Em Tempos de Guerra escrita por Slinwood
Mei foi a primeira a abrir os olhos.
Demorou um minuto para que lembrasse onde e com quem estava. O interior da Grande Serpente continuava igual, com seu "salão'' confortável e bancos longos o suficiente para se deitarem. Mei e o shinobi na parede oposta haviam caído no sono horas atrás graças à exaustão de uma fuga agitada e os efeitos de um veneno mortal.
Parando para refletir um pouco, a Raíz se deu conta de que já não se sentia tão mal quanto antes: a cabeça parara de girar; a pele não queimava mais de febre, e todo o seu corpo voltava a assumir uma cor bem mais saudável. A única coisa que realmente a incomodava era o enjoo da viagem e um latejar contínuo no pescoço.
Foi apenas quando Mei se sentou e se virou na direção de Minato que ambos sentiram falta de algo. Os comentários sarcásticos e irritantes de Kazuko não eram ouvidos desde que acordaram, e ela também não parecia estar em lugar algum. Antes que pudessem perguntar sobre, a voz rascante de Macao ressoou:
—Se aprontem logo vocês dois, estamos quase chegando, hm.
—Aaan, Macao-sama? - falou Minato, sem receber nenhum indício de que ele o ouvia – Onde a Sasaki-san está?
—... - Macao continuava sem responder, mas agora sibilava baixinho. Era a vez de Mei tentar arrancar alguma coisa dele:
—É, o que houve? Ela estava cuidando de nós pouco antes de dormirmos-
—Não tenho autorização para falar sobre isso – cortou a Grande Serpente – Meu dever é levá-los sãos e salvos até a base e entregar uma mensagem aos seus superiores.
—Co-como assim!? - gaguejou Minato.
—A senhorita Kazuko me proibiu de compartilhar informações sobre seu paradeiro – respondeu automaticamente – Mas o que tenho permissão de divulgar é que a senhorita conseguiu um antídoto bem a tempo. Vocês estavam a poucos minutos da morte – completou ele.
—Mas... eu não me lembro de nada. Quando tudo isso aconteceu? Como ela achou o soro? Por que ela não está aqui!? - Minato perguntava sem parar, agora totalmente desperto e mais firme do que Mei jamais o vira antes.
—A senhorita Kazuko me proibiu de compartilhar-
—Nos diga onde. ela. está. - apesar da distância que estavam um do outro, Mei podia ver que o shinobi apertava as mãos em punhos, e que o nó de seus dedos estavam ficando brancos.
Tolo. Não é desse jeito que vamos conseguir informações, pensou a Raíz. Todos os jonins da Folha são assim tão impulsivos?
—Acalme-se, Namikaze-san. Ele já disse o que podia - a kunoichi avisou em voz alta para que todos pudessem ouví-la.
—Mas Mei-san-
—Acalme-se – voltou a repetir. O tom monótono, mas severo de sua voz, foi o suficiente para fazê-lo voltar aos eixos. Tudo indicava que Kazuko havia ficado para trás, bem como Danzo planejara. Nos relatórios e mensagens que compartilharam pela última vez, - cerca de dois dias após o sequestro de Minato – o mestre vinha dando detalhes de como daria um jeito para que a odiada kunoichi participasse da missão de resgate e terminasse morta no processo.
Ele ficaria muito satisfeito ao saber que mais uma pedra em seu caminho se fora.
—Um minuto para chegarmos à superfície. Peguem suas coisas – avisou Macao na hora em que fez uma curva acentuada para cima. Minato soltou um gritinho e se agarrou aonde pôde enquanto tinha mais um ataque de ansiedade. Mei o olhava de rabo de olho, bastante decepcionada que um herói de guerra como ele fosse tão desmiolado para seu próprio bem.
Com nada mais do que o colete dos Areia nas mãos, a Raíz fechou os olhos, concentrando toda a sua força para não vomitar mais uma vez. Ela prometeu a si mesma que nunca nunca mais viajaria daquele jeito. Quando pensaram que não poderia ficar pior, a Grande Serpente desacelerou e saiu do subsolo, causando o que parecia um alvoroço bem no meio da base:
—Chegamos. Agora saiam. - anunciou desnecessariamente para logo depois abrir a boca repleta de dentes mortais. A luz do lado de fora era cegante depois de tanto tempo no subterrâneo. Mei e Minato se aproximaram um do outro às cegas e começaram a andar lado a lado até a borda da boca de Macao. Num primeiro momento não conseguiram enxergar absolutamente nada que havia no exterior, mas pelos sons que escutavam todos os ninjas daquele lugar tinham armas preparadas e miradas em sua direção:
—Hm, não acho que aparecer aqui foi uma boa ideia, Macao-sama – comentou a Raíz. Ainda com a boca escancarada, a Serpente fez um som irritado e não disse nada.
—Minato-sensei, você está vivo! - disse uma voz familiar e feminina que surgiu bem na frente dos dois – Venham comigo, melhor sairmos daqui.
Com os olhos agora mais adaptados à luz do amanhecer, o trio pulou e aterrissou com facilidade na grama. De fato estavam no coração da base de inteligência, devendo haver pelo menos duzentos shinobis envolta deles e de Macao. Enquanto Minato mostrava a sua pupila seus braços enfaixados e explicava o que acontecera durante a fuga, a Raíz procurava localizar o comandante do lugar. Ela teve de andar um pouco enquanto afastava as pessoas que não paravam de surgir em seu caminho, mas finalmente o achou discutindo com alguns subordinados na entrada de uma barraca próxima:
—Como assim vocês não sabem!? Têm uma cobra gigantesca no meio da clareira e ninguém descobriu quem a invocou!?
—Senhor, ela não parece ter sido invocada, simplesmente apareceu-
—PELOS DEUSES, HOMEM, É CLARO QUE AQUELA É UMA INVOCAÇÃO! DESCUBRAM QUEM FOI O CULPADO E TRAGAM-NO ATÉ MIM! - gritava o comandante.
—Sim-sim senhor! - os três ninjas que o cercavam partiram aos tropeços, dando a oportunidade de Mei se aproximar do homem a sua frente:
—Senhor Shikaku? - ele virou a cabeça em sua direção, ainda vermelho e com uma veia pulsando bem no meio da testa.
—Que saco... sim? E quem é você?
—Mei, senhor, e chegando de duas missões ainda a pouco - o comandante de cabelos espetados e cavanhaque não pareceu gostar da resposta.
—Então foi você quem invocou aquilo!? E que história é essa de missão, não estou sabendo de nada. Explique-se.
—Não fui eu quem trouxe Macao-sama até aqui, mas sim Sasaki Kazuko – a menção no nome da kunoichi foi o suficiente para suavizar sua expressão.
—Kazuko-san está aqui? Leve-me até ela imediatamente. E onde está Minato? Conseguiram trazê-lo de volta!?
—... será melhor se o senhor apenas me seguir. Venha. - a Raíz respondeu hesitante. Apesar de confuso, Shikaku afirmou com a cabeça e foi com ela até o centro da clareira, onde Macao estava enrolado sobre si mesmo, esperando para repassar a mensagem:
—Oh, finalmente um shinobi importante por aqui – falou a Serpente assim que viu a companhia de Mei - Você é o líder, hm?
—Sim, me chamo Nara Shikaku, comandante dos jonins da Vila Oculta da Folha e chefe da Divisão de Inteligência.
—Ótimo, ótimo. Sasaki Kazuko mandou que eu entregasse isto somente a shinobis de alto escalão da Folha, e você se encaixa no perfil. Estenda a mão - ordenou Macao enquanto cada vez mais pessoas se apertavam e se acotovelavam ao redor da clareira para entender a situação. Hesitante, Shikaku obedeceu a ordem e levantou a mão esquerda, nela surgindo um pergaminho verde com o kanji Confidencial. Encarando-o sem compreender, o homem perguntou:
—Mas onde está Kazuko? Ela conseguiu completar a missão? - A Serpente sibilou impaciente e, se aproximando lentamente de Mei e Shikaku, mirou os olhos profundamente escuros e paralisantes em sua direção.
—Tudo o que devem saber está descrito no pergaminho - Macao então fixou sua atenção na kunoichi à frente e disse em um tom triste, mas ao mesmo tempo enfático - Humana, não desperdice a chance dada pela senhorita Kazuko. Um alto preço foi pago... - e assim, envolto em uma coluna de fumaça branca, A Grande Serpente da Areia se foi, deixando mais do que algumas perguntas no ar. A base inteira estava de boca aberta, com exceção de Minato e Mei, que apenas se entreolhavam sem reação em meio à multidão.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!