Revolution of the Daleks escrita por EsterNW


Capítulo 19
Escolhas audaciosas


Notas iniciais do capítulo

Ester:
Preparem suas pipocas, ajustem suas cadeiras, porque a hora tão esperada finalmente chegou!
Boa leitura ;)



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Uma sequência de palmas ritmadas começou a tomar conta de toda a prisão, parecendo vir de dentro das paredes, como alto falantes, e chacoalhando um pouco as estruturas. O som causou surpresa momentânea a todos, mas logo passou, com gente lutando e morrendo e gritando por todos os lados.

— O que acha que está fazendo? — Khayin foi o primeiro a se manifestar, tendo que elevar a voz para se fazer ouvido. — Temos que ir embora daqui, não piorar o caos.

— Eu apoio ela! — Monge ergueu a mão, como se fosse uma votação. — Uma trilha sonora é sempre boa. Apesar de achar que essa música não combina nem um pouco com um momento belíssimo como esse. Mau gosto como sempre, Doutora.

— Escutem! — Ela abriu os braços, postando-se no meio do grupinho, que por algum motivo estava conseguindo se manter alheio a todo o furdunço. — Nós não podemos simplesmente ir embora pela porta de saída e deixar os daleks para trás, lembrem-se que eles possuem anotações importantes sobre nosso povo, mesmo que não saibam interpretar corretamente. Mas uma hora eles conseguem um tradutor mais eficiente. Eu tenho um plano. — As palavras saíam quase como uma metralhadora, já que tempo era uma coisa que não tinham muito a disposição.

— Isso não faz parte do plano! — Khayin reclamou.

— Agora faz. — A Doutora apenas deu um olhar repreensivo a ele e continuou. — O motor de khartoum da Rani acabou vindo em boa hora.

— Ah, agora resolveu se aproveitar do meu motor — a outra Senhora do Tempo debochou.

— Sim, resolvi. — Com essa cortada, a Doutora voltou a despejar informações sem parar. — Eu, Rani e Drax, que são dois a terem melhor conhecimento na área, vamos montar o motor em um ponto estratégico do andar em que estivemos presos.

— O andar da direção, que os daleks tomaram conta — Romana adicionou.

— Isso! Rápida como sempre, Romana. — A Doutora incentivou, apontando para a amiga. — E enquanto fazemos isso, conto com a ajuda de vocês para tirarem qualquer dalek de perto, nos dando tempo para o que precisamos.

— E pra que a música? — Mestre inquiriu a única coisa que não estava clara até ali.

— Ah, isso? Sabem como é, eu sou um pouco espalhafatosa. Precisava de algo para servir como contagem regressiva, para sinalizar a todos quando deveríamos estar de volta a esse andar. Muito melhor que uma voz robótica qualquer ditando números, não é mesmo? — soltou com um sorriso empolgado de orelha a orelha.

— Continua tendo mau gosto. — Monge cruzou os braços.

— Eu vou ir embora, nada disso fazia parte do plano. — Khayin se afastou do grupo, pegando uma arma de um dos guardas-daleks qualquer, jogada pelo chão. — Quem quiser, que venha comigo.

O Senhor do Tempo simplesmente deu as costas, a barra do sobretudo farfalhando e levando embora seu ar noir.

— Nem tudo sai como planejamos, Khayin — a Doutora gritou para o outro, que estava longe demais para ouvi-la, ainda mais com todo o caos em volta. — Bem, ainda podemos fazer isso. Quem está comigo?

— Correr o risco de gastar nossas regenerações? — Mestre adicionou.

— Depois de tanto trabalho para me livrar daquele bigode... — Monge passou a mão pelo rosto, sentindo algo que não estava mais lá.

Talvez a Doutora precisasse de um pouco mais de persuasão... Ou talvez Corsário pudesse fazer isso por ela, já que conseguia ser realmente intimidadora quando queria, principalmente com uma espada em riste.

...

A música continuava soando, enquanto a Doutora iluminava o caminho com a luz de sua chave de fenda sônica. Rani e Drax vinham logo atrás dela, a Senhora do Tempo trazendo seu motor de khartoum nos braços, de um tamanho comparado ao de uma bateria de um carro terrestre. O trio havia se separado dos demais na interseção onde Doutora, Ahmar e Arijwani estiveram em um impasse anteriormente. Por sorte, Romana parecia conhecer com alguma precisão aqueles corredores e foi capaz de orientar os demais, que possuíam apenas uma arma dalek, para iluminar e se defender, e uma lanterna, que a Doutora caçou em um de seus bolsos sem fundo. Decidiram por não levar todos até lá, deixando Ahmar, Arijwani e Corsário para trás. Eram muitos a se arriscarem.

— Não vejo porque não usar uma contagem regressiva normal — Rani reclamou, colocando o motor no chão.

Já que usar o salão usado como laboratório pelos daleks para plantar um explosivo seria loucura, optaram por um dos corredores com as celas, em que estiveram até aquela revolução começar. Estava completamente vazio.

— Eu achei uma boa ideia — Drax comentou, tirando uma ferramenta de um dos bolsos de seu macacão. — Aquela voz de “sessenta, cinquenta e nove” costuma encher o saco uma hora. 

— Você sempre carrega essas coisas por aí? — Rani questionou, observando o Senhor do Tempo retirar mais ferramentas, fios e uma pequena parafernália dos bolsos maiores por dentro. 

— É o meu trabalho — ele respondeu com um sorriso.

— Certo, prestem atenção — a Doutora interrompeu. — A música está chegando ao final e repetirá mais duas vezes, então temos por volta de dez minutos para montarmos o motor e sairmos todos desse andar. Precisamos ser rápidos.

— E não sermos interrompidos pelos daleks no processo — Drax comentou quase em um sussurro, mais concentrado no próprio trabalho.

— Os outros dão conta do recado — a Doutora retorquiu e apontou a chave de fenda sônica, iniciando sua parte e sendo a única fonte de luz para que pudessem enxergar.

Mesmo com mais reclamações de Rani — o que era de praxe —, os três começaram a trabalhar em conjunto, correndo contra o tempo.

Enquanto a música começava a tocar mais uma vez, Monge arfou, virando mais um corredor e sendo seguido por Mestre e Narvin.

— Por que não fomos embora com o Khayin mesmo?

— Cale a boca e corra, seu idiota. — Mestre trincou os dentes e olhou para trás, vendo Narvin atirar contra um dos daleks que os perseguia. — Isso é inútil. É como atirar com uma pistola contra quem tem um rifle — cuspiu as palavras e voltaram a correr.

— E o que mais podemos usar contra eles? — Narvin rebateu. — É isso ou as mãos vazias.

Mestre torceu o nariz com a resposta seca e encontraram-se em uma nova interseção, diferente daquela que deveria ser o ponto final para o grupo.

— Isso não estava nas orientações da Romana — Monge disse o que era óbvio para os outros. 

— Rápido, a cela — Mestre pensou rápido, empurrando os outros dois para uma das antigas celas, ainda com a porta escancarada. — Silêncio.

Com as costas contra a parede da lateral, o trio quase segurou a respiração quando o dalek passou, a luz azul de seu olho sendo a única iluminação no corredor totalmente às escuras. Narvin escondeu a arma atrás das costas, tentando ocultar qualquer coisa que denunciasse a presença de alguém ali.

— É horrendo segurar isso — o Senhor do Tempo reclamou em um murmúrio.

— Não era você que estava dizendo... — Monge começou, porém foi interrompido por Mestre.

— É a nossa deixa. — Guiou-os de volta para o corredor, vazio e ainda no pleno breu. Narvin iluminou o caminho por onde o dalek passou. Estava vazio. — Daleks... Caem em um dos truques mais velhos do universo.

— Exterminar — a voz robótica soou ao longe.

— Talvez eles saibam desse truque — Narvin comentou, a arma pronta para atirar.

— Vocês que se virem com isso, pra mim chega! — Monge deu um ultimato e empurrou os dois. — Sai da frente!

Correndo pela mesma direção em que vieram até ali, os outros dois Senhores do Tempo não tiveram opção senão segui-lo. A música chegava ao final pela segunda vez, começando novamente com a mesma sequência de palmas ritmadas.

Monge continuava correndo na frente e tendo como destino apenas a interseção que os tiraria daquele andar, quando trombou com Romana, derrubando-a no chão. Os outros dois chegaram logo atrás.

— Senhora. — Narvin foi solícito, oferecendo a mão para que a Senhora do Tempo se levantasse. Mesmo que ela tenha se recomposto em segundos, indicando que não precisava. 

— Obrigada — ela agradeceu e logo os três começaram a segui-la. Romana estava disposta a seguir com o planejado e não iria parar. — Os daleks estão se reagrupando e vindo em nossa direção, precisamos agir rápido.

Por saber como os demais seriam ruidosos, Romana optou por se aproximar sozinha do salão usado como laboratório, segundo o descrito pela Doutora. Como não confiava nem um pouco no Monge e muito menos no Mestre, sabendo que poderiam dar para trás e abandoná-los a qualquer instante, pediu para Narvin ficar de olho naqueles dois. Mesmo a contragosto — e preocupado — por deixar Romana se aproximar sozinha de tantos daleks e com apenas uma lanterna em mãos, acatou ao pedido.

— Certo, é agora que nós vamos embora daqui? — Monge questionou aflito, pronto para correr o mais rápido que suas pernas conseguissem. 

— Vejam, os três estão ali. — Narvin apontou para os demais abaixados em volta do motor, ainda com as ferramentas e envoltos em um ou outro fio. Romana sabia mesmo para onde estavam indo.

— Cuidado — Rani reclamou quando um dos quatro chegou, parecendo que ia colidir com eles. — O motor de khartoum é extremamente frágil, o mínimo impacto é o suficiente para dispará-lo.

— E iremos fazer isso de maneira segura, quando estivermos todos longe daqui, através da chave de fenda sônica da Doutora — Drax informou. — Acabei não comentando antes, mas nada mal para um design feito por você mesma.

O ruído característico de sempre se aproximava, além do mantra de “exterminar” sendo entoada por uma dezena de daleks. Ninguém iria querer ficar no caminho quando eles se aproximassem.

— Essa é a nossa deixa — a Doutora informou, segurando a chave de fenda com uma mão atrás das costas, como se fosse uma surpresa pronta para ser revelada a qualquer instante.

— Não precisa falar duas vezes. — Monge correu para o outro andar da prisão, mais interessado em salvar a própria pele.

— Faça sua parte, minha cara. — Com uma reverência exagerada e teatral, Mestre seguiu o outro em passos calmos, até confiantes e firmes.

Após certificar-se do trabalho bem feito e orgulhosa do que seu motor de khartoum seria capaz de fazer, Rani tomou o mesmo caminho que os outros dois. O eco de “exterminar” dos daleks se aproximava ainda mais, amplificado pelas paredes metálicas da prisão. O corredor continuava na penumbra, pouco dando para ver o que tomava forma à frente.

— A música está acabando, Doutora — Romana disse, pronta para guiar os Senhores do Tempo restantes para fora dali. — Vamos nos afastar e deixar que o motor destrua os daleks. — Ela estendeu a mão, mas a Doutora negou, segurando mais firmemente sua chave.

— Logo me encontro com vocês, meus amigos. — Virou-se de frente para o lado oposto do corredor, de onde seus inimigos viriam. — Digamos que ainda tenho algumas coisinhas para dizer.

— Estamos esperando por você — Drax informou.

Doutora sentiu quando a presença do trio se afastou e logo ela estava sozinha na escuridão, junto do motor ao seu lado. O breu não durou muito, pois logo a pequena frota de daleks iluminou o ambiente com a luz azulada de seus olhos metálicos, ainda o mantra de exterminação ecoando. Qualquer um se desesperaria àquela altura, mas a Doutora apenas andou um pouco para trás, calculando mentalmente seus próximos passos.

— Daleks! — Ela saudou, abrindo os braços e tentando fazer sua voz soar mais alta do que a deles. — Sinto que eu e meus amigos devíamos um pedido de desculpas pelo caos que causamos, mas então parei e pensei... — Levou a mão vazia ao queixo, fingindo ponderar algo. — Vocês é que invadiram Shada, propriedade do nosso povo, logo, vocês é que devem um pedido de desculpas. Além de devolver o que não pertence a vocês e, sim, estou falando da placa que conseguiram bancando o Indiana Jones sabe-se lá onde.

— Preparar para exterminação completa do prisioneiro — o dalek do meio bradou com sua voz robótica.

A Doutora riu e apontou com a chave de fenda para o motor a alguns passos de distância de seus pés.

— Eu não faria isso se fosse vocês, ou vamos todos pelos ares. — Os daleks pararam de avançar, provavelmente tomando ciência do que aquela peça se tratava e logo a ordem se espalhou em conjunto, com alguns sequer chegando a fazer a curva do corredor. — Bem, agora que tenho a atenção de vocês, gostaria de dizer algumas palavrinhas. São poucas, pois não quero gastar o tempo de ninguém aqui.

Ela colocou as mãos na cintura, marcando seu lugar e demonstrando toda a sua autoridade. A Doutora não estava sentindo nem um pouquinho de medo daqueles seres. Ainda mais quando ela tinha o controle e nada a perder.

— Primeiro, preciso informar que precisam melhorar o sistema de tradução de vocês. Sei que gallifreyano antigo é um idioma extremamente difícil e quase impossível de se aprender, mas sério que vocês não perceberam? O mais importante? — Ela sorriu e inclinou o corpo, em desafio. Silêncio. — Vocês não podem misturar DNA gallifreyano com os seus. Vocês não são humanoides, não mais, não passam de... — Torceu o nariz, pensando no que se encontrava por trás daquelas armaduras que tanto aterrorizavam por todo o universo. — Dessa vez os cybermen tiveram mais sorte. E alguém que sabia ler gallifreyano, é claro.

Apertou com mais força a chave de fenda sônica, a raiva subindo pela garganta. Não apenas pela lembrança que veio com sua simples frase, mas com tudo o que fizeram. Aprisionar seu povo? Em Shada, a prisão mais do que segurança máxima, feita pelos Senhores do Tempo e para Senhores do Tempo...

— Devo parabenizá-los pela audácia dessa vez — continuou com sua linha de pensamento, agora em voz alta. — E apenas uma coisa: quanta falta de criatividade! Esperava mais de vocês, daleks. — Riu sozinha.

Com isso, a Doutora correu, ouvindo quando os daleks gritaram “exterminar” em coro e dispararam contra ela. Sabendo que era agora ou nunca, pois poderia ser atingida em um segundo, e tudo iria por água abaixo, ela pressionou o botão em sua chave de fenda sônica. E tudo foi pelos ares.

 


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Notas finais do capítulo

Ester:
A música que a Doutora colocou pra tocar foi a mesma que ela lembrou enquanto estava presa, no capítulo 17.
Não temos cenas do próximo capítulo porque vocês não vão precisar esperar uma semana para lê-lo, pois será postado daqui a pouco.
Vejo vocês no último capítulo ;)