Um eterno déjà-vu escrita por WinnieCooper, Anny Andrade


Capítulo 3
Quarto e quinto dia




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— Scorpius acorde! Está atrasado – Albus o acordou pela quarta vez seguida.

— Hoje é quinta-feira? – ele perguntou esperançoso.

— É claro, aula de adivinhação.

— Yes! – Scorpius comemorou dando um pulo levantando da cama.

— Quintas-feiras sempre foram seus piores dias. – comentou ao amigo estranhando o comportamento dele.

— Não seja tolo, quintas a partir de hoje serão meus melhores dias.

Albus abanou a cabeça negativamente não o reconhecendo, mas resolveu sair do quarto para ir tomar seu café da manhã. Scorpius por outro lado se trocou calmamente, saiu do quarto e se encaminhou sem correr desesperado em direção a cozinha do castelo.

— Fazendo sua caminhada matinal? Não faz diferença já que está morto. – comentou no corredor assim que viu Frei Gorducho passando ao seu lado. O fantasma o olhou estranhando sua fala, mas não lhe disse nada.

Scorpius coçou a pera do retrato que dava caminho para a cozinha e entrou no aposento. Um cheiro inebriante de geleia foi sentido e o jovem reparou em vários elfos andando apressados por todos os lugares, alguns cozinhando, outros levando magicamente as comidas para o salão acima de suas cabeças.

— Com licença. – disse o garoto para uma elfa que passava ao seu lado com uma bandeja lotada de panquecas recém-preparadas. – Pode me trazer um ovo mexido e bacons?

— Lury não faz ovos e bacons, Lury só serve estudantes. – o avisou deixando parado e voltando a trabalhar.

Scorpius olhou bravo para a pequena elfa. Com certeza essa prepotência dava-se ao fato de Rose defende-los com unhas e dentes por todos os lados no castelo. Elfos estavam ficando muito abusados.

— Oi, - ele foi até um elfo que cozinhava num fogão, mexia magicamente uma colher fazendo a geleia e colocava panquecas numa chapa. – Frite bacons e faça ovos mexidos para mim.

O pequeno elfo o olhou bravo. Estava com um chapéu branco típico de chefes de cozinha.

— Ninguém entra na cozinha de Wilton sem autorização. – ele levantou seus dedos no ar e ordenou, os estralando, que um caldeirão lotado de suco de abóbora caísse sobre a cabeça de Scorpius.

— O que deu em você!!! – o garoto exclamou chocado com a atitude da criatura.

— Saia da cozinha de Wilton agora! – disse bravo para ele estralando os dedos novamente. Scorpius deu passos para trás.

— Já entendi. – saiu correndo tentando se livrar de outro banho de suco. – Só pode ser coisa da Rose e da mãe dela essa independência dos elfos. Vou morrer de fome para sempre.

Ele se lamentou tentando voltar ao seu aposento para tomar um banho.

— O que aconteceu com você? – era Rose que o viu andando perto do grande salão. – Está todo laranja.

— Obra sua isso! – disse irritado continuando a andar para longe dela.

— Francamente! Está cada vez mais prepotente! – disse quase gritando para ele a ouvir mesmo a uma boa distância da garota.

Depois de um bom banho e várias camadas de perfume para tirar o cheiro horrível do suco de abobora, começou a se encaminhar para os jardins.

— Vou matar todas as aulas hoje. – disse sorridente andando pelos corredores. Percebeu que todos os alunos já estavam nas suas salas de aula.

— Aluno andando no corredor na hora da aula! Aluno andando no corredor na hora da aula! – era Pirraça gritando por cima de sua cabeça.

— Pirraça, Pirraça! – ele chamou o Poltergeist para chegar mais perto de si. – Quero sua ajuda. Silêncio por favor.

— Minha ajuda? – ele riu sarcasticamente. – Pirraça não ajuda, só causa transtornos desde que esse castelo foi fundado.

E então ele jogou, uma bola preta no chão causando uma escuridão. O pó escurecedor do Peru jogado sobre ele o fazendo não enxergar nada e saber que precisaria de outro banho.

— Ah, acho que nunca tomei tanto banho em toda minha vida. – reclamou de volta em seu aposento.

Resolveu ir bem mais discreto pelos corredores dessa vez, quase pegou a capa da invisibilidade de Albus em seu malão, mas achou melhor não arriscar perder a relíquia do melhor amigo. Apesar de que, se aquele dia continuasse mesmo a se repetir, não faria diferença nenhuma se a perdesse.  Finalmente chegou nos jardins e viu uma garota. Ela fazia caretas tentando uma magia nas árvores.

— Oi. – disse chegando perto. Ela o olhou. Scorpius notou que era morena com seus cabelos cacheados, tinha os olhos negros e grandes. – Está treinando alguma magia?

— Você é monitor? – ela perguntou apontando para a insígnia dele. – Não me denuncie por estar fora da aula. Preciso treinar porque temos prova de transfiguração amanhã e simplesmente não consigo transformar nada em nada.

Ela pediu com os olhos apertados a ele.

— Posso te ajudar se quiser. – ele lhe deu uma piscadela o que fez a garota ficar ruborizada. – Está tentando fazer o que?

— Mudar as estações do ano nessa árvore.

Scorpius olhou a árvore, estava como deveria estar em um dia de inverno como aquele, sem folhas e lotada de neve.

Ele franziu a testa tentando lembrar do feitiço e a maneira de agitar a varinha para mudar cada estação. Se postou nas costas da garota, segurou a mão da garota por trás e ensinou um movimento, para transformar a árvore no período da primavera, disse o feitiço e a árvore começou a se mexer espantando a neve de seus galhos como se fosse um cachorro espantando a água de seus pelos, não passou disso.

— Bom preciso treinar também. – ele coçou a cabeça olhando para ela um pouco constrangido. – Qual é o seu nome mesmo?

— Eva, - respondeu não o encarando de vergonha. – Eva Turner.

— Tá, amanhã eu venho aqui novamente para te ajudar.

— Hã? – perguntou o estranhando.

Mas o garoto não respondeu. Voltou para seus aposentos no quarto da Sonserina e abriu seu livro de transfiguração. Procurou em transformações em seres inanimados e achou o feitiço das estações do ano.

Passou a manhã toda treinando os movimentos e como realizar o feitiço da primavera. Quando deu por si seu estômago estava roncando.

Resolveu ir almoçar as saladas. Já que ir até a cozinha estava fora de cogitação e ele não podia simplesmente morrer de fome.

— Onde se meteu? – era Rose o repreendendo assim que o viu almoçar todos os tipos de salada da mesa.

— Estava estudando em meu quarto. – não mentiu.

— Matando aula Scorpius? Francamente, é monitor, deve dar o exemplo. Seu prepotente.

Ele deu de ombros não querendo discutir com ela. E é claro que Rose o arrastou para as aulas da tarde. Viu a garota ganhar o amasso de Hagrid.

— Ei Lily. – ele disse sentado na arquibancada esperando o jogo de Corvinal versus Lufa-Lufa começar. – Da tempo de eu fazer uma aposta?

Ela apenas concordou com a cabeça e Scorpius apostou o placar que sabia que se seguiria.

Assistiu Hugo ser ovacionado pelos torcedores da Lufa-Lufa. Recebeu todo o dinheiro da aposta com a feição da irmã de Albus bem desconfiada. Viu que no jantar só havia sopa.

Como no dia anterior, andou até os jardins à noite e encontrou Kurt e Kevin tentando fugir do castelo para irem em Hogsmeade.

Seguiu os garotos dessa vez e eles o levaram até um bar. Os dois já eram maior de idade, mas Scorpius ficou com certo receio de ser pego tomando whisky de fogo com quinze anos.

— Não é você mesmo que nos disse que só tinha o dia de hoje para aproveitar? – disse Kurt a ele já bem alegre.

E Scorpius bebeu, não só whisky de fogo, mas também rum de groselha, hidromel, licor de chocolate e para fechar a noite cerveja amanteigada. Que não tinha álcool, mas pelo menos dava uma limpada em sua garganta que já estava adormecida de tanto destilado ingerido. Afinal precisava gastar o dinheiro que tinha recebido das apostas não é mesmo? Tinha que aproveitar.

Ele ria de qualquer coisa que via e se perguntava mentalmente como nunca tinha enchido a cara antes de bebida.

— Está feliz é? – era uma jovem mais velha, já devia ter seus mais de vinte anos. Sentou-se no colo dele e começou a beija-lo. Seus novos amigos ao fundo gritavam e Scorpius sorria internamente querendo que aquela sensação de poder durasse para sempre.

Nunca havia ficado com nenhuma garota daquele jeito, seus beijos eram quentes e estava se sentindo cada vez mais quente. Como se um enorme turbilhão dentro de si estivesse prestes a implodir. Não controlava mais suas mãos e não se importava de estar dentro de um bar lotado.

No meio dos beijos porém, entendeu o porque estava sentindo esse turbilhão dentro de si. Afastou a jovem de sua frente, virou seu rosto para o lado e vomitou. Ela saiu de cima dele com um pouco de nojo. Scorpius anotou mentalmente para beber menos destilado no dia seguinte.

— Desculpe Rose eu não...

— Rose? – ela lhe deu um sorriso de lado e balançou a cabeça em negativa. – Não sou Rose. E não sei se Rose gostaria de te ver sim. Boa sorte jovem bruxo. 

Viu a jovem sair de perto dele depois de lhe dar tapinhas em seu ombro. Mas o embrulho em seu estômago voltou e resolveu correr para o banheiro.

Quando saiu do banheiro seus amigos novos já haviam voltado a Hogwarts. Viu em seu relógio que estava de madrugada. Quando entrou no castelo o zelador estava no portão o esperando com cara de poucos amigos. Viu que Kurt e Kevin estavam do seu lado e sabia que a bronca seria péssima.

Mas como estava com sorte, ele os avisou que ia esperar a diretora acordar no dia seguinte para ver o que faria com os três e Scorpius finalmente foi para seu quarto. Seu estômago ainda estava embrulhado e sua cabeça latejando de dor. No entanto o que mais lhe intrigava era o porquê chamou a garota de Rose no bar. Fechou os olhos esperando a dor de cabeça passar. Ninguém avisou Scorpius que às vezes os alcoolizados são os mais sinceros.

— Scorpius acorde! Está atrasado – Albus o acordou pela quinta vez seguida.

— Hoje é quinta-feira? – perguntou.

Já não sentia seu estômago embrulhado e a dor de cabeça havia sumido como havia começado. Porém estava começando a se sentir cansado. Pensava o que poderia fazer de diferente. Muitas ideias começaram a passar por sua cabeça. E como estava amaldiçoado a viver eternamente o que poderia dar errado? A não ser o fato de apesar da noite passada, das broncas e dos vômitos. Rose permanecia em sua cabeça.  E sempre que se lembrava dos beijos da noite passada sentia-se ainda mais tentado voltar seus pensamentos para a amiga irritante.

— Não vai se arrumar para aula? – Albus questionou.

— Talvez.

Scorpius na verdade voltou a deitar e se cobrir com a coberta. Queria se livrar dos pensamentos e não queria comer doce naquele momento. Precisava de algo salgado nem que fosse um pão seco e duro. Ficaria na cama mais tempo e obrigaria a cabeça a parar de pensar em Rose Weasley.

Por fim lembrou-se da garota do dia anterior. Eva era bonita e precisava de ajuda com transfiguração e ele tinha treinado o suficiente para ser o professor ideal para a garota. Ignorou a fome que começava a sentir porque ainda não se sentia confortável para ingerir qualquer coisa além das sopas e caldos que certamente teriam no jantar, ou saladas que teriam no almoço. Até lá ele conseguiria se divertir um pouco.

Caminhou pelo corredor tomando cuidado para não encontrar nenhum fantasma irritante, ou professor tentando fugir da turma. E caminhou até a árvore coberta de neve. Os cabelos da garota eram cacheados e volumosos, por um instante lembrou-se de outra garota de cabelos volumosos, mas balançou a cabeça logo fazendo os pensamentos desaparecerem.

— Oi. – A garota o olhou da mesma maneira do dia anterior. – Sim eu sou monitor.

— Não me denuncie por estar fora da aula. Preciso treinar porque temos prova de transfiguração amanhã e simplesmente não consigo transformar nada em nada. – E Scorpius escutou as mesmas palavras. Estava cansado de algumas frases já de tanto ouvi-las. Mesmo que no caso dela fosse apenas a segunda vez.

— Fique tranquila, posso te ajudar com isso. – Ele sorriu. – Transfiguração não é? Estações do Ano.

— Como sabia disso?

— Sou muito observador. – Scorpius se colocou atrás dela e pegou sua mão para guiar os movimentos. Acertou de primeira cobrindo a árvore de botões de flores, logo em seguida folhas secas, e assim por diante.

Ficaram treinando por vários minutos. A garota sorria muito mais e quando estava satisfeita decidiu lhe fazer uma pergunta.

— Disse que é observador. Estava me observando?

— Acredito que muitos dos garotos aqui te observem. – Scorpius sabia que não tinha o que perder. Ela se esqueceria dele no dia seguinte e ele adquiria experiência  e a garota era realmente bonita.

— Infelizmente o que eu quero que me observe, não liga para mim...

— Eu te observei e gostei do que vi. – Scorpius tinha gostado de ter beijado a jovem da noite anterior, até começar a vomitar e chamá-la de Rose e provavelmente gostaria do beijo que estava próximo de acontecer.

A garota o beijou antes que ele tivesse tirado a imagem da amiga de sua cabeça. Ele retribuiu o beijo por um momento vendo os cabelos vermelhos, as sardas e os olhos azuis, mas quando seus olhos focaram percebeu que quem beijava era Eva e não quem gostaria.

— Desculpa... – Se afastou da garota. O estômago revirando. Não sabia se pela ressaca ou se pela descoberta.

— Tudo bem. Foi meu agradecimento. – A garota virou de costas o deixando para trás.

Sua cabeça rodava e acabou mesmo vomitando um líquido amarelo próximo da árvore.

— Rose Weasley?

Não podia acreditar que sua mente o levava até ela novamente. Além de estar preso em um dia eterno ainda estava enlouquecendo. Correu de volta ao castelo. Talvez conseguisse pegar a última aula antes do almoço.

— Onde estava na aula de adivinhação? – perguntou Albus assim que viu o amigo entrar na sala de poções e sentando-se ao seu lado.

— Caindo na real. – tentou parecer honesto. – Você acha que sou prepotente?

— O que? – perguntou confuso lendo as instruções do livro para fazerem a poção do morto-vivo.

— É que Rose vive me falando isso.

— Nunca ouvi ela te falar isso.

— Já me disse tantas vezes que... – ele olhou o amigo o analisando. – acha que se eu mudasse para ela ia reparar em mim?

— Está Interessado na Rose? – perguntou chocado.

— Talvez. – confessou sabendo que no dia seguinte ele esqueceria. – Acho que teria que mudar bastante para ela reparar em mim de forma diferente.

Albus o olhava cada vez mais intrigado sem saber o que estava acontecendo com ele.

— Ninguém muda da noite para o dia. – respondeu a ele o que sabia.

—- Talvez eu consiga. – Scorpius soou mais enigmático ainda. Olhou o amigo e reparou que ele estava cortando a vagem da forma errada. – Corte na diagonal.

Ganharam um excedente expectativas no fim de aula.

Foram almoçar e encontrou a amiga com cara de poucos amigos para ele assim que o encontrou comendo todas as saladas oferecidas pelos elfos.

— Com certeza irei emagrecer. – comentou a si mesmo.

— Com certeza está ficando cada vez mais prepotente. – era Rose parada a sua frente com os braços cruzados.

— Está vendo? Prepotente. – Scorpius comentou a fala de garota a Albus que comia ao seu lado.

— O que disse? – ela perguntou lhe fuzilando com o olhar.

— Estou dizendo que só me diz essa palavra agora.

Rose abriu a boca indignada para ele e sacudiu a cabeça.

— É a primeira vez que te digo isso. E quer saber?! – ela se exaltou dando um tapa no ombro dele. – Nunca estive tão certa em toda minha vida.

Ela saiu pisando forte de perto dele e Scorpius sabia que ela ia ver Hagrid.

— Para quem assumiu agora a pouco que gosta dela, está tentando a conquistar da maneira errada. – comentou Albus sabiamente.

Então Scorpius começou a pensar seriamente pela primeira vez, como se conquista uma garota como Rose? Sua melhor amiga, aquela defensora dos fracos e oprimidos, que vivia com o nariz grudado em um livro, a que era apaixonada por amassos, era caridosa com todos, menos com ele. E sempre o chamava de prepotente.

— Rose... – ele chegou perto da amiga na arquibancada, o jogo Lufa-Lufa versus Corvinal tinha acabado de começar e eles agora escutavam Lorcan discursando ao invés de narrar.

— O que quer? – perguntou brava não desgrudando os olhos do jogo.

— É... – ele começou encabulado, - O que faz você reparar em um garoto?

— O que? – ela não tinha o ouvido direito, a plateia agora gritava, pois Hugo tinha defendido outra goles difícil.

— E acabaram de me falar que Hugo defendeu outro pomo difícil. – narrava Lorcan.

— Goles. – McGonagall corrigi-o.

— Rose... – tentou novamente chegando perto dela, tão perto que quase a abraçava pelos ombros.

— O que está fazendo? – perguntou brava olhando diretamente para ele.

— Preciso conversar, é algo importante. – queria começar o assunto mais brandamente.

— Tem que ser agora?! – ela apontou para o campo onde Lufa-Lufa tinha acabado de fazer um gol. – Meu irmão está jogando excepcionalmente bem!

Scorpius bufou chateado e saiu de perto dela. Mas ficou reparando em Rose. Seus olhos compenetrados no jogo. Estavam brilhantes e cheios de esperança. E apesar dela também torcer por ele e Albus aquela torcida era ainda mais intensa, parecia quase inflar de orgulho de seu irmão.  Seus cabelos se possível, estavam mais volumosos do que realmente eram, provavelmente pela excitação que o jogo estava causando em todos, e ele amava aquele cabelo. As sardas de seu rosto pareciam brilhar sobre o sol que batia nelas, Scorpius queria toca-las e por um momento até esticou uma das mãos, porém desistiu no meio do caminho, seria estranho tocar o nariz da amiga sem motivo. Sua boca rosada e suas bochechas vermelhas devido ao frio combinavam perfeitamente com seu rosto. Ela parecia ter sido desenhada tão perfeitamente. Tão perfeitamente que Scorpius se perdia só de olha-la.

— Realmente está gostando dela. – era Albus que estava no banco atrás dele. – Limpe sua baba.

Scorpius não se importou. Queria que Rose prestasse atenção nele. Mas ela só tinha olhos para seu irmão agora que defendia tudo com maestria. Às vezes sorria para ele entre uma comemoração e outra.

— O que queria conversar? – Rose o perguntou na hora do jantar. O garoto pegou uns cinco pedaços de pão e molhava na sopa de tomate comendo como se fosse um petisco.

Albus o olhou levantando a sobrancelha e Scorpius abanou a cabeça autorizando ele a sair de perto dos dois.

— Rose, se você tivesse só um dia de vida, o que você faria? – perguntou de forma direta.

Ela o olhou intrigada, mas sorriu e perguntou.

— Depende, do que eu morreria?

— Não nesse sentido. – ele negou com a cabeça automaticamente. – Digamos que alguma catástrofe aconteceria no dia seguinte, tipo um meteoro colidindo com a Terra e não poderíamos fazer nada para sobreviver. O que você faria?

— Hum... – ela parecia pensar na pergunta. Depois lhe entregou outro sorriso e respondeu. – Com certeza guardaria meus livros num lugar seguro. Não suportaria vê-los danificados. Talvez as criaturas futuras os achar              iam e nos estudariam.

Scorpius balançou a cabeça em negativa. Era óbvio que ela não estava o levando a sério. Então resolveu lhe perguntar mais diretamente.

— Tá... Então me diga, o que espera do seu futuro?

— Meu futuro? – perguntou a si mesma tentando pensar.

— É, o que espera estar fazendo em seu futuro?

— Acho que é o que todos esperam. Um bom emprego. Quem sabe uma família que ame. Talvez filhos...  Ou talvez só ser feliz e me sentir completa. Mesmo não estando com alguém. Não quero me prender em formalidades. Não quero ser uma mulher que deve se casar e ter filhos para ser feliz. E com certeza com uma casa cheia de livros seja qual for a situação. – ele a encarava completamente compenetrado o que fez Rose ficar com as bochechas vermelhas. – Por que está tão curioso com minhas opiniões?

— Não sei, é a única pessoa que sei que se importa com tudo e todos e queria entender mais como funciona sua cabeça. – resolveu ser sincero.

— Nunca se importou com a opinião de ninguém.

— Para você ver como uma pessoa pode mudar de um dia para o outro e parar de ser prepotente. – lhe cutucou. Rose estreitou seus olhos ainda desconfiada. - Mas, me responda sinceramente agora. Outra pergunta. Está com alguém?

— O que? – ela arregalou seus olhos pela petulância dele. – Não pretendo ter essa conversa com você. – ela apontou para ele seu dedo indicador. – E você o que espera da vida?

Ele a olhou analisando. Será que se fosse direto com ela Rose se esquivaria? Bom não custava tentar, no dia seguinte ela não se lembraria de nada mesmo.

— Espero alguém como você!

Rose sentiu seu rosto esquentar e não se deixou convencer por ele tão facilmente.

— Não seja ridículo.

— Qual seu homem ideal? – continuou a ser sincero e direto com ela.

— Scorpius, o que há com você? – ela negou com a cabeça, suas bochechas permaneciam vermelhas. Não estava entendendo essa conversa toda de seu amigo. Nunca havia se comportado dessa maneira antes.

— Só me responda isso, por favor.

— Está fazendo perguntas demais.

— Está se esquivando demais.

— Ok... – ela cruzou os braços e resolveu dizer de uma vez. – Meu homem ideal é só o completo oposto que você: ele é humilde, não destrata nenhuma pessoa ou criatura, é inteligente...

— Está me chamando de burro?

— É criativo, alegre, me faz rir com facilidade... – continuou como se ele não a tivesse interrompido. Scorpius franzia sua testa tentando gravar todas as características que ela esperava em homem em sua mente. – É romântico sem forçar e sabe ser audacioso.

— O que significa audacioso?

— É lindo em sua maneira de ser, não fisicamente, e não fica se exibindo e iludindo as garotas a sua volta. É sensível, gentil, educado. E principalmente, não tem receio de mostrar sua fragilidade.

Terminou o encarando pela primeira vez. Ela já não corava mais, e o olhava decidida. Como se o desafiasse.

— Só isso? – perguntou retoricamente a ela.

— Só... Espera têm mais uma característica, apesar se ser tudo isso ele precisa ser ele mesmo. Ter características próprias que fazem dele único. Bom é isso.

— E o cara ideal é completo oposto de mim?

— Com certeza. – disse ríspida com ele e virou suas costas. – Cansei dessa conversa estranha. Te vejo amanhã.

Scorpius não se despediu da garota. Viu-a indo embora para longe dele e só tinha a certeza do quanto seria difícil conquista-la no dia seguinte. Mas a parte final era o que o deixava mais preocupado, como poderia ser tudo aquilo e ainda ser ele mesmo. Não fazia sentido. Achou melhor deixar as bebidas de lado, nada de escapar aquela noite, se concentraria em dormir para seguir todas as dicas de Rose. Um novo Scorpius estava para surgir.


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Notas finais do capítulo

Nosso Scorpius está caindo na real, mas ainda vai precisar aprender algumas coisas. Muito obrigada a quem está lendo, nos digam o que estão achando, Prometemos que Rose vai aparecer o tempo todo agora.