Antares escrita por Tahii, éphémère


Capítulo 6
Nós fomos feitos para quebrar


Notas iniciais do capítulo

[Tahii] OIEEEEEEEEEEEEEE! Tudo bem por aí, pessoal? ♥

Obrigada a todos os lindos comentários, aos novos leitores que estão chegando, e, é claro, pelo carinho de vocês ♥ ♥ ♥

Hoje os agradecimentos especiais vão para a Dorinda, que fez eu chorar logo de manhã com a recomendação maravilhosa. Fiquei sem palavras ao ler, meu coração ficou quentinho e uma sensação maravilhosa me deu fôlego para esses dias conturbados. Muito, muito, muito obrigada! ♥

Amanhã postaremos o último e eu não estou sabendo lidar com isso! Tem sido maravilhoso escrever essa história com a Quldditch, ver esses dois lindinhos apaixonados, receber todo esse carinho de vocês... Espero que gostem do capítulo! O título não é muito encorajador, mas tenham fé nos astros, ok? ♥

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— Eu não acredito em você, Rose Weasley!

Rose piscou, atordoada, desviando a atenção do livro para olhar ao seu redor. Por alguns instantes considerou estar ficando louca, já que a biblioteca estava vazia naquele domingo, mas o sussurro da voz parecia vívido demais, carregado de um falso tom acusador, meio divertido, típico de Dominique. Antes de voltar a ler as páginas amareladas de um capítulo sobre a Teoria da Numerologia Moderna, sentiu o corpo todo estremecer mediante o toque gélido de dedos finos sobre os seus ombros. 

— Você acha que pode se esconder para sempre? — Dominique grunhiu baixinho, estourando em risadas ao ver o pulo da prima na cadeira. 

Santo Merlin — com a mão do coração, Rose tentava respirar fundo, os olhos arregalados observando a garota se escorar na mesa, ao lado direito. 

— Está assustada, heim? E bem escondida, devo dizer, levei um tempão para te achar aqui — um sorriso ingênuo permeava os lábios rosados da garota enquanto via seus ombros relaxarem. — Nem a Madame Pince soube dizer exatamente onde você estava. Pra que se esconder tanto?

— Sempre sento por aqui, Dominique — era uma verdade. Aquela cadeira, em especial, parecia ser mais confortável do que as demais e os livros das estantes não exalavam um cheiro ruim. — Estou atrasada com os meus deveres de Aritmancia. 

— É difícil ficar em dia quando se tem uma alma gêmea como o Malfoy, imagino — sem uma resposta convincente, Rose abaixou a cabeça, sentindo suas orelhas preencherem-se de calor. Ficaram em silêncio por alguns instantes, Dominique sem vacilar em seu olhar curioso. — Não vai me contar?

— Do que você está falando? — blefar talvez não fosse a melhor coisa a se fazer, mas se apresentava como única reação. Não tinha certeza se estava pronta para contar alguma coisa, até mesmo porque ainda parecia sentir os efeitos colaterais de tudo que havia acontecido no banheiro. 

— Não venha se fazer de desentendida pra cima de mim — sorriu, debruçando-se sobre a mesa. — Até o professor Baldrick viu tudo! Ele entrou no Três Vassouras com uma cara de quem tinha acabado de ver os alunos fazendo arte, se é que me entende, encostou no balcão junto com a Sinistra e o Flitwick e, pelo tanto que o rosto dela se iluminou, pensei que Júpiter ia colidir com a Terra só pra escutar a fofoca quentinha e espalhar para os outros astros. 

— Você bebeu hoje, Dominique? Seja sincera — ela tentou não achar engraçado, principalmente por sentir o rosto esquentar por tamanho constrangimento. 

Engoliu em seco ao cogitar a dimensão das fofocas, o corpo inteiro gelando só de pensar na vergonha que seria se o episódio do banheiro chegasse aos ouvidos de McGonagall. Mas, na reunião da monitoria daquela tarde, ela sequer fez menção a qualquer coisa relacionada ao equinócio, sua maior preocupação era ter certeza de que todos estavam respeitando o horário de dormir e que as detenções estavam sendo bem executadas. Com as orbes fixas na pilha de livros em sua frente, as sobrancelhas quase juntas de preocupação enquanto revisava tudo o que a diretora tinha dito, Rose sentia sua cabeça rodar. Era impossível alguém ter presenciado aquilo, nem mesmo Murta estava rondando por lá como às vezes fazia; isto é, a não ser que a sereia… Rose pôs a mão na boca, aterrorizada com a possibilidade de alguém ter visto tudo pelos olhos da sereia. Não, não, não, soltou todo o ar de seus pulmões, tratando de livrar-se da ideia. James Sirius teria sido expulso caso a sereia fosse uma delatora. 

Quando voltou a se preocupar com o olhar inquisidor de Dominique, entreabriu os lábios, sentindo as bochechas ferverem.  

— Ele pelo menos beija bem?

— O-o quê?

Scorpius, Rose — chiou, estalando os dedos na frente dos olhos da prima. — Ainda não acredito que vocês saíram do Três Vassouras para trocar saliva na frente de todo mundo, mas o que importa é ele beijar bem; ninguém merece uma alma gêmea que fique com a língua morta na hora ou sei lá.

Ah — o alívio que Rose sentiu fez seus ombros desabarem ao mesmo tempo em que um novo ponto de interrogação iluminou o rosto de Dominique. Ela estava se referindo ao beijo em Hogsmeade. 

Ainda era um pouco difícil de processar que tudo — do primeiro beijo dos dois ao lance no banheiro dos monitores — tinha acontecido no dia anterior, e como consequência, Rose se sentia irremediavelmente desorientada. Era impossível evitar a troca de olhares cúmplices com Scorpius nas vezes em que se cruzaram desde então, tampouco sustentar aquelas íris por muito tempo sem ter seus pensamentos entregues pelas reações estampadas na vermelhidão de seu rosto e no súbito tremor de suas mãos. Conseguia sentir a presença de Scorpius antes mesmo de vê-lo, e era inviável simplesmente estar no mesmo cômodo que ele sem que os pelos de sua nuca se eriçassem, ou que sua espinha gelasse, da lombar às omoplatas. Era impossível não pensar nos dedos de Scorpius passeando pela pele exposta das suas costas, do contraste daquela pele flamejante contra a sua, do rastro de beijos deixados sobre os seus seios, do toque de Scorpius… Por fim, ela acabava por desviar o olhar, tentando recuperar o ar e sua tonalidade normal. Sentia-se fraca, mas também não era como se não estivesse ao menos tentando

Visando livrar-se um pouco dessas sensações tão arrebatadoras, Rose decidiu passar sua tarde livre na biblioteca, fazendo deveres atrasados e adiantando o que precisava para os NIEMs. Quando Dominique invadiu sua zona de paz, já deveria quase ser a hora do jantar; um certo arrependimento a fez morder os lábios — deveria ter concordado com a ideia de Scorpius de se encontrarem em alguma sala abandonada de Poções. 

— Pela sua cara, eu acho que sim — uma risada calorosa preencheu aquela seção, despertando-a novamente para a realidade. 

— Sim, Domi, ele beija bem — soltando todas as rédeas que segurava, Dominique deixou escapar um gritinho animado e segurou Rose pelos ombros, balançando-a para frente e para trás.

— Preciso de mais detalhes, mulher! O que foi que aconteceu depois que vocês saíram? Como foi? Onde é que vocês se meteram que ninguém conseguia encontrar?!

— Alguém procurou? — arqueou a sobrancelha, causando um súbito desânimo na loira, que soltou os ombros da ruiva para cruzar os próprios braços. 

— Ah, por favor, né! Talvez ninguém tenha ousado seguir vocês, mas certamente todos estavam curiosos — Dominique suspirou, parecendo desesperançosa em conseguir todas as informações que queria. 

— Ficamos andando pelos corredores do castelo — por saber que não era a melhor mentindo, concentrou-se em começar a marcar as páginas dos livros para fechá-los. — Você sabe onde está a Rox? Tem uma frase no meu pergaminho de Adivinhação que não sei se está muito certa, sabe.

— Septima a chamou para organizar a Noite Estrelada deste ano — uma careta tomou conta do rosto de Rose, enquanto Dominique passava a mão no próprio cabelo. — Você esqueceu da Noite Estrelada, não é?

Ela estaria mentindo se dissesse que não tinha se esquecido. Com todas as preocupações acerca das marcas, das monitorias, de seu quase-relacionamento com Lorcan, de seus dilemas em ser uma única, estes que em tão pouco tempo foram substituídos pelas complicações de, poucas horas depois de encontrar a própria marca, descobrir em Scorpius sua alma gêmea… Não ter esquecido dos NIEMs já era um feito bastante notável.

A Noite Estrelada era tradição em Hogwarts, um evento importantíssimo que acontecia semanas após o equinócio de primavera. A forma que era comemorada variava de ano para ano, uma vez que o comitê era composto por alunos que ainda compunham o corpo discente e suas restrições eram poucas — ficar longe da floresta proibida, e evitar fazer algo próximo do lago. No entanto, tinha um pequeno detalhe como obrigatoriedade: alunos reunidos, observando o céu noturno e admirando os astros, que estariam maiores e mais poderosos que de costume.

Rose sempre sonhou acordada com a Noite Estrelada. Os dias de Natal eram seus favoritos porque, com toda a família reunida n’A Toca e umas doses de whisky de fogo após o almoço, os adultos sempre contavam sobre ela e suas experiências com almas gêmeas. Ainda que, com o tempo, a repetição tornou o assunto gasto e os jovens da família sempre se dispersassem, Rose nunca saía de perto; não se cansava das histórias de Gina, que acreditava ter enganado o destino e descoberto sua alma gêmea seis anos antes que o previsto. Harry, por sua vez, não carregava marca alguma —  aquela em sua testa era a única que o destino permitiu que tivesse, uma vez que não costuma escolher alguém duas vezes —, mas não restavam dúvidas à quem fazia referência o pomo de ouro que ilustrou as costas da mão esquerda de Gina. Havia ainda a história de seus pais, que apesar de não ter ocorrido numa Noite Estrelada — tinha uma guerra acontecendo, no final das contas —, era sua favorita; Ron, carregando um dente de basilisco em seu antebraço, percebeu só depois de cravar um deles em uma horcrux o que Hermione sabia desde que aquele cavalo de xadrez bruxo apareceu sobre as suas costelas. Harry descrevia o momento como “o mais bem-iluminado que a câmara secreta já tivera”, e adorava envergonhar o casal falando do beijo caloroso que presenciara.

— Já falta um mês para o fim das aulas?

— Quase — parecendo bastante interessada nas unhas que esqueceu de lixar, Dominique continuou. — Espero que a Rox me conte pelo menos quais são os planos para esse ano.

— Você é insistente, sabe que ela vai acabar te contando de uma forma ou de outra.

— Ah, tenho minhas dúvidas, ela não quis ler meu futuro nem uma vezinha…

— Isso porque você queria que ela visse quem é sua alma gêmea, o que é impossível. 

— E como é que vocês podem estar tão certas disso, se ela sequer tentou?!

Convencer Dominique às vezes era uma tarefa tão árdua quanto convencer Alvo. Muito menos irritante, era claro, mas muito difícil. Por isso, enquanto arrumava suas coisas para voltar ao dormitório e se preparar para o jantar, Dominique ficou em seu encalço, tagarelando sobre diversas descobertas relacionadas às marcas de outras pessoas, sobre o que fizeram em Hogsmeade após o sumiço dos dois pombinhos, e insistindo para que a prima contasse os detalhes do que acontecera.

Scorpius, por sua vez, não estava numa situação tão diferente, visto que era Alvo quem não tinha parado de falar o dia todo ao seu lado. Para ser mais exato, desde o momento em que se encontraram no Salão Principal na noite anterior, Potter não tinha sossegado, parecia impactado demais ou com toda a magia das marcas, ou com os encantos de Hubi Spinnet. 

Depois de terem saído do banheiro dos monitores, Scorpius acompanhou Rose até o quadro da Mulher-Gorda, beijando castamente seus lábios avermelhados antes de seguir para as masmorras e tentar processar tudo o que tinha acontecido. Tomou um banho demorado, vestiu-se e, enquanto esperava os garotos no salão comunal por longos minutos, ficou recostado no sofá, divagando em pensamentos. A grande parede de vidro diante de si, que dava para o lago, era um cenário bastante característico, que o lembrava de sereias; elas, por sua vez, o lembravam daquela que presenciou um momento particularmente tórrido do vitral, e sua cabeça, então, voltava para o banheiro dos monitores. Não sabia como era possível reviver com tamanha intensidade a sensação de ter Rose contorcendo-se sob seu toque, dos seus beijos abrasivos, do pulsar impaciente… Ainda assim, em intervalos, ele beliscava a ponte do nariz, tentando manter-se estável.

Crédulo de que os amigos já deviam estar comendo, ele foi sozinho pelos corredores, sorrindo para os quadros, fechando os olhos por alguns segundos, sentindo Rose novamente. Ao sentar-se na mesa da Sonserina junto de Megan e Higgs, conseguiu ter o campo de visão desimpedido para a ruiva do outro lado do Salão, o que colocou ainda mais em evidência, se é que era possível, o seu semblante apaixonado. Toda a aura romântica, porém, foi por água abaixo quando uma voz alta fez o rosto de Scorpius começar a esquentar. 

— ROMEU, ROMEU! ONDE ESTÁ, ROMEU? — Alvo vinha saltitante em sua direção, com o rosto quase rasgando de satisfação pelo mero prazer de atormentá-lo, acompanhado de perto por Adam, que por sua vez parecia se divertir com a cena. Ele levou a mão ao rosto, para levantar a armação que escorregava pela ponte de seu nariz, e aproveitou o movimento para deitar as costas da mão na testa, de forma dramática. — Onde foi após o Três Vassouras, ó, Romeu?! Eu e Lord Zabini procuramos por você até nos telhados desse castelo, mas não o encontramos. Estaria, por um acaso, com sua Julieta? — ele tomou o lugar à sua frente, empolgado pela atuação meia boca. Sem saber onde se esconder, Scorpius levou as mãos ao rosto.

— Potter — grunhiu baixinho, dando-lhe um chute por debaixo da mesa —, para de ser idiota. 

Ouch! Idiota?! Estou perguntando o que todo mundo ficou questionando depois do beijo em Hogsmeade — inclinou-se na direção do Malfoy com um olhar malicioso. — Eu não sabia que vocês gostavam de platéia — Scorpius arqueou uma sobrancelha, ligeiramente confuso.

— Não sei do que está falando — Alvo pendeu a cabeça, revirando os olhos. Sabia que tinha beijado Rose em Hogsmeade, mas lembrava-se de achar estranho o vilarejo estar tão vazio.

— Não adianta fazer essa cara de desentendido, Romeu, um monte de gente viu as marcas de vocês brilhando e vários garantiram ter visto o acontecido.

Acontecido? — ele quase engasgou com a própria saliva. Como era possível alguém ter presenciado o episódio do banheiro? Será que tudo não passou de um delírio? Sua boca entreabriu na medida em que um calor intenso começou a fazer seu corpo formigar. 

— O beijo, Malfoy. Já aviso de antemão, não quero saber desse acontecido que fez você ficar com cara de quem viu Voldemort — ele, Zabini e as garotas que ouviam a conversa deram risada. Scorpius suspirou, negando com a cabeça. — Só gostaria de saber sobre esse lugar super secreto. Rose sempre me encontra nos meus esconderijos durante as rondas, preciso expandir meu repertório, sabe?

Pelo resto da noite, Alvo fez questão de contar, detalhe por detalhe, tudo o que aconteceu depois que Scorpius e Rose saíram do Três Vassouras, ressaltando sua decepção quando Lily resolveu ir até sua mesa lhe aborrecer e Hubi acabou por convidar amigavelmente ela, Peter Corner, a Longbottom tagarela e o Scamander esquisito para ficarem por ali. Megan tinha um comentário a fazer sobre Lysander, que foi bastante pertinente ao Potter, tão concentrado quanto estava no que chamava de problemas que não economizava lamúrias. Ambos desataram a falar mal dos gêmeos, e como consequência, Scorpius logo se encontrou longe do foco.

Zabini foi o próximo a enfatizar seu descontentamento, e discorreu sobre a triste teoria de que sua marca poderia bem ser uma pinta; ela tinha um formato duvidoso, ficava perto do cotovelo e só era pouco maior do que uma pinta padrão. O que, pelas barbas douradas de Merlin, aquela coisa teria a ver com Lily Luna? Scorpius tentou consolá-lo de alguma forma, por isso contou um pouco — uma vez que nem se quisesse conseguiria contar tudo — de toda a mistura de sentimentos que experienciou naquele dia. Embora os dois tivessem prestado mais atenção do que o normal, não pareceram convencidos de que viveriam uma história com suas almas gêmeas; era apenas um sonho distante para eles.

Ao deitar-se para dormir, Scorpius ficou minutos a fio rolando sobre os lençóis, os olhos vidrados nos pontos escuros do quarto ao revisitar, mais uma vez, cada momento com Rose. Arrepiou ao sentir os resquícios dos beijos quentes depositados em seu pescoço, e deixou um suspiro escapar pelos seus lábios quando perdeu o fôlego, lembrando-se dos olhos brilhantes de, mais que paixão, desejo, algo legítimo despertado pelos toques compartilhados; jurou ouvir a voz embargada da garota gemer o seu nome outra vez, ao pé de seu ouvido. Um sorriso permaneceu estampado em seu rosto durante a madrugada, talvez pelos conteúdos de seus sonhos terem se tornado menos desesperados e zilhões de vezes mais realistas. Dormiu até tarde no domingo; o jogo contra a Corvinal havia sido o último da temporada para a Sonserina, e Megan disse que não precisavam ir ao campo caso não quisessem jogar uma partida. Scorpius não acordaria cedo para isso, de qualquer forma. Tentou usar seu tempo livre para arrumar os relatórios para a reunião com McGonagall, e apesar de ter concluído toda a organização, demorou mais do que pretendia; pensava numa forma de dar ao menos um abraço em Rose antes da reunião, sentindo o peito doer com a necessidade de estabelecer contato após tanto tempo afastados. Por sorte — ou, ironicamente, destino —, se encontraram num corredor anterior ao da sala; estavam dez minutos adiantados, e a julgar pelo fato de não haver sinal de vida em nenhum lugar por perto, eram os primeiros a chegar. Scorpius mal teve tempo de dizer algo antes que a ruiva se jogasse em sua direção, enlaçando seu pescoço com os braços para, então, pressionar seus lábios num beijo estalado. 

— Oi — ela disse sorrindo, encostando as pontas de seus narizes. 

— Oi — apertando-a em seu abraço, Scorpius sentiu o coração vacilar diante da ideia de ter de soltá-la. Não era o lugar mais propício para demonstrar todo o seu afeto contido, fomentado pelas horas intermináveis, mas que mal havia, se ainda estavam sozinhos? — Como passou a noite?

— Não sei dizer, mas certamente acordei mais perdida em você, e não achei que isso seria possível depois de ontem — mordendo o lábio inferior, Rose tinha um olhar terno. A risada do rapaz embalou seu coração, e a gentileza de acariciar seu rosto repercutiu uma sensação maravilhosa; aquela pele quente sob a ponta gelada de seus dedos despertou as borboletas de seu estômago, e no instante seguinte, ela já tremia, como um viciado provocado pelo seu vício. 

— Já que acordamos mais apaixonados e, suponho, com saudades — ah, Merlin, ela praguejou mentalmente, forçando-se a ficar atenta a cada palavra que saía daquela boca maravilhosa; desconfiava que, caso se distraísse por um segundo que fosse, focaria apenas no formato que aqueles lábios tinham, ou quão macios eles eram sobre o seu corpo —, por que não passamos um tempo juntos hoje?

— Porque — com o dedo indicador, Rose tocou o tórax do rapaz, trilhando um caminho lento até o seu maxilar — eu infelizmente tenho que colocar alguns deveres em dia. Toda essa emoção me deixou muito atrasada nos meus estudos para os NIEMs. 

— Você é a garota mais brilhante de Hogwarts, não é como se precisasse estudar tanto — com olhos pidões, Malfoy tentou convencê-la, depositando um beijo nos dedos que agora desenhavam o contorno de sua boca. — Só um pouquinho, Rosie — se ela tivesse dois centímetros a menos de pergaminhos para fazer, provavelmente teria sido convencida. Ainda assim, precisou fazer força para manter-se firme e negar com a cabeça.

— Hoje não posso prometer nada, mas amanhã eu tenho a última aula vaga… 

— Perfeito. Pode ser, então. Você quer dar uma volta nos jardins, tomar posse de alguma sala abandonada de Poções ou ficamos no banheiro dos monitores? — sem conseguir conter o riso, Rose pareceu derreter nas mãos dele, cedendo à vergonha. Uma falsa ingenuidade estampava os olhos cinzentos do Malfoy, que não desviavam dos seus.

— Você é terrível — foi a última coisa que disse antes de desvencilhar-se dele e estender-lhe a mão, indicando com um gesto breve a sala onde a diretora os esperava.

Prestar atenção no monótono discurso de McGonagall já era um feito difícil por si só, em qualquer época do ano, mas naquela tarde em especial, Scorpius teve que se esforçar o dobro para dar o retorno de suas rondas, comentar sobre os alunos baderneiros e aguentar o descontentamento da bruxa em relação ao número de alunos cumprindo detenção, temendo não conseguir sustentar sua expressão séria e responsável na frente dos colegas monitores ou, simplesmente, ser pego observando Rose sorrateiramente. Seus pensamentos afoitos, sôfregos, o arrastavam para longe, para aquele banheiro no quinto andar, e eram tão altos que ele não se surpreenderia se alguém o ouvisse; queria que se danassem as formalidades e as pessoas presentes, queria jogar aqueles malditos papéis para o alto, queria subir no tampo da mesa e atravessar a sala, queria segurar aquela mulher pelo pulso e correr para onde poderia fazer o que lhe satisfizesse, queria tanto

Ao estender os relatórios para a diretora, suas mãos tremiam tanto que os papéis caíram pelo chão, e enquanto os recolhia, desfazendo-se em pedidos de desculpas, ouviu a risada tímida de Rose ecoar em seus ouvidos. Seu corpo inteiro estremeceu, e permaneceu sujeito a calafrios mesmo após; como era possível que uma voz tão melodiosa, tão suave, pudesse sequer existir? Como era possível que aquele tom pudesse ter uma dualidade tão destoante, provocada pelo seu toque? Sem conseguir respirar direito, batia o pé sobre o chão de pedra, impaciente.

Após cumprir todos os deveres impostos pelo distintivo brilhante de monitor, Scorpius reservou o período da tarde para abrir um livro sobre dragões da Noruega, torcendo para os astros convencerem Rose a atrapalhá-lo um pouco, além do que já atrapalhava em sua cabeça. Quando estava em paz no salão comunal da Sonserina, ocupando uma das melhores poltronas verde esmeralda, foi, de fato, interrompido, mas não por quem queria: Alvo chegou afobado, carregando nos braços o uniforme usado de quadribol, olhando para os lados com cautela excessiva, aparentemente desejando despejar alguma fofoca nos ouvidos de Scorpius, que apenas se encolheu na poltrona, temendo o que estava por vir. 

— Onde você estava? — ele questionou, e sem esperar por uma resposta, apontou com agitação para o dormitório, indicando que o amigo devia acompanhá-lo. — A cada dia fica mais difícil te achar nesse castelo. 

— Desde o quinto ano tenho reunião da monitoria aos domingos, Potter — fechando o livro, Scorpius expirou pesarosamente e levantou para acompanhá-lo. — Depois da reunião, vim direto pra cá, e fiquei lendo a tarde toda. 

— Trocou a Rose por... dragões? — franziu a sobrancelha conforme se curvava e tentava ler o título dourado que ilustrava a capa marrom. 

— Ahn, na verdade, ela disse que precisava estudar — deu de ombros, tentando parecer despreocupado. — Como não te achei para jogar xadrez, peguei isso pra ler. 

— Brilhante! Eu passei na cozinha para tentar comer alguma coisa, a Winky não ficou muito feliz em me ver por lá. 

— Por que não foi almoçar?

— Você nem faz ideia — tentando conter a animação, Alvo fechou a porta de madeira e jogou tudo o que segurava em cima da própria cama. Scorpius sentou na beirada do próprio colchão, bocejando. — Eu fui jogar quadribol com a Megan, certo? 

— Certo.

— Foi bom, inclusive, jogamos com um garoto da Lufa-Lufa visto que não tínhamos um artilheiro preguiçoso, sabe — depois de tirar os tênis e as meias, ele respirou fundo, levando as mãos à cintura. 

— Está começando a me encher com essa falação.

— Descobri uma coisa — ele fez sinal com os dedos. — E foi espetacular. 

— Hm — ligeiramente contagiado pelos brilhos por trás dos óculos sujos do Potter, Scorpius arqueou uma sobrancelha. — Desenrola, Alvo, porra. 

— Depois que tudo terminou, fomos para o vestiário passar uma água no corpo e tudo mais. Eu fiquei por último porque estava conversando com o garoto da Lufa-Lufa, aí quando eu entrei mesmo para tomar banho o Zabini já estava caindo fora, disse que tinha um compromisso inadiável com uma lufana. 

— Não estou vendo nada de espetacular até agora.

— É porque não teve. Eu tomei banho, me troquei e aí quem entrou no vestiário?

— Spinnet! — apesar da tentativa do Malfoy ter sido válida, Alvo negou e continuou com uma expressão maravilhada. — Não sei.

— Megan. 

— Por Merlin. Eu não vou perder as minhas orelhas por ouvir esse seu papo furado, né?

— Não, idiota — Alvo se jogou na cama do amigo, acomodando o travesseiro no pescoço. — Ela disse que o vestiário feminino estava sem condições de uso e que iria tomar banho ali. Como eu já estava de saída, não liguei, só faltava amarrar meus cadarços e já era. Só que aí ela começou a falar do que aconteceu entre você e a Rose, sobre como a maior parte de nós nunca vai achar a nossa alma gêmea e blá, blá, blá. Aí eu concordei, e perguntei como era a marca dela. Sabe o que ela fez?

— Te mostrou?

Sim. E sabe onde é a marca dela? 

— Não, e não sei se quero saber, para ser since-

— No quadril. Scorpius, foi a coisa mais sexy que eu vi na vida, quase desmaiei lá dentro — atordoado, Alvo passava a mão pelo rosto, sorrindo. — É um relógio meio esquisito. Se eu não estou enganado, serve para afastar os narguilês. 

Scorpius não sabia que diabos eram narguilês, tampouco o motivo das pessoas quererem mantê-los afastados. Ele era incapaz de compreender também a razão de tudo aquilo ter se tornado um grande evento para Alvo. Apesar das observações petulantes do Potter sobre a capitã não serem uma novidade — afinal, sempre se considerou um grande admirador —, ele estava estranho; extremamente eufórico, sorridente, falante, facilmente abatido por momentos melancólicos quando tocava no nome de Hubi Spinnet e subitamente animado por coisas aparentemente insignificantes, como marcas alheias. Claramente aquele relógio não fazia referência a ele, e mesmo assim parecia querer mergulhar de cabeça em alguma loucura que envolvesse toda a energia astral que levava os alunos, cada dia mais, em direção a um abismo. Diferente de Rose e Scorpius, nada mais restava aos demais além da sombra de um destino impiedoso. 

O desejo de sentir-se completo, além de latente, era manifesto. Os boatos sobre a conexão na Torre de Astronomia foram o começo de um incêndio que devastou o sétimo ano de Hogwarts; teria sido mais fácil para todos se nada tivesse acontecido, ou se, pelo menos, não fossem obrigados a presenciar os resquícios daquela noite. Qualquer ser vivente era capaz de enxergar a súbita paixão que havia embalado Rose e Scorpius, até mesmo o ar se condensava quando estavam no mesmo lugar, algum vento estranho deixava as coisas mais leves; e era bonito de se ver, embora extremamente desprazeroso. Talvez, a pior parte fosse essa: o amor era lindo e, mais do que nunca, se provava ser um privilégio para poucos. Naquele ano, eles foram os únicos a terem uma conexão, os únicos escolhidos, os únicos isentos de carregarem por anos o fardo da dúvida; já tinham encontrado sua metade, o que fariam com isso dizia mais respeito a eles do que aos astros. 

E, se fosse para falar com franqueza, o futuro tinha deixado de ser um peso para Scorpius havia tempos. Nada do que o incomodava antes, nenhuma dúvida que uma aula do sr Baldrick pudesse ter suscitado, fazia diferença àquela altura, nada se comparava à sensação de completude inebriante que experienciou no momento em que teve sua primeira conexão, naquele primeiro beijo e nos acontecimentos inesquecíveis do banheiro. Estava certo de que os dois eram maiores que qualquer coisa, afinal, tinham sido feitos um para o outro. 

Durante a aula de História da Magia, na manhã da segunda-feira, Scorpius elaborou uma carta para seus pais, contando sobre o equinócio e seus desdobramentos. Sua intenção era conversar com Rose sobre e enviar o envelope no dia seguinte; mal conseguia conter o sorriso, só de pensar na reação eufórica de Astoria. Por ter o segundo horário do período da tarde livre, resolveu ir até as masmorras guardar o pergaminho dentro do malão. Sentia-se leve feito pluma, como se seus passos não atingissem o chão e seu corpo levitasse pelo caminho; mesmo o cenário acinzentado do castelo parecia vibrante. O ar das masmorras, menos denso, fazia cócegas na ponta de seu nariz. A felicidade que experimentara em algum momento de sua vida anterior àquele momento parecia agora terrivelmente descabida, falsa até. Nunca se sentiu tão sereno, tão desprovido de medos, nunca sorriu tão fácil. Também nunca se sentiu tão disposto, mas com esse aspecto, ele não conseguiria se acostumar — não conseguir tirar suas tão preciosas sonecas o deixava aturdido, sem saber como ocupar as horas que lhe sobravam. Por isso, andava mais que o costume pelos corredores, divagando sobre tudo o que acontecera em um período tão curto de tempo.

Scorpius mal teve tempo de acordar de seus devaneios, ainda tinha o rosto estampado por um largo e enamorado sorriso quando sentiu um forte impacto lançar seu corpo contra a parede de pedra ao fim do corredor. Quase que instantaneamente, sua visão nublou-se. Enquanto suas córneas latejavam e seu ombro doía, viu uma silhueta se aproximar; não conseguiu encontrar sua varinha a tempo, tampouco pôde se proteger do soco que foi desferido em cheio contra a sua boca, seguido de uma série de chutes em suas pernas e um, em particular, em seu abdômen, que roubou todo o ar de seus pulmões. Embora conseguisse ouvir uma série de palavras chulas desconexas, não era o suficiente para identificar seu agressor. Sentiu o gosto metálico de sangue preencher todo seu paladar, provocando uma súbita ânsia de vômito; com a visão girando, o rapaz piscava com dificuldade, tendo uma oportunidade para forçar suas percepções a acordarem para a realidade apenas ao sentir mãos firmes puxarem a gola da sua camisa e erguerem seu corpo do chão. 

— Você não parece tão corajoso hoje, Malfoy — sibilou com ódio, usando da força bruta para lançar o sonserino de volta ao chão. — Onde está a sua tão querida capitã para te defender? Ou a porra da sua alma gêmea para fazer a sua marquinha brilhar?

— Scamander — Scorpius cuspiu o sobrenome ao finalmente reconhecer aquela voz, a respiração ainda afetada fazendo com que sua voz saísse baixa, aos tropeços. —, que porra é essa, seu imbe... — mais uma série de socos e chutes o interromperam; enquanto expelia o sangue que preenchia sua boca, ouvia, acima do zunido constante que prejudicava sua audição, os burburinhos do aglomerado de alunos que os assistia, mas não ousava intervir.

Cala a boca! — quanto mais Scorpius gemia de dor, mais motivado Lorcan parecia ficar. — Fica andando por aí com esse sorriso sujo na cara, estufando o peito… você se orgulha, não é, de roubar a minha namorada?! Se satisfaz com a minha humilhação, assim como aquela vadia da Creevey — com as mãos espalmadas, o Malfoy forçava o corpo para cima, e teria retrucado, caso outro chute não tivesse acertado seu abdômen; caindo sobre o próprio sangue, tossiu, tentando mais uma vez recuperar o ar. Lorcan parecia chorar de frustração enquanto desferia os golpes. — Não basta se engraçar com a minha namorada, não basta me derrubar da vassoura, você tem que trocar amassos com ela em público, não é?! Conexão uma ova, você só precisava de alguma desculpa para justificar o baixo rendimento. Monitor de merda, só fica com essa cara de otário, aposto que você e Rose aproveitam pra tirar o atraso à noite, quando o castelo está vazio, não é? Responde, caralho, tô falando com você!

— Você é louco — Scorpius sentiu as palavras lhe escaparem, e num ato impensado, segurou a perna que o chutava; Lorcan caiu de uma vez, batendo as costas da cabeça contra o chão e grunhindo, ainda mais raivoso. — Sua namorada? Sua humilhação? Eu não poderia ligar menos pra você ou pra como você se sente, cabaço. Mas porra, eu, ficar apanhando por causa desse conto de fadas que você construiu sozinho, na sua cabeça? Por favor, né.

Os instantes que se seguiram exigiram mais de Scorpius do que ele poderia proporcionar. Sem dizer nada, Lorcan colocou-se sobre os joelhos e saltou para cima do garoto abatido, um grito rouco, gutural, ecoando pelo corredor. Para se defender, o sonserino colocou os braços diante de si e segurou o rapaz pelos pulsos, seu rosto contorcendo-se pelo esforço que fazia para mantê-lo longe. Quando o Scamander vacilou, revidou o quanto conseguiu, mas o ritmo daquela briga tinha sido ditado desde o começo, e a desvantagem não demorou para voltar a acometê-lo. Lorcan agora estava sentado sobre a sua barriga, e tentava quebrar a defesa dos antebraços do Malfoy.

Então, a sucessão de socos cessou. Desorientado, sem muita noção de tempo, espaço e movimento, ele olhou em volta, para tentar entender o que acontecia; sua visão demorou até conseguir assimilar a variedade de figuras, silhuetas e movimentos, mas quando finalmente conseguiu enxergar com relativa clareza, abriu um sorriso lesado. Ali estava Megan, sob os olhares de uma multidão atônita, com uma expressão irada e movimentos firmes, batendo em Lorcan com brutalidade.

— Eu te avisei! — ela berrava, a poucos centímetros do rosto do corvino. — Eu avisei que se você encostasse um dedo no meu artilheiro você era um homem morto! Seu fodido.

Assistir mais daquela cena seria o ponto alto do dia de Scorpius, mas sua visão escureceu, e a última coisa da qual se lembrava, era dos gritos eufóricos do aglomerado de alunos.

 


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Notas finais do capítulo

[quldditch] E então, o que acharam?? Espero que tenham gostado aaaa ♥

Como a Tahii agradeceu, vou reforçar aqui nas notas finais: Dorinda, MUITO obrigada por essa recomendação que me roubou o fôlego e ainda não devolveu! Nos motivou em tudo, não apenas com a fanfic, e enfim, não acho que qualquer agradecimento seja suficiente!

Espero que estejam todas bem, e que aguentem as pontas nesses momentos difíceis e que fiquem por aqui, porque o final de Antares se aproxima!!!!! To com um misto de sensações que vocês não têm ideia, socorro.

Obrigada a todo o carinho de todas que tem nos acompanhado até aqui, e espero ver vocês amanhã, no desfecho dessa fanfic colaboração com a maravilhosa da Tahii. Beijão no coração de vocês ♥ ♥ ♥