Bikes, Booze and Snogs escrita por prongs


Capítulo 1
U: rose weasley gets drunk for the first time


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá queridos e queridas e anyone inbetween!! Cheguei com mais uma scorose pra esse projeto lindo que tá sendo o Junho Scorose. Gostaria de agradecer às meninas idealizadoras do projeto pelo convite e parabenizá-las pela iniciativa; se não fosse por ele, eu provavelmente passaria mais cinco anos sem escrever. Mas isso não vai acontecer! Prometo que dessa vez voltei à ativa de verdade.
Tecnicamente eu já postei capítulos em Probabilidade e I Won't Go Home Without You, mas eu já tinha terminado essa one-shot antes de voltar com as duas, então essa é a minha re-estreia no mundo das fics! Uma scorose cheia de drama e burrice e 100% inspirada na minha vida rs. Os fatos que seguem aconteceram na vida real comigo (com algumas mudanças, claro, for the sake of story telling) e foi assim que eu beijei meu hoje namorado pela primeira vez, então toda vez que vocês acharem que a Rose é muito burra ou só se fode, tenham conforto sabendo que na verdade, eu que sou assim.
Ah, alguns links importantes. Essa é a PLAYLIST da fic que pode deixar a leitura mais divertida: https://open.spotify.com/playlist/1Si8MzNxCIzFrvkjFQMycQ?si=tcSIeACGQU-8XpXh2XPctg
E também vou deixar aqui como eu imagino alguns personagens que aparecem durante a história. Desconsiderem as datas de nascimento porque isso seria no canon do mundo mágico, aqui eles são obviamente mais velhos :)
SCORPIUS: https://weasleyfic.tumblr.com/post/620315809097580544/scorpius-hyperion-malfoy-born-november-13th
ROSE: https://weasleyfic.tumblr.com/post/620311576570904576/rose-weasley-born-may-8th-2006-taurus
ALBUS: https://weasleyfic.tumblr.com/post/620310955520409600/albus-severus-potter-born-october-19th-2005
ALICE: https://weasleyfic.tumblr.com/post/620367357581393920/alice-longbottom-ii-born-december-26th-2005
LEWIS: https://weasleyfic.tumblr.com/post/620371190184296448/lewis-higgs-born-june-5th-2005-gemini
PHOEBE GOLDSTEIN: https://weasleyfic.tumblr.com/post/620454685525114880/phoebe-goldstein-born-january-31st-2007
LUCY WEASLEY: https://weasleyfic.tumblr.com/post/620312229981585408/lucy-weasley-born-june-24th-2006-cancer
Espero que vocês se divirtam com as idiotices da Rose e minha e boa leitura!!!



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CINCO DE JULHO DE 2019; 14:46

 

Rose Weasley estava sozinha.

Rose Weasley estava sozinha, perdida no meio de uma ilha.

Era o dia antes da sua festa de formatura do ensino médio, o sol queimava em agonizantes 37ºC, e ela estava sozinha e perdida no meio de uma ilha e seus amigos não atendiam o telefone. Perfeito, não? Ao pensar em como ela tinha chegado até ali, Rose queria bater sua cabeça na parede até que seu cérebro fosse completamente esmagado e deixasse marcas gosmentas na tinta. Ela tentou respirar fundo e lembrar de como aquilo tinha acontecido.

 

 CINCO DE JULHO DE 2019; 10:08

 

“Albus Severus Potter”, Rose chamou o primo enquanto balançava seu ombro. “Acorda. Já são dez horas e a gente tem que ir naquele lugar armar as tendas pra amanhã de noite. Se você não levantar agora a gente vai se atrasar.” Rose puxou as cobertas do garoto para longe, forçando ele a resmungar e abrir os olhos.

“Aquele lugar, a casa do Scorpius, o cara que era seu melhor amigo até tipo, um mês atrás?” Albus murmurou, alto o suficiente para Rose ouvir do outro lado do quarto, enquanto arrumava as roupas do garoto no chão, e absolutamente claro o suficiente para fazê-la suspirar irritadamente.

“Sim, Albus, ele mesmo, só se arruma” Rose jogou uma blusa para o primo e saiu do quarto batendo a porta atrás de si.

O estômago de Rose revirava só de pensar em ter que ir para a casa de Scorpius Malfoy. Lembrava da sensação de ter visto ele durante a cerimônia de graduação, suas vestes pretas e verdes bem passadas, seu cabelo loiro arrumado com gel, seus olhos cinzentos preocupados procurando por ela no meio da multidão de adolescentes. A coisa que ela mais queria evitar: o olhar dele. Queria evitar qualquer coisa relacionada à ele, na verdade, mas se seus olhos se encontrassem com os dele, Rose era capaz de começar a chorar ou de ter um acesso de fúria.

Scorpius, Albus e Rose tinham sido melhores amigos desde o momento que se conheceram, ainda crianças, quando Scorpius foi transferido para a escola da cidade dos primos. Rose não confiava em ninguém como confiava nos dois, e nos momentos que achava que Albus poderia falhar como confidente graças à sua super habilidade de não conseguir guardar segredos, recorria à Scorpius.

Ele tinha sido a primeira pessoa a saber que Rose sem querer manchara a roupa favorita de Hugo de tinta roxa enquanto pintava, que ela tinha tido seu primeiro beijo, que ela tinha visto James traindo sua namorada numa festa no primeiro ano, que ela tinha vontade de beijar Scorpius. Rose tinha sido a primeira pessoa a saber que Scorpius tinha medo de altura, que ele tinha chorado ao assistir The Notebook, que ele tinha tinha feito mais que beijar uma garota pela primeira vez, que ele também tinha vontade de beijar Rose.

Mas nada disso importava agora, porque Rose não suportava ouvir o nome dele, ver o rosto dele, sentir o cheiro do perfume dele. Então quando foi anunciado que a festa após a formatura (o lugar onde todos realmente bebiam e fumavam até ver estrelas na frente dos olhos) seria na casa de Scorpius, Rose quis mais que tudo arrancar seus olhos e ouvidos fora para não ter que viver isso. Mas, ao mesmo tempo, era sua última chance de saber como é ficar bêbada antes do Ensino Médio acabar, então ela sabia que tinha que viver isso.

Claro que o cenário era perfeito; Scorpius morava em uma das ilhas habitadas perto da cidade, no meio do grande lago, onde só se chegava de balsa, que parava de navegar após a meia-noite, ou seja, nada de adolescentes bêbados dirigindo. Os Malfoy haviam decidido se mudar para lá atrás de um pouco de privacidade e calmaria. A casa era enorme, assim como o quintal e a piscina, espaço o suficiente para os 90 alunos, seus acompanhantes e todos os penetras que iriam chegar. Os pais de Scorpius estavam em uma de suas viagens a trabalho, então não teriam nenhum problema com isso. Uma noite onde dezenas de adolescentes poderiam se encher de álcool, maconha e tudo o que você conseguir imaginar sem nenhuma supervisão adulta e com o peso de quatro anos de Ensino Médio levantado de seus ombros. 

O problema número um: Rose nunca tinha ficado bêbada e estava determinada a fazer isso naquela noite.

O problema número dois: Ela iria ficar bêbada na casa de seu ex-melhor amigo, a pessoa que ela menos queria ver naquele momento, mas não fazia a mínima ideia de como iria se comportar depois que o álcool dominasse seus pensamentos e corpo.

Mas ela poderia lidar com esses dois problemas depois. No momento, ela tinha que lidar com o problema número três: ir até a ilha com Albus e Alice, a namorada de seu primo, para armar a tenda onde eles iriam dormir na noite seguinte, já que não poderiam voltar para a casa devido à balsa. Scorpius tinha oferecido que eles dormissem em um dos quartos da casa, mas o acordo tinha se desmanchado junto com sua amizade com Rose, e Albus e Alice não iriam deixá-la sozinha. Então, agora, tudo o que ela queria fazer era ir com os amigos até aquela maldita ilha e armar a tenda o mais rápido possível para poder dar o fora dali, o que não iria acontecer se Albus não se levantasse logo da cama.

Enquanto o garoto se arrumava, Rose desceu até o primeiro andar da casa dos tios, que era praticamente o seu segundo lar, e se deparou com James e Lily, recém acordados, comendo cereal enquanto sua tia Ginny assistia TV e seu tio Harry lia um livro aparentemente importante para o trabalho no outro canto da sala. Ela cumprimentou todos com um bom dia enquanto improvisava três sanduíches.

“É hoje que vocês vão armar as tendas?” James Sirius perguntou, a voz ainda grogue de sono.

“Sim, a Alice deve chegar a qualquer momento pra ir com a gente” Rose respondeu, concentrada.

“Cara… eu me lembro da minha formatura. Quer dizer, não lembro” James riu como uma criancinha animada, falando baixo para seus pais não lhe ouvirem. “Lembro do que me falaram no outro dia e lembro de Marcus Nott desmaiado no chão depois de ter cheirado muito, que é uma imagem incrível o suficiente para eu saber que foi uma noite maravilhosa” Ele suspirou, quase nostálgico, e Rose riu e balançou a cabeça. “Eu espero que a noite de vocês seja extremamente louca. Festas na universidade são ótimas, claro, mas nada se compara com a noite de formatura.”

Rose assentiu. “Eu sei, você já disse isso umas sete vezes só essa semana, Jim.”

O garoto deu de ombros. “E vou dizer sete vezes mais porque sei que vocês são certinhos demais e precisam aproveitar de verdade”

Antes que Rose pudesse retrucar dizendo que, na verdade, ela planejava ficar mais bêbada que James no dia que chegara vomitando nos pés de seus pais, a campainha tocou e Lily Luna se levantou num salto para abrir a porta, não muito interessada na conversa. Alice Longbottom entrou, com seu sorriso típico de orelha a orelha e um macacão jeans, sua marca registrada.

“Bom dia, Potters e Weasley!” Ela disse, doce como sempre, e correu para o lado de Rose. “O Albus ainda tá acordando, né?” Rose assentiu e as duas riram. “Tá bem quente hoje, se eu fosse você eu não ia de calça.”

Rose olhou para os moletons que usava e de repente sentiu calor. Correu para o quarto de hóspedes onde tinha dormido e trocou-se, colocando roupas leves, e enquanto descia as escadas esbarrou com Albus, finalmente pronto.

“Já não era hora!”, ela riu e bagunçou o cabelo do primo. Desceram para a cozinha, pegaram os sanduíches que já estavam embalados e correram para o carro. Albus deu um beijo em Alice, que se sentou no banco do passageiro enquanto ele ligava o carro, e Rose conectou o celular ao sistema de som do carro e colocou as músicas de High School Musical 3 para tocar a todo volume. Era algo que ela sempre conversava sobre com Scorpius e Albus, como essa seria a trilha sonora da formatura deles. Seu estômago revirou ao lembrar de como Scorpius a puxava para seus braços e eles dançavam e riam ao som daquela música, e ela fechou os olhos e afastou a memória de sua mente.

O caminho até a balsa foi longo e divertido, como sempre. Quando já estavam cruzando o lago até a ilha, ela observou os outros carros e reconheceu alguns de seus colegas — Cameron Tuft, Matthew Higgins, Ramona Goyle, Sophie Bletchley, Leslie Hart — também indo montar as barracas, e sabia que várias outras pessoas já estavam no quintal dos Malfoy. O sol queimava seus ombros e rosto de uma maneira gentil, por ora. O dia estava para esquentar drasticamente e prometia ser um dos mais quentes daquele verão.

Desceram da barca e dirigiram até a casa de Scorpius, um caminho bastante conhecido; Rose e Albus costumavam ir até a ilha quando queriam mergulhar no lago ou fumar no quintal da casa dos Malfoy, um canto praticamente isolado do resto do mundo, onde apenas ouviam a água batendo nas pedras e os animais que eventualmente andavam pela floresta ali perto. Quando chegaram lá viram algumas dezenas de adolescentes montando suas barracas e tocando música alta e Rose avistou um garoto alto, pálido e de cabelos loiros cor de limão cruzando o quintal para ajudar alguém. Quis dar um murro em alguma coisa.

Os três saíram do carro e pegaram a barraca, os dois colchões de ar e os lençóis que haviam preparado e logo escolheram um local um pouco longe da maioria dos colegas. Rose tinha certeza que Scorpius tinha visto eles e também tinha certeza que ele não iria até lá tentar falar com eles. Rose ficou encarregada de encher os colchões de ar enquanto Albus e Alice atacavam a barraca, que, na verdade, era um tanto velha e confusa. Harry tinha usado ela para ir para uma Copa do Mundo… quando era adolescente. E tinha perdido o manual de instruções de montagem. Mas ele tinha explicado a Albus como montá-la, então teoricamente tudo deveria ficar bem.

O tempo foi passando e junto com ele, o sol foi subindo. Já para mais de meio dia, todos suavam feito porcos enquanto se esforçavam para montar suas tendas, mas Albus e Alice, especialmente, estavam encharcados em suor e a cada minuto suas vozes se elevavam mais um pouco. Rose fechou a saída de ar do último dos colchões e prestou atenção no que estava acontecendo, achando que o primo estava brigando com a namorada, mas a situação era pior: os dois estavam brigando com a barraca, que simplesmente se recusava a ser montada.

“Vocês querem ajuda?” Rose perguntou inocentemente, sendo cortada por um não agressivo em uníssono, então resolveu se sentar num dos colchões e observar a luta entre o casal e as barras de metal que não se encaixavam de maneira alguma. Eles discutiam, puxavam, empurravam… e nada. Rose viu Scorpius passar por eles e parar um segundo para observá-los, e ela sabia que ele queria oferecer ajuda, mas Rose estava lá e ele não faria isso. Ela pensou novamente na noite que eles brigaram. Do gosto de cherry cola nos seus lábios. Na fumaça ao redor deles. No sutiã roxo de Aurora Bones em contraste com os cabelos loiros dela. 

Seus pensamentos efervescentes foram interrompidos pelo seu celular vibrando no seu bolso traseiro. Rose puxou o celular com rapidez e atendeu a ligação que vinha da mãe.

“Rosie”, a voz de Hermione era urgente e ansiosa. “Eu preciso que você venha pra casa urgente, seu tio Percy avisou que está vindo pra jantar e você sabe o quanto a esposa dele me odeia e eu não tenho nada preparado para comermos e eu realmente preciso muito de ajuda, eles chegam às quatro, você pode vir?”

Rose afastou o celular do ouvido e olhou para a hora. 13:07. “Eu posso tentar pegar a balsa das uma e meia, e aí chegar em casa umas duas horas… e por enquanto o Hugo pode te ajudar?”

“Você sabe que seu irmão na cozinha é uma porta para tragédias, mas certo. Só venha o mais rápido possível, por favor?” a voz de sua mãe no telefone era quase uma súplica.

Ela desligou e olhou para Albus e Alice, que pareciam estar ganhando a luta contra a tenda. Ela os observou por algum tempo antes de falar: “Ei, gente? Vocês acham que vão terminar logo aí? A mãe precisa da minha ajuda em casa e eu falei que ia chegar de duas horas mais ou menos…” Alice gesticulou para que ela esperasse com as mãos e aparentemente eles estavam apenas dando os toques finais e… pronto. A tenda finalmente estava montada. Albus olhou para a prima com um sorriso quase maníaco antes de falar:

“Só temos que colocar os colchões dentro da tenda e podemos dar o fora daqui!” E foi naquele exato momento que, como numa série de comédia, a tenda simplesmente resolveu se desmontar inteira e cair no chão em uma pilha de varas e tecido. Albus passou as mãos pelo cabelo, exasperado, e parecia querer se matar ou matar alguém. “Ou não. Não podemos dar o fora daqui.” Ele bufou e gritou, fazendo com que alguns colegas o olhassem preocupados, e Alice agarrou o braço do namorado, acalmando-o.

“Calma, calma, vamos tentar de novo, a gente quase conseguiu! Rose, uma ajuda por favor.” Ela olhou desesperada para a ruiva, que se levantou prontamente e foi tentar ajudar os amigos. Rose segurava algo no ar e olhava para o celular no bolso, e logo ela sabia que não ia conseguir sair dali de 13:30. Mandou uma mensagem para a mãe que dizia “imprevisto com a barraca. pego a balsa das 14:30. sorry” e enfiou o celular no bolso, sem querer ver a resposta de Hermione.

Os três começaram a lutar contra a tenda de novo, que parecia ser mais confusa agora do que na primeira vez. Albus tentava seguir as instruções do pai, que não faziam sentido nenhum para Rose, e Alice segurava peças que simplesmente sobravam em outro canto. Nada se encaixava, absolutamente nada, o sol queimava com mais força a cada minuto, estressando todos mais ainda, e o relógio parecia estar apressado. Depois das duas horas, Rose começou a ficar nervosa; tinha que ir embora agora ou iria perder a balsa.

“Albus, você pode só me levar até a balsa? Eu peço pra alguém ir me buscar no cais”, ela perguntou nervosa, observando o relógio que a informava que já eram 14:10. “Albus, eu realmente tenho que ir agora, minha mãe não para de me mandar mensagem, eu tenho que ir”, ela continuou falando, desesperada.

“Rose, eu não posso ir!” Albus respondeu levantando a voz e largando um dos pedaços de metal no chão. “Eu tenho que terminar essa merda, desculpa, mas você sabia que podia demorar, você não pode arranjar uma carona, tipo, com o Scorpius?”

O rosto de Rose virou escarlate. “Você sabe que eu não quero.”

Alice interviu e olhou ao redor. “Olha, as meninas estão terminando. Você pode pedir carona até a balsa pra elas e ligar pro James ir te buscar ou algo assim!”, ela passou uma mão no ombro de Rose, tentando acalmar a amiga

Rose olhou para onde Alice estava apontando. Ramona Goyle, Sophie Bletchley e Leslie Hart estavam andando vagarosamente em direção à van preta e horrorosa da mãe de Ramona, e não era como se Rose tivesse nenhuma inimizade com elas, mas elas tampouco eram amigas. Mas ela realmente precisava sair daquela ilha.

“Ramona!”, Rose chamou, correndo até as garotas. As três se viraram para ela, diminuindo o passo, com expressões entediadas. “Você pode me dar uma carona até a balsa? Meu primo vem me buscar do outro lado, eu só não tenho com quem ir até o deque.” Ela sorriu meio atrapalhada. Não gostava de pedir favores.

As três garotas se entreolharam e Goyle deu de ombros. “Claro, entra aí.”

Rose entrou na van preta da mãe de Ramona e sentiu o cheiro salgado de cheetos, o odor azedo de bebidas alcoólicas adolescentes e a essência esquisita de uma daquelas arvorezinhas que se pendura no espelho retrovisor do carro invadirem suas narinas, todos de uma vez, numa mistura nem um pouco agradável. Haviam copos vermelhos e garrafas de cerveja espalhadas no chão do carro, que era uma mistura de areia e sujeira por cima dos tapetes. Ela sentiu seu sanduíche de café da manhã voltar pra sua garganta.

Depois que todas se acomodaram, Rose fez uma descoberta: Ramona era uma motorista muito, muito devagar. Elas tinham menos de quinze minutos para pegar a balsa e o carro andava a pouquíssimos quilômetros por hora, enquanto as três garotas balançavam as cabeças ao som de algo trap que tocava às alturas no sistema de som. Ela nunca quis tanto fugir de algum lugar. Mal podia esperar para chegar logo até a balsa, onde poderia sair e esperar no deque de cima enquanto eles cruzavam o lago até que ela fosse encontrar James.

“Entra aqui à direita, Ramona”, os ouvidos de Rose se atentaram ao som da voz de Sophie. “Tô com muita sede, tem uma lojinha de conveniência por aqui”, a garota loira se virou para Rose. “Tem algum problema? Vai ser rápido.”

Rose olhou para o relógio. 14:20. Ela sorriu forçadamente e balançou a cabeça. “Tranquilo.” Ela engoliu em seco.

O carro virou numa das estradas pequenas da ilha, e apesar de Rose já ter explorado muito o lugar com Albus e Scorpius, ela não conhecia aquela parte do lugar. Ela não reconheceu as poucas casas ao redor muito menos o caminho que elas estavam tomando. As garotas desceram do carro vagarosamente e entraram na pequena venda onde uma senhora estava sentada numa cadeira de balanço do lado de fora, e Rose decidiu ficar sentada no seu lugar, talvez assim elas entendessem o quão apressada ela estava.

Ela olhava para o celular a cada 30 segundos, observando o tempo passar e as mensagens desesperadas de sua mãe inundarem suas notificações, sem a mínima coragem de respondê-las. 14:23. Ela colocou a cabeça pra fora da janela, respirando fundo. Se elas não saíssem dali naquele momento, elas iam perder a balsa, que era sempre pontual. Ela olhou para dentro da loja e as garotas ainda estavam escolhendo as bebidas. Ela fechou os olhos e esperou. Olhou para o celular de novo. 14:26. Ela abriu a porta do carro e desceu. Elas ainda estavam com várias bebidas nas mãos, se dirigindo ao caixa. A senhora se levantou da cadeira e foi para dentro. 14:28. Rose passou as mãos pelos cabelos presos, soltando vários fios ruivos nos lados do rosto, e simplesmente começou a andar para longe. Ela tinha perdido a balsa e agora sua mãe ficaria furiosa com ela. Ela não queria passar nem mais um segundo perto daquelas garotas.

Rose sentia o celular vibrando em seu bolso com cada nova mensagem; sua mãe perguntando se ela já estava a caminho, James perguntando se ela precisaria mesmo de carona, Alice perguntando se ela tinha conseguido pegar a balsa. Ela respirava fundo, passava as mãos pelo cabelo e andava, ignorando o sol forte que batia em seu rosto e fazia sua cabeça doer. Depois de mais de dez minutos, ela se deu conta que simplesmente... não sabia onde estava. Ela tinha começado a andar sem prestar atenção na direção para onde caminhava. Ela olhou para os lados e percebeu que não havia ninguém por perto.

A garota parou de andar e puxou o celular do bolso, ignorando as mensagens. Tentou abrir o Google Maps, mesmo sabendo que provavelmente estaria sem sinal de internet, e não se surpreendeu quando a página não carregou. Tentou ligar para Alice, que não atendeu o celular nenhuma das cinco vezes que Rose ligou para ela, assim como Albus. Tentou ligar para Amelia Williams, que também estava armando sua tenda, que também não atendeu. Ela suspirou e quis gritar.

Rose estava sozinha.

 

CINCO DE JULHO DE 2019; 14:46

 

Rose estava sozinha, perdida no meio de uma ilha.

Era o dia antes da sua festa de formatura do ensino médio, o sol queimava em agonizantes 37ºC, e ela estava sozinha e perdida no meio de uma ilha e seus amigos não atendiam o telefone. 

E agora ela tinha que ligar para Scorpius.

Ela não queria, ela realmente não queria, mas era a sua única chance de sair dali. Ela abriu seus contatos e desceu até a letra S. Não tinha deletado o número dele. Mesmo que tivesse deletado, ela sabia ele decorado. Respirou fundo e apertou no botão de chamar, colocando o celular perto do rosto.

O telefone chamou uma, duas, três vezes. Rose quis desligar e apagar sua existência da face da terra. Quatro. Ela ia desligar. Cinco.

Rose?

A voz de Scorpius.

Ela perdeu o fôlego.

“Oi. Eu… eu meio que preciso da sua ajuda.”

Ele não falou por alguns segundos e Rose sentiu que todos os seus órgãos iam sair do seu corpo, de uma vez só.

Pode dizer, tá tudo bem?

Ela respirou fundo mais uma vez. “Eu meio que tô perdida. Eu precisava pegar a barca porque a mamãe pediu pra eu voltar pra casa mas aí o Albus não podia me levar e eu peguei carona com a Ramona Goyle mas ela parou pra comprar bebidas e passou da hora e eu saí do carro e comecei a andar e…” Ela mordeu o lábio. “Não sei onde eu vim parar. E tô atrasada pra caralho.”

Ela podia quase ouvir o cérebro de Scorpius trabalhando a mil por hora no outro lado da linha. “Onde elas foram comprar bebidas, tinha uma senhora sentada numa cadeira de balanço na frente?

Rose quase sorriu com a perspicácia de Scorpius que ela tanto sentia falta. “Sim, exatamente.”

Não sai daí. Eu já chego pra te buscar.” 

A garota se sentou na beira da estrada, sentindo o suor escorrer em seu rosto com os olhos fechados. Não acreditava que tinha feito aquilo depois de ter prometido pra si mesma mil vezes que não iria falar com Scorpius, mas ele era a única pessoa que podia ajudá-la naquele momento. E ela sentia falta dele. Queria se convencer que não, mas ela sabia que sentia falta de tudo em Scorpius, tudo que tinha se perdido entre eles naquela festa um mês atrás.

Rose continuou de olhos fechados por um tempo, esperando ouvir o barulho ensurdecedor do carro velho de Scorpius na estrada, mas achou estranho a demora. Ele não costumava dirigir devagar. Foi quando ela abriu os olhos e olhou para os dois lados da estrada e se deparou com a cena; Scorpius, montado numa bicicleta azul bebê antiga, pedalando o mais rápido possível, as sobrancelhas franzidas na sua expressão emburrada. Rose sorriu. Ela não acreditava no que estava vendo. Ela se levantou e tentou não sorrir tanto quando Scorpius se aproximou e parou a bicicleta na frente dela.

O loiro sorriu fraco, analisando as expressões da menina na sua frente. “Vai ficar tudo bem. Eu já mandei mensagem pra tia, ela sabe o que aconteceu…” Ele fez uma careta. “Bem, mais ou menos. Eu mudei uma coisa ou outra na história pra te safar.”

Rose mordeu o lábio. Ela sabia que estava sorrindo. “Valeu.” Ela olhou para a bicicleta azul e velha de Scorpius. “Eu… não sei andar de bicicleta, Scorpius.” Ela coçou a cabeça. Esperava que ele viesse buscá-la de carro. Uma bicicleta não era lá muita ajuda.

O garoto sorriu, meio atrapalhado, e passou uma das mãos pelos cabelos cor de limão. “É, eu sei. É que o carro tá com a minha mãe e era o único jeito de vir te pegar. Eu pensei em você sentar no guidão… Eu prometo que a gente não vai cair.”

Rose mordeu o lábio. Ela acreditava nas promessas de Scorpius. Rose andou até ele, que estendeu a mão automaticamente para ajudá-la a subir; ela hesitou por um segundo antes de pisar numa das barras da bicicleta e segurar a mão dele forte. A mão dele estava suada, como sempre. Rose segurou o fôlego para se equilibrar e sentou no guidão da bicicleta, de frente para Scorpius. Perigosamente perto de Scorpius. Seus joelhos tocavam o peito dele e os braços dele encostavam em suas pernas expostas quando ele os mexia. Os dois se encararam por um instante até que o garoto respirou fundo e começou a pedalar no sentido contrário.

Rose tentava não olhar para os olhos cinzentos de Scorpius, nem para o seu cabelo suado que grudava na sua testa. Tentava não prestar atenção nos seus braços expostos pela camiseta que ele usava, nem na curva de seu pescoço que ela havia beijado tantas vezes. Mas parecia ser impossível. Rose fechou os olhos por um instante e se permitiu lembrar de como as coisas eram até um mês atrás.

 

TRÊS DE JUNHO DE 2019; 23:09

 

Rose não bebia. Principalmente em festas. Tinha medo do efeito que o álcool teria em seu corpo, de como ela ficaria sem controle sobre o seu corpo. Era por isso que ela gostava de maconha: sua mente estava distante, mas seu corpo estava apenas relaxado e obedecia perfeitamente aos seus comandos. Por isso, sempre que ia à festas com Albus, Alice e Scorpius, gostava de se sentar num canto com os amigos e dividir um baseado com eles e simplesmente curtir a festa assim.

E a coisa com Scorpius tinha começado há, mais ou menos, três meses. Ela não tinha certeza. Ela só sabia que eles tinham ido para uma festa de Saint Patricks junto com vários outros amigos, vestidos de verde dos pés à cabeça, com trevos cobertos de glitter espalhados no corpo, quando Scorpius tomou alguns goles de uísque e Rose, que já estava chapada há algum tempo, colocou os braços ao redor do pescoço dele. E ele a beijou. E ele continuou beijando-a pelo resto da noite. E, então, no dia seguinte, eles não falaram sobre o que tinha acontecido. Continuaram se falando e se tratando como melhores amigos e nada além disso. Até a próxima festa, quando os dois estavam deitados no carpete da sala de alguém, chapados, e se beijaram de novo. E isso simplesmente continuou acontecendo.

Era sempre assim: eles iam pra alguma festa, fumavam, se beijavam pelo resto da noite, às vezes algo a mais, e depois não mencionavam nada do que tinha acontecido. Albus e Alice perguntaram algumas vezes sobre o que estava acontecendo, se eles iriam discutir isso, o que significava, mas tanto Rose quanto Scorpius desconversavam. E estava funcionando muito bem até agora. Rose gostava do conforto e da normalidade de poder sentir os lábios quentes e macios do garoto nos seus, suas mãos e dedos na sua pele, e na manhã seguinte poder abraçá-lo como seu melhor amigo e contar segredos para ele como sempre. Scorpius gostava de sentir os dedos de Rose puxando seu cabelo quando ela estava gostando do que ele fazia, de sentir o calor da pele dela contra a sua, e de não ter que falar com ela sobre as voltas que seu estômago dava quando ele sentia os lábios dela em seu pescoço no outro dia. O que eles tinham funcionava. Pelo menos parecia que sim.

Naquele momento, Rose estava sentada em um círculo de adolescentes no porão de Alice Longbottom, observando enquanto um bong era passado de mão em mão, já sentindo o efeito da droga em sua mente. Scorpius não estava por perto, e ela estava começando a sentir falta dele, como em toda festa. Ela passou o polegar pela lata de cherry cola que tinha em sua mão, sentindo as gotículas geladas esfriarem sua pele antes de levar a bebida aos lábios. Observou a fumaça que preenchia o local até o teto baixo da sala. Ela se virou para Alice, que naquele momento beijava seu primo de uma maneira um pouco escandalizante para a situação.

“Você viu o Scorpius?” Ela perguntou simplesmente.

“Acho que ele foi no banheiro do quarto” Alice respondeu vagarosamente, distraída pelos beijos de Albus.

Rose se levantou e andou devagar pelo pequeno porão que ela tanto conhecia. Alguma música de Post Malone tocava do celular de algum dos convidados. E então ela abriu a porta do quarto suíte que Alice tinha apontado, e preferiu que não o tivesse feito. Encostados contra a porta do armário, estavam Scorpius e Aurora Bones. A calça dele estava semi aberta e a blusa de Aurora estava no chão atrás dele. O cabelo loiro dela estava enrolado nas alças de seu sutiã roxo, que estava coberto pelas mãos de Scorpius naquele momento. Rose perdeu o fôlego.

“Mas que porra—”, ela soltou sem perceber.

Os dois pararam de se beijar ao ouvir a voz intrusa e os olhos de Scorpius se arregalaram. Aurora se abaixou para agarrar sua blusa e tentou vesti-la apressadamente, enquanto Rose e Scorpius se encaravam. Rose sentia que seu corpo estava preso ao chão.

“Rose.” A voz de Scorpius pareceu acordá-la e ela conseguiu sentir suas pernas de novo. “Eu…”, o garoto começou a falar mas não parecia conseguir achar as palavras. Rose se virou e fechou a porta atrás de si. Sua cabeça estava rodando e ela não conseguia pensar em nada além do branco das mãos de Scorpius em contraste com o roxo forte do sutiã de Aurora. Ela foi até onde Albus e Alice estavam e puxou a manga da camisa do primo.

“Eu preciso ir pra casa.”

Albus franziu a testa e olhou para o relógio em seu celular. “Já? Mas—”

“Por favor.” Rose fechou os olhos. Não queria chorar. “Por favor, me leva pra casa?”

Albus viu Scorpius saindo do quarto fechando o botão da calça e se levantou, percebendo o que estava acontecendo. “Rose, tem certeza, você não quer—”

Ela cruzou os braços, sentindo as lágrimas vindo. “Albus, por favor.”

O garoto não fez mais nenhuma pergunta e acompanhou a prima em silêncio até o carro, e o caminho até a casa de Rose foi tão silencioso quanto. Aquela tinha sido a última vez que ela tinha falado com Scorpius.

Ele tentou ligar, mandar mensagens, falar com os amigos em comum, tudo; Rose não reagia a nenhuma de suas tentativas.

 

CINCO DE JULHO DE 2019; 15:11

 

“Quando a gente chegar lá em casa”, Scorpius falava, a voz calma como sempre. Ele sabia exatamente como acalmar Rose. “nós vamos entrar, tomar um copo de água, você vai me contar exatamente o que aconteceu. E aí você vai pegar a balsa das três e meia e vai ficar tudo bem. Prometo.”

Rose respirou fundo e, devagar, para não perder o equilíbrio, passou as mãos pelo rosto e pelo cabelo, que continuava a se desprender. “Okay. Eu acredito em você.”

Deus. Ela sentia falta de Scorpius. Ela sentia tanta falta dele. Sua garganta queimava, seu peito parecia se expandir sem nunca explodir, seus olhos pediam para ser arrancados para fora de seu rosto quando ela pensava no quanto ela sentia falta dele. E saber que ele estava ali, tão perto, sua pele encostando na dela, a levava à beira da insanidade.

“Rose”, a voz dele a arrancou de seus pensamentos e ela abriu os olhos, encarando ele. “Lembra quando a gente assistiu aquele filme sobre um voo em que deu tudo errado mas mesmo assim eles conseguiram pousar e todo mundo sobreviveu apesar de o avião ter ficado horrível?”

Ela assentiu. “Lembro, por quê?”

Scorpius sorriu de lado e olhou para ela por um instante. “O que eu quero dizer é: vamos sair disso vivos, sim, mas quando eu parar essa bicicleta, não vai ser nada bonito.”

Rose riu. O peito de Scorpius virou e revirou, mil e uma vezes.

O resto do trajeto foi silencioso, mas não necessariamente tranquilo. Todas as vezes que Rose sentia o braço de Scorpius encostar nas suas pernas, um arrepio leve percorria seu corpo. Quando o vento batia no cabelo ruivo de Rose e o rosto de Scorpius era inundado pelo cheiro de coco do xampu da garota, ele sentia que ia perder o equilíbrio e derrubar os dois daquela bicicleta ali mesmo. Os olhos cinzentos dele sempre procuravam os azuis de Rose, e iam da estrada ao rosto dela e de volta à estrada em milissegundos. Quando finalmente chegaram à casa de Scorpius e ele parou na frente da garagem com o máximo de elegância possível, Rose desceu da bicicleta e encarou o garoto por alguns segundos. Ele sorriu, doce como sempre, e apontou para a porta.

“Então… aquele copo de água que eu falei?”

Rose assentiu. “Sim, sim claro…” O coração dela batia com força, parecendo que ia rasgar seus ossos, músculos, pele, roupas, tudo; estaria sozinha com Scorpius na cozinha dele, onde eles não teriam nada a fazer a não ser conversar, seria inevitável. E ela não queria ter que responder nenhuma pergunta dele. Mesmo assim, a garota respirou fundo e deu um passo em direção à porta da frente quando sentiu uma mão lhe agarrando pelo braço e a puxando pra longe.

Ela olhou para o lado, extremamente confusa enquanto era arrastada para longe de Scorpius, e se deparou com Alice, lhe puxando pelo braço, e Albus um pouco mais a frente, as chaves do carro em sua mão. “Você vai pegar essa balsa agora, desculpa a demora, mas agora nós temos que ir”, Alice explicou, lançando um olhar solidário para amiga.

Rose olhou para trás e viu Scorpius, parado na frente da porta de sua casa. O loiro sorriu para ela, um pouco triste, e acenou para ela. Ela engoliu em seco e virou o rosto, tendo que se lembrar que ele não estava perdoado. Entrou no carro de Albus e passou as mãos no rosto, enxugando o suor e tentando voltar a respirar.

Rose tinha certeza que ia fazer alguma besteira no dia seguinte. Só esperava que não fosse nada desastroso.

 

SEIS DE JULHO DE 2019; 21:43

 

Rose não conseguia parar de sorrir. Seus saltos estavam em suas mãos e seus pés descalços contra o piso gelado do salão estavam sujos e doloridos, pisoteados por todos que dançavam ao seu redor. Seu vestido, verde, longo e com pedras ao redor do busto, estava amarrado em suas pernas para que ela pudesse dançar, e ela continuava se sentindo linda. Sua formatura não tinha sido destruída por Scorpius; desde que havia saído de casa, mais ou menos às quatro da tarde, se sentia linda, especial e feliz. Tinha tirado algumas fotos em grupo com o garoto, o que era inevitável, mas ele não tinha tentado falar com ela sobre o que tinha acontecido no dia anterior.

E ele também estava lindo, era verdade. Seu terno era marcado em seu corpo e deixava ele ainda mais alto do que ele já era, e sua gravata verde-escura (que ele havia comprado antes de sua briga com Rose) contrastava seu cabelo extremamente claro. A flor em sua lapela também combinava com o corsage no pulso de Rose; eram rosas, claro. Rosas extremamente vermelhas, que complementavam o verde de suas roupas e o ruivo dos cabelos de Rose, que estavam meio presos, meio soltos num coque elegante. Ela queria negar aquilo mais que tudo, mas seus olhos procuraram por Scorpius a noite inteira, e quando ele estava bem na sua frente, ela o evitava. 

Mas, naquele momento, ela só pensava em sair do salão, passar em casa, colocar suas roupas confortáveis e ir para a festa de verdade, onde ela ficaria bêbada pra caralho. Alice, com seu vestido azul que ia até seus joelhos, ria junto dela, de mãos dadas com Albus, enquanto os três andavam até a rua, movimentada àquela hora devido à quantidade de adolescentes se preparando para ir para a casa de Scorpius.

“Cara, você viu aquela menina deitada no banheiro vomitando?”, Alice perguntou a Rose, a voz levemente alarmada. “Eu pensei que não podia beber aqui no salão, eles não estavam checando todo mundo?”

“Sim, eles estavam” Albus respondeu, olhando para os dois lados antes de começar a atravessar a rua. “Por isso o pessoal já bebeu pra caramba antes de vir pra cá. Deu tempo de ficar sóbrio e agora vão começar a beber de novo”, o moreno riu.

Rose balançou a cabeça, também dando risadas. “O que você pegou mesmo pra gente, Alb? Vodka?”

O garoto assentiu, apontando pra o carro. “Bem, não fui eu, né, foi o James. Mas acho que foi uma garrafa de vodka, algumas ices e cerveja. Acho que é o suficiente pra nós três.”

“E se não for”, Rose começou, um sorriso brincalhão surgindo em seus lábios. “Todos nós sabemos o talento da Alice de conseguir bebida dos outros de graça!”

Albus gargalhou enquanto sua namorada protestava e os três entravam no carro do garoto. Rose suspirou e sentiu seu estômago gelar; estava pensando em Scorpius de novo. Não havia conseguido parar de pensar nele a noite inteira; ao ver ele dançando com outras meninas, ao ver seus dedos longos e pálidos abrindo os primeiros botões de sua camisa, ao ver seu sorriso enorme enquanto ele amarrava a gravata em sua testa, parecendo um idiota. Seu coração doía ao lembrar que ela não estava do lado de seu melhor amigo naquele momento, como eles tanto haviam prometido. Mas estava determinada a não falar com ele; era teimosa demais para isso.

Quando percebeu, já estava na casa de seus tios, onde eles iriam trocar de roupa e pegar as bebidas antes de irem para a ilha de Scorpius. “Okay, temos que ser rápidos ou vamos perder a balsa”, Albus alertou enquanto entravam em casa. “Eu pego as bebidas, não se preocupem com isso”, ele disse enquanto entrava na cozinha. Rose e Alice subiram as escadas em direção ao quarto de Albus e começaram a tirar os vestidos apertados, as unhas postiças e a soltar os cabelos.

“Você vai levar seu vape hoje?”, Alice perguntou, um pouco preocupada. Ela era sempre a amiga preocupada até começar a beber.

“Não”, Rose balançou a cabeça. “Quero ter só a experiência do álcool”, ela riu.

Alice sorriu, aliviada. “Okay, boa ideia. Você vai se divertir. Acho que o Alb não vai beber muito, então fica tranquila que qualquer coisa ele vai tomar conta de você.”

Rose assentiu e procurou seu suéter favorito; um verde musgo com o símbolo de alguma universidade britânica que havia pertencido a Scorpius e ela havia roubado anos atrás. Ele ficava enorme em seu corpo e, mesmo depois de tantas lavagens, ainda tinha um pouco do cheiro dele.

“Rose?”, sua amiga a chamou, e ela percebeu que estava segurando o moletom e olhando para ele há alguns segundos. “Você vai falar com o Scorpius?”

A ruiva mordeu o lábio inferior. “Eu…”, ela ia negar, mas hesitou. “Não sei. Você acha que eu devia?”, ela olhou para a amiga, que já estava com seus moletons e sandálias confortáveis, sentada na cama de Albus.

“Eu acho que já passou da hora disso acontecer, Rose”, a voz de Alice era gentil. “Vocês são melhores amigos e simplesmente pararam de se falar, sem nem falar sobre o que aconteceu, poxa… isso não pode ser bom pra nenhum de vocês dois.”

Rose suspirou e passou o moletom por cima de sua cabeça, sentindo o cheiro de Scorpius próximo ao seu rosto. “Okay. Eu vou tentar falar com ele. Mas não prometo nada”, ela afirmou, enfatizando a última frase.

Alice riu e se levantou, andando até a porta. “É o suficiente. Vamos?”

Rose assentiu e seguiu a amiga, as duas descendo as escadas apressadamente para encontrar Albus, que havia se trocado na lavanderia da casa e carregava as bebidas nos braços. “Rose”, ele disse, entregando a garrafa de vodka com cuidado para a prima. “Em honra da sua primeira noite de bebedeira, que ela não desencadeie o alcoolismo funcional em você como aconteceu com todos os outros adolescentes dessa família…”

“Amém”, ele e Alice disseram em uníssono, e os três caíram na risada, Rose segurando a garrafa nos braços como se fosse um bebê. O trio foi para o carro, onde Rose colocou músicas antigas para tocar no volume mais alto, e os três cantaram aos gritos durante todo o caminho até o deque, onde dezenas de outros carros tocavam música em seus estéreos, e todos seus colegas de classe (e convidados) já viravam garrafas de bebida e passavam cigarros e vapes de mão em mão. Rose sentiu falta de Scorpius. 

Não sabia o que ia dizer pra ele. Oi, desculpa ter te ignorado por um mês. Oi, será que podemos conversar sobre todos os meses onde a gente se beijava sem nunca discutir sobre o que éramos? Oi, eu não gostei de ver você beijando outra pessoa mesmo sem nunca ter dito que não queria ver você beijando outra pessoa! É, não soava exatamente apropriado. Mas ela não iria se preocupar com aquilo agora. Enquanto a balsa cruzava o lago e a música alta tocava no som, Rose sentia a animação para a noite esquentar seu corpo, prestes a explodir.

Quando estacionaram o carro na rua já cheia da casa de Scorpius, Rose e Alice foram até a barraca que haviam arrumado no dia anterior (sim, tinham finalmente conseguido) com vários lençóis que estavam no carro; era verão, mas as noites podiam ser frias, principalmente na ilha, já que o vento carregado pelas ondas do lago era gelado. Elas preparavam os cobertores em cima dos colchões infláveis quando Albus chegou com uma caixa cheia de gelo com o resto das bebidas.

“Vamos começar?”

A atmosfera era algo surreal. Luzes dançavam pela grama no jardim, vários adolescentes tocavam músicas variadas em seus nichos de amizade e cambaleavam por aí bêbados, todos andavam pela propriedade se divertindo e falando alto. Rose abriu sua primeira garrafa e deu um gole pequeno. Sua bebida era doce; o álcool mal queimava sua garganta, como ela achava que iria. Era bom. Ela tomou outro gole, mais longo dessa vez, sem se importar com mais nada. Ria com Alice e Albus e com qualquer outro colega seu que passasse por ali, dançava com sua garrafa na mão e sentiu Alice agarrar seu braço.

“Eu preciso ir ao banheiro!”, ela disse, meio alto, já sentindo os efeitos da vodka em seu corpo, enquanto Albus segurava sua latinha de cerveja e observava as duas com um sorriso no rosto.

“Os banheiros lá dentro da casa do Scorp tão abertos, é só entrar pelos fundos”, ele falou, apontando para a propriedade. Rose assentiu e as duas começaram a cruzar o grande quintal, rindo de nada e tudo ao mesmo tempo.

A casa dos Malfoy estava tão abarrotada quanto os fundos da mesma. Haviam filas nos três banheiros abertos, um no andar de baixo e dois no andar de cima, reservado para as meninas. Ao olhar ao redor, Rose observou muitas cenas; Lewis Higgs, primo de Scorpius, claramente estava ajudando o garoto a tomar conta da festa. Andava de um lado para o outro, apontando para lugares e para mesas de comes e bebes. Luke Zabini estava encostado em alguma parede passando as mãos pelo corpo de Melody Jordan (ela já não havia se formado?!) enquanto a beijava, o que deixou Rose um tanto surpresa, já que ela jamais imaginaria que a garota fosse sequer olhar para Luke. Ao olhar para o quintal pelas grandes portas de vidro da sacada, viu Ramona Goyle vomitando sem parar, e não conseguiu evitar que uma pequena risada escapasse de seus lábios.

No caminho para o banheiro, Rose pegou um cachorro quente de alguém que a ofereceu e revezava entre morder o lanche e tomar outro gole longo de sua garrafa que já esquentava. Tirou fotos de Alice, já bêbada, enquanto ela usava o banheiro (para a posteridade, ela dizia) e quando elas voltavam para o quintal para encontrar Albus, Rose olhou para a cozinha dos Malfoy, uma área meio vazia, e se lembrou de uma das festas que Scorpius havia dado ali alguns meses atrás, apenas eles, Albus, Alice e mais alguns amigos. 

Lembrou-se de como no fim da festa ela havia se sentado no balcão, olhando para as luzes no teto como se elas fossem as coisas mais interessantes do mundo. Os sons de Scorpius limpando as louças ecoavam em seus ouvidos como uma sinfonia; Rose adorava como a maconha fazia o mundo todo ficar mais bonito. Lembrou-se de como ela puxou o loiro pelo capuz de seu moletom para o meio de suas pernas e o beijou intensamente. Lembrou-se das mãos dele em sua cintura, subindo por dentro da frente de sua camisa, fazendo sua pele se arrepiar, tocando cada centímetro de seu corpo, algo que ele nunca tinha feito antes. Lembrou-se dos sons que ele fez quando ela pressionou sua cintura contra a dele, de como seu rosto corou logo em seguida e como ela não quis nada além de continuar o que eles estavam fazendo, até que foram interrompidos por Lewis, que saiu da cozinha com a mesma rapidez que havia entrado.

Todas as memórias inundaram sua mente em segundos. “Eu preciso achar o Scorpius”, ela disse para Alice, sua voz um pouco distraída, e virou o resto do conteúdo de sua garrafa. “E preciso de outra dessa.” 

As duas voltaram para onde Albus estava, um pouco perto do resto das barracas, numa pequena roda, conversando com outras pessoas, algumas que tinham se formado com eles, outras que apenas estavam na festa. Elas se juntaram à conversa e Rose abriu outra garrafa enquanto Albus abraçava Alice pelos ombros, virando ela ainda mais rápido que a anterior. “Ei, Rose, não é melhor você ir mais devagar?”, a voz de alguém falou, mas ela não prestou muita atenção. Ela viu sua prima, Lucy, que também estava se formando, passar por eles, dar meia volta e arregalar os olhos para Rose:

“ROSIE!”, ela cambaleou até a ruiva, absurdamente alterada. “Meu Deus, você é tão linda!”

Rose riu alto, sem conseguir se controlar. Se sentia estranhamente leve, então tinha que se agarrar aos ombros de Lucy para se manter firme no chão. “Lucy, são os genes!”, ela riu mais. Não era tão próxima assim da menina na escola, mas elas ainda eram primas e se conheciam bem. “Você também é muito linda!”

As duas riam sem parar, se encarando. Do que elas estavam rindo mesmo? Rose não conseguia lembrar, o que tornava tudo ainda mais engraçado. Lucy pegou em seus cabelos ruivos e suspirou. “Ai, eu queria ter cabelo ruivo também…”, e foi embora sem dizer mais nada, deixando Rose ainda mais risonha e confusa. Ela olhou para o relógio no celular e, nossa, já era quase meia noite?

“Banheiro”, Alice disse, puxando-a pelo braço novamente.

“Eu preciso falar com o Scorpius”, ela disse novamente. Dessa vez ela olhou para os lados procurando ele e não o viu em lugar nenhum. Subiram as escadas cambaleando e rindo e Rose se surpreendeu quando viu que sua garrafa já estava quase no fim; ela não estava na metade há alguns minutos? Elas saíram do banheiro tão rápido quando entraram e Rose repetiu: “Eu realmente preciso achar o Scorpius.”

Elas voltaram para o quintal e as luzes giravam fortemente nos olhos de Rose; era uma sensação absurdamente diferente de estar chapada. As palavras simplesmente escapavam de sua boca sem que ela percebesse e ela não se arrependia de nada. Ela finalmente viu Scorpius, conversando com Albus, Luke Zabini (ele não estava beijando aquela menina?) e mais alguns garotos, uma cerveja em sua mão. Andou decidida até ele e segurou seus braços, mais procurando apoio que qualquer outra coisa, e sorriu.

“Scorpius!”, sua língua enrolou-se em cada sílaba, e o loiro sorriu para ela com as sobrancelhas franzidas. “Finalmente te achei. Eu realmente, realmente preciso falar com você.”

Scorpius segurou Rose pelos cotovelos. “Wow, Rose! Hm, pode falar”, ele disse cautelosamente, observando a garrafa quase vazia nas mãos dela. “Quanto você já bebeu, hein? Só… curiosidade.”

Ela riu e soluçou e balançou a garrafa no ar como uma criança balança um chocalho. “Duas dessa. Na verdade, uma e quase outra.” Rose franziu as sobrancelhas e virou o resto do líquido, sentindo o gelo refrescar sua garganta. “Pronto, agora bebi duas!”, ela riu e olhou pra ele de novo. “Scorpius. Quero falar uma coisa.”

Ele segurou ela com mais firmeza e sinalizou sem que ela percebesse para que Albus tirasse a garrafa da mão dela. “Sim, sim pode falar…”

Rose umedeceu os lábios, fechou os olhos, tentou se concentrar; mas tudo o que escapava de sua boca eram risos. “Scorpius… Scorpius, Scorpius…”, ela continuou rindo, se demorando nas consoantes. Ele estava tão lindo e suas mãos eram tão firmes em seus braços e seus olhos a encaravam… chateados? Ele olhou de um lado pro outro enquanto Rose ainda tentava formular algo que fizesse sentido, as letras se embaralhando em sua mente.

“Caralho, você tá mesmo muito bêbada”, o loiro suspirou, e entregou Rose aos cuidados de Albus e se afastou, escutando os chamados de alguém que dizia que um dos meninos tinha tentado pegar a chave de seu carro para ir embora. Mas Rose não tinha escutado isso. Tudo que ela tinha ouvido era caralho, você tá mesmo muito bêbada, e as palavras sumiram de sua mente com a mesma rapidez que as lágrimas invadiram seus olhos e ela só conseguia pensar que, por alguma razão, alguma razão que ela não se lembrava exatamente qual era, Scorpius estava com raiva dela, e ele tinha dito algo para ela pensar assim, mas ela não se lembrava o quê. Sua cabeça doía um pouco. Talvez ela devesse parar de beber.

Sim, ela definitivamente devia parar de beber, pois agora ela soluçava alto enquanto Albus a encarava preocupado, perguntando o que tinha acontecido, e ela simplesmente não conseguia dizer, apenas dizia “ele tá com raiva de mim, ele realmente me odeia”, repetidamente, e sentia as lágrimas salgadas em seus lábios como uma torrente. A parte de seu cérebro que diria que isso era patético estava completamente adormecida agora e ela só conseguia pensar que Scorpius não gostava dela e era muito injusto, pois ela gostava de Scorpius.

O pensamento a acertou em cheio e ela começou a chorar mais. Ela gostava de Scorpius. Ela não gostava só de beijá-lo ou de sentir as mãos dele entre suas pernas, ela realmente amava ele, amava passar horas com ele sem fazer nada, amava rir de coisas estúpidas com ele, amava conversar com ele sobre tudo e nada ao mesmo tempo. E ela tinha passado todo aquele tempo sem dizer nada pra ele e agora ele a odiava e ela tinha perdido sua chance e ele provavelmente iria beijar Aurora Bones para o resto da vida dele. Ai, não, ela pensava, repetidamente, sem conseguir parar de chorar, enquanto Albus a guiava para dentro da casa, dizendo algo sobre beber água.

Ele não conseguiu fazer com que Rose subisse as escadas para que chegassem até a cozinha; a garota tropeçava e cambaleava e parecia que quanto mais ela chorava, mais seu corpo desistia de funcionar. “Eu estraguei tudo”, ela resmungava e soluçava enquanto Albus a sentava nos primeiros degraus da escada e pedia para que alguém levemente mais sóbrio subisse e pegasse água para ela. Ele se sentou do lado da prima e tentou enxugar as lágrimas dela, então Rose sentiu outro par de mãos em seus cabelos e olhou para trás e, meu Deus, quando Alice tinha chegado ali?

“Rose. Rose. Respira fundo. O Scorpius não te odeia”, Albus tentava argumentar, o que só fazia com que ela chorasse mais e balançasse a cabeça, negando as palavras dele. “Rose, ele nunca te odiaria, você precisa se acalmar”, ele suspirou.

“Albus”, Rose fungou. “Ele me odeia. É isso. Não tem mais jeito”, ela sentiu o lábio tremendo. “Eu preciso pedir desculpas pra ele, por favor, deixa eu falar com ele”, ela tentou se levantar e quase caiu, e Alice e Albus a puxaram de volta para o chão delicadamente.

“Rose, Rose…”, Alice falou, preocupada, ainda bêbada, mas significativamente menos abalada que a amiga, “Ele vai vir falar com você, okay, daqui a pouco, eu prometo, mas você precisa se acalmar!”

Rose assentiu e respirou fundo várias vezes, algumas lágrimas ainda escorrendo em suas bochechas sardentas. Ela olhava para frente, seus pensamentos em Scorpius e nada mais, quando Phoebe Goldstein tentou subir as escadas mas parou na frente de Rose, as sobrancelhas franzidas. Phoebe Goldstein era… peculiar. Seu cabelo castanho estava solto, como sempre, mas dois anos atrás ela havia raspado ele inteiro e tinha dito para todos que sua vida estava transformada por alguma razão maior espiritual que ninguém realmente entendia. Ela encarou Rose e colocou uma das mãos no rosto da garota.

“Ei, você tá bem? Por que tá chorando? O que aconteceu?”, sua voz extremamente doce e um tanto etérea perguntou.

“Ela só tá meio chateada por causa de um garoto”, Alice interviu, vendo que Rose não estava em condições de falar e encarava a garota de volta.

Os olhos de Phoebe se arregalaram. “Caralho. Não acredito. Rose Weasley!”, ela enfatizou o nome de Rose, que se assustou. “Você? Chorando por causa de um garoto? Nenhum garoto merece suas lágrimas! Nenhum garoto merece nenhuma lágrima!”, Rose encarava ela com os olhos cerrados. Do que ela estava falando? Ela nem conhecia ela. Quê? “E sabe mais o quê?” Phoebe aproximou seu rosto do de Rose. “Você é linda, e eu não sou lésbica, mas se eu fosse, você totalmente faria o meu tipo.”

Rose estava bêbada e ainda por cima sob o efeito de todas as drogas existentes no mundo, ela pensou. Era a única explicação. Phoebe segurou o rosto de Rose com as duas mãos e a ruiva piscou os olhos, confusa. “Olha”, Phoebe começou, “Eu tenho que ir, que minha amiga tá me chamando, mas não chore por causa de um garoto. Você é linda.” Então ela beijou Rose, forte e brevemente, e simplesmente foi embora. Rose continuou sentada nas escadas, sua cabeça girando mais ainda, e olhou para Albus e Alice, que seguravam a risada e a encaravam. 

“Ela…” Rose disse, devagar, e Albus assentiu. “Ela realmente acabou de…?” Ele assentiu novamente, rindo. “Meu Deus. Eu preciso falar com o Scorpius.”

E Rose começou a chorar de novo.

Em algum ponto, alguém chegou com um copo de água, que ela bebeu aos poucos, entre soluços, lágrimas e frases de desespero. Em algum ponto ela olhou para o celular de novo e, como assim já era mais de uma hora de manhã? Rose definitivamente sentia que pedaços de sua memória estavam faltando, e agora percebia que lembrava-se de momentos das últimas horas que não faziam sentido; por que ela tinha abraçado Thomas Carter? Como assim em um momento ela estava no quintal e no outro estava no banheiro? E tudo o que tinha acontecido no caminho? Ela estava sem maquiagem? Quando ela havia limpado a maquiagem de seu rosto? 

Rose estava finalmente conseguindo se acalmar quando Lewis apareceu na frente dela, seu semblante claramente preocupado. Ele olhou de Albus para Alice para Rose e voltou a Albus, dirigindo sua pergunta ao garoto; “Ela tá bem?”

Alice assentiu e sorriu, um pouco sem jeito. “Sim, ela só tá triste por causa de um menino.”

“Não é só um menino!”, Rose exclamou, um pouco alto demais, as lágrimas voltando a encher seus olhos. “É o primo dele!”, ela soluçou, antes de respirar fundo e voltar a falar. “Lewis, escuta. O Scorpius. Eu realmente… caralho, eu realmente gosto muito do Scorpius, e eu sei que ele tá com raiva de mim, e que ele não quer mais me ver, mas eu realmente preciso pedir desculpas pra ele por ter ignorado ele, puta que pariu…” Rose passou a mão no rosto, enxugando as lágrimas e sentindo os olhos arderem. “Eu preciso dizer pra ele que, que ele realmente é meu melhor amigo e eu quase estraguei tudo, mas eu não quero, eu só quero… sabe, eu só quero falar com ele de novo, e dizer pra ele o quanto ele é especial e eu sei que eu fui teimosa, mas… ele também não veio atrás de mim… e eu só queria dizer tudo isso pra ele mas ele me odeia! E eu realmente gosto muito dele então não posso deixar ele me odiar, Lewis, por favor diz isso pra ele, eu gosto dele demais”, Rose chorou.

Lewis a encarava, com os olhos arregalados, claramente assustado e sem a menor ideia de como responder a tudo o que havia acabado de ouvir. Ele piscou algumas vezes e engoliu em seco.

“Certo… olha, Rose”, ele encarou a menina nos olhos. “O Scorpius não te odeia. Ele tá estressado porque tem pessoas querendo dirigir bêbadas e ele não quer que ninguém se machuque, é só isso, ele realmente não te odeia. Eu vou falar pra ele que você quer falar com ele, okay?”, ele balançou a cabeça sutilmente. A ruiva fungou e assentiu. “Por enquanto, sobe e bebe um pouco de água, não tem ninguém na cozinha”, ele falou, parecendo direcionar suas palavras a Albus e não diretamente a Rose.

Ele e Alice prontamente se levantaram e ajudaram Rose a subir as escadas vagarosamente, e a sentaram numa das cadeiras da mesa de jantar enquanto a garota continuava fungando, olhando para o nada. Aceitou o copo de água e observou as pessoas enquanto os barulhos ao seu redor se tornavam ruído branco com o passar do tempo — algum casal tendo uma discussão na sala, duas garotas que riam e se beijavam no chão, a música alta do lado de fora, as pessoas pulando na piscina, alguém vomitando do seu lado… Alguém vomitando do seu lado? Quando Rose olhou para o lado, Albus segurava Alice pela cintura enquanto ela gorfava num canto da parede. Ela era claramente fraca para álcool.

“Albus”, Rose o chamou, sentindo que sua visão estava mais clara que um tempo atrás, assim como sua habilidade de falar coisas que fizessem sentido voltava lentamente. “Pode levar a Alice, toma conta dela, eu vou ficar bem”, ela sorriu fracamente.

Seu primo a olhou preocupado. “Você tem certeza? Você vai conseguir achar a barraca?” Rose assentiu.

“Qualquer coisa, eu durmo em algum quarto de hóspedes por aqui”, ela afirmou. Já conhecia a casa como se fosse a sua.

Albus se despediu rapidamente e levou Alice com delicadeza em seus braços para o lado de fora, lembrando Rose de ligar para ele caso qualquer coisa acontecesse. Quando seus amigos sumiram de vista, Rose respirou fundo. Olhou para o celular. Duas da manhã. Ela passou a mão na cabeça, que ainda rodava vagarosamente, o tempo passando distorcidamente, as horas correndo e se arrastando ao mesmo tempo. Ela tomou outro gole de água e tentou lembrar do que Scorpius tinha dito, sem muito sucesso. Só sabia que ela realmente precisava se desculpar, não apenas pela noite, mas pelo último mês.

A verdade era: eles nunca tinham conversado sobre o que estava acontecendo, tanto pela teimosia de Rose quanto pela inabilidade de Scorpius de falar sobre seus sentimentos, os dois sabiam disso e continuavam evitando o assunto, o que havia sido um erro gigantesco. Agora Rose sentia falta de seu melhor amigo e queria que ele fosse mais que apenas seu melhor amigo, mas tinha certeza que havia estragado todas as suas chances.

Os minutos passavam e diversas pessoas paravam para perguntar para Rose se ela estava bem, se ela não iria dormir, ao que ela respondia, não, estou esperando uma pessoa. Ao ver Lewis subindo as escadas vagarosamente, ela sorriu, desesperançosa. “E aí,”, ele a cumprimentou, sentando-se do lado oposto da mesa. “se sentindo melhor?” Rose assentiu e ele continuou a falar, “O Scorpius tá só resolvendo uma coisa, eu avisei que você quer falar com ele. Eu prometo que ele chega já já.”

Rose respirou fundo e apoiou os braços na mesa, cobrindo o rosto com as mãos. Ela olhou para Lewis por entre os dedos. “Lewis”, ela falou baixinho. “Eu estraguei tudo, não foi?”

O loiro olhou para ela e sorriu de uma forma que ela só saberia descrever como enigmática — mas talvez isso fosse só o efeito do álcool ainda indo embora de seu corpo. “Rose, eu não acho que há nada que você poderia fazer pra estragar o que você e o Scorpius tem.”, ele disse simplesmente, lançando um sorriso mais singelo à ruiva e segurando sua mão por cima da mesa. “Tá tudo bem. Juro.” Lewis olhou para o lado quando alguém chamou seu nome e pediu desculpas com o olhar pra Rose. “Mas agora eu tenho que impedir alguém de entrar em coma alcoólico, aparentemente, então… até mais. Fica bem”, e se levantou e correu para o andar de baixo, deixando Rose sozinha com seus pensamentos novamente.

Rose bebeu um pouco mais de água e deixou sua cabeça ir para longe dali — ou talvez não tão longe. Ela não conseguia parar de pensar em Scorpius, no que dizer para ele. Oi, eu estou apaixonada por você mas só admiti isso agora e deveria ter dito isso meses atrás quando a gente estava se beijando a torto e a direito, mas eu fui muito teimosa e não falei nada e agora você me odeia, então desculpa? Bem, teria que ser algo mais ou menos assim; ela só precisava organizar os pensamentos, que no momento voavam e flutuavam em sua cabeça sem se organizar em frases que fizessem muito sentido quando ditas em voz alta. Olhou para o celular de novo; era quase três da manhã. Pessoas subiam e desciam as escadas com menos frequência, e nada de Scorpius aparecer.

A esperança de Rose estava quase se esvaindo quando ela notou cabelos cor de limão bagunçados aparecerem no topo da escada. Ela perdeu o fôlego; não tinha parado para reparar nele desde que haviam chegado na casa dos Malfoy. Ele usava a calça de moletom cinzenta que sempre usava, e tinha trocado sua camisa nova e branca por uma antiga, xadrez, também de botões, que estava bagunçada devido à correria da noite. Seu olhar estava exausto e seus olhos estavam focados em Rose, que o encarava de volta. Ele andou até a garota devagar e parou na frente dela, ainda de pé.

“Oi”, Rose falou, com um sorriso fraco. 

“Oi”, Scorpius sorriu de volta. “Como você tá?”

“Bem”, Rose assentiu devagar. “Eu… queria falar com você.”

“Eu sei”, Scorpius riu baixinho.

Rose engoliu em seco, levando todo o seu orgulho para dentro. “Eu queria… pedir desculpas.” Ela olhou para Scorpius, que apenas a observava. “Porque… eu fiquei com raiva e nunca te dei nenhuma explicação, e você merece isso. A verdade…”, ela suspirou, “a verdade é que eu realmente gosto de você, Scorp, pra caralho, e eu gosto de você, por isso te ver com outra pessoa me deixou com tanta raiva. Eu não quero te dividir com ninguém. E eu…”, ela observou enquanto o garoto se abaixava e aproximava seu rosto do dela. “Eu realmente… queria…”

Os pensamentos de Rose se esvaíram quando Scorpius encostou seus lábios nos dela; o beijo era singelo, doce, devagar, cuidadoso. Como se ele não quisesse machucá-la outra vez. Ele segurou o rosto de Rose com delicadeza e sentiu o gosto da bebida em seus lábios, queimando-o devagar. Ela derreteu-se nos lábios macios de Scorpius, nos dentes dele que tocavam sua boca levemente, e não entendeu como ela pôde não querer beijar aqueles lábios por um dia que fosse. Ela precisava beijá-lo todos os dias para viver. Quando ele se afastou e olhou para Rose ainda de perto, ela perdeu o fôlego novamente. O que ela estava dizendo mesmo?

“Eu…”, ela começou devagar, sua boca e garganta secas. “Eu ia dizer uma coisa.”

“Eu sei”, Scorpius riu. “Mas não precisa. Você tinha todo o direito de ficar com raiva, Rose, eu fiz merda”, o garoto admitiu, um sorriso envergonhado nos lábios. “Eu devia ter te dito que eu não queria mais só algumas noites, eu queria ficar com você todos os dias, todas as noites… e aí, naquele dia, a Aurora apareceu do nada e me beijou e eu não consegui parar ela, e aí você viu tudo…”, ele suspirou. “E eu achei que você me odiava. E você tinha toda a razão pra me odiar. Mas, acredite, você não precisa me dividir.” Ele mordeu o lábio e colocou uma mecha de cabelo de Rose atrás de sua orelha. “Desculpa.”

Para Scorpius, admitir seus erros e pedir desculpas era fácil; Rose era o contrário daquilo, e precisava que ele a ensinasse aquilo. Para Rose, falar os sentimentos e deixar tudo claro era essencial na maior parte do tempo; Scorpius não gostava de conversar, e precisava que ela o ensinasse aquilo. Então, ela segurou a mão gelada que tocava seu rosto e sorriu.

“Tá tudo bem. Só promete que eu não vou ter que te dividir.”

A resposta veio em forma de um beijo; dessa vez, mais apressado, mais urgente, mais forte. A mão de Scorpius deslizou para a nuca de Rose, seu lugar favorito, e ela não conseguiu se segurar e se levantou da cadeira devagar, enlaçando seus braços ao redor do pescoço do loiro. O outro braço de Scorpius a segurou pela cintura, prendendo-a contra seu próprio corpo, e Rose sentiu seu cérebro derreter e escorrer pelo seu corpo; nada mais importava a não ser a pele dele contra a sua e os lábios dele contra os seus. As mãos de Scorpius desceram pelas costas da garota e apertaram sua pele e Rose estava prestes a suspirar quando alguém chamou por ele na escada. O garoto quebrou o beijo abruptamente e respirou fundo.

“Sim?” , ele perguntou, sem olhar para quem o chamava atrás dele.

Alguém falou alguma coisa sobre alguém estar vomitando em um dos sofás, mas Rose não entendeu muito bem; o zunido em seus ouvidos que acompanhava o latejar entre suas pernas não deixava ela focar em mais nada. Ela havia acabado de dizer que não queria dividir Scorpius com ninguém e não estava prestes a deixar isso acontecer. Então, discretamente, trouxe uma de suas mãos para a cintura de Scorpius e o tocou onde ela mais gostava, fazendo-o perder o fôlego. Scorpius a encarou, seus olhos de repente com um brilho diferente.

“Desculpa, Cass, não vai dar, eu tô ocupado”, ele falou urgentemente e pegou Rose pela mão, ignorando a pessoa que o chamava, e guiou-a pelo corredor até seu quarto. Fechou a porta atrás de si e trancou-a com pressa, sentindo o corpo de Rose contra o seu, desejando-o como nunca, beijando-a como se fosse a última vez. Suas roupas rapidamente encontraram o chão e seus corpos encontraram o colchão.

Rose Weasley estava com Scorpius Malfoy, no quarto dele, na noite de sua formatura, e as coisas não poderiam estar melhores.


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Notas finais do capítulo

Eeeeeeeeeeeeeee fim hihihihi. Comentários são muitíssimo bem-vindos porque depois desses anos sem escrever tô BEEEEEEEEM enferrujada e insegura HAHAHAHAH se tiverem notado algum erro, podem avisar! Obrigada por terem chegado até aqui e um xero em cada um lindo que gostou!