Em Tempos de Guerra escrita por Slinwood


Capítulo 8
Conhecendo o Inimigo - Parte II




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Mei não conseguia parar de pensar no destino final de Kazuko.

Já haviam se passado dois meses desde a noite na sala de reuniões, e ainda sim as palavras do comandante Shikaku continuavam martelando em sua cabeça:

"Kazuko-san se sacrificou não só por Minato, mas por você também, Raíz. É graças a ela que Konoha ganhará essa guerra."

Não foi mais do que a obrigação dela, Mei rebatia mentalmente. Um ninja que não segue as regras ou não completa uma missão não passa de lixo.

Desde aquele dia durante todas as batalhas que lutou, as tarefas que completou e até mesmo antes de dormir ela repetia esse pensamento como um mantra, mas pouco a pouco ia percebendo que não estava mais convencida. Por muito tempo Mei ouvira ensinamentos indiscutíveis na sede das Raízes. Seu treinamento se resumiu em negar as emoções, abraçar a razão e aprender o significado da Vontade do Fogo, e ainda assim...

Numa determinada manhã, quando voltava de uma missão noturna fora de Konoha, Mei decidiu se encontrar com Minato e acabar com suas dúvidas de uma vez por todas. Desde que partiram da base de inteligência e se separaram pelo caminho os dois não conversaram mais, no entanto ela tinha certeza de que o ex-companheiro a ajudaria de alguma forma. Quando soube pelas ruas que os alunos de Minato se reuniriam em breve para comemorar a promoção de Kakashi em jonin, a kunoichi partiu diretamente para o local.

Como esperado, Minato e Rin conversavam descontraidamente no lugar combinado enquanto esperavam pelos restante do time chegar. Ao notarem sua presença, ambos começaram a se aproximar da Raíz. Minato tinha um sorriso largo e brilhante estampado no rosto, e estendendo a mão em cumprimento, disse:

—Bom dia, Mei-san, quanto tempo! Não esperávamos você hoje. No que posso ajudar?

Ainda a surpreendia que Minato sempre a tratasse como uma amiga, mas ela logo afastou o impulso de retornar a gentileza ao ignorar a mão e se dirigindo a jovem ao lado:

—Poderia nos dar licença, Rin-san? Tenho de conversar com seu mestre em particular - a menina pareceu chocada que a outra ainda lembrasse seu nome. Assentindo levemente com a cabeça ela falou:

—Claro, Mei-san! Preciso mesmo verificar o presente do Kakashi-kun... com licença.

—Muito bem, e então? Do que precisa? - Minato perguntou, agora assumindo uma expressão séria, mas atenciosa - Quer saber mais sobre a Kazuko-san, não é?

O chute certeiro fez com que a Raíz se sentisse levemente desconfortável. É claro que Minato era bastante intuitivo e pôde assumir o motivo da sua vinda, mas isso ainda a fez se sentir frágil. Ela soltou um longo suspiro antes de responder o que fosse:

—Eu... não consigo dormir, sabe? Não entendo o por quê dela ter feito o que fez por nós... por mim. Eu era completamente dispensável para o seu resgate, Minato, e ainda sim ela cuidou dos meus ferimentos, me incluiu no grupo e... salvou a minha vida. Sempre acreditei que servia apenas de ferramenta para a prosperidade da Vila, mas agora... bem, agora já não tenho tanta certeza.

Levou um minuto para que ambos processassem o desabafo de Mei, mas ela sabia que precisava de respostas. Quem fora àquela kunoichi tão estranha e tão odiada pelo mestre Danzo? 

—Posso lhe contar uma história? Prometo que será rápida - a jovem de cabelos púrpura e com olheiras profundas concordou com a cabeça.

—Desde que Kazuko entrou na Academia todo mundo sabia que ela era diferente. Afinal, ela era do clã Sasaki, tão velho quanto a Vila da Folha, e na época só haviam umas quatro crianças em todo o clã. Fomos da mesma turma por um tempo, acho que até virarmos chunnin. Ela sempre se destacou, mas não seguia bem as regras. Durante treinamentos e missões não aceitava machucar ninguém. Bem, é óbvio que ela era capaz, entende? Ela só não queria.

Minato se interrompeu por um segundo com uma risadinha:

—Ah, desculpe, lembrei de uma coisa. Você conhece a Kushina, não? Houve uma situação quando éramos novos na qual a sequestraram por ser uma jinchuriki, mas ninguém conseguia encontrá-la de jeito nenhum. Isso até a Kazuko e eu sabermos de tudo, é claro. Foi graças às habilidades de rastreamento dela que pudemos encontrar os fios de cabelo deixados para trás pela Kushina. Se não fosse por isso... - o shinobi agora olhava para os próprios pés, completamente perdido em suas lembranças enquanto Mei o encarava, tentando processar e guardar cada palavra.

—Enfim, voltando. Não demorou muito para que a Kazuko-san chamasse a atenção da ANBU. A primeira vez que a convocaram ela tinha uns dezessete anos, mas ela só aceitou entrar com dezenove. Acho que a mãe dela teria um ataque se soubesse disso enquanto estava viva.

—Espera, espera aí. O que a mãe da Kazuko-san tem a ver com isso? - Mei o interrompeu, mais interessada do que assumiria. 

—Ué, tudo. Ela lutou na Segunda Grande Guerra e chegou a voltar para casa, só que completamente cega. Ela também foi uma jonin especial, mas ensinou Kazuko a seguir o caminho da paz desde muito jovem. Nem queria que ela virasse ninja. Entende agora?

—... acho que sim. Continue.

—Já estou terminando, juro. Kazuko serviu como ANBU por alguns anos, mas acabou fazendo muitos inimigos lá dentro. Desafiava seus superiores; não aceitava matar, apenas escoltar, capturar, esse tipo de coisa. Ela seguia o próprio caminho ninja sem vacilar, e quando isso chegou aos ouvidos de Danzo... - ao ouvir o nome do próprio mestre Mei levantou uma sobrancelha, como se o desafiasse a falar algo ruim dele - Ann, deixa pra lá, essa parte você sabe. Foi então que Kazuko resolveu sair e agir apenas como jonin de novo. Mal sabia ela que a guerra estava tão perto de começar... Não levou nem um ano, sabe?

—...

—Bom, é-é isso. Ela foi uma grande amiga. Me ajudou toda vez que duvidei de mim mesmo. Nunca deixava a opinião dos outros afetar quem ela era de verdade... taí alguém que conhecia o próprio valor... - Minato agora tinha a voz embargada e o canto dos olhos brilhando com lágrimas quentes. Ele até deu uma risadinha quando uma delas rolou pela bochecha, fazendo ele esfregar os olhos sem vergonha nenhuma por estar na frente de Mei.

—... sinto muito pela sua perda, Minato. Acho que entendo melhor agora.

—Sé-sério? Espero ter ajudado - ele sorriu, deixando a Raíz meio sem graça e fazendo-a virar o rosto - E então? O que vai fazer agora?

—Não sei ao certo. Por enquanto só preciso escrever o relatório da última missão. E você?

Nesse momento ambos escutaram uma discussão se formar assim que Uchiha Obito, um nanico de óculos, chegou atrasado para a reunião. Minato apenas riu e continuou:

—Acho que tenho de cuidar disso além de explicar a missão de hoje. Não sei se você ouviu falar, mas...

—Sim sim, a da Ponte Kannabi. Não o atrasarei mais, Minato, sei que é um dia importante - disse a kunoichi já se afastando e dando as costas - Obrigada por tudo.

—Sem problemas, nos vemos em breve.

E assim ambos se despediram, mas mesmo ao longe Mei podia ouvir as risadas do grupo. O ar frio da manhã ajudava a clarear a mente e pôr tudo em seu devido lugar. Agora ela sentia que compreendia melhor os motivos de Kazuko.

Huh, como somos diferentes..., refletia a kunoichi no caminho de volta para a sua casa no centro de Konoha. Espero poder encontrá-la e talvez agradecê-la um dia. Quem sabe numa próxima vida...

 


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