Ao Entardecer escrita por isa


Capítulo 1
All My Demons Greeting Me as a Friend


Notas iniciais do capítulo

Eu escrevi essa fanfic TAMBÉM ontem, mas decidi postar só hoje pra não parecer muito maluca. Infelizmente essa nota de esclarecimento acaba com todo o meu ponto, mas espero que gostem :)

Essa é uma das histórias que eu mais senti orgulho de escrever - é pequena e simples, e se eu pensar um pouquinho sobre estou certa de que encontrarei mil defeitos, mas a modo geral, condensa meus melhores sentimentos em relação as minhas duas personagens preferidas no universo de Harry Potter.

E se você precisar de trilha sonora: https://www.youtube.com/watch?v=7dX2Pi4CVZs



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Ao entardecer, Hermione Granger-Weasley estacionou o carro em frente ao grande chafariz e deu uma longa olhada na fachada ostensiva da casa luminosa à sua frente antes de descer do veículo. Não se parecia em nada com o que ela lembrava.

Logo adiante, Astoria a esperava no arco de entrada. Seus ombros estavam relaxados, mas as mãos juntas indicavam um leve traço de apreensão. Hermione não podia julgá-la. Ela se sentia do mesmo modo.

— Astoria. – Cumprimentou, decidindo que depois de anos de convivência entre os filhos de ambas e o iminente resultado do contato dos mesmos, não fazia sentido manterem a formalidade dos sobrenomes.

— Hermione. – Ela retribuiu o tratamento com um sorriso gentil. – Entre, por favor.

— Eu nunca pensei que pisaria aqui de novo. – Hermione murmurou, mais para si do que para a outra.

— É a sua primeira vez. – Astoria se apressou em informar, ao que Hermione devolveu com um breve olhar de confusão. – As propriedades são as mesmas, mas estamos há alguns hectares de distância da casa principal. O lugar onde você esteve... – pigarreou, ansiosa – é o local onde meus sogros moram. Longe o suficiente. – ela acrescentou, por necessidade.

— Oh. – Hermione compreendeu. – Isso é um alivio.

— Para todos nós. – Astoria concordou e elas compartilharam um riso rápido e solidário.

Hermione acompanhou Astoria por longos corredores com pilastras de mármore. Era tudo muito suntuoso, mas também de muito bom gosto. A sala de jantar, o destino final daquele pequeno tour, era onde as duas esperavam conversar em paz. O cômodo, assim como todos os outros pelos quais Hermione havia passado rapidamente, parecia saído do catálogo de um arquiteto muito caro.

A sala de jantar era acoplada à cozinha e havia uma enorme ilha que se parecia muito com uma foto de referência que Hermione salvara em sua pasta de Pinterest, um dos pequenos hábitos trouxas modernos pelo qual ela nutria um certo vicio. Além disso, as paredes altas e o teto abobado evocavam em Weasley a lembrança de todas aquelas igrejas muito antigas. Era bonito e opulento. Fazia qualquer um se sentir pequeno diante da imponência da vida.

— Você sabe o que Rose me disse a primeira vez que esteve aqui? – Astoria puxou conversa, ao notar que ela olhava os detalhes corcovados.

— Eu posso imaginar... – Hermione abriu um sorriso indulgente, pensando em sua menina, ainda adolescente, de visita.

— “É a primeira vez que eu entro numa cozinha santa”. – Astoria rememorou, gargalhando, e foi impossível não se contagiar com a risada dela. Hermione não tinha ideia de como alguém como Draco havia terminado com alguém como Astoria, mas estava contente com o rapaz que eles haviam criado juntos. – Se ela soubesse... – Astoria meneou a cabeça. – Não há nenhum sentimento religioso ou afetivo em mim em relação à cozinha ou ao preparo de alimentos.

— Não há nenhum sentimento do tipo nela também. – Hermione suspirou, pensando em como ficara preocupada com a filha no primeiro semestre da gravidez. Rose estava confiante de que apenas poções a ajudariam no quesito “ser saudável”. E uma Rose confiante era o mesmo que uma Rose teimosa. Exatamente como Hermione.

Astoria concordou, solidária.

— A razão pela qual eu te convidei aqui hoje... – ela começou, servindo o chá. – é que imagino que, assim como eu, você não esperava ser avó tão rápido.

— Não, não esperava. – Hermione disse de maneira resignada. – As vezes eu sinto que... – ela encarou a xicara fumante a sua frente. – As vezes eu sinto que passei tanto tempo no Ministério... E ela em Hogwarts... – com um suspiro, Hermione encarou a dona da casa. – Você sabe quando a gente sempre acha que vai ter tempo depois?

Astoria fitou a mulher que a olhava. Não era apenas a mãe de sua nora. Era a Ministra da Magia. E Astoria Malfoy a respeitava igualmente por ambas as coisas.

— Sei.

E porque Hermione sentiu que ela estava sendo sincera, continuou:

— Eu posso rememorar cada passo da minha gravidez. Parece mesmo que foi ontem. – sorriu, nostálgica. – A memória, é claro, simplifica as coisas. Eu planejei Rose por anos. Eu queria que ela viesse ao mundo quando estivéssemos estáveis. Não só financeiramente. Mas emocionalmente também. Eu queria garantir que ela tivesse a minha melhor versão. Nossos amigos... – ela soltou um riso pelo nariz – já estavam no segundo ou terceiro filho quando Ronald e eu entendemos que era a hora. Eu li centenas de livros. Centenas. – algo em sua voz fez Astoria entender que ela estava falando no sentido literal. – E ela foi um desejo feito realidade. Mas de algum modo...

— De algum modo a culpa materna sempre dá um jeito de morder o pescoço da gente. – Astoria concluiu, dando uma batidinha na mão dela. – Hermione eu estou certa de que vocês fizeram e fazem o melhor possível.

— Ainda assim, estou aqui, na primeira oportunidade, choramingando com você. – constatou, aprumando-se.

— Não se preocupe. Eu vou começar em breve. – Astoria avisou. – Tenho uma lista imensa de pecados quando o assunto é Scorpius. – ela ponderou. – É horrível admitir que Draco provavelmente tinha razão. – Confidenciou. -   Eu insisti tanto e agora, em retrospectiva, não sei se foi uma boa decisão mandá-lo para Hogwarts. Todos aqueles anos... – ela mordeu os lábios com raiva, pensando no bullying que o filho havia sofrido.

— Eu sinto muito, Astoria.

— Sinto como se não tivesse...

— Feito o suficiente? – Hermione concluiu e foi a sua vez de dar um tapinha de compreensão na mão de Astoria.

Ela meneou a cabeça e as duas riram. Juntas. E o som foi o suficiente para espantar, de uma só vez, ainda que por um único instante, todos os demônios internos. Porque há algo de poderoso em mulheres que, a despeito de tudo, riem.

De repente, elas se sentiram muito bobas pelas preocupações excessivas. Era bom ter com quem compartilhar angústias maternas, pois fazia com que ganhassem perspectiva. Havia muitas falhas, de certo, mas também uma porção de acertos. E era uma tendência maliciosa da culpa fazer parecer que as coisas boas não tinham tanto ou maior peso do que as outras. Rose e Scorpius estavam vivos, saudáveis e felizes, no fim das contas.

— Eu morri de ciúmes de você. – Hermione assumiu, já na segunda xicara de chá. – Logo no inicio do namoro... Rose não parava de falar um instante sobre como você era incrível.

Astoria riu, satisfeita com a segunda a informação.

— Oh, céus. Quando eu soube que Scorpius estava namorando... Bom, foi um susto por si só. – brincou. – Mas me recuperei rápido e pensei que essa era minha chance de quebrar mais um ciclo familiar. – O jeito como ela abriu um sorriso enviesado fez com que Hermione pudesse visualizar perfeitamente como ela deveria ter sido aos vinte e poucos anos – As coisas com a minha sogra não foram exatamente... Amigáveis. Então eu estava morrendo de vontade de ser a melhor sogra do mundo.

— Você conseguiu. – Hermione a consolou, pensando com carinho na sua relação com a senhora Weasley e na sorte que tinha.

— Rose facilitou muito o meu trabalho.

— Scorpius fez o mesmo por mim.  

Elas se olharam de maneira cúmplice.

A verdade é que ambas eram mães orgulhosas de jovens incríveis de vinte anos de idade. Eles estavam apaixonados e teriam um bebê na estação seguinte. A gravidez pegara todos os envolvidos de surpresa. Ainda assim, ali, naquela cozinha santa, quando a vida se encaminhara de traçar um destino comum à duas mulheres fortes com histórias muito distintas, elas não puderam evitar a sensação de que as coisas que tinham de ser tinham um poder muito grande.

E que quando se aceitava os ventos das mudanças abraçando as próprias vulnerabilidades e medos, o destino quase sempre se encaminhava de se apresentar de maneira suave e bonita. Uma criança ao mesmo tempo Weasley e Malfoy, mais do que isso, uma criança ao mesmo tempo Granger e Greengrass, esperada para a primavera, parecia a síntese disso.

No fim, tudo se refazia em esperança.


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