Like a Vampire 4: Endgame escrita por NicNight


Capítulo 5
Capítulo 5-Todos os homens devem morrer




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Kino estava distraído jogando no seu celular, tentando esquecer o estresse que a falta de internet lhe causava.

 

—Senhor?- Yuuri se aproximou.

 

—Hm?- Kino nem tirou os olhos do celular.

—Tem certeza que é sensato trazer essa menina na nossa caravana?- Yuuri questionou.

 

—A de cabelo azul? Qual era mesmo o nome dela?- Kino pausou o jogo por alguns segundos- Sakura?

—Haruka.- Yuuri o corrigiu.

 

—Ah, isso.- Ele resumiu ao jogo- Por que não seria? Ela controla o mar. Acho que deve saber se localizar por aqui mais do que esses imprestáveis que contratou.

—Ela é uma Creedley.- Yuuri sussurrou- O que estaria tudo bem, mas não conheço a família dela, mas as coisas que eu ouço não são lá...

 

—O que diabos é Creedley?- Kino questionou.

—A família dela.- Yuuri revirou os olhos- Você por acaso sabe alguma coisa sobre a pessoa que trouxe á bordo?

 

—Sei que ela controla a água. Não preciso saber mais nada. Ela vai me levar até Mun. Não ligo pras artimanhas políticas dela.- Kino pausou de novo o jogo e se virou pro amigo- Não estamos aqui pra nos metermos em política. Pegaremos minha irmã e sairemos.

—Talvez você devesse pelo menos conversar com ela.- Yuuri sugeriu- Quem sabe acham interesses em comum.

 

Os dois homens observaram a menina de cabelos azuis que estava sentada, observando o mar que movimentava o navio.

—O que...- Kino pareceu perceber algo- Ah não. Você não vai pagar de cupido pra mim a essas horas.

 

—Eu não disse nada. Você que entendeu o que sua mente quis.- Yuuri sorriu.

—Eu não tenho tempo pra isso. Nenhuma mulher atende minhas qualificações.- Kino revirou os olhos- Além disso, ela tem cara de alguém que você desejaria conversar?

 

Eles olharam pra menina de novo, que dessa vez percebeu a encarada nada discreta e revirou os olhos, sua mão estendendo em um gesto obsceno.

—E você acabou de dizer que esses Creedley são imprevisíveis ou algo do tipo.- Kino resmungou- Está se contradizendo querendo que eu do nada converse com a menina que está conosco a dois dias.

 

—Pra alguém que não se importa, certamente você está se defendendo bastante.- Yuuri riu- Mas tudo bem. Não falarei mais nada. Mas até mesmo alguém inteligente iria conversar com a prisioneira. Ela disse que sua irmã luta ao lado delas. E você jurou que ia defender a causa. Ao menos sabe o que é?

—…Não.- Kino percebeu que o amigo tinha razão.

 

—Bem, eu encerro aqui meu argumento.- Yuuri de de ombros- Não precisa ser o melhor amigo dela, mas criar alianças sempre é bom.

Yuuri então se afastou, deixando Kino pensativo com o jogo baixado e observando a menina, que agora recebia um taco para almoçar.

 

—Se você quiser continuar me encarando, pega esse celular e tira uma foto.- Haruka falou alto.- Assim você deixa qualquer um desconfortável.

—Não se ache tanto.- Kino respondeu- Você não é essa beldade toda.

 

—Falou o que se acha o príncipe salvador encantado.- Haruka revirou os olhos- Se quiser continuar me olhando desse jeito, pelo menos senta do meu lado e puxa alguma conversa.

Kino se sentiu bufar. Como ela se atrevia.

 

Mas ele se sentou ao lado dele e pegou seu próprio taco pra comer de qualquer jeito.

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Narração Lua

—Eu tô cansada.- Sarah arfou, claramente sendo sincera.- A gente não pode parar por... Um minuto... Ou talvez uma hora?

 

Eliza olhou ao redor, mordendo seu lábio inferior:

—Já está anoitecendo. Acho que deve ser seguro dormir por aqui.

 

Pelo que Eliza havia me explicado enquanto andávamos mais no começo da estrada, o litoral do Reino Lobisomem não pertencia a ninguém, já que era uma área pacífica pra todas as alcatéias se reunirem.

Lá também eram proibidas armas, mas eu tinha sinceras dúvidas sobre se íamos precisar das que carregamos de qualquer jeito.

 

Eu, Anna e Sarah ajudamos Eliza a arrumar os pequenos colchões infláveis e fazermos uma fogueira.

Claro, eu ajudei em quase nada pois descobri cedo demais que vida no campo talvez não fosse meu forte.

 

—Eu me pergunto se os meninos estão bem...- Anna sussurrou, se aproximando da fogueira pra se aquecer.

—Ah, eles só devem estar doidos de saudade.- Eu ri- Imagina eles sobrevivendo sem as musas da vida deles ao lado!

 

—Eles devem estar bem. Eles são imortais, sabe? Na verdade devem estar até aliviados que a gente vazou.- Sarah opinou- Tipo, assim eles não se preocupam sobre pessoas louconas correndo atrás da gente e casas pegando fogo.

—Bem, algumas das meninas ainda estão lá então não acho que a vitória deles durou muito tempo.- Eu ri.

 

Percebi que Eliza analisava os arredores com um rosto meio melancólico.

—Gata, você tá bem?- Sarah arqueou ambas as sobrancelhas- Tá com uma cara tipo, super bizarra.

 

Eliza se virou meio assustada e forçou um sorriso.

—Eu estou ótima!- Ela tirou o cabelo ruivo do rosto- Por que não estaria bem?

 

—Olha, pega essa dica de alguém que fingiu que tudo estava bem e perfeito por anos e anos.- Sarah suspirou- No final, você cansa e a sua mente pira. Eu passei tanto tempo fingindo que eu estava bem e que eu era alguém que eu não era que não soube canalizar tudo que eu sentia de uma forma saudável.

—Eu que o diga...- Anna sussurrou, quase pra si mesma.

 

—Foi bom por alguns anos, mas não tem um dia que eu não me arrependa amargamente de não ter só sentado e conversado com alguém. Tornaria as coisas bem mais fáceis.- Sarah pareceu não ouvir o comentário da amiga.- Então não seja como eu. Se está sentindo coisas negativas, reconheça elas e converse sobre.

Eliza pareceu convencida e se sentou á nossa frente.

 

—É só que...- Eliza começou, corando levemente enquanto seus cabelos ficavam rosas.- São várias coisas na verdade... Eu...

—Estamos escutando.- Anna respondeu.

 

—Eu não sei...- Eliza engoliu em seco- Vocês por acaso já sentiram que a própria família de vocês não confia em vocês?

—Há.- Sarah riu.- Ah, ok. Desculpa. Era uma pergunta séria. Mals. Mas sim.

 

—Eu também.- Eu e Anna falamos ao mesmo tempo.

—É como se...- Eliza hesitou- Tipo, ok. Basicamente toda nossa família morreu. E então sobrou 

nós três. E sempre foi nós três contra o mundo. Mas claramente eu não sou apta para lidar com política ou coisas realmente importantes, já que Cousie não me dá uma tarefa útil.

—Mas a Haruka...- Comecei.

 

—Por favor. Se Haruka estivesse aqui, onde acham que ela estaria fazendo missão?- Eliza revirou os olhos- E agora eu estou falando mal das minhas irmãs. Bravo pra mim.

—Ei, se acalma.- Sarah pediu- Eliza, você é maravilhosa. E se Cousie não consegue enxergar isso, o problema é dela. Você tem um coração de ouro e é tão corajosa e forte do que qualquer um aqui.

 

—Eu tenho um poder idiota também.- Eliza pareceu triste- Sinceramente, Cousie veio com um arco mágico, Haruka controla a água. E eu? Eu mudo a cor do meu cabelo de vez em quando.

—É um poder legal. Eu queria mudar de aparência de vez em quando.- Anna estralou a língua, parecendo levemente decepcionada.

 

—Isso porque você não sabe valorizar a sua beleza, Anna.- Sarah revirou os olhos- Sinceramente, por que são as meninas mais legais que não percebem que são bonitas?

—E você?- Ri da minha irmã.

 

—Se eu me acho bonita?- Sarah riu de forma debochada.- Eu sou um arraso. Mas aí que está, eu também sou um horror de ser humano.

—Você também não valoriza quanto potencial tem, Sarah.- Eliza sorriu fracamente.- É uma menina linda por dentro e por fora. Você claramente só sente muita dor.

 

O rosto de Sarah virou uma careta por poucos segundos, como se ela tivesse chupado um limão inteiro.

—Você tem mal gosto.- Sarah reclamou.

 

—Bem, então o Kanato também tem.- Eu encorajei ela.

—Ah, disso eu já sabia.- Sarah riu.- Mas eu gosto dele, então meio que tá tudo bem.

 

—Se ele te ouvir falando mal de você mesma, ele ia rodar a baiana pro seu lado.- Anna suspirou.

Que orgulho. Minha Aninha falando gírias.

 

—Pior que ia mesmo.- Sarah riu com carinho- Eu sei que ele pode parecer meio ruim pra vocês, mas eu gosto de verdade dele. Ele me entende. Eu entendo ele. Só é... Difícil de explicar. Mas eu sei o que eu sinto.

—Sem julgamentos, mana, eu tô namorando o cara que quebrou meu óculos.- Dei um tapinha no ombro dela.

 

—Pera...que?- Eliza riu meio assustada.

—Ih, longa história.- Eu ri.- Mas ele com certeza deve ter mal gosto se ainda gostou de mim mesmo com todos os apelidos, piadas e trocadilhos envolvendo TPM e carros que eu fiz nos últimos 3 anos.

 

—Bem, ele claramente gosta de você.- Anna sorriu timidamente.- Aposto que faria de tudo pra te proteger também.

Olhei pro meu peito, vendo meu colar de rosa branca ainda pendurado em meu pescoço.

 

Era quase como se eu sentisse a presença dele com aquele simples pingente. E aí eu sorria e já era suficiente pra deixar meu dia mais quente e suave.

—Bem, então o azar é dele porque eu protegeria ele primeiro.- Eu ri.- Mas e você, Aninha?

 

—Ah, não. Namorar não é pra mim.- Anna ficou vermelha- Nem qualquer coisa minimamente física, pra ser bem sincera.

—Aposto que você já conquistou vários caras- Eliza palpitou, recebendo um aceno negativo da pobre menina.- Pera, não? Anna, você nunca beijou?!

 

—Dá pra g...gente m...mudar de assunto?- Anna estava da cor de um tomate áquele ponto.- P...por favor?

—Ei, relaxa, espaço seguro. Eu também não tinha beijado até ano passado. E eu era da sua idade.- A abracei de lado- E eu aposto que o Azusa ia amar te ajudar a perder esse.…

 

—Deus, me tira daqui por favor.- Anna se jogou no chão.

—Não precisa ter vergonha de falar sobre isso. É natural.- Sarah riu- Um pouco nojento se você pensa nas tecnalidades da coisa. Mas ainda assim natural e até gost...

 

—Eu odeio vocês.- Anna escondeu seu rosto nas mangas longas- Eliza, pode me proteger?

—Bem... Eu achava que você gostava do menino Mukami.- Eliza tentou opinar.- Por que você só não... Sabe? Parte pro ataque.

 

—Ele deve gostar mais da Sarah!- Anna grunhiu.

—Ih, não me mete nessa história!- Sarah reclamou- Quando eu beijo alguém eu sinto se tem conexão ou não. Adivinha? Azusa não teve isso comigo. Eu voto em você "partir pro ataque".

 

—É claro que isso é uma decisão só sua e você que decide qual vai ser seu momento certo.- Eliza deu de ombros.- Eu e meu noivo também temos um relacionamento… complicado.

—Ah, então você e seu cachorrinho...- Pensei numa piada, mas ri e depois viajei- Esquece, era péssima.

 

—Espera, as que você fez nos últimos anos eram boas?- Sarah fez uma cara estranha, e eu puxei o cabelo dela de leve.

—Há, muito engraçado dona Sarah.- Eu ironizei.- Mas enfim, fico feliz que seu relacionamento com seu noivo seja bom. Sabe, o primeiro relacionamento arranjado que eu vi acontecer não acabou muito bem.

 

—Nossa, mas sua boca é maior que tudo hein?- Sarah me beliscou- Pra que falar da separação da nossa irmã desse jeito?

—Ih, todo mundo já sabe. Além disso, ela tá super querendo pegar o Yuma. Não ficaria surpresa se ela já tivesse feito os trem com ele a essa altura do campeonato.- Eu ri.

 

—Eu achava que você era inocente.- Anna fingiu decepção.

—O Subaru corrompeu ela.- Sarah concordou.

 

—Vocês me corromperam.- Eu corrigi elas, rindo.

—Vocês parecem bem amigas.- Eliza sorriu.

 

—Ah, não. Eu não suporto elas.- Sarah zombou- Eu só finjo pra que seja mais fácil assassinar elas enquanto dormem.

—Eu acreditaria nisso se você me falasse isso ano passado.- Anna sussurrou.

 

—Eu também. Você era meio assustadora.- Eu comentei.

—Não te conhecia antes dos acontecimentos passados, então eu não posso falar nada...- Eliza suspirou.

 

Sarah se jogou no chão, suas roupas pretas ficando meio sujas de terra.

—É... Eu acho que eu era sim assustadora.- Sarah pareceu triste.

 

—Ah. Se a gente te magoou falando isso, nos perdoe.- Eliza sorriu suavemente- Foi você que disse que temos que entender nossos sentimentos ruins e falar sobre isso?

—É bem mais complicado do que um rancinho de irmãs.- Sarah se levantou.- Eu prefiro não falar.

 

—Ah, por favor, não deve ser tão ruim assim.- Eu sorri.

—É bem pior que vocês imaginam, acreditem.- Sarah tinha uma expressão séria.

 

—Não é como se você tivesse matado alguém.- Anna sussurrou, mas pareceu chocada quando viu o rosto sério de Sarah- Pera aí, você o que?

—Foi quase.- Sarah tremeu um pouco.

 

—O...k, talvez eu não queira saber no final das contas.- Eliza se afastou um pouco.

 

—Eu quero.- Anna respondeu.

—Então pode falar.- Eu pedi, confusa.

 

—Eu não sei se seria sensato...- Sarah hesitou, claramente nervosa.

—Agora você abre a boca.- Eu apertei meu colar, nervosa.

 

—Eu...- Sarah arregalou os olhos, assustada.

Sua respiração ficou pesada, suas pupilas dilatam e ela parecia que podia desmaiar a qualquer momento.

 

Eu já tinha visto aquilo.

—Sarah. Sarah.- Segurei as mãos da minha irmã.- Sarah, olha pra mim. Foca em mim, ok? Respira fundo.

 

—Ela tá tendo... Uma crise de Pânico?- Anna questionou, nervosa.

—Algo parecido, com certeza.- Eliza me afastou- Com licença, vou tentar algo.

 

Ela segurou as mãos de Sarah, apertando suavemente.

—Não. Sai de perto.- Sarah sussurrou sem força nenhuma.

 

—Você não vai ficar sozinha.- Eliza deitou a cabeça de Sarah em seu ombro.

A Creedley então passou a sussurrar uma pequena música, praticamente não abrindo a boca.

 

—Haruka tinha muitos pesadelos quando era pequena. Ela nunca vai admitir isso mas é verdade.- Eliza explicou com a voz leve- Eu... Fazia isso pra acalmar ela.

Eu e Anna observamos a cena por bons minutos antes que Sarah parecesse voltar a si. Sua respiração ficou mais calma, mas ela ainda estava apoiada em Eliza.

 

—Melhor?- Anna questionou, preocupada.

—Quase.- Sarah se ajeitou de uma forma que pudesse nos olhar.- Eu... Eu não queria que me vissem assim.

 

—Não existe vergonha em ser frágil, Sah.- Eu comentei.

 

—Você não tem motivo pra ter vergonha, é fácil pra você falar.- Sarah foi ríspida.- Já eu tenho todos os motivos possíveis.

—Sabe, se você não falar o que aconteceu... Não tem como a gente te ajudar.- Anna se aproximou de mim.

 

Ficamos um tempo em silêncio, tentando impulsionar ela a começar a falar caladas.

Eu estava sinceramente preocupada.

 

Mas se havia um motivo pra minha irmã ter crises de Pânico e estar bizarra desde ano passado, eu precisava saber.

—Sabe, eu era só uma criança.- Sarah tremia, parecendo prestes a chorar.- Uns 10 anos no máximo. Eu mal sabia o que era beijar.

 

Permanecemos caladas, e Sarah continuou.

—Eu achava que sabia alguma coisa. Eu estava gostando de alguém pela primeira vez, sabe?- Sarah olhou pra cima, como se evitasse que as lágrimas escapavam- Eu nem entendia o que tinha demais em uma garota gostar de outra garota, mas eu sabia que estava gostando.

 

—Neyo?- Questionei, preocupada.

Sarah concordou.

 

—Quem era Neyo?- Anna perguntou.

—Eu e minhas irmãs éramos muito amigas dela naquela época. Estudávamos na mesma escola. Éramos um grupinho. Nós seis, Neyo e nosso vizinho Natsume.- Sarah explicou- Mas eu e Neyo éramos mais inseparáveis ainda. Nós éramos mais parecidas, gostávamos da mesma coisa e tudo aquilo.

 

Sarah tremeu:

—As coisas meio que mudaram no começo dos meus 12 anos. Neyo começou a ficar mais preocupada com popularidade e queria me levar praquele lado onde tudo era bom também. Eu aceitei, sabe? Éramos amigas.

 

—E...?- Eliza encorajou quando Sarah engoliu em seco.

—Era só o começo da vida solitária de uma menina popular. É quase irônico falar isso.- Sarah riu tristemente- Neyo sempre estava disposta a fazer as coisas pra ser famosinha. E ela já dizia que gostava de mim desde aquela época. Eu estava no céu.

 

Sarah engoliu em seco mais algumas vezes.

Ela parecia tremer mais ainda.

 

—Um dia ela achou que ia ser divertido trancar o banheiro da escola.- Sarah então pareceu incapaz de segurar as lágrimas- Eu não sabia quem estava lá dentro. Se soubesse, nunca teria feito o que fiz. Não sei se Neyo sabia. Talvez sim. Talvez não. Acho que nunca saberei.

Minha mente congelou com a familiaridade da situação.

 

—Estavamos matando aula, é claro.- Sah riu de nervoso- Aí minutos depois eu já tinha até esquecido que tinha trancado o banheiro. E aí o alarme de incêndio soou e eu só estava preocupada em sair de lá com as minhas irmãs.

—Você trancou a Sofie.- Eu sussurrei, tão chocada que mal conseguia articular as palavras.

 

Sarah concordou chorando:

—Eu só percebi meu erro tarde demais. Na hora que Sofie não apareceu, eu nem pensei que a culpa pudesse ser minha. Mas era. E eu quase matei minha irmã queimada. Eu criei o maior medo da vida dela.

 

—Não é sua culpa... você não sabia.- Eliza tentou a consolar.

—Mas até hoje Sofie não sabe. Eu não tive coragem de virar pra ela e contar sobre o que aconteceu. Tínhamos 12 anos naquela época e hoje temos 20.- Sarah parecia abismada- Tem noção de que quanto mais tempo passa mais difícil é segurar isso e não se sentir como o pior ser humano do mundo?

 

—Sinto muito se vou soar babaca, isso ainda não justifica as coisas que você fez.- Anna sussurrou.

—Eu lembro de falar isso pra Neyo. Alguns dias depois do acidente, acho que Sofie ainda estava no hospital. Lembro dela ter só falado "Ah, acontece" e logo depois me chamar pra uma festa de aniversário de uma colega nossa.- Sarah riu de forma nervosa- Eu achei por tanto tempo que ela também não sabia. Mas agora já não sei mais.

 

—Sarah, essa Neyo era uma namorada horrível.- Lua segurou a mão dela.- Você não pode se culpar pelas coisas que ela faz.

—E então nossa mãe morreu.- Sarah continuou- Ficamos só eu e Sofie na cidade. E aí envelhecemos. Começamos a namorar quando eu tinha quinze anos. Ela foi minha primeira em tudo. E eu estava apaixonada, não conseguia ver defeitos nela.

 

—Paixão adolescente, é compreensível.- Eliza respondeu.

—Eu era uma menina super popular então. Sabe. Famosinha. E Sofie só andava com Natsume. Era a nerd da escola. Monitora.- Sarah sorriu- Ela sempre foi muito melhor que eu em tudo.

 

—Não é verdade!- Me abismei- Você é bem mais legal que a Sofie.

—Neyo começou a ficar bem... Possessiva comigo.- Sarah continuou.- Me obrigou a sair dos clubes que eu participava porque eu não dava mais tempo pra ela. Comprou boa parte do meu guarda roupa porque ela me achava mais bonita usando cor de rosa e vestidos fofos. Me fez deixar meu cabelo crescer porque assim eu parecia mais com a "namorada dela".

 

—Ela é terrível mesmo!- Anna fez uma careta- Nunca mais reclamo do Kanato.

—Vocês não viram nada ainda.- Sarah reclamou- Ela sempre gostava de me arrumar e me maquiar quando a gente ia sair juntas. Gostava de pedir que eu fosse uma pequena boneca e sorrisse e fosse fofa sempre. Acho que ela sempre gostou da ideia de poder me modelar.

 

—Você terminou com ela, né?- Eliza pareceu preocupada demais pra se preocupar com falar suavemente.

—Ficamos juntas por um ano.- Sarah explicou- Claro que não era assim logo de cara. Ela conseguiu ir me manipulando e me controlando pouco a pouco. Bem típico. Eu só consegui me separar dela quando foi tarde demais.

 

—Ela quis que você matasse outra pessoa?- Anna perguntou preocupada.

Fiz uma expressão séria pra ela.

 

—Eu ainda era bem grudada em Sofie. Eu sempre quis proteger ela.- Sarah sorriu de forma suave.- Mas Neyo não ficava feliz com isso. Ela quis me separar de Sofie. Até chegou a sugerir que eu fosse morar na casa dela. Eu lembro de ter achado estranho, mas não questionei muito. Achei que era só crise de ciúmes normal.

—Se eu ver essa menina um dia eu caio na porrada com ela.- Eliza brigou.

 

—Acreditam que ela até chegou a chamar a Sofie pras duas brigarem?- Sarah riu meio triste- E Sofie foi, pra vocês verem que irmã maravilhosa ela era e é. Eu queria ser assim. Claro que nenhuma das duas ganhou e as duas acabaram super feridas. Então Neyo me segurou pelo pescoço e me perguntou quem eu queria. Ela até jogou na minha cara que havia sido paciente com todos os meus inúmeros defeitos, mas que ficar com Sofie era demais.

—Até parece que você pegava a Sofie, cruzes.- Fiz uma careta.

 

—Minha escolha foi óbvia.- Sarah disse- Mas eu tive que aturar um ano de linchamento. Ela espalhou pra escola inteira sobre como eu era uma vadia. Falava que eu nunca ia arrumar alguém que me amasse. Sofie sempre estava do meu lado, mas eu sempre chorava. E então eu fui pra Mansão Sakamaki. Foi quase um alívio na época.

Sarah limpou as lágrimas que corriam pelo seu rosto:

 

—Eu acho que uma parte de Neyo estava certa. Eu fico bem melhor não sendo eu mesma. Na real eu nem sei o que é ser mesma a esse ponto. Acho que quando eu terminei com ela eu devo ter achado mais fácil continuar com o personagem. Com certeza é mais fácil do que tentar descobrir quem é a Sarah de verdade.

—A Sarah de verdade é essa aqui que tá na minha frente.- Segurei a mão dela.- Ela é super sensível e meio romântica. Acredita no melhor das pessoas. Ela não sabe direito o que quer, mas ela sempre dá o seu melhor.

 

—Dá pra acreditar? A pessoa que eu menos queria na minha vida me deu um papel que eu simplesmente não consegui sair. E quando eu finalmente sinto que eu me liberto! BLAM! Eu estrago tudo.- Sarah limpou o rosto de novo- Eu machuquei a pessoa que eu mais jurei proteger. De novo.

—Eu acho que você precisa só… aprender a lidar com as suas emoções.- Anna sorriu- De uma forma saudável. Que não machuque as outras pessoas.

 

E então ela pegou a mão de Sarah e a virou, revelando as feridas profundas feitas por unhas:

—...E nem você mesma.

 

—Eu preciso de ajuda.- Sarah admitiu- Eu quero melhorar. Mas como eu vou saber que eu não vou só estragar tudo de novo? Eu me sinto frustrada e excluída por tudo que já aconteceu comigo, e o resultado é essa... Escuridão. Que me domina quando eu fico frágil. Aí eu me sinto furiosa, agressiva e deprimida tudo ao mesmo tempo. E desconto nos outros.

—Vamos ficar do seu lado, maninha.- Eu sorriu- Todos nós. O resto das nossas irmãs, as outras Hudison e as Creedley. Até os Sakamaki e os Mukami. Você vai melhorar.

 

Sarah pareceu emocionada.

—Custe o que custar.- Ela sussurrou.

 

Nosso pequeno momento foi interrompido por um barulho de passos distantes.

—O que foi isso?- Anna se assustou.

 

Eliza pediu silêncio por alguns segundos, e ouvimos vozes.

—Rebeldes.- Eliza bufou- O que diabos eles estão fazendo no Reino Lobisomem?

 

—Armas?- Sugeri.

—Todos os homens devem morrer- Sarah grunhiu

—Se são homens de verdade não vão nos atacar no Litoral.- Eliza justificou- Não tem por quê. Não estamos ameaçando eles.

 

 

—Bem, eu acho que você deveria tentar explicar isso pra eles então.- Sarah apontou pra uma flecha que havia parado a centímetros de sua cabeça.

Ficamos em alerta automático.

 

—Ora...- Um homem alto e ruivo surgiu- Quatro donzelas indefesas e sozinhas. Vê se não existe coincidência mais feliz e oportuna.

 

—Recue agora ou sofrerá as consequências.- Eliza o ameaçou com sua faca de bronze, que trazia no cinto.

—Eu gosto de um desafio.- Ele riu e tomou um gole de uma bebida- Eu deveria chamar meus homens e tomá-las aqui mesmo? Ou será que preferem ser esposas e as núpcias...

 

Ele foi interrompido quando Eliza botou a faca contra seu pescoço:

—Você está falando com Eliza Creedley. Irmã mais nova da Rainha Cousie Creedley. Noiva do Primeiro-Sangue Shin Tsukanami. Filha do lobo. Mostre respeito.

 

—Seus títulos vão queimar no inferno depois do que eu fazer com você, ruivinha. Não me desafie.- Ele a empurrou, mas Eliza mal se moveu do lugar. E as outras três.

—Minhas protegidas. Se quer ousar tocar nelas, traga seus homens e me mate primeiro.- Eliza rosnou.

 

—Eu não acho que isso seja uma boa ideia.- Anna pensou meio alto.

—Protegidas?- O ruivo riu- E o que estão fazendo no Reino Lobisomem? Até eu sinto o cheiro forte das humanas. Virgens, eu presumo.

 

—Na verdade...- Sarah começou.

—Agora não.- Eu a repreendi.

 

—São Sarah e Lua Herbert. Deve ter ouvido o nome delas. Irmãs da Princesa Sakamaki. Filhas da antiga princesa feiticeira Molly. Parceiras de dois príncipes Sakamaki.- Eliza deu passos a frente.

—E a outra?- Ele questionou.

 

—Não é de família importante. Mas você ainda não tem direito de encostar um dedo nela antes de me matar.- Ela brigou.

—Parece fácil.- Ele tirou sua lança das costas.- Vai encarar mesmo, mocinha?

 

—Ainda não acho uma boa ideia...- Anna sussurrou.

—Eu já estou aqui, não estou?- Eliza empunhou sua faca de bronze.- Meninas, se afastem. Eu cuido dele.

 

—Mas...- Eu comecei.

—Minha irmã me mandou aqui com o único objetivo de proteger vocês. Se essa é minha tarefa, então farei ela mesmo que eu morra!

 

—Ah pronto!- Sarah reclamou.

Enquanto Eliza estava distraída, o homem passou a lança pelas pernas dela, a fazendo cair de costas com um gemido de dor.

 

—Olha só, de repente ficou calada!- O ruivo riu.

Ele chutou o estômago dela, a fazendo contorcer.

 

—ELIZA!- Sarah gritou.

—Longe!- Eliza pediu- Eu... cuido…

 

Tinha sangue na boca de Eliza. Ou talvez no nariz. Eu não tinha certeza, já que tinha se espalhado por todo o rosto.

—Disso...- Eliza grunhiu.

 

E de repente foi como se o ar mudasse.

Eu senti o chão quase tremer. Passos de manada pareciam vir na nossa direção.

 

De repente, lobos cor de rosa apareceram na distância, correndo como se fossem uma única unidade.

—Pera, que?- Anna estava confusa.

 

—Fundadores... Mas por aqui?- Sussurrei.

O homem pareceu se assustar com os lobos que vinham na direção dele.

 

—Mas o que... Bruxa?- Ele olhou assustado pra Eliza, que levantou a cabeça.

Seus cabelos adquiriram o tom mais vermelho possível e pareciam flutuar mesmo sem vento.

 

Já seus olhos estavam dourados. Mas não só dourados. Eles brilhavam. Parecia realmente com as orbes de um lobo.

—Vá embora...- Ela pediu, sua voz meio tenebrosa.

 

O homem, que não era bobo nem nada, saiu correndo, chamando seu grupo enquanto gritava coisas como "Bruxa" e "Maldição"

Os lobos não pararam de correr atrás deles.

 

E então Eliza caiu de volta no chão.

—ELIZA!- Sarah correu até o lado dela.

 

Eliza abriu os olhos, que agora voltaram a sua tonalidade normal. Assim como seus cabelos.

Ela olhou pra gente, mas foi interrompida de falar alguma coisa por uma crise de tosse.

 

Um pouco de sangue saiu de sua boca, mas provavelmente era só resto da batalha.

—Você tá bem?- Eu peguei uma toalha da minha mochila e passei em seu rosto, percebendo como ela estava suando frio.

 

—O que aconteceu?- Ela disse, fracamente, como se lutasse contra a vontade de tossir de novo.

—Você não lembra?- Anna estava aterrorizada.

 

Eliza negou com a cabeça.

—Gata...Temos muita coisa pra te contar.- Sarah nos olhou.

 

Estávamos todas com medo.

O que diabos havia acontecido?

 


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