Garota problema escrita por Clara Foster


Capítulo 4
O primeiro erro


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que estão lendo e dando uma chance para "Garota problema", vocês fazem o meu dia mais feliz!



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O beijo de Sakura era viciante. Uma sinestesia de sentimentos, aromas e sabores. Logo, uma vez que comecei, sentia que jamais conseguiria parar de sentir aqueles lábios. Era fácil se perder entre os beijos e o modo delicado como ela afagava minha nuca enquanto nos beijávamos, era um toque que eu jamais gostaria de deixar de sentir.

Conversamos muito ainda naquela noite. Dessa vez, entre alguns beijos e carícias, o tom da conversa começou a ficar um pouco mais íntimo. Sem estrelas e sutiãs, falávamos sobre nós e quem éramos.

Entre taças de vinhos e boas gargalhadas, ela contava sobre sua infância com nostalgia. Eu também falava sobre a minha, falei de meus pais e como os adorava, disso Sakura não riu. Ela ouviu com atenção quando disse o que sentia pela minha família.

— Gostaria de entender como é isso... – ela comentou. De repente estava um pouco triste, seus olhos pareciam perder o brilho ao sentenciar aquela frase. 

Não queria ficar no assunto família ou acabaria falando sobre a morte deles e isso arruinaria tudo naquele momento com Sakura. Achei que ela poderia tornar leve ao continuar a conversa, mas a garota de cabelo rosa simplesmente encarava a própria taça de vinho, perdida em alguns pensamentos, esquecendo-se por completo do mundo que a norteava… Sabia o que era isso.

Assim, não podia ignorar aquele olhar.

— Adorar a família? – perguntei um pouco receoso. Seu dedo dançou na boca da taça antes de responder.

— Mais ou menos. – Disse por fim.

Fiquei em silêncio, não saberia o que falar. Sou péssimo com palavras e expressão dos sentimentos. O encontro acabaria assim que ela me ouvisse falar qualquer bobeira, tenho certeza.

Coloquei a mão em seu ombro e fiz um pequeno carinho, simples. Não sabia quão estúpido isso poderia ser para Sakura. Ela deu uma risadinha ao meu toque e sua feição voltou a ser mais alegre, contudo, uma certa tristeza permanecia em seus olhos brilhantes.

— Assunto deprê, né? – e bebeu mais um pouco do vinho. – Acho que a gente precisa arejar um pouco e mudar os ares. Que acha?

Bebi um gole do vinho e concordei. Depois de duas garrafas, seria bom tomar um ar.

Terminamos nossas taças e saímos do bar. Acho que o cara não ficou muito feliz por termos ficado tanto tempo tomando lugar de outros clientes para beber algumas garrafas de um vinho barato. Contudo, Sakura era uma pessoa bem equilibrada, deu uma boa gorjeta e levou um vinho mais caro.

Caminhamos por uma praça, a cidade estava bem silenciosa para um sábado. Na rua, apenas eu e Sakura. 

Sair para caminhar fez bem, a mente começava a clarear e nossas conversas deixaram de ser tão bobas ou sérias demais. Ainda assim, eram divertidas. Sakura era bem inteligente e humorada. Ria muito, e eu não sabia ainda se era por causa do vinho.

Seus olhos, verdes como o mar de verão, iam e vinham fascinados com tudo que conhecia daquele local. Afinal, também era nova na cidade de uma certa maneira e, pelo que entendi, essa era uma das raras vezes em que ela conseguia sair para apreciar o local.

Começamos a beber o vinho mais caro. A conversa ainda muito animada e sem silêncios constrangedores. Eu tinha certeza, porém, que esse silêncio chegaria, não era muito fácil, para mim, manter uma conversa muito tempo, ainda que todas aquelas horas ao lado de Sakura tenham sido tão fáceis.

— Ei, essa é minha rua! – Sakura disse entusiasmada, um pouco bêbada.

— A minha é duas daqui. – A bebedeira também me deixou um pouco tonto e alegre. Parecia a coisa mais estonteante do mundo morarmos tão perto.

— Hmmmmm... Me acompanha então? – Opa. Esse era o silêncio constrangedor que viria.

Sabia que se acompanhasse Sakura seria o fim do nosso encontro e eu teria que lidar com isso. Nunca soube me despedir das pessoas, principalmente garotas. Depois de um encontro? Estando bêbado? Seria impossível.

Tentei ficar alerta, mas Sakura já entrava em sua rua e eu a segui. Não sei muito bem o porquê de segui-la, poderia ter continuado para a minha própria rua, mas algo começava a embrulhar o meu estômago, uma certa ansiedade por me separar dela de uma maneira tão inesperada.

Eu e ela ainda bebíamos e ríamos um pouco quando Sakura parou.

— É aqui. – Ela se virou e olhou para mim, oferecendo o último gole da garrafa de vinho.

Travei.

Eu realmente não sabia o que fazer agora. Sakura, por outro lado, riu um pouco, aproximou-se e me beijou. Tão doce, quente e suave como o primeiro. Viciante.

O gosto de morangos com um pouco de vinho enchia minha boca, e o cheiro rosa de seus cabelos impregnavam minhas narinas, deixando-me alucinado. Um beijo longo, demorado e descomplicado. Um ótimo encaixe, jamais gostaria de deixar aqueles lábios, mas Sakura se separou e disse muito baixinho perto de minha boca:

— Quer subir...? – Um pouco ofegante, ela perguntou e esperou por uma resposta. A garrafa de vinho ainda em suas mãos e uma garoa começando agora.

Não sabia como reagir, estava tonto e um pouco feliz demais, ainda esperando pelos lábios de Sakura. Tão perto, tão macios... Beijei a garota novamente e acho que ela considerou aquilo um sim, porque abriu a porta atrás dela.

Subimos as escadas e entramos na casa de Sakura, no segundo andar. Era pequeno e aconchegante, com cheiro de... Sakura. Algo no local me parecia estranhamente familiar e uma pequena voz em minha cabeça mandava que eu saísse dali imediatamente.

Começava a ficar um pouco nervoso. Receoso com o que estava por vir, os beijos com Sakura eram maravilhosos, de fato. Ainda assim, ela só tinha me visto de manga comprida até então. Seria desconfortável se ela sentisse nojo de mim na cama.

Talvez isso nem acontecesse, ela talvez nem estivesse pensando nisso. No entanto, conforme nossos beijos ficavam mais longos, maior era o desejo, a sensualidade, a vontade de permanecer ali. Visto que Sakura também se agitava, eu não era o único a querer prosseguir com os beijos.

O quarto de Sakura era ao lado da sala, com uma cama enorme ocupando todo o espaço do local. Não havia muito onde ficar. Continuamos os beijos, a garrafa de vinho esquecida, as carícias mais atrevidas. Tirei o suéter de Sakura, mas quando ela tentou tirar minha roupa... Enrijeci e a afastei um pouco de mim.

Ela percebeu a hesitação.

— Que foi? - ela cruzou os braços e corou, visivelmente desconfortável com o próprio corpo, já que era a única nua ali.

— Eu tenho queimaduras... Cicatrizes de queimaduras. - Expliquei rapidamente para que ela não se sentisse julgada com seu corpo.

Sakura riu baixinho e fiquei um pouco desconfortável. Até o momento não imaginei que Sakura teria essa reação, e começava a ficar irritado. Quando estava prestes a me levantar, ela disse:

— Desculpe. - uma pequena pausa e então ela começou a abaixar as calças, somente até os joelhos. - Também tenho essas cicatrizes, um acidente há cinco meses. Não ligo para as suas.

A pele de Sakura, à meia luz, era ainda mais brancas que o normal, por isso era fácil ver que ela tinha algumas pequenas marcas, resquícios da queimadura. Suspirei aliviado, ela então não sentia nojo. Pelo contrário, entendia.

— Acho que isso acabou com o clima. - disse Sakura, timidamente.

Concordei com a cabeça e tirei a camisa para Sakura. De uma maneira completamente casual e deixei que ela me encarasse sob a luz pálida da lua.

— Acho justo que veja as minhas. - ela sorriu em agradecimento, não mais desconfortável.

Aproximou-se devagar no escuro e tocou minha pele. Delicadamente seus dedos dançaram pelo meu peito, braços e costas. Sakura beijou minhas cicatrizes com delicadeza, e aquilo me deixou mais à vontade com sua presença e meu próprio eu.

Depois disso, deitamos e conversamos enquanto ela acariciava meu peito e seguia os desenhos de minhas cicatrizes enquanto eu seguia as dela na coxa.

Não dormimos, porque nenhum dos dois queria deixar de conversar. Nenhum dos dois queria se entregar ainda.




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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! :)