A Garota dos Meus Sonhos escrita por Foster


Capítulo 2
02. Um incidente e um gancho


Notas iniciais do capítulo

Oieee, aqui estou com mais um capítulo desse nenê que agora começa a engatinhar um pouco haha
Não comentei antes por pura distração e muito nervosismo e ansiedade em postar a história logo, mas na capa temos ele, nosso Scorpius raiz, o Bertie maravilhoso Gilbert (fui apaixonada por ele durante uns bons anos) e a nossa nova Karen Gillan, a Abigail Cowen (amo que ela vai ser nossa Bloom, socorro).
Quero agradecer a todo mundo que comentou no último capítulo, amei saber o que estão achando! Um comentário mais incrível que o outro ♥ Vocês são maravilhosas, sério!
Os títulos fazem referência a algumas estruturas de roteiro de histórias cinematográficas, mas também literárias, então fiquem e olho hehe
Vejo vocês nas notas finais (tenho algumas coisinhas pra contar)!

Playlist da fanfic: https://open.spotify.com/playlist/5WApc53CnzwWmZ5l3u2u3H



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02. UM INCIDENTE E UM GANCHO

...

— Scorpius! - Albus me chamou mais alto, fazendo com que eu me sobressaltasse no sofá. - Deixa isso aí, cara. - ele pausou o filme e leu a sinopse que apareceu na tela. - Uau, é o filme da sua vida, por acaso?

— Muito engraçado. - comentei entredentes enquanto me levantava para desligar a TV manualmente. Estava precisando parar mesmo, porque as horas consecutivas assistindo a esses filmes estava me deixando com dor de cabeça. 

No meu breve cochilo acabei sonhando que era perseguido por todas as protagonistas dos filmes que assisti, então a inconveniência habitual de Albus com suas tentativas de me irritar até vieram a calhar. Mas eu não o agradeceria por isso, estava tentando fazer com que ele parasse de me importunar só por diversão, algo que aparentemente era impossível, e contar que ele havia de uma maneira torta me ajudado só favoreceria a encheção de saco. 

— Nossa, você levou esse lance das comédias românticas realmente a sério. Há quantas horas você está aqui? 

— Desde ontem. Fiz algumas pausas, mas no total deram quase 15 horas. Eu ia completar 15h32 com Ruby, mas eu dormi, então agora vou ter que ver de novo.

— Cê tá brincando. - Albus me encarava como se eu fosse uma espécie de extraterrestre. - Não dá pra alguém assistir tanta coisa assim direto.

— Albus você assistiu a 15 horas seguidas de The Office só para participar daquele desafio idiota. 

— Hey. - ele apontou o dedo para mim, mastigando a tampa de uma caneta qualquer. Só esperava que não fosse a minha. - Valia 5 mil dólares.

— Albus, era só para quem era dos Estados Unidos. Você fez isso porque um Youtuber idiota propôs o desafio que eu sei. Você pode achar que não, mas eu ouço tudo que você fala enquanto joga Fortnite com seus amigos. 

— Ia ter um prêmio no canal. - ele resmungou, procurando alguma coisa pelo chão. Deveria ser a noção. 

— Ah é, o quê? 

— Uma caneca igual a do Michael. - falou um pouco envergonhado, enquanto se abaixava para olhar debaixo do sofá. - Ah, está aqui. - fiquei com medo do que ele arrastaria de lá, mas felizmente era só o chinelo dele. Da última vez que fiquei fora tinha sido um prato com resto de pizza, então não me julgue por ficar aflito.

— Você encontra isso em qualquer loja. Ou pode comprar online.

— Scorpius, você sabe que eu não confio nessas coisas. - era em partes verdade, porque Albus tinha certeza de que roubariam seus dados. Ele era muito antenado na parte de segurança digital, inclusive, pois da única vez que precisou comprar alguma coisa com cartão de crédito na internet - um presente para Nina, devo ressaltar - surtou quando a entrega atrasou um dia. 

Ginny Potter ficou indignada quando viu na fatura do banco que o filho havia feito uma compra online para uma garota que ainda nem era sua namorada, mas era resistente em fazer o mesmo quando se tratava da mãe. 

A verdade é que Albus era mão de vaca demais. Era um viciado em sorteios, cupons e promoções, e lia todas as especificações que ficavam escritas em letras pequenas. Não sou de exagerar, mas eu realmente perdi a conta de quantas vezes ele brigou com algum estabelecimento por fazer algo que feria os direitos dos consumidores. Também parei de contar quantas vezes ele conseguiu algo de graça por isso. 

— A questão é que eu sou um mestre em maratonas. Sei exatamente qual posição encontrar no sofá, qual o intervalo ideal entre os episódios que posso me levantar para fazer um lanchinho e ir ao banheiro. Já você nunca faz maratonas.

— Você que pensa. Sentar e ficar escrevendo assim que acordo e parar perto de ir dormir não é maratona pra você?

— Claro que não, isso é trabalhar demais. O conceito de maratona é você ficar praticamente inerte só recebendo informação. 

— Na verdade, o conceito de maratona não é nem uma coisa nem outra. É…

— Antes que o senhor literal comece a atacar, vou vazar. - me cortou bagunçando meu cabelo. Revirei os olhos, suspirando para não xingá-lo. 

— Você vai comprar o presente da Mia? - perguntei, lembrando-me de como Albus era esquecido e sempre deixava tudo para última hora. Ele fez que não. 

— Amanhã eu vejo isso. 

— Amanhã não vai dar tempo… - observei, julgando-o totalmente com o olhar. - Temos que estar lá às 18h. 

— Xi. Relaxa. Você é estressado demais, Scorpius. Até parece que eu iria me esquecer ou me atrasar pro aniversário da minha própria prima. 

 

 

— Puta que pariu! - o grito ecoou do quarto de Albus e só não me assustei porque fazia mais ou menos meia hora que eu estava só esperando ele se ligar na situação. Eu poderia ter avisado? Poderia. Mas era um troco pela enorme bituca de cigarro que encontrei de novo nas minhas plantas. 

— O que foi? Percebeu que o aniversário é em duas horas? - conferi meu relógio de pulso com tranquilidade. Eu poderia estar absorto na nova leva de filmes que eu havia selecionado, mas eu era extremamente pontual. 

— Sim e eu ainda não comprei o presente. Por que não me avisou? 

— Você realmente não aprende. - ralhei cruzando os braços. - Te avisei ontem e hoje também. Mas você estava em uma call. Seus “só mais cinco minutinhos” viram três horas com facilidade, Albus. O que eu posso fazer? Estou no meio de uma pesquisa de campo aqui. Mas ao contrário de você, eu sei me programar. - falei enquanto os créditos de Ruby Sparks subiam. Eu estava irritado por ter dormido no meio, então deixei ele para o final da minha lista do dia, que havia sido menos radical em quantidade que a última, só que mais repleta de romances água com açúcar. Devo dizer que Ruby foi um fôlego bom em meio à tanto chororô desnecessário. Por que as pessoas insistiam em complicar tanto as coisas que seriam facilmente resolvidas com um diálogo? Eu realmente não conseguia entender. - Vou começar a me arrumar, é melhor não se atrasar.

— Scorpius, você demora tanto pra se arrumar que eu vou voltar e você não vai ter nem terminado de passar sua roupa. 

Não preciso nem comentar que, por mais que eu tenha ficado um bom tempo deixando minha calça e minha camisa bem passadas e intactas, Albus demorou a retornar. Liguei cerca de cinco vezes e nada.

Nina chegou perfeitamente no horário que disse que viria para nos buscar e ele ainda não tinha aparecido.

— Meu Deus, o Albus sempre faz isso. - murmurou raivosa quando a ligação possivelmente caiu na caixa postal novamente.

— Você é uma pessoa muito paciente, Nina. - observei, enquanto tentava ajeitar as mangas da minha blusa.

— E você então, que mora com ele? - ela bufou, mas riu em seguida. - Estou é feliz que não aceitei a proposta do Albus em resolver dar o presente juntos. Imagina ele não acha? Eu detesto chegar de mãos abanando, ainda mais que não sou totalmente íntima da Dominique. - resmungou, sentando-se no sofá e vendo minha lista escrita de filmes. - Uau, você realmente foi fundo nisso. Não terminou Ruby Sparks de novo? - ela indicou que eu não havia riscado o nome da lista ainda.

— Terminei. Mas não sei, o filme ainda está muito fresco na minha mente. Preciso pensar um pouco mais sobre ele.

— Imaginando se alguma assassina dos seus contos tomou vida e anda te perseguindo por aí sem você saber? - Nina gargalhou e eu neguei com a cabeça, rindo um pouco. Se algo do tipo acontecesse eu seria obrigado a mudar de identidade, pois eu tinha uma mania de colocar vilões muito... Radicais... 

Felizmente era só um filme.  

— Scorpius, vamos! Nina vai ficar brava se chegar e eu não estiver… - Albus praticamente berrava e arfava, adentrando a sala. Parou de chofre ao ver a namorada sentada no sofá, encarando-o como se fosse matá-lo. 

— Pronto? - ela arqueoou a sobrancelha pra ele, de braços cruzados. - Albus eu te falei a semana inteira que você tinha que ter comprado o presente da Dominique antes.

— Sim, Nina, eu sei. 

— Mas se sabe por que não fez?

— Sabe o que é, eu me enrolei…

— Sei, sei muito bem. Sei até demais, Albus Severus. - ela o olhava com firmeza e tive que resistir à vontade de anotar o quão o amor poderia deixar as pessoas… Passivas? Bem, era como Al estava no momento, parecendo um cãozinho aterrorizado e arrependido por ter decepcionado o dono. - Vai logo se trocar. 

— Volto em um segundo. Me desculpe. - ele deixou um beijo rápido em sua bochecha e, para minha surpresa, Nina sorriu. Não parecia verdadeiramente brava. O amor deixava as pessoas… Abobalhadas. 

No caminho não pude deixar de pensar que, aos poucos, eu conseguia traçar paralelos mais concretos das comédias românticas e até mesmo dos livros clássicos de romance com a relação de Albus e Nina. Era cômico como eles tentaram algo despretensioso depois de uma longa amizade, mas, quando menos esperavam, se viram totalmente rendidos um pelo outro.

 

 

Dominique havia escolhido o bar em que seu cunhado trabalhava para celebrar o aniversário, já que, dessa forma, seria possível fazer um desconto bom nas bebidas. Eu até reconhecia alguns colegas de curso, no entanto só era amigo próximo de Mia, Al e Nina, o que me fez ficar um pouco afastado por um bom tempo. Dominique até tentou me incluir nas conversas, falando que eu era o famoso veterano que havia publicado um livro - já que eu fazia questão de me esconder pelos corredores - e vez ou outra passava para checar como eu estava, mas ela tinha muitas pessoas para socializar e não havia nem conseguido abrir meu presente. 

Não que fosse algo negativo, pois o meu era, disparadamente, o mais singelo dali. Era uma edição rara de capa dura de Alice no País das Maravilhas que eu sabia que Mia estava atrás há algum tempo. Sempre que íamos em sebos ela perguntava por ele. Ao contrário de Albus eu não tinha receio em fazer compras online e agradecia imensamente ao senhor Davies por ter me recomendado ótimos sites para encontrar preciosidades como aquelas. 

Quanto à companhia de Al e Nina, bem… Eles já precisavam me aturar em diversos momentos, então eu daria um tempinho para os dois, até porque Nina parecia alta demais e Albus ocupado cuidando dela.

Aquele ambiente na realidade me serviu como inspiração. A forma como os casais dançavam ou tentavam flertar um com o outro por meio de olhares atravessados pelo salão ou por meio de um drink oferecido pelo bartender eram táticas incrivelmente comuns, por mais que parecessem coisas só de filme.  

Mas eu sabia que metade das pessoas que estavam ali não queriam nada certo de verdade, só uma aventura para chamar de sua e alguns momentos para suprir carência. Até agora eu não havia sentindo falta de ter um relacionamento amoroso, mas todas essas pesquisas me faziam questionar como seria sentir tudo aquilo. Como seria amar e ser correspondido.

— Não vai beber nada? - Teddy, o primo de Mia - além de cunhado - e Al, me perguntou após eu pedir um quinto guardanapo, a fim de escrever minhas anotações antes que eu as esquecesse. 

— Não sou de beber. - torci o nariz, lembrando das vezes que me dei mal por conta de álcool e ele riu. 

— Vai ficar a noite toda em um bar sem beber? Aliás, você veio aqui para trabalhar? - Teddy tentou olhar minhas anotações, mas eu as escondi, pigarreando. - Me diga do que gosta que eu vou lhe fazer um drink.

— Não sou de beber. - repeti. Ele era tonto? Talvez a tinta azul tivesse afetado o raciocínio dele ou a quantidade de álcool que ele inalava ao preparar as bebidas. - Não sei do que gosto. 

— Não falei de bebidas. - Teddy riu pelo nariz, limpando o balcão com álcool assim que uma garota que estava perto de mim se levantou e eu agradeci internamente por isso. - O que você gosta de fazer?

— Bem… - deixei minhas anotações de canto por um instante, ajeitando meus óculos. - Escrever, obviamente. Mas também gosto de plantas. Eu teria mais, se pudesse, mas o apartamento não é tão grande e já flagrei o Albus jogando bitucas de cigarro nelas uma vez e até mesmo café gelado. Gosto de mexer na terra, na verdade. Apesar de… - eu o encarei, parando de falar, mas acredito que ele compreendeu que eu queria dizer sobre minha mania de limpeza. - Bem, também é satisfatório para mim limpar coisas. Depois de mexer nas plantas eu gasto uns bons minutos com isso. E… Eu gosto da chuva. Odeio que não seja possível deixar a janela aberta durante a chuva, se não tudo molha. E gosto do cheiro que ela deixa no asfalto quente, depois. Mas são momentos raros, pois nunca está realmente tão quente a ponto desse cheiro ficar no ar. A raridade é que faz o cheiro se tornar mais único ainda. 

— Uau, você realmente é um escritor. Bem detalhista.- ele comentou rindo e eu me ajeitei na cadeira, um pouco desconfortável. Quando me perguntavam algo eu respondia da melhor forma possível. Simples. - Não estou reclamando, que fique claro. Dominique disse que você era diferente. De um jeito bom. E um excelente escritor também. É tudo verdade. - comentou com um sorriso enquanto pegava algumas garrafas. - Além disso, com alguns artistas na família eu sei que vocês podem ser bem intensos quanto aos sentimentos. - eu gostaria de saber ser intenso a respeito de relacionamentos, isso sim, ou caso contrário meu romance não sairia nunca. 

— Você não faz parte dos familiares que Mia anda negociando meus autógrafos, então? 

— Talvez eu venha a ser depois de hoje. Mas não, ainda não li nada seu. Sei que alguns da família curtem bastante. Se você der uma olhada por aí, vai encontrá-los. - ele terminou de higienizar um copo e colocou-o na minha frente, voltando a preparar a tal bebida misteriosa. 

— Oh, não sei se estou em um bom momento agora. - indiquei minhas anotações. Quando eu estava imerso em algo não conseguia de fato me doar em uma conversa. Estava, inclusive, prestes a me levantar para algum lugar mais calmo quando Teddy finalmente serviu meu copo com um líquido meio amarelado. Consegui identificar o cheiro de limão, mas nada mais que isso. 

— Beba um pouco. - Teddy sorriu, finalizando com uma fatia de limão siciliano. - Tenho um palpite que vai ser bom para sua criatividade. 

Não era ruim, apesar de descer quase queimando. O limão era forte, realmente, mas parecia mais uma explosão cítrica na minha boca, com um tom levemente adocicado no final. O calor que preencheu meu corpo e até gostei da sensação.

Sabia que seria errado pedir mais, porque eu era extremamente fraco para bebida por não ter o hábito - não à toa já dei alguns vexames. Mas não consegui evitar. O gosto quase agridoce me despertou. Eu estava escrevendo freneticamente e podia ouvir Teddy comentando sobre minha imaginação a cada copo novo que me servia. 

Ruby, do Twenty One Pilots, estava tocando, e não pude deixar de pensar em quantas músicas com esse nome não deveriam existir. No trailer do filme, Kaiser Chiefs embalava a narrativa. E Foster The People, uma das minhas bandas favoritas, também tinha uma música com esse nome. Curiosamente eu não havia conhecido nenhuma garota com esse nome na minha vida, mas aparentemente era um nome bem comum e, para ser sincero, eu não conhecia lá muitas garotas. 

O som estava ficando abafado e minha visão mais turva a cada minuto. Antes que eu pudesse terminar o quinto copo senti a urgência de ir ao banheiro. As luzes amarelas me deixavam confuso, a música soava distante e eu tentava tatear meu bolso em busca de meu álcool em gel. Derrubei o frasco no chão, me xingando por isso e ao abaixar para pegá-lo bati a cabeça com força na pia. 

Tudo ficou escuro. Exceto… Exceto pelos olhos azuis. Azuis feito enormes safiras. Não. Mais azuis que isso. Como se fosse sequer possível, conseguiam ser mais azuis e mais brilhantes que o mar, que o céu… Que qualquer coisa no mundo. 

— Você está bem? Você está me ouvindo? - abri os olhos com dificuldade. Tudo ainda estava turvo, escurecido, mas eu conseguia focalizar os olhos azuis. E eles pertenciam à garota mais linda que eu já havia visto no mundo. 

Meu ouvido zunia. Tentei chacoalhar a cabeça para ouvir as coisas com mais clareza, mas parecia impossível. 

— Ruby? - minha voz não era mais nada que um fio. Eu estava tentando perguntar se a música Ruby ainda estava tocando, mas a garota se parecia com a Ruby Sparks do filme. A cor dos olhos e do cabelo eram as mesmas. Ela sorriu, os lábios cheios rosados se formando em uma linha fina cobrindo os dentes brancos levemente tortinhos. 

— Pode me chamar assim. - franzi o cenho com a resposta. 

— Você se chama Ruby? 

— Você está melhor? - ela ignorou minha pergunta, prendendo os cabelos ruivos em um rabo de cavalo. - Quantos dedos vê aqui?

— Dois. - respondi analisando suas feições. Seu rosto era oval, com o queixo bem demarcado. Seu nariz era pequeno e suas bochechas eram um pouco grandes e ficavam ainda maior quando ela sorria. E seu olhos… Eram grandes. Eram hipnotizantes. 

— E agora? - sua voz era como uma melodia. 

— Nada. - falei, ainda perdido em sua beleza. Ela deu uma risadinha, roncando levemente no final. Não pareceu constrangida, mas parou de rir, pigarreando. 

— Ok, acho que você está bem. - pensei em falar alguma coisa, mas a dor de cabeça me atingiu em cheio e precisei me deitar. Senti suas mãos quentes em meu rosto e um arrepio foi inevitável. Minha pele formigava por onde ela percorria os dedos. 

Enquanto mantive meus olhos fechados as orbes azuis dela pareciam tatuadas na minha retina. O som de sua risada se repetia inúmeras vezes, como se estivesse em looping. Eu não via mais nada a não ser ela, eu não ouvia mais nada a não a voz dela. Aquilo só poderia ser um sonho, mas eu realmente queria que não fosse.

— Scorpius. - a voz estava distante. Eu não queria dar atenção de onde ela vinha. Queria continuar admirando a beleza da garota. - Scorpius. - estava mais próxima e eu podia notar as orbes azuis se esvaindo, assim como som de sua risada. - Scorpius! 

Cai da cama como uma pedra, abrindo os olhos assustado. 

A primeira coisa que vi foram os pés de Albus, ridiculamente brancos e com a unha do dedão do pé direito preta por conta de machucados do futebol. Franzi o nariz me levantando. Ele estava desfocado, então busquei meus óculos na minha escrivaninha, sem sucesso.

— Você perdeu seus óculos, cara. - ele cruzou os braços, se apoiando no guarda roupa. - Você está melhor? Quando te achei você estava um caco. 

— Nem me lembre. - massageei minhas têmporas e o galo gigante na minha testa. Perfeito. - Tenho calafrios ao pensar que fiquei estirado no chão do banheiro até me encontrarem.

— Do que cê tá falando? Te encontrei no balcão, desmaiado. - Al me encarava com o cenho franzido e eu paralisei por alguns momentos.

— Não… Eu estava lá, mas depois tive um acidente no banheiro. Olha. - mostrei o galo e ele fez uma careta.

— Bem, quando eu te achei cê estava no balcão e quando foi levantar caiu. Deve ter ganhado o galo nessa hora.

— Não. - me levantei, ignorando a dor. - Eu… Ruby me socorreu no banheiro.

— Ruby? 

— Sim, você não a conhece? Deve ser alguma conhecida da Mia. 

— Scorpius, acho que você bateu a cabeça forte demais. 

— Será que… - parei, olhando pela janela. Estava chovendo. - Acho que foi um sonho então… - mas não parecia um sonho. Parecia real. Seus olhos, sua risada, sua respiração, sua voz, seu toque. Tudo parecia ridiculamente real. 

— Isso que dá ficar assistindo tanta comédia romântica. - ele comentou rindo pelo nariz e eu franzi o cenho. Mas é claro… 

Corri até a sala, ligando o computador. 

— Você está muito estranho. Não é melhor ir ao médico? - Al estava sério, o que era totalmente incomum, ou seja, ele estava verdadeiramente preocupado com meu comportamento.

— Um segundo. - busquei o filme no catálogo e lá estava. Mas não… Não era a garota que eu vira ontem a noite. Era ruiva de olhos azuis, sim, mas a fisionomia era totalmente diferente. E a minha Ruby não tinha franja. Minha Ruby… Balancei a cabeça, afastando o pensamento. 

A dor voltou mais forte ainda, como se fosse possível, e precisei me apoiar na cadeira para não cair. 

— Nunca vi você abusar tanto do álcool. - Al observou quando já estávamos de volta ao meu quarto. Ele me ofereceu um copo e um analgésico. Me ajeitei na cama, engolindo com agressividade o comprimido. A dor tornava impossível deixar meus olhos abertos. - Se você tivesse ficado minimamente perto de uma garota, acredite, eu iria saber. - ele riu, mas parou assim que viu que eu estava realmente mal. - Dorme mais um pouco, se você não melhorar vamos ao médico, ok? - fechei meus olhos, a voz de Albus ficando cada vez mais longe. 

Quando abri os olhos novamente, Albus não estava mais lá e minha dor de cabeça tinha ido embora. Antes que eu pudesse pensar em me levantar eu a vi sentada na cama, olhando para mim. 

— O que você está fazendo aqui? 

— O mesmo que você. - comentou rindo e eu franzi o cenho. 

— Eu estava dormindo, você estava dormindo também? 

Ela pareceu não ouvir o que eu havia dito. Tinha em mãos minhas anotações e, por algum motivo, não quis tirá-las delas. Acho que eu estava precisando de uma opinião de fora.

— Você tem uma visão bem interessante sobre o amor. - comentou com a sobrancelha arqueada enquanto lia minhas anotações desorganizadas nos papéis. - Como se cada gesto necessariamente tivesse alguma intenção por trás. 

— Mas o amor não é isso? - questionei, me ajeitando na cama para poder vê-la melhor. A luz do sol oriunda da fresta da janela entreaberta refletia em seu cabelo, que brilhava como cobre. Ela virou-se para me encarar com os olhos azuis reluzentes. - Um conjunto de atos com intenções por trás? 

— Não vejo dessa forma. Esses gestos, os pequenos toques que você descreve… São quase que imperceptíveis para quem pratica. É quando estamos tão imersos em algo que… Não percebemos quando levamos a mão para fazer um carinho singelo ou... Quando é praticamente inevitável roçar os braços ou as pernas… É simplesmente querer estar junto, tocar e sentir. É o amor transcendendo os limites da consciência. Se manifestando de maneira física quase como um reflexo do corpo. Como se fosse simplesmente natural ou… Totalmente necessário.  

 Por um segundo eu só consegui fitá-la, absorvendo cada palavra como se minha vida dependesse daquilo. Havia sentido no que ela dissera. Era crível. Era natural. Era o que eu via em meus pais e até mesmo em Albus e Nina. Mas, ao mesmo tempo, parecia ser algo tão distante para mim que não consegui conter uma careta.

Sorri de canto, encarando seus cabelos caindo como cascata em suas costas e balançando com a leve brisa que vinha juntamente com a luz do sol. Era uma visão de tirar o fôlego. 

Recostei-me na cama, aconchegando-me nos travesseiros e nas cobertas. Meus olhos ardiam, pois queria me lembrar de cada detalhe daquele efeito em seus cabelos, mas conforme foram pesando, não consegui evitar e fechei-os. 


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Notas finais do capítulo

Vou precisar acelerar as postagens, então o próximo deve sair na quarta e o outro na sexta. Se algo mudar, eu aviso no meu Twitter.
Aqui está o trecho da divulgação, como vocês puderam perceber, dos dois discutindo um pouco sobre o amor hihi Estou curiosa sobre a teoria de vocês a respeito da nossa ruiva misteriosa. Se vocês forem teorizar nos comentários, juro que vou me controlar a respeito dos spoilers hahah
Agora algumas curiosidades:
1. Eu amo todas as músicas de nome "Ruby" que mencionei, então vão aí os links delas para vocês:
*Ruby - Foster The People (olha de onde veio o meu Foster aí): https://www.youtube.com/watch?v=Hlqgt9y_WOA
*Ruby - Kaiser Chiefs (a primeira com esse nome que ouvi) https://www.youtube.com/watch?v=qObzgUfCl28
*Ruby - Twenty One Pilots (essa descobri por um acaso, recentemente, mas estou gostando bastante) https://www.youtube.com/watch?v=UjQiJAaN8eU
Vocês possuem alguma favorita? Apesar de eu gostar de todas a do Kaiser Chiefs é dona do meu coração.
2. O desafio do The Office realmente existiu, mas era muuuito mais suave. Consistia em assistir 15 horas da série (o que equivale a mais ou menos 45 episódios de 201, o que é "suave" kkk) em até nove dias, com o porém de que deveriam se atentar a detalhes como quantas vezes a Phyllis fala do Bob Vance da Refrigeração Vance e coisas do gênero kkkk Quem conseguisse ganharia 5 mil de uma empresa. O site pra quem quiser ver: (https://www.usdish.com/news/get-paid-to-watch-the-office). Eu achei isso simplesmente genial e se pudesse me inscrever seria maravilhoso. O que são 15 horas de maratona, não é mesmo?
3. Esse capítulo é um oferecimento da Calculadora de Horas Online, sem a qual eu não teria sido hábil o suficiente para calcular quanto tempo o Scorpius gastou em sua pesquisa básica.