O Escolhido escrita por BadMinnie


Capítulo 1
A Missão de Scorpius Malfoy e um Milkshake


Notas iniciais do capítulo

O próximo, e último, capítulo vai ser postado amanhã.
Enjoy!



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— CAPÍTULO UM -

A Missão de Scorpius Malfoy e um Milk-shake de 5 dólares.

 

Um Ford Anglia 62 azul estava em movimento em Londres. O trânsito estava incomodando, pois o rapaz dentro do carro – um louro cinzento alto e muito concentrado– havia, erroneamente, escolhido vagar pelas ruas por volta das sete horas, quando a maioria das pessoas estava saindo do trabalho, ou começando a aproveitar a noite de sábado pela cidade.

A demora não perdurou muito, ele logo chegou a seu objetivo. Uma casa grande, um pouco isolada das outras da vizinhança e muito cheia de vidros e câmeras.

Era a mansão de Ronald Weasley.

Suspirou cansado. Se eu fosse um chefe do crime, certamente deixaria a minha casa muito mais protegida do que apenas câmeras de vídeo, pensou Scorpius, de que servem câmeras se alguém entrar aqui e matar toda a sua família?

Era um fato, o de que o Sr. Weasley precisava de muita proteção, pois por mais temível que ele fosse, ainda tinha inimigos. Muitos. Scorpius Malfoy, sozinho, liquidara um terço de todos eles. Obviamente o chefe de uma gangue de assassinos profissionais era pouco medroso (Scorpius só sabia de um medo do Sr. Weasley: o de aranhas) e confiava muito na imagem que passava aos outros. Dificilmente alguém iria tentar atacar a casa em que ele morava.

Scorpius se apressou em ir até a porta e tocar a campainha. A porta grande e branca, tão cheia de brilho que parecia estar saindo dela uma luz muito forte, com pequenos desenhos brancos, quase invisíveis, que entrelaçavam o nome de Ronald e abrigavam uma maçaneta curvada e de prata real.  Quando foi abri-la, depois de limpar a mão nas vestes com medo de a sujar, Scorpius se surpreendeu com um bilhete enrolado em uma fita ali.

Boa noite, Sr. Malfoy

Estou me vestindo. Gostaria de pedir que não tocasse a campainha, você é bem vindo aqui. Especialmente hoje,

Rose Weasley.

Sentindo-se menos animado do que antes, entrou na mansão sem mais demora. Seus olhos tiveram um pouco de dificuldade, devido a claridade muito cristalina que havia por todo o local em que havia acabado de entrar.

 Quando conseguiu focar seus olhos e os fazerem se acostumar com o brilho, notou que estava na sala principal. Era muito branca –como seus olhos tristemente haviam percebido-, com poucas coisas além de algumas mesas de vidro postas na parede, um telefone cinza e três sofás brancos que se reuniam envolta de uma mesa de madeira nobre. As únicas cores diferentes daquele branco enjoativo, além da mesa de madeira, eram algumas estátuas africanas em uma mesa de vidro e alguns retratos em outra mesa de canto da família, cujos os cabelos muito ruivos se sobressaiam.

Uma música muito melodiosa começou a tocar. Reconheceu como “Son Of A Preacher Man” de Dusty Springfield.

Scorpius?

Junto da música, uma voz ecoou em sua cabeça, feminina e muito suave. Foi inevitável um arrepio doce na nuca, ao ouvir.

Faça um drinque para si mesmo, enquanto espera. — Era Rose Weasley.

—Oi! Ainda não está pronta? – Ele perguntou.

Está dizendo alguma coisa, Scorpius? Precisa ir até o interfone para que eu possa ouvir! Eu to no interfone.

Ele não via interfone algum naquele lugar.

Perto da porta de vidro. — Ela o indicou, talvez percebendo que estivesse perdido. –Tá morno. – Disse divertida, conforme Scorpius se aproximava do local. – Quente! Queimando e... achou.

—Oi! – Falou quando apertou o botão.

—Oi. – A voz de Rose saiu mais fina, como se tivesse rindo. – Já estou quase pronta, me dê apenas mais alguns minutos, tá bem? Pode beber alguma coisa no bar, contanto que não seja forte demais e que o impeça de me levar para sair essa noite.

Ouviu a voz de Rose somente mais uma vez, quando ela lhe disse onde ficava o bar (na mesma mesa em que as estátuas africanas estavam enfeitando). Pegou apenas um copo de whisky e observou as paredes brancas. Tinha esperanças de que ela não demorasse, mas não se importava de esperar. Na verdade, sua vontade secreta era de não estar ali, tendo de fazer companhia a ela.

Uma pena que ele não teve opção, era uma ordem do próprio Weasley. E ele o amaldiçoou por muitas gerações, quando viu a garota pronta. Ela havia entrado na sala muito branca fazendo uma pose despreocupada. Usava saltos simples pretos, uma calça da mesma cor e blusa social branca. Parecia normal, exceto pela aura brilhante que emanava dela e de seu cabelo vermelho.

—Vamos! – Disse.

Scorpius sorriu, deixou o copo de lado e a seguiu para onde quer que fossem.

 

{Sexta-feira, 24 horas antes}

 

O “três vassouras” estava cheio, como de costume. Scorpius entrou no local e procurou rapidamente seu chefe com os olhos cinzentos ágeis. Ronald estava sentado em uma mesa no canto, conversando com outro homem careca, um pouco barrigudo e que parecia muito nervoso. Se o chefe estava tratando de negócios, Scorpius seria obrigado a esperar que terminasse.

“Cara, estacionei o carro meio longe, por isso demorei.” – Zabini, seu fiel parceiro de trabalho, aproximou-se explicando a sua demora. O olhar dele rapidamente se dirigiu para Ronald também. “Tudo certo, é só esperar um pouco.”

Scorpius deu de ombros e puxou um banco para se sentar no bar. Poderia beber alguma cerveja enquanto esperava.

“Já sabe o que ele vai te pedir?” – Anthony perguntou. “ Provavelmente tem a ver com o caso dos Goyle.”

“Espero que tenha, aquele filho da puta está devendo o meu pai. Será um prazer acabar com a raça dele.”

Antes que a conversa com Zabini pudesse continuar, o homem careca, que outrora estivera conversando com Ronald, sentou-se ao lado dele. O jeito como o homem o encarou não foi confortável para Scorpius, mas ele já não tinha medo de homens maiores do que ele desde que começara a trabalhar para o Weasley, como um de seus assassinos profissionais.

“Scorpius!” – A voz de Ronald ecoou alta e forte pelo bar inteiro. “Meu funcionário do mês, junte-se a mim!”

O melhor assassino dele, diga-se de passagem.

Andando por entre as mesas, pedindo desculpa a quem havia acertado sem querer, ele se juntou ao chefe. O sorriso no rosto do homem parecia radiante, embora o copo de cerveja cheio na frente dele não negasse que estava mesmo tratando de negócios com o homem que havia acabado de sair dali e que não fora uma conversa divertida.

“Estou à disposição.”

“Ainda nem sabe o que vou te pedir.” – Ronald disse, finalmente bebendo a cerveja. Os ombros de Scorpius, que estavam tensos e duros, relaxaram bastante depois daquele pequeno gesto.

“O que quer que eu faça, senhor?”

“Preciso que saia com a minha filha amanhã a noite, só por algumas horas.”

Scorpius pensou não ter ouvido bem.

“Hum?”

“Eu e minha mulher vamos visitar Hugo, nosso filho mais novo, na faculdade nesse fim de semana. Rose viria também, mas amanhã cedo tem um compromisso com umas doações que anda fazendo para um orfanato.” – O homem explicou. Seu cabelo ruivo estava ralo e, mesmo sem ser careca por completo, a testa parecia bem maior do que há sete anos atrás, quando Scorpius o conhecerá. Pelo jeito, ele estava falando sério sobre Scorpius sair com a sua filha. “E então, pode fazer isso?”

“Claro, porque não?”

“Sabe como são as mulheres, elas não gostam de ficar sozinhas. Rose, eu sei bem, e eu também não gosto que ela fique sozinha. É mais um favor que você me faz, do que um trabalho, se dizer que não pode eu não vou criticar!”

Scorpius sabia bem o que não criticar significava. Geralmente, o Sr. Weasley não pedia favores a nenhum de seus funcionários. Favores se pediam a amigos, aos funcionários, ele dava ordens. O Malfoy sabia que se dissesse não ao chefe teria problemas, não naquele momento, e sim num futuro muito próximo. Ele, no entanto, não deixou seu rosto demonstrar a Ronald que estava pensando aquilo.

O pedido era problemático, não havia como negar. Na semana que passara Nott, um funcionário mais velho e experiente que Scorpius, foi sucumbido por Ronald a cuidar da única filha mulher que ele tinha e no dia seguinte aparecera sem alguns de seus dedos da mão.

“Como eu havia dito, senhor, estou à disposição.”

O sorriso do Weasley foi grande e objetivo. Ele não tinha mais nada a fazer no bar, porque pegou sua maleta –que provavelmente estava cheia de dinheiro ou armas de fogo -, colocou a mão pesada no ombro de Scorpius por alguns segundos e depois se dirigiu a saída, não sem antes dar um “alô” para Zabini.

“O que ele queria?” – Anthony, mais rápido do que a velocidade da luz, chegou até a mesa em que Scorpius estivera sentado pensativo.

O loiro não quis responder muito rápido, suspirou e passou a mão direita pelo cabelo antes de dizer:

“Quer que eu saia com a filha dele amanhã.”

Oh, não.”

“Está tudo certo, vai ser só por algumas horas e tudo vai ficar bem.”

“Nott também pensou isso.”

Os olhos de Scorpius se fecharam em uma preocupação mínima, que não tinha mais a ver com o fato dele ter de sair com a filha do seu chefe, mas sim do que havia realmente acontecido com Nott.

“O que aconteceu com ele? Nott...”

“Bem, a verdade é que Nott ficou responsável de levar a única filha menina de Ronald para comprar um vestido. O velho não queria que a menina ficasse sozinha no shopping, não enquanto Riddle estava à solta na cidade e ameaçando o cunhado dele, Harry Potter. “– Anthony começou a relatar. “O que se sabe é que a garota conseguiu fazer ele quebrar uma das duas regras de Ronald. E, eu diria, conseguiu fazer ele quebrar a mais importante de todas.”

“Que regras?” – A voz de Scorpius ecoou, surpresa. Ele não sabia de nenhuma regra e trabalhava para o Weasley desde seus 19 anos (hoje ele tinha 25). 

“Você não sabe? Reza a lenda que não se podem desobedecer as ordens da garota, quando ela está no comando, ou seja, quando qualquer um de nós está a serviço do pai dela para bem... Cuidarmos dela.”– Zabini disse, sua voz trêmula e muito sinistra. Parecia estar contando uma história de terror. Mexeu um pouco a cerveja em seu copo, indicando que já não estava mais com vontade de tomar a bebida.

“Foi essa a regra que Nott quebrou? Não obedeceu ela?”

“Não. Não essa.”– Zabini deu uma risadinha. “ Ele quebrou a segunda. Essa é – Acrescentou Zabini, antes que Scorpius tivesse que perguntar mais uma vez do que se tratava. – como eu disse, a mais importante. Diz que não se pode encostar nela, entende, não entende?”

“Ele beijou ela, transou com ela ou algo assim?”

“Deus, não! Não! Quem saberia o que aconteceria com ele se tivesse feito tudo isso? Não, ele fez uma massagem no pé dela. “– Anthony encarou o parceiro. “ Não pode encostar nela, tocar nela. O castigo: perdeu seis dedos, quatro da mão e dois do pé.”

Isso era... Inacreditável.

“Mas, isso não é motivo para arrancar os dedos de alguém. Não pode ser verdade!”

“É. É a verdade.”

Arrancar seis dedos de um homem por ter feito na filha dele uma massagem inocente?

“Uma massagem não é motivo suficiente para isso.”

“O quê? É totalmente sexual.”

“Zabini, uma massagem não é sexual. A não ser que ele tenha feito uma massagem na boceta dela.”

“Primeiro, não me chama de Zabini, parece que vai me matar a qualquer momento.” – Anthony falou assustado, estreitando os olhos para Scorpius. O loiro concordou dando um sorriso fraco. “Segundo, você está sequer pensando na boceta da garota Weasley?”

“Existe uma terceira regra? Uma da qual não se pode pensar na boceta dela?”

“Não, mas não pense nisso. A boceta dela é intocável, não se deve pensar nisso.”

“Você tá sendo bem idiota. De qualquer forma, não to’ pensando na boceta dela. O que estou pensando realmente é que não pode arrancar os dedos de um homem, por causa de uma massagem.”

“O que eu sei, é que eu ficaria bem animado fazendo a massagem nela. O Weasley sabe disso, e ele é um homem bem ciumento, com a filha então...”

Por mais que estivesse balançando a cabeça negativamente, como se o que Anthony estivesse falando fosse mentira, no fundo –bem no fundo-, Scorpius estava começando a ficar um pouco preocupado. Afinal, se essas regras existiam mesmo, porque Weasley não as citou para ele?

 

{Sábado, o dia da missão de Scorpius}

 

Rose fez Scorpius estacionar o Ford Anglia azul em um estacionamento muito cheio de carros. Ele suspirou aliviado quando viu que não era um lugar muito chique, observando os carros vizinhos ali perto. Parecia mais com um lugar muito divertido, muito colorido e que lembrava os anos 50.

—Estamos em algum tipo de circo chique, ou coisa assim? – Scorpius perguntou encabulado. Não queria sair de seu carro.

—Esse é o Cabeça de Javali. O lugar que todo fã de Elvis vai amar conhecer. E é muito legal.

—Defina legal.

—Tem música ao vivo, mesas em formato de carro, permissão para fumar e comida gostosa.

—Vamos comer umas batatas fritas ou coisa assim em outro lugar. – Ele reclamou. Claramente o lugar era um porre.

—Ora, Scorpius, você vai comer batatas fritas aqui. – A voz dela soava sempre muito doce, como uma brisa gelada. – Além do mais, eu sei que meu pai mandou que você me obedecesse e isso significa entrar no restaurante comigo e conversar por algumas horas. Então, não seja um cuzão.

Ele deu razão ao que ela havia dito.

—Vamos logo então.

Abriu a porta e saiu de seu Ford Anglia, seguindo para o lado oposto e abrindo a porta para ela, como um cavalheiro faria. Ela sorriu abertamente, e o acompanhou. Agora usava um casaco preto por cima da blusa social branca, porque estava fazendo frio em Londres naquela noite. Ela tomou a frente, enquanto Scorpius andava atrás da mesma como um segurança, ainda olhando o lugar com preconceito.

—É por aqui. – Ela lhe guiou, quando entraram.

Rose não tinha mentido quando havia dito que o lugar era perfeito para um fã de Elvis. Era tudo sobre ele naquele lugar. Modelos antigos de carro, ele notou, que Elvis um dia tivera, eram mesas ali. O bar inteiro parecia ter sido tirado dos anos cinquenta, pois as músicas eram dessa década, as paredes tinham sido pintadas de diversas cores e haviam alguns violões com o rosto de Elvis Presley estampado neles.

Era impossível não ficar um tanto quanto boquiaberto com aquele lugar. Scorpius nunca ouvira falar dele antes.

—Boa noite! – O homem das boas vindas viera os receber. Era velho e barbudo.

—Boa noite. – Rose respondeu prontamente. Deu uma olhadinha em Scorpius, ele pode sentir seu olhar, e viu que ele estava impressionado demais para dizer qualquer coisa. – Temos reserva e está no nome Weasley. – Ela respondeu, colocando suas mãos dentro do bolso do casaco, um pouco impaciente.

—Senhorita Weasley, - O homem sorriu. – vou levá-la até a sua mesa de sempre. Peço perdão por não a ter reconhecido.

—Tudo bem!

Scorpius teria ficado para trás, ainda olhando as mesas em formato de carro se Rose não tivesse o chamado para segui-la exatamente como estava fazendo antes. Ele achou engraçado demais as garçonetes vestidas de Marylin Monroe, enquanto tos homens todos usavam jaquetas parecidas com as do filme de volta para o futuro. Também tinha um homem vestido de Elvis se apresentando no palco.

—Aqui está. – O homem os levou até uma mesa em formato de carro vermelho (até agora a favorita de Scorpius), depois recolheu seus casacos e os acomodou com os cardápios. Depois, se afastou.

Scorpius se sentou de um lado e Rose de outro. Ambos de frente um para o outro. Ela, no entanto, tinha um sorrisinho vitorioso nos olhos.

—O que achou? – Perguntou.

—Tem bastante coisa que eu gosto aqui. – Scorpius admitiu. – Mas parece um museu de cera dos anos cinquenta.

—Parece mesmo? – Rose perguntou, ela não o olhava, lia seu próprio cardápio.

Um garçom, desses vestidos como em de volta para o futuro, se aproximou de sua mesa:

—Então, o que vão querer?

—Um burguer triplo com cheddar, batata frita dupla e um refrigerante de cola. – Scorpius respondeu simples. – E você? – Olhou Rose, tomando a pergunta da boca do garçom.

—Eu quero um milk-shake de cinco dólares e o mesmo pedido que o dele.

Scorpius sorriu quando o garçom se afastou deles e os deixou sozinhos.

—Você pediu um milk-shake de cinco dólares?

—Pedi.

—Escolha interessante. Um milk-shake não é aquilo que é leite e sorvete misturados?

—Até onde eu saiba, sim.

Os olhos de Scorpius agora vagavam pelo que existia embaixo da mesa em que estavam sentados, ignorando o pedido estranho de Rose. O banco confortável parecia o banco de um carro de verdade, todo de couro bege. Quer dizer, Scorpius não podia acreditar que estava mesmo dentro de um carro e que haviam destruído ele para caber uma mesa ali dentro e ficar bom em um restaurante.

Rose se remexeu em seu banco, enquanto Scorpius ainda lamentava a destruição do carro. Ela queria pegar um cigarro que estava em seu bolso, mas parou ao observar Scorpius quando este deixou de olhar o carro e começou a fazer seu próprio cigarro de ervas. Rose pareceu desistir de fumar o seu simples.

—Faz um desses pra mim, bonitão?

—Por que não fica com esse, lindinha? – Ele devolveu a pergunta, passando o cigarro para ela e acendendo.

O ar ficou rarefeito enquanto ela dava as primeiras tragadas. Scorpius não se importou em a observar, estava ali para cumprir um trabalho e não sentir medo dela, por conta da história de Nott. Rose, por outro lado, não tinha tato nenhum e fumava o encarando muito intensamente. Ela parecia querer conversar e encontrar um assunto em comum que ambos tivessem. Scorpius queria que ela encontrasse, porque ele nunca teve muita paciência de fazer isso.

—Então, meu pai me disse que você é um dos seus melhores funcionários. — Ela tentou um assunto.

—Não gosto de me gabar, só faço o que sou pago para fazer. – Infelizmente, Scorpius não gostava de falar sobre isso. – Tem algo contra o trabalho? – Bolava seu próprio cigarro, passando a língua para conseguir prende-lo bem e a encarou ao mesmo tempo.

—Não, nada, até trabalho de vez em quando. – Ela respondeu brincando.

—O que você faz?

—Ajudo um orfanato, sendo filantropa.

—E além disso? Já trabalhou de verdade?

Rose quase pareceu ser pega de surpresa, e não demonstrou muito disso para Scorpius, pois logo sorriu. Talvez estivesse pensando que finalmente encontrara alguém que não sentia medo de conversar com ela pela condição de seu pai assustador.

—Já fiz o piloto de uma série de televisão.

—O que é isso.

—O piloto? É o primeiro episódio, gravado antes, que os produtores mandam para o canal televisivo e eles decidem se vão gravar a série inteira ou não. É como o mostruário. – Explicou melhor, vendo que Scorpius estava perdido. – É por ele que dizem se gostam ou não.

—E então, sobre o que era o piloto? – Ele ficou interessado. O cigarro, que agora ele fumava, já deixava a sua cabeça mais leve para aguentar aquela noite.

—Hum... Era sobre cinco mulheres assassinas. – Sentou-se melhor a mesa para poder contar a história. – Uma era a líder, a segunda era uma especialista em sexo e francesa, a terceira ganhava até de Brandon Lee nas artes marciais, a quarta – que sou eu, a propósito- podia matar qualquer pessoa com uma faca. A última gostava de armas e as fabricava.

—Quando vai ao ar?

—O que?

—A série.

—Bem, o piloto foi descartado junto com a série.

—Sinto muito. – Ele disse sincero, segurando o cigarro menor agora e soltando fumaça pela boca e nariz. – Parecia uma série interessante.

—Tudo bem, eu gostei de ter os meus... quarenta e cinco minutinhos de fama. A minha personagem nasceu no circo e aprendeu a atear facas assim. Se o nosso show tivesse sido escolhido, eu era a personagem que faria, pelo menos, uma piada por programa. – Disse com orgulho.

Os olhos verdes de Rose estavam começando a ficar lagrimejantes e um pouco vermelhos. Scorpius poderia apostar que os seus estavam do mesmo jeito.

—Você sabe as piadas? – Ele perguntou se inclinando para frente, querendo ouvir. O barulho do Elvis cantante do palco atrapalhava um pouco e os dois precisavam se aproximar do centro da mesa.

—Bom eu sei uma, porque só fiz um programa.

—Me conte!

—Não.

—Vamos, me conte.

—É boba.

—Pare com isso, aposto que é engraçada.

—Não, não vou contar, porque você não iria gostar e eu ficaria muito envergonhada. – Ela olhou para a mesa e depois voltou seus olhos para Scorpius. Ele ficou um pouco impressionado com esse gesto simples, mas sequer percebeu.

—Você contou para milhares de pessoas daquela produção e não quer contar pra mim? – Ao ouvir isso, Rose ficou um pouco vermelha. – Prometo que não vou rir.

—Alo, é disso que eu tenho medo! – Disse.

—Você entendeu o que eu quis dizer. Na verdade, eu aposto que vou rir. O que quis realmente dizer é que não vou ficar sério, você entendeu!

—Não, não vou contar. Agora o suspense aumentou e quem sabe eu te conte no final da noite. – Ela deu uma última tragada em seu cigarro, soltou a fumaça pela boca de um jeito muito gracioso e depois mergulhou a ponta no cinzeiro.

Scorpius não teve tempo de reclamar mais uma vez, porque o garçom arrumadinho trouxe a eles as bebidas que haviam pedido (ele um refrigerante de cola, ela um milk-shake de cinco dólares). O loiro deu uma olhada engraçada para o garçom, já que a roupa era muito arrumada e fora de moda. O garçom, recebendo os olhares não ficou muito satisfeito.

Seu copo de refrigerante parado em sua frente parecia convidativo, mas ao olhar para Rose sentiu um pouco de inveja. O copo de milk-shake dela era enorme, branco e tinha uma cereja em cima. Quando ela deu o primeiro gole, com a ajuda de canudo ecológico, seus olhos verdes reviraram e ela pareceu ter congelado o seu cérebro. Scorpius e o refrigerante pareciam menos interessantes, ele podia jurar que sua atenção passou para as mãos de Rose e ela estava acariciando o copo. Seria isso possível, ou estou inventando isso na minha cabeça?

Sim, ela estava segurando o copo com suas mãos e as unhas pintadas de vermelho faziam um carinho. Scorpius reconhecia aquele carinho, já havia ganhado parecidos nele mesmo.

—Hum... Gostoso.

—Posso experimentar?– Foi tudo que saiu da boca dele. Estava legal ver os lábios vermelhos naturais dela no canudo, e quando ela percebeu o olhar ele teve que pedir para tomar a bebida, ou seria ainda mais estranho.

—Com prazer. – Ela empurrou o seu copo na direção de Scorpius.

—Quero saber qual é o gosto de um milk-shake de cinco dólares. – Rose sorriu quando ele disse aquilo. Quando pegou o copo, em que antes ela fazia carícias, ele ia tirar o canudo.

—Pode usar o meu canudo, não tenho doença.

—E se eu tiver?

—Não me importo. – Sorriu. Ela parecia interessada em o ver tomando a sua bebida.

Ele tomou. Congelou seu cérebro e ele percebeu que Rose olhava para sua boca, da mesma maneira que ele havia olhado alguns segundos atrás. De brincadeira, Scorpius deixou uma carícia no copo.

—É o melhor milk-shake que já tomei. – Passou o copo para ela novamente.

—Eu disse a você.

—Valeria dez dólares.

Ela riu e não demorou meio segundo para colocar o canudo em seus lábios novamente. Scorpius foi tomar o seu refrigerante, mas ele sentiu os olhos vorazes dela nele, enquanto tomava seu milk-shake e não desgrudava os lábios do canudo. Ele não queria admitir, mas estava gostando da atenção. Para não demonstrar isso, no entanto, ele olhou ao redor, procurando as garçonetes vestidas de Marylin Monroe em seu vestido branco esvoaçante.

Pegou seu copo e tomou um pouco de seu refrigerante. Agora, depois de ter tomado o milk-shake, o refrigerante parecia bem menos interessante. Seu olhar novamente vagou, agora olhando um pouco para trás na intenção de ver o Elvis falso cantando no palco que ficava ao centro do restaurante.

—Você não acha isso estranho? – Rose, que largara o canudo finalmente, perguntou. Seus lábios estavam ainda mais vermelhos, porque ela acabara de passar os dentes por eles. Então fez algo que Scorpius prestou atenção. Ela tirou a cereja do topo de seu shake e a colocou entre os lábios, sempre a balançando por lá, mas nunca a mordendo. As duas, boca e cereja, eram parecidas.

—O quê?

—Os silêncios que incomodam.

Scorpius, na verdade, estava se sentindo muito bem naquele pequeno silêncio que irrompeu entre os dois.

—Não acha que é uma bobeira as pessoas sentirem tanta necessidade de atrapalharem o silêncio para falarem baboseiras sem sentido e que elas não queriam ter que falar? Porque temos que falar idiotices para nos sentirmos bem? – Rose continuou.

—Eu não sei. A pergunta é interessante, muito boa-

—É assim que sabe se encontrou uma pessoa especial. – Ela começou a falar, ainda com a cereja na boca. Scorpius, olhando para o outro lado quase não percebeu. – Quando pode calar a boca um minuto e se sentir confortável com o silêncio.

—Hum – Ele parou para pensar. – nós dois ainda não chegamos lá, e não se sinta mal por isso... Acabamos de nos conhecer.

Ela sorriu divertida.

—Me diga algo você agora, então. – Pediu. – Eu vou ao banheiro, retocar a maquiagem e você vai pensando em alguma coisa divertida para me dizer enquanto eu faço isso. – Quando terminou de falar, a cereja que antes passeava em sua boca havia sido mordida e já estava no final.

—Vou fazer isso. – Ele garantiu, e Rose terminou de comer a cereja, lambendo seus dedos decentemente.

Scorpius assentiu com a cabeça. Rose se levantou com muita graça e saiu do carro, indo em direção ao toalete das mulheres. Ele notou que ela tinha alguma coisa muito interessante no jeito de dar, parecia que estava dançando e que aquele era o seu lugar de origem. Parecia a dona de lá e Scorpius, que nunca foi um grande fã dos egos das pessoas, achou que o dela era divertidíssimo.

Uma multidão de aplausos chamou a sua atenção, quando uma das Marylin’s havia entrado em uma onda quente e seu vestido levantava. Scorpius percebeu, a contragosto, que aquilo não era tão bom quanto ver Rose passando uma cereja nos lábios. Mas ele não devia pensar nisso, não é? Será que o cigarro já estava fazendo efeito e ele já estava pensando em besteiras?

Quase não notou quando os garçons deixaram seus pedidos de comida na mesa.

—Não é incrível quando você volta do banheiro e seu prato já está na mesa? – Rose perguntou animada, voltando do banheiro e sentando-se a mesa novamente. Estava pronta para comer.

—Tivemos é sorte de ter comida, nosso garçom é fraco e eu acho que seria melhor se tivéssemos sendo atendidos pelas Marylins.

Ele lançou um olhar desejável para a moça loira que atendia a mesa vizinha e exibia o corpo com graça.

—Você é bem espertinho. – Rose deu uma risadinha divertida, após dar a primeira mordida em seu burguer. – Então, - Chamou a atenção de Scorpius, que estava atacando a comida. – pensou em alguma coisa legal para me dizer?

—Na verdade, sim eu pensei.

—E o que é?

Nesse momento ele não quis a encarar nos olhos. Será que deveria tocar naquele assunto?

—Melhor não dizer. Você pode ficar ofendida.

—Pode dizer.

—Apenas se prometer não ficar ofendida.

—Ah, eu não posso prometer isso. Vê? Sempre nos fazem prometer coisas que não podemos cumprir e, para sabermos do que se trata um assunto, sempre acabamos prometendo. Eu não quero prometer nada e, infelizmente, agora você me deixou muito curiosa e vai ter que me contar.

—Não. É um assunto proibido, posso pensar em outra coisa-

—E tudo que é proibido não é mais gostoso? – Ela perguntou, sugestivamente.

A cabeça de Scorpius definitivamente não estava naquele lugar. Ele poderia jurar que ouvira a voz dela dizendo aquilo mesmo e sequer podia culpar a erva, porque era a quantidade que ele havia se acostumado a usar e nunca lhe dava alucinações. Aquele tom na voz de Rose foi provocação? É claro que coisas proibidas eram mais gostosas. Era proibido que ele estivesse olhando para os dois botões abertos da blusa que ela usava, mas ele estava olhando. Nott fez coisas proibidas também e agora tem menos seis dedos no corpo, ele tratou de pensar rapidamente.

—Tudo bem, eu posso falar, mas espero que você não fique ofendida. – Scorpius decidiu, por fim. Ele estava gostando do joguinho de “me conta, não conto”, porque adorava ver como o rosto dela ficava toda vez que tinha uma resposta na ponta da língua.

—Veremos.

—A história sobre Nott... – Ele disse apenas aquilo.

—Que história sobre Nott? – Rose se fez de desentendida. – A história de que ele perdeu alguns dedos? Essa história?

—Bom sim, essa e a história de que arrancaram dele alguns dedos. E, também, a história de que o seu pai arrancou os dedos dele e... – Ele fingiu respirar fundo. – a história de que o seu pai arrancou os dedos de Nott, por causa de você.

—Por causa de mim? – Rose parecia surpresa e séria, pela primeira vez.

—Isso mesmo.

—Acha que o meu pai arrancou dedos de um dos seus funcionários por causa de mim? O que eu fiz?

—Aparentemente ele te fez uma massagem.

—Isso não é possível, meu querido, porque apesar de ser muito ciumento, o meu pai deixa que eu escolha o homem que possa fazer massagem nos meus pés ou não. Os homens que vou beijar, inclusive, ele me deixa escolher também. – Aquilo havia sido muito sugestivo na voz dela. De novo.

—O que aconteceu então? Nott perdeu seis dedos.

—Deve ter sido incompetente em alguma atividade. Meu pai não me envolveria nessa sujeira.

—Tudo bem então. – Scorpius declarou rendição. – Você provavelmente está certa.

—Eu estou mesmo. – Ela concordou. – E vocês homens, quando se juntam, ficam parecendo as beatas da igreja fofocando sobre a comunidade inteira.

Os dois pararam de conversar e viraram suas cabeças para o palco central, quando a voz de um homem soou pelo microfone. Aparentemente, pelo que Scorpius havia entendido, haveria uma competição de dança no palco e quem ganhasse levaria um troféu em forma de Elvis gigante. Quando o apresentador lançou a pergunta “Quem quer ser o primeiro casal a dançar?”, Rose automaticamente levantou a sua mão.

Scorpius revirou os olhos.

—Eu quero. – Ela disse. Todos aplaudiram e esperaram o casal se levantar.

—Não, não.

—Ah, me desculpa, mas não é você que tem que fazer tudo o que eu quero? Acredito que meu pai, seu chefe, tenha dito exatamente isso. Eu quero dançar e eu quero ganhar aquele troféu idiota, então é melhor que você dance bem!

—Tá bem, mas foi você que pediu.

Depois daquilo foi um tanto quanto difícil não admitir que a noite estava sendo, no final das contas, legal.

Os dois subiram no palco, rindo divertidos.

—Qual seu nome, senhorita? – O apresentador perguntou, dando espaço para Rose dizer seu nome do microfone.

—Rose Weasley!

—E o do seu acompanhante?

—Scorpius Malfoy!

O homem com microfone desejou sorte aos dois e se afastou os deixando completamente sozinhos no palco. Rose tirou seus sapatos, Scorpius também. Ele sentiu um pequeno nervosismo, mas parou ao olhar o restaurante e perceber que nenhum de seus conhecidos estariam ali. Que mal faria se divertir junto com aquela garota que, aparentemente, tinha poucas preocupações?

Rose dançava muito bem, foi a primeira coisa que ele notou. Os movimentos da ruiva pareciam totalmente involuntários, o que a deixava ainda mais interessante. Ela não havia planejado aquilo, seus quadris pareciam estar um pouco distantes do resto de seu corpo e ela não tirava, nem por um segundo, os olhos de Scorpius. Ele, sem escolha, teve que fazer o mesmo para seguir seus passos. Eles estavam bons, porque a plateia aplaudia com muito entusiasmo.

Numa nota de aumento da música, Rose virou-se de costas para Scorpius e ele sorriu e se aproximou. Sem esperar, a ruiva tirou os cabelos espessos das costas e deixou o seu pescoço a mostra. O nariz de Scorpius ficou levemente tomado por um aroma de flores que parecia doce e muito leve ao mesmo tempo. Além disso, ela tinha duas pintinhas ali. Sem querer, sem perceber o que estava fazendo, Scorpius pegou na cintura dela.

 Chegou um momento da apresentação que não havia saída, ele e Rose tinham que ficar mais próximos um do outro e ela virou-se para frente, sem tirar as mãos dele de sua cintura. Scorpius não hesitou, devido a euforia da dança e dos olhares que haviam neles dois, a segurou mais fortemente. A música parecia um tanto quanto mais distante naquele momento, principalmente quando ela aproximou mais seus corpos e deu a ele um de seus sorrisos encantadores. Depois, eles se separaram de novo, e Scorpius ainda estava um pouco atordoado.

Ele tentou não pensar sobre isso, sobre a noite incrível. Os dois, no final da noite, ganharam o troféu e saíram do restaurante as palmas. Quando as portas se abriram, para que os dois fossem embora, Scorpius e Rose decidiram continuar dançando no estacionamento:

—Oh, não! – Ela exclamou depois de um tempo. – Acho que deixei meus sapatos dentro do restaurante. – Ela explicou, olhando para o seu pé. – Vou até lá e volto num minuto, pode esperar no carro porque eu sei onde ele está.

Scorpius assentiu e foi em direção ao seu Ford Anglia. Ele não queria mais ficar distante dela. Se fosse sua opção, teria entrado novamente no restaurante junto dela. Quando chegou em seu carro, parou em frente a porta do carona e passou as mãos pelo cabelo. Seu coração estava acelerado.

—Apenas leve ela para casa, Scorpius. – Dizia a si mesmo, com os olhos fechados na esperança de conseguir convencer a si mesmo. – Vai levar ela até a casa, ficar longe dela e rezar para nunca mais a encontrar na vida. Você não tá interessado nela, foi só aquela dança estúpida e o jeito como ela tomou o milk-shake. Inferno – Scorpius suspirou. Espero que ela não me queira, porque se quiser algo muito de errado vai acontecer hoje.

De repente Rose apareceu do seu lado, muito próxima dele. Seus rostos, quase colados. Ela já tinha voltado, correndo.

—Falando sozinho?

Sequer teve tempo de responder, porque estava preso entre a garota e a porta do carro. Inacreditavelmente, isso não o incomodava.

Os olhos dela queimavam em brasa e Scorpius queimava por inteiro também. Era evidente o quanto estava a desejando.

—Rose? – Ele chamou, tentando a afastar.

Era tarde demais.

Nott perdeu seis dedos, ele pensava, ele apenas fez uma massagem nos pés dela e perdeu seis dedos. O que vai acontecer comigo?

Scorpius não soube responder.

Um segundo depois estava a beijando.


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