Revolution of the Daleks escrita por EsterNW


Capítulo 11
Faces conhecidas




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O sol batia por detrás das suas pálpebras, aquecendo a parte de cima de seu corpo. Estava sentada, então? Onde estava sentada? E como havia sol ali, se estava em uma prisão no meio do espaço sideral?

Um vento soprou, carregando o cheiro de framboesa, chantilly e risadas conhecidas. 

— Você está bem, Doutora? — Teve a impressão de ouvir a voz de Yaz perguntar e se forçou a abrir os olhos, piscando algumas vezes devido à claridade. 

— Yaz? — ela balbuciou o nome da amiga, passando os olhos para o outro lado da mesa. — Ryan? — Suas sobrancelhas se contraíram em confusão e ela continuou analisando o cenário.

Uma mesa farta em doces estava posta à sua frente, com a Doutora na cadeira de cabeceira, ladeada pelos dois amigos, que a encaravam alarmados.

— Ela tá fazendo aquela cara — Ryan soltou entre um tom jocoso e preocupado, olhando de Yaz para a Senhora do Tempo.

— Eu, eu, eu não entendo! — A Doutora exclamou após gaguejar, olhando de um para o outro, que devolviam o olhar confuso para ela. — Não era pra vocês estarem aqui, era pra vocês estarem na Terra! Eu estou em Shada.

— Enxada? — Ryan a interrompeu, repetindo o que entendeu do final da frase.

— Nós não estamos na Terra, Doutora. — Yaz tentou acalmá-la, colocando a mão sobre a sua. — Você veio nos buscar e nos trouxe até aqui, lembra? — explicou com calmaria.

A Doutora abriu e fechou a boca várias vezes, tentando compreender o que se passava. Os pássaros cantavam, as nuvens dançavam no céu com a brisa e o sol brilhava até onde a vista alcançava... O que não era muito, já que as montanhas ao longe pareciam um pouco borradas, como um míope tentando enxergar à distância.

— Alguém quer mais chá? — Graham chegou repentinamente, trazendo junto de si um bule de porcelana decorado com flores. — Uma boa xícara de chá faz bem pra qualquer um.

Yaz e Ryan se animaram no mesmo instante, esticando suas pequenas xícaras na direção de Graham. A Doutora pressionou as palmas das mãos sobre o rosto, como se tentasse esfregar os olhos para acordar de um sonho. Ou pesadelo.

— Isso não é real! — exclamou exasperada.

— Tem certeza? Eu me sinto como se fosse bem real — uma voz a respondeu, carregada de troça, e a Senhora do Tempo ergueu o rosto, deparando-se com um novo ocupante na cadeira onde Yaz estivera.

Seus amigos haviam desaparecido, dando lugar a uma figura que não esperava ver tão cedo. Não depois do que ele fez.

— Você! — ela soltou entredentes.

— Eu! — Ele riu com seu jeito quase maníaco. — Olá. — Acenou, os dedos brincando para frente e para trás. — Preciso dizer que parece acabada, Doutora. — O Mestre capturou uma xícara de sobre a mesa, adicionando algumas colheres de açúcar. — Shada parece não estar fazendo muito bem para você. — Deu um sorriso de dentes brancos por trás da porcelana.

Mais rápido do que qualquer um poderia prever, a Doutora agarrou os braços do Senhor do Tempo, envoltos pelo tecido de seu paletó vinho. Misteriosamente, a xícara sumiu de sua mão, antes que se espatifasse no chão.

— Foi você, não foi? — ela intimou, segurando-o com firmeza e erguendo o próprio no tronco em cima da mesa. — Foi você quem me colocou em Shada, me responda!

— Ora, Doutora, nem tudo de ruim que acontece na sua vida é culpa minha. — Ele continuou sorrindo carregado em sarcasmo e puxou suas mãos do aperto da Senhora do Tempo. — Mesmo que eu gostaria que fosse. 

O Mestre gargalhou, ajeitando as mangas de seu paletó.

— Ignore-o. — Uma voz se manifestou, fazendo a Doutora virar a cabeça para o lado, deparando-se com os olhos escuros faiscando por trás das lentes dos óculos. — Você precisa focar no que é importante. Acorde!

— Você! — a Doutora exclamou, torcendo o nariz para aquela que dizia ser ela. Em que lugar no tempo, não sabia, já que não tinha lembrança alguma de ter sido aquela mulher em momento nenhum da sua vida.

— Você poderia ter dito “eu”, mas isso não é importante agora. — Ela soltou com certa ironia, ajeitando os óculos sobre o nariz.

A Doutora olhou para os lados, vendo que dessa vez restavam apenas as duas naquela mesa farta. Os seus arredores começavam a embaçar ainda mais, não conseguindo visualizar mais do que alguns metros de distância.

— Você precisa acordar — a outra Senhora do Tempo chamou-lhe a atenção, carregando a autoridade que parecia ser única daquela encarnação. — Agora!

Com uma rapidez impressionante, atirou-lhe o conteúdo da xícara na face. A Doutora arfou, como se não fosse meramente chá de framboesa que estivesse ali.

...

A Doutora continuou arfando, dessa vez sentindo algo duro contra suas costas. Estava deitada. Pôde ter plena certeza disso quando abriu os olhos, encarando o teto cinzento da prisão.

— Veja só, ela acordou. — Uma voz desconhecida a fez movimentar-se rapidamente, pondo-se sentada.

Ela encarou e foi encarada por duas figuras desconhecidas. Uma um homem ruivo e sardento, o que falou primeiro, e a outra uma mulher com o cabelo violeta e olhos da mesma cor.

— Espera aí... Vocês dois são aqueles Senhores do Tempo que os guardas levaram da última vez — a Doutora deduziu rápido, surpreendendo a si própria pela velocidade, afinal, havia acabado de acordar e ainda sentia-se um pouco desnorteada.

— Ei, se ela se lembra da gente, então quer dizer que estão sentindo falta de nós! — o ruivo exclamou com um sorriso ingênuo.

— O que não vai ser de muita ajuda — a outra reclamou, sentando-se contra a parede oposta à da Doutora e abraçando os próprios joelhos.

— Espera, eu... — A Doutora balançou a cabeça e se pôs de pé, começando a caminhar. Precisava colocar a mente em ordem. — Os guardas, os guardas-daleks, a fuga...

— Então colocaram mesmo o plano de vocês em prática, hein? — O ruivo riu para si mesmo, uma das mãos apoiada na parede e parecendo confortável, apesar da situação.

— Eu disse que não ia dar certo — a Senhora do Tempo que quase exalava roxo comentou, soando pessimista. — Te trouxeram apagada pra cá há umas...

— Duas horas — o outro completou. Eles pareciam ser uma boa dupla, a Doutora pontuou para si. — Nem o Spynx ficava apagado esse tempo todo depois da surra dos Daleks — finalizou rindo sem humor e tremendo por dentro.

— Espera, espera. — A Doutora fez cessar o bate e rebate da fala daqueles dois, erguendo os braços no meio da sala. — Daleks? Os Daleks estão fazendo algo com vocês? — questionou, tentando entender a situação que tinha para desvendar.

Agora, não era apenas quem a colocou ali ou o que havia acontecido com Shada. Mas o que os Daleks estavam fazendo ali e, principalmente, o que queriam com tantos Senhores do Tempo no mesmo lugar? E por que seus amigos estavam nas câmaras de êxtase, sem contato com os demais? Ela precisava organizar as ideias e sua mente em turbilhão não colaborava nem um pouco.

Certo, uma coisa de cada vez.

— Não é como se eles contassem pra gente o que querem fazer... — a outra começou.

— Spynx voltava regenerado toda vez que os guardas o traziam. Foram duas vezes por dia desde que nos colocaram aqui — o ruivo continuou, encolhendo os ombros.

A outra Senhora do Tempo também pareceu abraçar mais os joelhos, ambos assustados pelo que quer que estivesse acontecendo ali. Estavam todos no escuro e sem resposta. 

— Até que as regenerações acabaram e ele não voltou mais, já faz um dia... — os dois se encararam e depois à Doutora.

Ela estava em dúvida se eles eram um casal, irmãos ou o quê para ter tanta sinergia, porém, havia questões mais importantes do que essa.

— E ele não contou o que acontecia lá? — a Doutora inquiriu, sentando-se na posição de lótus na frente da outra Senhora do Tempo, tentando soar amigável com os dois.

A única resposta que teve foi um riso sem humor.

— Não é como se eles fossem nos contar alguma coisa, a gente já disse — a Senhora do Tempo de cabelos roxos soltou com um certo mau humor, cessado o riso.

— Certo, os Daleks torturaram o amigo de vocês ao ponto dele regenerar toda vez que isso acontecia. — A Doutora respirou fundo e trincou os dentes, a raiva por aqueles seres malditos borbulhando por dentro. — Por quê?

A dupla se entreolhou e em seguida encararam a Doutora. Apenas silêncio, sem respostas. Na espera por algo, qualquer coisa que fosse, ouviram um rangido metálico.

 


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Notas finais do capítulo

Ester:
Um pouco de uma viagem psicodélica da Doutora -q
Mas agora que os vilões do título apareceram, palpites?
Até semana que vem, povo o/

CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS

[...]

— Fiquem calmos — disse a Doutora, se colocando de frente contra os outros dois. — Não vou deixar que machuquem vocês.

[...]

— Não! — gritou o outro, e a Doutora rangeu os dentes de fúria, mas não havia mais nada a ser feito.

[...]

— Traga o prisioneiro 19206305 — ordenou um Dalek maior, de frente para uma grande parafernalha com o que parecia ser uma cadeira no centro.

[...]

— Daleks, sabem que eu sou?

[...]