Bella acordou um tempo depois. Com Renesmee internada e Billy morto, a única mão que ela conseguia segurar foi a de Jacob, que deixou a mão dormente enquanto Bella soluçava e chorava sem parar por seus filhos. Mesmo quando chegaram a sair do hospital, o luto de Bella era intenso e Jake também se sentia miserável pelos acontecimentos.

Não conversaram por semanas sobre aquele dia, era proibido sequer mencionar Billy. Bella chorou por meses, quase não tinha forças para cuidar de Renesmee, virou um fantasma em sua própria casa. Ainda assim, superou com o tempo a dor de perder um filho graças à vida de Renesmee. 

Jake também se apoiou na menina para sobreviver ao baque de perder o menino, que era tão seu quanto Renesmee. Visitava o túmulo do menino toda semana, em busca de uma saída para enfrentar aquela dor que assolava seu peito, tal como o de Bella. Renesmee foi de grande ajuda para os dois, porque esbanjava uma alegria tão intensa, um vigor pela vida que animou os novos pais de uma maneira muito singular. Através de sua alegria e luz, utilizaram da vida para atravessar a morte.

O pequeno descansava agora na cova da família Swan e seria eternamente lembrado por Bella e Jake que, imprescindivelmente, acendiam uma vela branca todas às quartas-feiras, dia em que o menino morreu. Era uma pequena homenagem que ofereceriam para seu pequeno menino, sem esquecê-lo apenas porque superavam aos poucos com a ajuda de sua irmã que resolveu ficar e iluminar seus corações.

Jake e Bella não poderiam dizer que a vida estava sendo fácil, mesmo com o luto se esvaindo aos poucos. Cuidar de uma criança e enfrentar o luto, bem como as despesas do hospital, não estava sendo fácil. Venderam o carro de Charlie e Jacob consertou uma velha picape, que não era muito segura e raramente era utilizada por Bella.

Ainda assim, os gastos eram altos demais e os amigos começaram a se desesperar. Tudo complicou quando Renesmee teve pneumonia, e Bella surtou pensando que perderia outro filho. Dias a fio ela passou no hospital, largando o emprego e Jake sozinho com as contas, orbitando a menina em busca de uma esperança, que ela ficasse. Rezando em todos os minutos, esperando que uma única esperança restasse naquele momento.

Não poderia acreditar que depois de tudo que lutou por aquela vida, perderia em um piscar de olhos. Contudo, Renesmee melhorou e foi liberada depois de um mês. A alegria de Bella, e Jake também, não podia ser medida quando a menina descansava calma e saudável.

O problema, porém, é que dessa vez os gastos do hospital começaram a se acumular aos tantos e nada poderia resolver o problema de imediato. Jake também estava sumido por uns dias, e sempre que aparecia evitava conversar com Bella ao máximo.

— Está escondendo algo? - A garota simplesmente jogou isso na cara do amigo enquanto jantavam.

Jacob ficou surpreso com a agressão repentina na voz de Bella. Arregalou os olhos e enquanto piscava de maneira confusa, respondeu:

— Não. Por que acha isso? - Uma sobrancelha se levantou, desafiando Bella a falar sobre aquilo.

— Por nada. - Mas Bella sabia que algo estava estranho, que não se encaixava.

Deixou quieta a história por um tempo, mas sempre matutando a ideia pelos cantos.

Um dia qualquer, pensou em seguir Jacob pela cidade, mas não sabia como disfarçar a perseguição com Renesmee ainda gritando e mamando a cada meia hora. Não sabia o que fazer, pois sentia que perdia o amigo sempre que deixavam aquele silêncio desconfortável se instalar na casa.

Por sorte, a casa era grande e Jake não dormia no mesmo quarto que Bella. Nunca estivera nos planos de Jacob que ele e Bella dividissem a cama, por isso investiu em um sofá-cama antes de Renesmee nascer. Para Jake, dividir a cama seria dar um passo no relacionamento deles que conturbaria tudo aquilo que construíram. Essa distância física impedia que Bella interrogasse o amigo e sofresse com o seu silêncio, por outro lado, afastava-os a todo momento.

Bella ainda estava com problemas para decidir como arrancar a verdade de Jake. Havia algo de estranho em seu súbito silêncio, na vida que se dissipava do rosto moreno através de palavras sempre ditas a ninguém em especial.

O amigo parecia um fantasma, e aquilo preocupava tanto Bella a ponto dela mesma se sentir culpada pelo que ocorria a Jake. Pensava, portanto, em liberar o amigo de sua vida, terminar a amizade e expulsá-lo de sua casa. Pensava em fazer com que Renesmee nunca mais fosse vista por ele.

Trincou os dentes quando Renesmee mordeu seu peito ao mamar, como uma bronca que dava na mãe por pensar uma besteira daquelas. Jake e Renesmee se amavam profundamente, a serenidade da menina era extrema quando era mimada e amada pelo pai. Bella nunca poderia sumir da vida de Jake com Renesmee, não apenas pela questão financeira, mas porque amava o amigo profundamente e não poderia tirar a filha dele apenas porque imaginava que ele estava cansado daquela vida.

Jake nunca reclamara de nada, sempre foi bondoso e muito tranquilo nos momentos da mais extrema dificuldade. Ele também enfrentou o luto pelo gêmeo que se fora, mas Bella não acreditava que aquele silêncio que já durava quatro meses, fosse apenas pelo menino. Não, havia algo.

Bella tinha pouco tempo livre agora, por isso pensava em apenas interrogar Jake assim que ele chegasse do trabalho. Dizer tudo o que imaginava sobre a vida deles e como ela se culpava pelo amigo estar naquela situação. 

Faria isso, diria a Jake que ele poderia ser livre. Afinal, era colocar a decisão na mão dele, de quem seria afetado. Se ele por um acaso decidisse partir de verdade, ela teria que aceitar. O coração dela, porém, doía apenas de pensar na possibilidade de perder Jake.

Sabia que a perda dele seria maior que a fuga de Edward, porque Edward fora maldoso com ela. Jake simplesmente escolheria não mais tolerar os seus problemas e traumas. O medo de Bella era simplesmente que Jake resolvesse sair de sua vida repentinamente. Assim, oferecer essa possibilidade antes que ele, de fato, se cansasse, parecia ser a melhor opção. Ao menos, aquela que menos magoaria Bella no fim das contas.

De forma muito lânguida, ela colocou Renesmee em seu berço, leu um capítulo do romance que estava gostando, mas nada absorvia da história, porque sua mente cismava em se concentrar em Jake e como doeria se ele fosse embora. Era a melhor opção, no entanto, Bella sentia isso.

Quando ouviu a velha picape no estacionamento, ficou em alerta para o que se seguiria. Sabia muito bem como iniciaria a conversa entre os dois. Esperou que ele entrasse e comesse algo na cozinha antes de iniciar o assunto. No entanto, para a surpresa de Bella, Jake gritou um “Olá” muito animado do andar debaixo, o que ele não fazia há muito. Não foi surpresa, então, quando ele subiu para o quarto dela, mas não sem antes checar Renesmee em seu berço.

— Precisamos conversar. - Dissera Jake quando a viu em sua cama. Bella arregalou os olhos… Seria possível que ele tivera a mesma ideia que a dela?

Ela assentiu com a cabeça muito lentamente, preparando-se para receber as notícias de que Jake finalmente estava cansado e partiria. O coração da garota já começava a apresentar algumas fissuras da dor que sentiria quando ouvisse que ele estava deixando ela e Renesmee. 

— Jake… - Bella tentou iniciar o diálogo enquanto ele se arrumava na cama, muito seriamente, mas sua voz falhou.

— Tenho uma oferta! - Ele simplesmente atirou isso em Bella, muito animado e sorridente. O medo de Bella começou a tomar conta de seu corpo e sua reação foi ficar paralisada. - Mas, antes, eu preciso da sua autorização. 

O rosto de Bella começou a empalidecer, todo o seu maior medo estava se concretizando naquele instante.

— Jake… Não vá. - A garota sussurrou para que apenas ele a ouvisse implorar por ele, como ela jamais fizera com alguém em sua vida.

— Para onde? - Ele parecia confuso agora.

— Não vai deixar Renesmee e eu? - A cor de Bella começava a voltar agora, menos preocupada, mas completamente confusa.

— Não sou Edward. - Jake fora extremamente seco com essa sentença, seu rosto demonstrando uma raiva incomum, talvez porque Bella fizera uma suposição tão boba e equivocada a seu respeito. - Mas nós podemos ir embora.

Era a vez de Bella ficar mais confusa ainda, ela até se beliscou, imaginando que aquele era um sonho muito estranho. Não precisou dizer nada para que Jake entendesse que aquela situação precisava de detalhes.

— Eu posso pedir transferência do banco para uma filial em Seattle. - Ele observava Bella com muito cuidado. - Estive pensando se poderíamos vender esta casa e nos mudar para lá, onde o salário seria melhor. - Observando-a com muito cuidado, ele aguardou por uma resposta de Bella.

Afinal, sabendo que aquela era a casa de sua infância e a única lembrança de Renée e Charlie, vender a casa não seria fácil.

— Mas… Mas as nossas contas… Eu… - Nenhuma frase parecia fazer sentido para Bella.

— Eu acho que conseguimos cobrir tudo com a venda da casa… Posso juntar minhas finanças para emergências mais graves e comprar um apartamento em Seattle para nós. Um grande e bonito, aconchegante. - Jake falava esfuziantemente, esperando que Bella entendesse seu ponto.

Infelizmente, ela entendia. Sabia desse fundo, mas nunca o quis usar antes, planejavam deixar para Renesmee e sua faculdade no futuro. Contudo, as despesas estavam muito altas desde o acidente na escada. Talvez o melhor fosse vender a casa, ainda que ela não estivesse preparada, de maneira alguma, para se livrar de seu lar.

Fora o lugar de boas memórias, eles poderiam simplesmente alugar. Ainda assim, ela sabia que era um tanto loucura a ideia de alugar, porque a venda certamente ofereceria mais conforto. Até encontrarem um comprador, poderiam ficar ali e construir um lar para Renesmee.

Ao pensar nisso, porém, Bella se incomodou. De alguma forma, não queria que Renesmee fosse criada naquele local, quando o seu verdadeiro pai a deixou sozinha para cuidar de uma única criança e a acusado das maiores atrocidades em nome do dinheiro. Talvez Jake soubesse disso e tentava livrar aquele peso dos ombros de Bella.

Sentiria falta daquela casa, o legado da família Swan. Recomeçar era a melhor ideia, resistir e curar as dores do passado que aquela casa evidenciava em cada canto. Bella sempre sentiria falta do menino que não pôde ter naquele lugar.

— Tudo bem. - Dissera simplesmente para Jake, sorrindo com a ideia de tão facilmente conseguir aceitar aquela ideia.

— O melhor de tudo é que com as minhas economias, podemos investir em uma lojinha artesanal para você.

Bella começou a chorar descontroladamente, de maneira tão súbita que Renesmee acordou no outro quarto e também chorava. Jake pegou a menina e voltou para Bella, consolando as duas, sabendo que aquilo significava uma mudança em suas vidas. Por isso, também chorava com a possibilidade de esquecer tudo aquilo.

A garota aceitara tudo muito facilmente, sem saber que também livrava Jake de seus próprios fantasmas. Leah, os sonhos da oficina e a morte do outro gêmeo atormentavam Jake todos os dias. Era uma possibilidade para ele também, ter uma família sem a eterna dor de suas perdas.

Os três choravam, sabendo que talvez aquele fosse o início de uma nova vida. Diferente e longe de tudo, longe de todos. Ambos sabiam que ficar ali, naquela casa, significava a mínima possibilidade de Leah e Edward voltarem para suas vidas. Em um novo apartamento, em outra cidade, não poderiam ser encontrados.

A possibilidade os animava e os meses que se seguiram foram uma bagunça completa. Não demoraram a encontrar um comprador, que pagou à vista pela casa, e ofereceu um valor inicial muito mais alto do que Jake e Bella queriam. Assim, aceitaram a proposta sem hesitar e deixaram a casa em menos de um mês. 

Bella empacotava tudo sozinha enquanto Jake passava a última semana antes da mudança completa em Seattle. Ele assinava os contratos com o banco e procurava apartamentos no tempo livre, mas ligava todas as noites por vídeo para falar com Renesmee. Ainda que ela não compreendesse uma palavra sequer do que Jake dizia, compreendia apenas o sentimento de carinho e dormia tranquila por receber aquele amor tão terno de Jake e Bella.

A fim de evitar mais um acidente enquanto estava longe, Jake se deu o direito de contratar uma babá para ficar com Bella o tempo todo durante aquela semana. Constantemente, a garota se beliscava pensando estar em um sonho com a facilidade que as coisas estavam se resolvendo depois dos últimos acontecimentos. Nenhuma despesa médica existia, mesmo não podendo se dar ao luxo de gastar mais com qualquer outra coisa por um tempo. A vida financeira de Jake e Bella estava estável no momento e teriam uma boa vida se soubessem utilizar bem o investimento na loja de Bella e o novo salário de Jake.

A ideia era encantadora, deixar os fantasmas para trás era a melhor opção para ambos. Sabiam que não seria nada fácil, mas com toda a certeza seriam felizes com Renesmee, principalmente se a menina não soubesse do passado conturbado de Bella. Afinal, a garota decidira nunca mais mencionar Edward na nova cidade, Renesmee nunca saberia de sua existência e para todos os efeitos, Jake era seu pai verdadeiro. Para Jacob, não fora um problema aceitar nunca mais nem pensar em Edward na nova cidade.

Por outro lado, Edward vivia na mente de Bella agora, como uma forma de fechar a história dos dois. Com lágrimas aos olhos, ela trancava a casa e seguia rumo ao aeroporto de Forks com Renesmee e duas malas grandes para se encontrar com Jake em algumas horas e começar uma nova vida. As lágrimas de Bella agora eram sua liberdade, sua juventude e seu recomeço.

As lágrimas agora muito tímidas, deixavam seus olhos aos poucos enquanto se arrumava no avião. Renesmee se aninhou no peito da garota, e era tudo que ela precisava nesse momento.