Atsushi tocava o piano com pesar, remorso e saudades.

Seus dedos pressionavam as teclas de marfim sem muita força, de forma meia-boca, inadequadamente. Chuuya teria repreendido-o se estivesse ali, sua voz ecoaria alta pela sala vazia, audível até do corredor. Mas não de forma agressiva, nunca de maneira agressiva, Chuuya só tinha uma voz alta e mesmo quando o repreendia, ele o fazia com gentileza.

Mas ele não estava ali e era justamente por tal razão que Atsushi tocava desinteressado e melancólico.

Não queria tocar, não queria ver um piano na sua frente numa mais, mas tinha sentimentos que não sabia como expressar e por isso, estava tocando o instrumento, porque desde que se entendia por gente, desde o momento que foi acolhido pelos Nakahara, o piano era o escape das sensações desagradáveis em seu peito.

E era tão doloroso continuar tocando quando sentia que seu coração estava sendo espremido cruelmente mais e mais a cada vez que seus dedos tocavam as superfícies brancas e pretas.

Atsushi não queria continuar tocando um piano se Chuuya não estaria ouvindo-o, atento aos seus erros para ajudá-lo a melhorar e então sorrir com sua melhora, não queria continuar tocando quando a única pessoa que ele gostaria que escutasse sua música ― a única pessoa que importava ― não estava mais lá para ouvir.

No entanto, aquela mesma pessoa que o ensinou a transformar sentimentos em música, e Atsushi não sabia mais o que fazer senão continuar tocando para quem ele sempre tocou. Mas iria precisar se desculpar com Chuuya na próxima vez que fosse visitar seu local de descanso. Infelizmente, ele parecia não ser mais capaz de expressar nada além da dor que sua falta fazia.