Revolution of the Daleks escrita por EsterNW


Capítulo 13
As falhas do Google Tradutor




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O mundo ao seu redor pareceu se tingir de laranja. Ou talvez vermelho. Ou talvez todas as cores de uma vez, junto das estrelas. Ou talvez sequer estivessem pensando, com seu cérebro mais ocupado em registrar a dor em cada pedacinho do seu ser. Ouviu gritos, mas talvez fossem os seus próprios.

Quando qualquer coisa que não fosse dor parecia não existir mais, tudo parou. Foi aí que pareceu voltar a perceber onde estava. Seus olhos se abriram, sequer percebendo que estava os fechando com tanta força. A sala foi voltando ao foco aos poucos, com tudo embaçado e parecendo ter virado de ponta cabeça. 

Os gritos continuavam, mas inumanos. Tomando consciência aos poucos, pôde ter noção dos demais daleks acudindo o “mãozinha”, que a trouxera até ali e se dignou ao experimento. Sequer sabia que um dalek era capaz de atingir aquela nota com seu sistema de fala robótico. Parecia que ia explodir os tímpanos de quem ouvisse. Sua vontade de levar as mãos presas aos ouvidos foi cessada quando a armadura do dalek explodiu, de dentro pra fora. No interior dele não restava mais nada, apenas cinzas. Fumaça saía, impregnando a sala com um cheiro de queimado terrível. Torceu o nariz.

— Leve-o para a sala B — o dalek líder ordenou e dois dos guardas empurraram o que restou da armadura explodida para fora dali.

— Não é o primeiro a dar errado então, hein? — a Doutora provocou, a voz saindo rouca pela garganta que parecia arranhada. Pigarreou, tentando contornar a sensação. — Quantas vezes já tentaram isso? Até esgotar as regenerações dos Senhores do Tempo que trouxeram até aqui? 

— Levem os prisioneiros de volta para a cela — o líder ordenou mais uma vez, ignorando-a completamente. 

Então silêncio, enquanto os guardas soltavam os dois Senhores do Tempo das amarras que os prendiam às cadeiras de metal. Ahmar continuava desmaiado, o rosto magro e abatido de sua nova regeneração. Será que o roubo de sua energia regenerativa durante o processo estava relacionado a isso? Mil e um pensamentos correram pela mente da Doutora, principalmente quando ela pousou os olhos sobre a placa dourada no centro da sala, ao lado do cilindro transparente, onde a energia regenerativa ia se apagando aos poucos. 

— Resolveram roubar artefatos antigos dessa vez? — a Doutora continuou provocando, tendo seus tornozelos finalmente livres. — Não sabia que estavam zanzando por aí feito caçadores de tesouros. Por acaso andaram assistindo Indiana Jones? — Apenas silêncio e sua mão direita livre. — Ah, estão fazendo o tipo caladões, hein? Achei que fossem ficar se vangloriando por qual fosse o su...

— Informações irrelevantes ao prisioneiro — o dalek líder se manifestou finalmente.

Na sala — que mais parecia um laboratório — tudo continuava como sempre. Daleks operavam máquinas adaptadas, alguns guardas-daleks faziam o trabalho que os seres metálicos não podiam, painéis com números, painéis com imagens da prisão... A Doutora conteve a vontade de virar o pescoço para tentar ver o que se passava com os demais prisioneiros.

— Já que vocês estão tentando usar minha energia regenerativa, eu tenho mais que o direito de saber! Onde já se viu... — Mão esquerda livre. Foi erguida rudemente da cadeira. — Decidiram fazer experimentos em vocês mesmos com a energia regenerativa? — Ela deu uma risada anasalada. — Que falta de criatividade! 

Dois guardas passaram a semi arrastá-la e semi forçá-la a andar, já que tentava caminhar o mais devagar possível, na tentativa de memorizar o quanto pudesse daquele lugar. Toda e qualquer informação era preciosa.

— Um artefato gallifreyano, então? — Ela apontou com a cabeça para a placa a alguns metros de distância. Dado o que tentavam fazer, era óbvio a precedência daquilo. — O que recuperaram dessa vez? As anotações de Rassilon? Ele devia aprender que existe caneta e papel pra isso... Ouvi dizer que ele escreveu as melhores receitas em tábuas como essa. Há Senhores do Tempo por aí que matariam para consegui-las, pois dizem que Rassilon era um ótimo cozinheiro...

A Doutora continuou falando qualquer baboseira que vinha à mente enquanto a arrastavam na direção da saída. Ahmar estava na frente, praticamente arrastado pelos guardas, ainda inconsciente.

— Parem! — o Dalek líder ordenou repentinamente.

Os dois guardas que a seguravam pararam instantaneamente, arrastando-a pelo caminho inverso, aproximando-a da pequena plataforma onde o ser metálico estava. Os demais a ignoravam. Ahmar já estava sendo levado pelo corredor, sumindo de suas vistas.

— Diga o que sabe — o líder disse em sua voz sem vida.

Observando-o mais de perto, a Doutora pôde perceber diversos sulcos e outras imperfeições em sua armadura que parecia ter mais cor de cobre do que a dos outros. Por quê?

— Dizer o que? — a Senhora do Tempo inquiriu confusa. — Se interessaram pelas receitas de Rassilon? — Sabia que estava brincando com a sorte com tantas provocações. Mas a raiva que borbulhava dentro de si contribuía ainda mais para a postura que exalava deboche.

— As anotações de Rassilon.

— Ah, isso? — A Doutora soltou o ar pelo nariz, balançando a cabeça. — Bem, Rassilon anotou diversas coisas em superfícies diferentes antes de descobrir a existência do papel. Quem sabe o que se passava pela mente dele? — Se fez de desentendida, evitando compartilhar qualquer informação que fosse com os inimigos.

Se daleks tivesse algum tipo de expressão, aquele certamente estaria a olhá-la com as sobrancelhas e o cenho contraído em irritação. Exceto que daleks irritados matavam. Não que eles já não fizessem isso em qualquer ocasião. Devia ser relaxante para eles, quase como praticar yoga.

— Leia. 

A Doutora olhou para os lados, confusa, enquanto os dois guardas, que ainda mantinham seus apertos de ferro em seus braços, a arrastaram pela sala, forçando-a a subir os pequenos degraus que levavam ao topo da plataforma onde estavam o artefato e o cilindro, ligado a ele.

— O que? O Google Tradutor de vocês estava com problemas para traduzir gallifreyano, é isso? — ela debochou mais uma vez, com direito a um breve sorriso e balançar de cabeça.

Pelo canto do olho, tentava observar o painel de onde um dalek assistia às filmagens das diversas câmeras da prisão. Se corroía de curiosidade e ansiedade para saber o que aconteceu com os demais prisioneiros, principalmente com aqueles que tentaram fugir junto dela.

— Os fugitivos estão em isolamento. Logo serão testados — o dalek líder afirmou, percebendo para onde a Senhora do Tempo tentava mirar. Se tivesse alguma expressão, provavelmente estaria com um sorriso escarnecedor, rindo.

— E vai testar cada um de nós até conseguir o que querem? — A Doutora jogou a questão com firmeza, observando os demais daleks a ignorarem e continuarem com seu trabalho fazendo sabe-se lá o que. Apenas o líder parecia se entreter com ela. — E se esgotarem as regenerações de todos? É uma forma bem demorada e trabalhosa de se exterminar Senhores do Tempo...

— Os mais inteligentes irão servir — o líder afirmou categórico. 

— O que? Acham que os Senhores do Tempo mais inteligentes têm mais energia regenerativa do que os outros? — Ela riu anasalado outra vez. 

— Leia. — A ordem foi repetida.

Dessa vez, a Doutora optou por fazê-lo apenas por curiosidade, afinal, o que tanto estavam tramando? Seus olhos castanhos percorreram as linhas preenchidas pelas formas circulares que compunham o antigo alfabeto gallifreyano. Ao chegar ao final, tirou suas conclusões e finalizou com um sorrisinho de canto. Será que os daleks realmente estavam com problemas com o que quer que fosse que usaram para traduzir aquilo?

— Os cybermen já tentaram isso, sabe? Contra a vontade deles, mas... — A Doutora deu de ombros. Ou o quanto fosse possível com os dois guardas ainda a segurando. — Copiar a ideia dos outros é algo muito feio.

— Traduza! — o líder quase berrou para ela.

— Apenas o que vocês já deveriam saber. As descobertas de Rassilon sobre energia regenerativa, como aplicá-la, como manipulá-la e blá blá blá.

Silêncio. Exceto pelo barulho dos demais daleks se movimentando em seus trabalhos ininterruptos. O que tanto faziam? Algo relacionado à prisão? Ao experimento?

— Levem-na de volta para a cela.

Os apertos nos braços da Doutora voltaram a fazê-la caminhar novamente, descendo os poucos degraus da plataforma.

— Vocês realmente deviam melhorar o sistema de tradução da próxima vez! — a Senhora do Tempo ainda gritou, tentando sair por cima daquela. Mesmo que fosse ela a estar na posição vulnerável ali.

— Explique! — o líder bradou e os guardas pararam, como que em um comando mudo.

— Explicar? — A Doutora riu sem humor. — Ora, vocês é que me devem explicações! Onde estão meus amigos? — soltou sem sequer pensar direito.

Acabou de chamar Rani e Monge de amigos? Bem, não que ela pudesse ignorar que realmente tiveram uma amizade por longos e longos anos...

— Os inteligentes estão em isolamento.

Ela ergueu as sobrancelhas com a afirmação, finalmente prestando a devida atenção, agora que o mistério do artefato estava parcialmente resolvido.

— Os inteligentes? E como vocês sabem que eles eram os mais inteligentes daqui? Não me lembro de ter passado por teste nenhum...

— Vocês já foram testados — o líder interrompeu, sem sequer se mover de sua plataforma aquele tempo todo. — Foram os únicos capazes de pensar em um plano e vencer o controle neural.

O queixo da Doutora teria ido ao chão naquele instante, se ela não fosse mais rápida e continuasse falando, tentando manter algum diálogo. Teria muito tempo para ficar chocada quando fosse levada de volta para a cela com seus dois companheiros.

— Vocês sabiam! Rani nunca conseguiu desligar os microfones, vocês ouviram tudo o que dizíamos! — ela exclamou, compreendendo com rapidez.

Nunca tiveram um gostinho de liberdade que fosse. Sem poder pensar, condenados a um estado letárgico permanente, vigiados o tempo inteiro... 

— Levem-na de volta para a cela — o líder repetiu para os guardas. 

A Doutora simplesmente deixou-se levar para o escuro do corredor.


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Notas finais do capítulo

Ester:
Poxa Daleks, nem pra chamar um tradutor pra vocês? Olha quantos senhores do tempo têm disponíveis!
Bem bem, tivemos muita respostas nesse capítulo, inclusive, que nem tudo era tão simples quanto nossos personagens achavam...
Até mais, povo o/

CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO:

[...]

— Não diga isso, é claro que há! Nós... Nós vamos dar um jeito. Enquanto houver vida há...
— Esperança — a Doutora completou.

[...]

— Mais de mil — disse a sombra. — Ou menos de dez, não lembro, e posso ser muitos.
— Pois apenas se mostre como preferir.